sábado, 13 de fevereiro de 2010

Carnaval e filhos nas estradas

Nós os pais temos a imaginação fértil, principalmente com filhos transitando pelas estradas em feriadão. Imagine em feriadão de carnaval, então. Procuro evitar os noticiários recheados de notícias de avalanches de terra, tempestades, acidentes e procuro concentrar-me na felicidade que os filhos estão desfrutando, após tanto trabalho, estudos e correria. Confesso que sempre resta lá no fundo da alma, aquele temor de que algo dê errado, que alguém sofra de alguma forma. Procuro esquecer de que na minha juventude sofri alguns apertos, me arrisquei algumas vezes com aquele sentimento de onipotência que caracteriza os jovens ávidos por aventuras e novidades. Embora saiba da ingenuidade que caracterizou a mim e aos meus pares, para os padrões da época fomos ousados, pois protestávamos contra o regime, voávamos pelas estradas, voltávamos das baladas de manhã, a pé. Não passava pela minha cabeça que algo de perigoso pudesse acontecer e não entendia as apreensões dos meus pais e o alívio deles ao ver que chegava em casa. Lembro que o maior temor dos pais da época era o de que namorássemos sem o devido pudor, sem o devido respeito, sem a fiscalização deles. Éramos monitorados tanto por eles, quanto pelos amigos deles. Os vizinhos eram fiscais da moral e dos bons costumes, escondidos atrás das venezianas, para verificar se o comportamento da juventude transviada estava de acordo com os preceitos da religião. Tínhamos medo da opinião dos outros, do que os outros pudessem comentar, pois isso faria muita diferença na avaliação que nossos pais fariam de nós. "Os outros" eram o grande fantasma, eram a grande vacina de que nossos pais lançavam mão para tentar refrear nossas investidas mais ousadas. Aos rapazes era dada a chance de redenção, levando-os ao médico para curar gonorréias adquiridas nos prostíbulos muito frequentados pelos rapazes de boa família. Era normal o atendimento dos meninos nos hospitais, com o intuito de "tomarem soro" após as bebedeiras e prováveis ingestões de "boletas", terror dos terrores. Até hoje não sei em que consistia a tal "boleta", mas a maconha era o próprio diabo, não sendo permitido que tivéssemos olhos vermelhos sob qualquer motivo, para logo sermos suspeitos de fumar a maldita. Conquistamos o grande feito de darmos de ombro aos "outros", namoro íntimo é a regra, beijos e abraços e amassos sem compromisso não causam estranheza, mas assistimos a massacres juvenis em grande escala. Estamos perdendo filhos demais e isso me apavora. Perdemos pessoas que bebem cerveja demais, que se brutalizam com o crack, encontramos caminhoneiros que adormecem por exaustão ou que, enlouquecidos por remédios, cometem verdadeiros desatinos nas estradas. Convivemos com a impunidade, com o descompromisso, com a pressa sem medida e com litros e litros de vodka e cerveja que rolam nas baladas mais inocentes que nossos filhos frequentam. Melhor é não pensar muito e confiar que tudo dê certo e que, daqui a alguns dias, eles estejam junto conosco sãos e salvos.