terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Formatura do Gustavo




No dia 18 o Gustavo foi o único formando em canto da Faculdade de Artes e Comunicação da UPF. A formatura de Musica tinha sete formandos, porém só ele em canto. Foi lindo e emocionante, por que artistas sempre fazem algo diferente. Além de uma cerimônia de colação de grau bem formal e bonita, o orador Raimundo, um nordestino intelectual e filósofo brindou a assistência com um maravilhoso discurso, assim como o paraninfo Dr Gerson Luis Trombetta. Agora, ouvir o Gustavo e sua colega Aline cantarem Como os Nossos Pais, acompanhados pelos colegas todos em instrumentos, foi o máximo. Foi a primeira formatura em Música de que participei e poder abraçar meu sobrinho querido por ter feito uma opção tão linda, foi algo de gostei muito.


No dia seguinte, no Salão do Júri do Fórum de Passo Fundo, aconteceu o Recital de Formatura de Gustavo Benetti - Barítono. Reproduzo alguns aspectos do folder do recital:


"Gustavo Benetti, 27 anos, é natural de Porto Alegre. É filho de Ermes Antonio Benetti e Isabel Frosi Benetti e está se formando Bacharel em Canto no curso de Música da Universidade de Passo Fundo (2005-2008), sob orientação do professor José Carlos A. Gheller.


Iniciou o estudo de canto lírico em 2005. Tem voz de barítono e interpreta preferencialmente repertório de canção contemporânea, lieder, ópera e música barroca. Já realizou recitais em Passo Fundo (RS), Curitiba (PR) e Santa Fé (Argentina). Durante o curso de Música, foi bolsista do grupo de teatro Viramundos, trabalhando preparação vocal e assistência de produção musical. Como monitor, atuou nas disciplinas de Percepção Musical, sob orientação do professor João Geraldo Segala Moreira.


Dentre seus estudos de técnica, teve aulas com o tenor Omar Fontana (Argentina) e o barítono Carlos Rodriguez (Porto Alegre). Além dos estudos regulares, cursou workshops com Robert Holl (baixo), Marília Vargas (soprano), Denise Sartori (mezzo-soprano) e Ângela Barra (soprano)." João Vicente Ribas


Programa: Schumann - Dichterliebe, op. 48 - acompanhado ao piano por Aline Bouvié

Ravel - Don Quichotte a Dulcineé - acompanhado ao piano por Diego Granza

Verdi - La Traviata

Wagner - Tannhäuser

Donizetti - Don Pasquale - acompanhado ao piano por Gleison Juliano Wajciekoeski


Ficha Técnica:
Direção Musical - Gustavo Benetti


Direção Artística - Guto Pasini


Direção Executiva - Carlinhos Tabajara


Técnico de Áudio - Luis André Nunes


Câmera e Fotografia - Diogo Zanatta



Todos ficamos encantados e impressionados com a voz do Gustavo, com sua presença cênica capaz de transmitir a dramaticidade do que cantava e pelo clima de respeito e amizade que reinou durante todo o evento.


O que se seguiu na casa dele foi o coroamento de tudo. A piscina estava rodeada de amigos, parentes e por que não dizer, de admiradores. Foi-nos oferecido um enorme barril de shopp salgadinhos e doces deliciosos e aproveitamos muito, muito, muito tudo o que nos foi oferecido. Resta-nos agradecer por tanta beleza, alegria e talento e desejar que sua carreira seja meteórica. Estou achando que Passo Fundo pode ser sua sede, mas que o mundo o chama... Parabéns Gugu


A foto maior é do Recital em Curitiba
A foto menor é do Recital de formatura no Salão do Júri do Fórum de Passo Fundo



quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Violência inata


Nascemos com um potencial violento, mas vamos burilando esse potencial conforme somos cuidados por nossos pais, conforme vamos entrando em contato com o mundo. Há muitos estudos, muitas pesquisas que tratam desse assunto tão importante e que tem a ver com nosso processo evolutivo. Minha trajetória nos últimos anos tem um norte: ajudar pais e educadores a melhor cuidarem de suas crianças, para que a pacificação que tanto almejamos se concretize. Percebe-se que, quando as pessoas falam sobre paz, o fazem pensando que ela deve ser promovida pelos outros, esquecendo-se que com nossas atitudes, as mais simples, conseguimos influir na vida de todos, e, exagerando, na vida de todo mundo, e, exagerando mais, de todo o planeta. Fico muito triste quando sou alvo de agressão, isso me derruba e provoca uma desesperança, para logo em seguida pensar em quanto já agredi sem perceber, sem me dar conta. A pior agressão é aquela deliberada, que acontece por pura intenção e é fruto de planejamento minucioso, para que a ferida provocada seja dolorosa. Há feridas que já foram abertas há tempo e que, com muito custo foram curadas, mas os agressores covardes primam por reabrí-las, numa demonstração de que estão em um estágio evolutivo muito rudimentar, próximo ao estado instintivo. Triste encontrar esse tipo de pessoa cruel e insensível, que finge muito bem, mas que esconde seu potencial violento para colocá-lo para fora ao menor movimento de quem não lhe agrada, ou de quem o contraria. Às vezes, não dá tempo de reparar os estragos causados, assim como, às vezes, o agressor passa a ser alvo de revide, mas, acredito que o pior seja conviver com o monstro interior, aquele que se agiganta e destrói por dentro seu hospedeiro, tornando-o infeliz e só. Eu hein! Quero mais é ser feliz e aproveitar a vida sem ter inveja de ninguém. Isso sim é que é bom!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Mesa grande, poucas pessoas


Aconteceu-nos ontem algo inusitado: almoçamos só nós dois, o Domingos e eu. Estamos acostumados a esperar pelos filhos para almoçar no domingo, e como sempre, ontem, preparamos o almoço para quase todos. Sabíamos que alguns estariam viajando, mas a maioria encontrava-se na cidade. Pois, eis que, aos poucos, ficamos sabendo que, um por um dos filhos que nos restaram, haviam assumido outros compromissos e um estava desaparecido com sua mulher. Soubemos hoje que o desaparecimento foi proposital por causa do alto grau de cansaço dos dois, motivo pelo qual resolveram dormir ao invés de comer. Almoçamos nosso delicioso churrasco, os dois, e confesso, senti várias coisas ao mesmo tempo, todas não compartilhadas pelo Domingos, capaz que é de tirar de letra essas situações. Primeiro senti um certo ressentimento por não nos terem prevenido que não viriam, em seguida senti um estranhamento por ocuparmos uma mesa tão grande, no domingo, só os dois, e, por último, fiquei satisfeita por saber que, nós dois, mesmo com quase 40 anos juntos, ainda temos prazer em conversar, ainda temos assunto e, melhor, sabemos que todos os filhos estão bem e felizes, vivendo suas vidas independentemente das nossas, cada vez com mais autonomia. Mas, que vez ou outra senti uma pontinha de tristeza, isso senti. Não consigo ser cuca fresca como esse meu tranquilo marido!

Nossa mesa da sala de jantar é algo sólido, de madeira e já nos acompanha há muitos anos. Ela representa um lugar para onde todos sempre convergiremos. Espero que aos poucos se torne pequena para tanta gente, fato que já verificamos em algumas ocasiões, mas, espero também, que nunca seja grande demais para nós dois. Estamos cuidando para que nossos assuntos nunca se esgotem, para que o prazer que sentimos em estar juntos se mantenha com o passar do tempo e que nossa felicidade sirva de exemplo para as mesas grandes ou pequenas nas famílias dos nossos filhos e filhas.

Podemos melhorar, sim!



Em recente pesquisa do curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo, constatou-se que as crianças vítimas de violência são agredidas pelos pais, na sua maioria. Isso deve reacender as discussões acerca dos limites que os pais devem se impor quanto a métodos educativos. Não pode mais ser tolerada, e isso a pesquisa também traz, a prática de bater nas crianças com o intuito de educá-las.
O bullying, isto é, aquela forma comum de rir, de ridicularizar, de debochar e até de torturar fisicamente alguém em situação vulnerável, já foi considerado prática normal, chegando-se a pensar que as vítimas teriam assim, oportunidade para aprender a se defender. A intimidação, a ofensa, a agressão contra amiguinhos e contra colegas já vitimizaram demasiado crianças e adolescentes. Sabe-se, e Moacyr Scliar esclarece muito bem em ZH de sábado (13/12/08), que o bullying faz mal a quem o pratica e a quem é alvo dele.
O tapa pedagógico, assim como o bullying carregam em si algo perigoso, que é a sutileza da fronteira entre o que seja uma prática consagrada através dos séculos e que pretendia-se fosse algo inofensivo, e a violência. Tanto uma prática, quanto outra, não dá garantias de que se vá parar no limite do razoável. Todos conhecemos histórias que acabaram muito mal por causa da ultrapassagem dessa fronteira. Aliás, fronteira e limite vem a ser a mesma coisa, por isso, educar para impor limites não funciona. Estaremos sempre à beira do precipício, sempre no limite, sem oportunidade de exercitarmos o amor que educa muito mais e que implementa os valores universais. E não se diga que bater é ato de amor e com mais força do que uma conversa séria, onde o diálogo seja exercitado de forma verdadeira, onde se ouve e se fala, dos dois lados.
Não é mais possível educar sem que haja essa troca dialética, onde todos depõem as armas para ouvir o outro e levar em consideração o que ele tem a dizer. Também aprendemos uns com os outros pela força do que somos, pelo que representamos. Ao respeitarmos o ritmo do outro, sua maneira de ser, sua forma de viver, estaremos mostrando ao mundo que não há necessidade de causar dor e constrangimento, mas que estamos antenados com os novos ares que nos carregam a uma situação evolutiva nova e bem mais bonita. Essa caminhada para o novo é inexorável e nos cabe entrar nela o mais rápido possível, para que muito sofrimento seja evitado.
Devemos comemorar a realização das pesquisas acadêmicas. Elas são fruto de muito estudo, de observação minuciosa do comportamento humano, de análises de como fomos, de como estamos sendo e das perspectivas de futuro. Devemos comemorar também, por que, nas projeções das pesquisas há essa melhora inexorável da nossa condição de seres racionais e livres. Essas projeções nos enchem de esperanças de que, com o tempo, sejamos capazes de abandonar o que nos prejudica e o que nos afasta do amor de verdade.
Enfim, para que consigamos refletir sobre algo tão sério, vale a pena lembrar a pergunta de Moacyr Scliar, que, de tão boa, merece ser repetida: “Afinal, o ser humano pode ou não melhorar?”
Publicado no Diário da Manhã de 16/12/2008
Publicado em Zero Hora de 18/12/2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

Escola de Pais de Carazinho


Festejamos hoje em Carazinho mais um ano de atividades, aliás, quantas atividades! Os associados mostraram em vídeo os momentos mais marcantes e um deles foi a carreata organizada e realizada para marcar o primeiro ano da EP de lá. O que chama atenção é a competência com que estão levando os trabalhos, marcando presença expressiva nas atividades do município e realizando o trabalho fim da EP que são círculos de debates nas escolas. Ficou claro também, que graças ao exemplo que estão dando, a região será ampliada em breve e Não Me Toque terá uma escola organizada e atuante. O Domingos e eu ficamos muito orgulhosos da Escola de Pais de Carazinho e voltamos animados com a possibilidade de realizar um Curso de Aprofundamento e Treinamento em Não Me Toque no semestre que vem. Voltamos pelas prainhas de Ernestina, a fim de participar da festa de encerramento do ano na nossa EP de Passo Fundo. Comemoramos um ano de atividades freneticas, com a realização de 7 ciclos de debates, um CAT e participação em atividades marcantes na nossa cidade. Começamos também o processo de transição da presidência da escola. Estão deixando de presidir o João e a Marlene para que assumam Darlei e Lilia. Sabemos que será uma gestão tranquila, já que costumamos trabalhar em equipe, com respeito e carinho, marca que conseguimos imprimir à nossa organização, de norte a sul. Nos despedimos de uma gestão em que João e Marlene coordenaram os trabalhos por quatro anos. Sabemos que estão felizes por passarem para um novo casal um exemplo de probidade, trabalho e competência. Hoje dormimos felizes, por sabermos que contribuimos, todos nós, para que as crianças e os adolescentes fossem melhor cuidados por mais um ano. No ano que vem estaremos a postos para fazer a diferença, do nosso jeito, com nosso método e com todo o amor que, sabemos, é o remédio para todos os males. Ufa! Trabalhar tanto e tão bem dá um sentimento de plenitude, dá uma felicidade difícil de explicar.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Mordaça para Lula


Alguém deveria sugerir que Lula usasse uma mordaça em dias em que estivesse mais efusivo e falante. Explico: as declarações escatológicas dele ontem ao falar sobre a crise que se abate também sobre o Brasil, foram pra matar! Gosto dele e acho que merece os atuais setenta por cento de aprovação, mas alguém tem que calá-lo às vezes.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DOAÇÃO INTELIGENTE É ISSO


São muitas a festividades que marcam a passagem do Natal e do Ano Novo, transformando dezembro em um mês ao mesmo tempo alegre e pesado. Essas festas minimizam em parte aquela pontinha de depressão que nos acomete nesta época, via de regra, mas podem também tornar-se fonte de problemas das mais variadas formas.
Pois, em Passo Fundo, há dois finais de ano, acontece a Cantata Natalina, iniciativa do Colégio Notre Dame e que na sua segunda versão já conta com milhares de participantes e parceiros. A primeira apresentação deste ano deu-se na sexta-feira à noite.
Esperava-se que se repetisse o espetáculo do ano passado e o que se viu foi algo mais lindo ainda com uma novidade comovente: foi anunciado que a queima de fogos de artifício estaria suspensa, para que o dinheiro destinado a ela fosse doado às vítimas das enchentes de Santa Catarina. Iniciativa linda, não?
E quem não gosta de ver fogos de artifício? Eles são usados como comemoração em todo o mundo, faz muito tempo. Em Copacabana no Rio de Janeiro, chegou-se a queimar 1 milhão e 800 mil reais em fogos, no reveillon de 2007. A Olimpíada de Pequim usou esse artifício para criar cenários mágicos e fantásticos, isso só pra registrar fatos marcantes e recentes. Estamos acostumados com isso.
Mas, tanta beleza tem seu lado cruel na medida em que fere os ouvidos dos animais, espanta os passarinhos e até os mata, incomoda bebês e idosos, interrompe o descanso de doentes. Não representam uma diversão totalmente inocente, é só procurar um pouquinho para ouvir as queixas. Agora, comemorar com foguetes, aqueles que só fazem barulho e costumam machucar as pessoas é o fim da picada, não? A prática de comemorar com foguetório é algo estupidamente predatório, pois, além de não oferecer beleza nenhuma, faz um barulho ensurdecedor e carrega em si material letal. Todos conhecemos histórias macabras, já vimos fotos de mutilações e até de mortes causadas por acidentes bem freqüentes.
Analisando tudo isso, é ou não é uma iniciativa inteligente que os organizadores da Cantata Natalina tiveram? Há muitas conseqüências advindas de um ato desses. O dinheiro que Santa Catarina irá receber é somente uma delas. O exemplo que tal iniciativa dá é a maior conseqüência, pois pode ser que aconteça em cadeia e mais e mais pessoas deixem os fogos de lado.
Devemos acreditar que estamos melhorando e que neste Natal e Ano Novo teremos infinitamente menos pessoas mutiladas, menos cães em sofrimento, menos passarinhos desorientados e mortos, menos barulho ensurdecedor e mais amor, mais abraços e beijos, mais música, mais civilização. E, melhor, haverá mais Natal para quem perdeu tudo nas enchentes. Bom, muito bom!

Sueli Gehlen Frosi – Associada à Escola de Pais do Brasil
Publicado no Diário da Manha de 05/12/2008

Um dito sacana, mas não vulgar


Olha só: "Sou meio como um mosquito num campo de nudismo; sei o que quero fazer, mas não sei por onde começar", não é bonitinho? Eu gostei e quero postar a frase como exemplo do que considero sacana, mas não vulgar. Meu amigo Ique é um amor e muito inteligente, gosta de criar frases de efeito como a que citei. Ele não é nenhum anjinho de candura, mas está muitíssimo longe de ser inconveniente ou grosseiro, pelo contrário. O que ele provoca com seu humor é riso, simplesmente.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Papai Noel


Ontem fomos falar com o Papai Noel, o Domingos e eu e ontem gostei de fazê-lo. Tenho uma mania bem brasileira de deixar isso para o fim e me vejo em apuros, ano após ano, por causa disso. Gostei de escolher presentes na Nobel, acessorada pela querida Laura, mulher inteligente e de trato suave e agradável. Percorremos a livraria várias vezes, conversando e escolhendo, pensando em cada um dos filhos, genro, noras. O Domingos vez ou outra, trazia-nos um achado dele, aliás, sempre um feliz achado, antenado que é na observação de cada um da família. Dei-me conta ali, da diversidade de que é composta a nossa família, na qual cada um exerce um papel claramente definido. Somos muitos, assim como somos muitos temperamentos, muitos interesses, muitos gostos e pensar em cada um e escolher para cada um foi um exercício revelador. Vi-me escolhendo um livro novamente para a Cecília, nossa neta de quatro anos, coisa que venho repetindo desde que ela nasceu, a exemplo do que fiz com as nossas crianças, que sempre ganharam muitos livros. O Domingos sempre teve o cuidado de proporcionar bolas, jogos e bicicletas, mesmo que estivéssemos mal de dinheiro, para bicicleta ele sempre dava um jeito. Lembro sempre da mesa de ping-pong oficial que compramos e colocamos na garagem. Ela serviu para o que foi destinada, isto é, para jogar ping pong e como mesa de churrasco, enorme e por isso mesmo adequada. Ela foi suporte para muitas festas até que começou a esfarelar e não permitir que a garagem ficasse limpa. Foi um pouco doído separar-nos dela. Lembro também do Banco Imobiliário, promotor de discussões acirradas, de nervosismo explícito, de risadas rasgadas e de brigas. Não sou das mães mais caprichosas em arrumar a casa para o Natal, no que me penitencio, nem me ocupei muito com os presentes, mas sei que o essencial foi feito, sei também que nada foi perfeito, mas que a gente foi feliz e se divertiu, isso sim! Em tempo: falei no pretérito, mas está errado, pois a gente ainda se diverte muito, ainda bem!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tia avó, quase bisavó







Estamos comemorando mais um nascimento na família. Trata-se de Bianca, que nasceu em Olinda, PE. O título fala em quase bisavó e é disso que se trata mesmo. Minha irmã Lúcia, a caçula, funciona quase como uma filha para mim. Isso por vários motivos: por ser a mais nova, quase temporã e por ter cuidado dela nas duas ocasiões em que teve filhas. Lucia e Alexandre moravam no Mato Grosso quando as meninas nasceram e dado a doença de nossa mãe, fui para lá, de mala e cuia e filho pequeno para fazer as vezes de mãe e avó. Hoje as meninas Alexandra e Gabriela são adultas e as amo como se fossem netas. O melhor de tudo isso é que, parece, o sentimento é recíproco, elas me amam também. Sempre tive delas muito carinho e consideração. Pois Alexandra, a mais velha, é mãe há dois dias de Bianca, uma linda menininha. André, o pai, dizem estar todo bobo, cuidando das duas com desvelo, passando a noite no hospital inclusive, no que faz muito bem. Pai de verdade é assim mesmo. Eu estou na torcida para que as dores da cesárea passem logo, já que não suporto a idéia de que Alexandra esteja com dor, de que Bianca seja bem glutona e mame muito, de que o leite seja farto, de que a alegria que Bianca está espalhando seja redobrada a cada dia. Sofro por não sentir o cheirinho dela, de perder o espetáculo de vê-la mamar, de não segurá-la no colo quando bem novinha, mas, sei que breve irei para lá, a fim de abraçar um por um e matar a saudade tão grande que sinto deles todos. Viva Bianca! Viva a vida!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Impor dor faz as pessoas piores


As sociedades protetoras dos animais têm muito a nos ensinar. Ensinam-nos, por exemplo, que não é necessário promover dor nos abatedouros de animais de corte e que devemos investir em métodos para a matança, que sejam rápidos e indolores. Este cuidado é estendido também aos animais domésticos, com os quais a crueldade, com o intuito de adestrá-los, deve ser banida.
Os argumentos que usam para tanto são poderosos e esclarecem que medidas contra a crueldade e a dor provocadas por nós humanos, melhoram nossa condição de seres racionais, em evolução, tornam-nos melhores e sensíveis para o belo e para o bom. Não nos faz bem conviver com o sofrimento desnecessário e, pior, provocado por nós mesmos.
A situação do Presídio Central de Porto Alegre, retratado em ZH de domingo, remete-nos a uma situação de extremo sofrimento por parte das pessoas confinadas, para as famílias que as visitam, para os funcionários impotentes diante da indiferença e da falta de recursos por parte do Estado e para as autoridades sensíveis à situação. A pocilga em que o presídio se transformou ofende nossas humanidade e cidadania, enquanto cidadãos e seres humanos. Sentimo-nos envolvidos pela dor de pessoas que, ainda que autoras de crimes, devem ter como pena somente a privação de liberdade. O que se acrescenta de sofrimento à segregação constitui crime. Indignamo-nos também com a insalubridade e a insegurança a que estão submetidos os trabalhadores das casas prisionais.
Se usarmos a lógica de que a dor não educa, que causar dor a qualquer ser nos torna piores, então estamos todos cobertos de culpas causadas por permitirmos que problemas graves como o do presídio nunca sejam solucionados, por querermos, como diz Marcos Rolim, “mais do mesmo”, isto é, por querermos mais prisões, mais depósitos para desrespeito aos elementares direitos das pessoas, quando deveríamos empenhar nossos esforços, nosso talento e capacidade de mobilização, no sentido de promover o cuidado efetivo com as crianças, impedindo que sejam maltratadas, tendo a coragem de dizer com todas as letras que em criança não se bate, mesmo que seja de leve; da mesma forma, deveríamos nos insurgir contra as práticas de tortura tão comuns dentro das instituições prisionais, delegacias, orfanatos, escolas e, principalmente, dentro das famílias. Também, deveríamos cuidar de tudo e de todos como se tudo e todos fossem nossos, o que não deixa de ser verdade, já que tudo nos afeta, tanto o que é bom, quanto o que é ruim. Essas são medidas profiláticas que podem começar uma nova construção, uma nova racionalidade, capaz de melhorar a condição humana. Nossas opiniões devem ser orientadas para o crescimento das pessoas e, governantes e gestores na área da segurança pública, devem nos ouvir e prestar contas do que fazem, pois, mesmo leigos, temos direito à insurgência e à indignação.
Publicado no dia 21/11 em www.ifibe.edu.br

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Há piadinhas e piadinhas!




Será possível que piadinhas grosseiras possam cair no gosto das pessoas? Vêem-se grosserias de tal sorte, que ficamos corados, mesmo estando sós, sem poder acreditar que algo tão chocante possa partir de alguém que conhecemos, de alguém que teve uma boa educação. Geralmente o intuito de proclamar algo estúpido é o de chocar mesmo, não importando o que os outros pensam. Nossa reputação fala muito do nosso comportamento, da nossa compostura e do respeito que temos pelas pessoas. Ser apontado como alguém inconveniente e grosseiro, depõe contra uma pessoa, é claro. A consciência é algo íntimo que não transparece para os outros, a não ser através de nossas atitudes. Trabalhamos na Escola de Pais com um tema apaixonante que é: COMO MARCO O MUNDO COM A MINHA PRESENÇA, conteúdo que sempre me faz pensar sobre o papel que desempenhamos e que é o nosso logotipo humano. Qual o formato do meu logotipo e que as pessoas vão lembrar depois que eu morrer? O que as pessoas pensam de mim? O que eu sou corresponde ao que pensam de mim? A última pergunta penso ser a mais emblemática, na medida em que questiona a dualidade reputação x consciência. Para sair do impasse, pode-se e deve-se unir os dos dois termos de forma a que me apresente ao mundo exatamente como minha consciência exige, para que minha reputação seja condizente com minha consciência. Gosto de pessoas irreverentes, divertidas, de bem com a vida, todavia, as grosseiras, mal educadas, contadoras de piadinhas baratas e as que se dizem com direito a "dizer verdades" doa a quem doer, essas eu abomino. Inventei hoje algo curioso: logotipo humano. Putz

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama e Michelle


Gostei de ver Obama eleito, mas não pelos motivos óbvios, mesmo sabendo que os destinos dos Estados Unidos da América tenham grande influência sobre os nossos destinos. Gostei por que ele é um cara legal. Obama olha pra mulher dele de forma significativa, sorri para ela e a gente sente que eles se entendem. Sou fã dos dois assim como sou fã de casais que conseguem levar adiante uma relação de verdade, por que não há coisa mais difícil do que isto. Uma relação amorosa dá muito trabalho, imagina então para pessoas públicas. Obama mostra através de seus olhares e sorridos que há cumplicidade e um código pessoal difícil de ser explicado. A intimidade cria códigos entre pessoas, que funcionam como um mundo a parte, onde é proibida a entrada de estranhos, mesmo por que, um estranho não entenderia nada e seria um estrangeiro absoluto. Quem consegue conquistar um nicho destes, em meio a tudo, conseguiu um lar, pois lar é um lugar muito mais emocional do que físico. Papai e mamãe são um lugar por causa dos códigos que a intimidade criou, às vezes a duras penas, por isso sentimos que, se tudo der errado, sempre podemos voltar para a casa dos pais. O ideal seria que todos tivéssemos um nicho restaurador, também chamado de porto seguro. Seria ótimo se todos pudéssemos trocar olhares significativos como o fazem Obama e Michelle. Seria ótimo se um olhar bastasse para nos entendermos, o que denotaria a realização de um trabalho ininterrupto de auto conhecimento e conhecimento do outro. Vida longa a Obama e Michelle!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vestido de noiva


Acredito agora que todos somos fascinados por vestido de noiva. Nos ultimos anos passei a acreditar que o amor basta, que só ele justifica uma vida de casados. Passei a ver os rituais como algo de que se pode prescindir, embora lindos e cheios de significado. Todavia, quando o bixo pega dentro da casa da gente e acontece a possibilidade de só o amor reger a saída da solteirice dos nossos filhos e filhas para a vida a dois, dá um susto enorme e passa-se a ter a sensação de que algo está faltando, de que algo não está certo. Viver isso é colocar na balança tanto nossa vida atual, cheia de novidades, de reflexões novas, de contato com as ciências, quanto com nosso passado que foi povoado por sonhos, arquétipos, tradições, valores e, sobretudo, por imagens de coisas vividas e das quais temos lembranças estéticas. Trazemos cheiros na memória, que, às vezes, de tão vívidos, transportam-nos ao casamento da madrinha, cujo bolo era todo merengue, cujas rosinhas cor de rosa tinham cheiro de merengue e a própria noiva era um merengue dançante de bochechas rosadas; o cheiro de tecido tem um enorme poder de túnel do tempo, na medida em que evoca as festas nas quais dançávamos envoltos em figurinos novos, frequentemente pinicantes e coceirantes, enquanto os pés sofriam um processo de fricção da pele com as costuras de trás do sapato novo, o que provocava enormes bolhas e dor dilacerante. O vestido de noiva, desde que me lembro, esteve envolto em uma aura de ascetismo vitoriano. Lembro de muitos comentários acerca do merecimento ou não de se usar véu e grinalda, por causa da virgindade. Segundo me lembro, todos sabiam quem era virgem e quem não era, chegando-se ao preciosismo de haver pessoas capazes de detectar a perda do hímem, apenas com um olhar, ou apenas vendo como a moça caminhava na rua. A lei que proibia o uso de vestido de noiva para quem não fosse virgem, sempre foi burlada. As grávidas enfaixavam a barriga e depois diziam que o filho nascera prematuro e isso tudo com a conivência da família. A virgindade já foi considerada propriedade dos pais, que tomavam conta dela zelosamente, a ponto de, mesmo às custas de muito dinheiro, pagarem para recuparar cirurgicamente a virgindade das suas moçoilas desobedientes. Hoje a reconstrução do hímem é um fetiche que movimenta uma indústria de cirurgia plástica, empenhada em reproduzir uma juventude artificial, o que inclui, pasmem, a virgindade.

A visão de um vestido de noiva traz de volta tudo isso e nos faz pensar: que bom que as coisas mudaram e nossas filhas podem escolher seu vestido de noiva, e usá-lo se quiserem, da cor que quiserem, para caminharem esplendorosas em direção ao noivo, escolhido livremente, sem qualquer imposição (coisa nova), e com o qual casarão simplesmente por que se amam de verdade.

A visão de um vestido de noiva é algo poderoso, mas se for o da nossa filha, é pra matar!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Para gostar de poesia


"Para entender uma mulher é preciso mais que deitar-se com ela...Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa que se possa prever nossa vã pretensão...Para possuir uma mulher é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade...Há de se conseguir fazê-la sorrir antes do próximo encontro...Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que amante perfeito...Há de se ter o jeito certo ao sair, e fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso...O potente, o amante, o homem viril, são homens bons...Bons homens de abraços e passos firmes... Bons homens pra se contar histórias...Há, porém, o homem certo, de todo instante: o de depois!Para conquistar uma mulher, mais que ser este amante, há de se querer o amanhã, e depois do amor um silêncio de cumplicidade...E mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder...É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café...Há que ser mulher, por um triz e, então, ser feliz!Para amar uma mulher, mais que entendê-la, mais que conhecê-la, mais que possuí-la, é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também ser possuído e, ainda assim, também ser viril...Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la, há de ser conquistado...Todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser amado!"(Carlos Drummond de Andrade )

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Musculação II


Hoje é dia de fazer apologia à musculação. Devo a ela muitos elogios, apesar das dores que me causou. Faz tempo que ouço que, com a idade, perdemos músculos, densidade óssea, tônus, elasticidade da pele e que tudo isso pode e deve ser amenizado. Vivemos muito mais hoje do que antigamente, por isso a necessidade de se chegar à velhice com uma boa forma física e qualidade de vida. Esse blá, blá, blá (no bom sentido) é repetido nos consultórios médicos e sempre entrou-me por um ouvido e saiu pelo outro. Porém, comecei a sentir que secar os pés não era mais uma tarefa fácil, por faltar-me equilíbrio suficiente; que cada movimento brusco causava uma contratura em pontos cada vez mais numerosos do corpo, fazendo com que minhas atividades ficassem restritas; que passar horas digitando estava se tornando uma tarefa impossível, pela impossibilidade de destravar pernas e costas na tentativa de sair da frente do computador; enfim, a vida prática, cotidiana passou a ser algo pesado e muito mais lento do que o normal. Parar de fumar foi uma decisão emblemática, por ser um pontapé inicial para uma série de decisões, não só para mim, mas a dois, pois para o Mingo também. Passamos a engordar assustadoramente, consequentemente tivemos nossa pressão alterada para cima, ao mesmo tempo nosso humor sofreu uma transformação radical e passamos de felizes para profundamente infelizes e frustrados por causa da abstinência às substânicas contidas no cigarro e à falta do ritual de acender um cigarro, aspirar profundamente e, pasmem, gostar daquilo. Era urgente que começássemos a fazer algumas coisas em nosso favor e, uma entre tantas, é a que reputo mais visível e gratificante: a musculação.

Os primeiros resultados são dor, cansaço, depois dor e depois cansaço. É difícil descrever o que a gente sente quando inicia algo que deve ser feito, mas que é adiado ano após ano. A dor é suportável por causa disso e a espera pelo resultado também. O resultado não demora, pois com um mês de exercícios o humor já muda e a gente passa a gostar de suar, de cansar e depois dormir muito melhor. A silhueta é que demora a mostrar algo, mas acontece. Com sessenta e um anos não é de se esperar algo muito muito marcante visualmente, mas o equilíbrio volta a ser o que era, as dores no corpo do tipo bursite, somem, simplesmente somem e a gente não se machuca mais, podendo até mesmo erguer peso. Enfim, estou feliz com o meu forte Domingos, lindo como nunca e superando as dores profissionais com as quais vem convivendo há anos. E viva as decisões que tomamos e que nos beneficiam tanto! E viva a afirmação da Eliza ao nos ver sofrer, de que estávamos necessitando de endorfinas, que agora segregamos por meios saudáveis.
Aviso: A foto não é do Domingos, mas nunca se sabe o que pode acontecer no futuro.

sábado, 25 de outubro de 2008

Uma das muitas formas de preconceito



Faz um tempo que sabemos da existência de jovens emo, que se caracterizam por usar roupas diferentes, de preferência pretas, maquilagem preta nos olhos, tanto por parte dos meninos como das meninas, uma franja farta jogada sobre o rosto e um comportamento estranho pautado por grande sensibilidade.
Se observarmos bem, podemos constatar tratar-se de pequenos grupos que ficam sós, isolados dos demais, numa demonstração de que existe algum estranhamento entre os “diferentes” e os “iguais”. Talvez possa-se dizer que existe um estranhamento entre os “normais” e os nem tanto, como sempre vimos acontecer.
Se pesquisarmos sobre essa nova forma de manifestação juvenil, veremos que ela é totalmente pacífica e o estranho na verdade é o fato de serem extremamente sensíveis, o que é inusitado em tempos de individualismo e busca do prazer imediato. Trata-se de meninos e meninas que encontraram uma forma de expressão e estão sendo punidos, geralmente por outros da mesma idade, massificados e vestidos de acordo com o que a propaganda manda.
Nós que permitimos que pessoas sejam isoladas, somos tão responsáveis quanto os que o fazem ostensivamente. Já assistimos a sofrimento demais para que continuemos a ser coniventes com o preconceito contra qualquer pessoa, contra qualquer grupo, contra qualquer povo. Toda vez que a liberdade de expressão é cerceada, damos um passo atrás no nosso processo civilizatório.
Os pais e os professores têm, de forma intrínseca à condição de educadores, a tarefa de mediarem esses conflitos e de pacificarem-nos. Não devem permitir, muito menos alimentar comentários sobre pessoas, que possam desqualificá-los e colocá-los em risco de discriminação e isolamento. Devem defender o direito de todas as pessoas de se manifestarem, de serem como são, o que representa um dos conceitos de direito mais bonitos que a civilização conquistou a duras penas: o direito a ser diferente, o direito à inclusão.
Não há forma melhor de pacificação das nossas relações humanas, do que usarmos todos os nossos sentidos para observar, para detectar e para corrigir as manifestações de preconceito com que deparamos. Devemos usar o amor que temos pelos nossos filhos e alunos para ajudá-los a olhar para o outro como alguém que pode ensinar, assim como aprender. Nossos meninos e meninas devem ser orientados a perguntar intimamente, quando encontram alguém diferente: - O que eu posso aprender com você? – O que você pode aprender comigo?
E nós, pais e professores, os grandões e sabichões, não temos que “normalizar” ninguém, pelo contrário, devemos incentivar e ver a riqueza da diversidade.
Publicado no dia 26/10/2008 no Jornal Zero Hora
Publicado no dia 27/10/2008 no Jornal O Nacional
Publicado no dia 28/10/2008 no Jornal Diário da Manhã

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quase!


Ontem quase fui atropelada, gente! Cheguei a ver um sorriso, quase um esgar irônico, meio virado pro lado direito, por parte da minha quase atropeladora. Calculei cuidadosamente minha travessia em uma ruela, mas ouvi uma aceleração e a vinda inexorável daquele carro em minha direção. Num átimo pensei: será que calculei mal? Será que vai dar tempo? Será que a pessoa está mesmo acelerando? E estava... Mas eu tinha calculado direito e consegui atravessar em tempo, não sem antes conferir o tal sorriso e aí me deu uma coisa e eu ri às gargalhadas. Se alguém perguntar por que eu ri, eu não conto, nem sob tortura. Ufa! Dessa eu escapei!
Quando cheguei em casa lembrei de um romance que li há muitos anos atrás, de Stephen King, que se chama Christine. Trata-se de um carro assassino. E ele mata muito, em série. É uma história de terror das boas, já que mantém o leitor em constante tensão por causa de algo inusitado, como um carro que mata. Ontem lembrei de Christine, veja só!

domingo, 19 de outubro de 2008

Festa boa, muito boa!


Comentei esta semana com uma amiga, o fato de não nos envolvermos mais em preparativos de festas. Há uma indústria que toma para si todas as preocupações e ocupações que uma festa, de qualquer porte, necessita. Contrata-se um(a) promoter e o resto é por conta desse novo profissional, que, parece, não é tão novo assim, eu é que andava meio desatualizada. Mas, comentando com minha amiga, a mãe do noivo da festa de ontem, que há umas poucas décadas, uma festa era sinônimo de trabalho insano. Tinha-se que fazer tudo, da comida às lembrancinhas, isso sem falar na limpeza do lugar. A civilização vai acontecendo na nossa frente sem que percebamos as sutilezas e quando nos damos conta, as coisas mudaram e nós estamos inseridos em uma nova forma de viver, queiramos ou não. As festas infantis é que começaram a me espantar, pelo fato de ter frequentado muitas, com cinco crianças sendo convidadas sistematicamente por anos. Quase não percebi quando as festas passaram a ter obrigatoriamente um tema. Ao planejarmos uma festa ela tinha que ter um nome, uma cara, um tema e aí tudo girava em torno disso. A contratação de recreacionistas foi um choque pra mim, pois percebi que os adultos não necessitavam mais cuidar de seus filhos em festas, havia gente que o fazia. Tânia Zagury, uma filósofa e educadora, em um de seus livros sobre como educar filhos, fala sobre essas festas planejadas, no sentido de alertar os pais de que estariam perdendo uma chance preciosa de educar seus filhos. Ela fala a respeito da foto em volta da mesa, dizendo que todas as mães conseguem o milagre de encaixarem seus filhos em volta do aniversariante para que saiam na foto do bolo com velinhas. Tirada a foto, os mais afoitos pegam os brigadeiros, mesmo antes da autorização para fazê-lo e enchem a boca com eles. Os que os anjinhos não conseguem comer, eles colocam dentro de copos descartáveis e os levam às mães para que ela guarde para depois. E as mães guardam... As mães sabem que as crianças comem demais em festas e que aqueles brigadeiros não vão ser comidos, mas guardem assim mesmo, quando o comportamento deveria ser outro. Segundo Tania, as mães e pais, ao invés de procurarem outros adultos em festas infantis, deveriam ficar atentos ao comportamento social de seus filhos, no sentido de ensinar-lhes regras fundamentais de convivência humana. Por exemplo: os brigadeiros não podem ser retirados da mesa antes da hora certa e quando os donos da festa derem o sinal; não se deve pegar mais do que se vá comer, pois com isso, haverá falta para os que não são tão afoitos assim; não se leva nada para casa que não seja nosso. Parecem-me regras elementares e óbvias, mas que precisam ser ensinadas e observadas se quisermos que sejam incorporadas como valor. Só conseguimos reconhecer valores que são vividos, se são regras que valem para todos, principalmente para os meus filhos e para mim. O que acontece se não observarmos isso que é fundamental? Continuaremos vivendo situações ambíguas do tipo: economizar luz é necessário, mas no meu caso... não se pode jogar lixo na rua, mas hoje, no meu caso... As festas são sim uma ótima oportunidade de exercitarmos nossa cidadania, sejam elas organizadas por profissionais ou não. Estamos tão melhores neste mister que, na mesa de festa que visitarmos, encontraremos quem comente que não está bebendo por que vai dirigir. Ótimo! E viva a civilização! E viva quem promove uma festa linda como a de ontem! E viva quem me convida para uma festa tão linda!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Professores e professoras


Converso muito com eles. Tenho um prazer imenso em perguntar acerca da escola, das crianças, de como todo mundo está se sentindo no meio da educação formal. O que sinto nos ultimos anos é algo que dá quase pra pegar com a mão, que é um desânimo, o que vem a ser algo contrário ao desassossego. Eu gostaria de ver professores e professoras inquietos, dasassossegados, por que, aí sim a gente poderia vislumbrar algo de bom, mas lidar com desânimo é difícil. Numa das minhas conversas, fiquei sabendo que existe um estudo sobre uma síndrome que está acometendo os professores e professoras de forma avassaladora. Trata-se de um sentimento que tem até um nome, do qual não lembro, mas que traduz um fato: há professores que não se dizem mais professores, que não se sentem mais professores, mas que estão professores até que se aposentem, e o quanto antes melhor. Penso que o desânimo de que falei é esta síndrome que está minando a saúde dos professores e a saúde da educação em geral.

A professora com quem falei é uma especialista que escreveu uma tese na qual analisou a participação dos pais na escola. Perguntei a ela se pensa em publicar a tese. Ela respondeu que agora temos que nos preocupar com quem cuida dos pais e com quem cuida dos professores. Isto que conversamos está me cutucando e quando sou cutucada tenho que me mobilizar. A Márcia prometeu que manda as referências para estudar a tal síndrome, o que farei é claro. Mas, e os pais? Se cuidarmos dos pais, automaticamente cuidaremos do professor, não é? Se cuidarmos dos pais, as crianças serão mais calmas, mais educadas, mas prontas para a aprendizagem. Se cuidarmos dos pais, as crianças serão mais inteligentes e mais curiosas, fazendo com que o professor se sinta encorajado a procurar novidades, e, novidades curam qualquer alma, não é? A mesmice mata qualquer um, quanto mais quando se trata de educadores formais obrigados a trabalhar em estruturas obsoletas, com material obsoleto, mesmo lidando com vidas que, segundo visões equivocadas, são o futuro do Brasil. Enquanto eles forem o futuro, não acontecerá mudança, pois criança tem que ser o presente, o agora, pois amanhã será tarde. Eu conheço algo que pode ajudar em curto prazo e de forma eficaz, inteligente, dinâmica: é investindo pesado em círculos de debates da Escola de Pais do Brasil, sim senhor. A Escola de Pais do Brasil cobre grande parte do país e no caso do Rio Grande do Sul, grande parte do estado, estando em condições portanto, de cuidar de pais, para que cuidem melhor dos filhos, para que o professor seja socorrido em suas angústias e carências.

Mário Quintana e o tempo


Algumas hora depois de postar sobre o passado e o futuro, encontrei uma preciosidade em forma de poesia de Mário Quintana, falando quase sobre o mesmo assunto. Aí vai:
Mário Quintana

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, já passaram-se 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado. Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas. Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.' Mário Quintana

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nostalgia e esperança


Segundo alguns filósofos, essas são as desgraças da vida. Já li muito a respeito, já pensei muito, mas sempre caio nesses dois pecados mortais, nesses dois atrasos de vida. Levo uma vida bem movimentada, mas, como todo mundo, tenho momentos a sós, o que é solo propício ao pecado, pois é aí que penso no passado, e é aí que projeto o futuro, inutilmente... Com o passado minha relação, às vezes, é meio doente, é meio de fuçar em feridas. Faço-o sem querer, sem perceber. Quando sinto que dói alguma coisa, procuro, procuro e percebo que estava me torturando, de novo. Não tenho problemas com desviar minha atenção, pois tenho muitos recursos à mão, já que leio, escrevo, converso, saio, trabalho, faço muitas coisas com as quais encontro distração e prazer, mas, o estrago já aconteceu. Ficou uma amargura, uma mágoa, uma saudade até. Sei da inutilidade disso, tanto que me recomponho, me reconstruo todos os dias e todas as noites, isso sem falar das madrugadas de sono truncado, interrompido, quando olho pro escuro e imagino, lembro, projeto, arquiteto, choro, me angustio, me levanto e tomo leite morno, quando não umas gotinhas. Relacionar-me com o futuro é o maior paradoxo. Como posso ter uma relação com o que não existe? A esperança não é um projeto de futuro. Há algo mais inútil do que ter esperança? O passado eu já vivi, tem alguma concretude, mas o futuro não é nada, nada. Então, como posso gastar tempo e energia com algo sem fundamento algum? O prejuízo que isso causa ao meu momento concreto, o único, o presente que já é passado e que gasto com taquicardia, suor nas mãos, boca sêca de tanto procurar soluções onde não há soluções, e, pior, para problemas que trago de lá de trás, lá de onde emergi e que fez de mim o que sou. Como encontrar a suprema sabedoria para conseguir desvencilhar-me do que fui, sem projetar o que serei, para poder saborear o agora, o que sou? Quando falamos em resgatar a criança que vive em nós é disso que se está falando. Eu quero ser uma criança, sem que me infantilize, que aí seria retardada. Quero ser confiante como a criança; quero sorrir olhando nos olhos do outro sem me preocupar com julgamentos; quero me abandonar nos braços do amor incondicionalmente, sem julgar, assim como faria minha neta Cecília, que aceita o amor de todos e ama a todos, simplesmente por que é assim que é; quero brincar para me divertir de verdade, mesmo que seja com a louça da pia, pela qual nutro um sentimento não nobre e que não confesso aqui; quero poder resolver meus problemas à medida em que acontecem, nem antes, nem depois, a exemplo do que me contou um médico oncologista que, indagado sobre como lidar com casos bombardeados, ele falou que resolve um problema de cada vez, do tipo, o que o paciente quer para hoje eu faço; quero contemplar a vida dos filhos, sem interferir, a não ser que solicitem interferência, mesmo que estejam sofrendo, por entender que a vida é deles e que eles conseguem resolver a vida assim como nós resolvemos a nossa; quero que meus filhos olhem para mim e encontrem rugas de alegria no lugar de rugas de angústia, para que consigam transitar pela vida afora sabendo que estão livres e que não sou amarra para eles; e, quero ser um amor de verdade para o Mingo, que dividiu a vida comigo e continua fazendo isso com honestidade, carinho e amor, sem que me torne um peso, mas um estímulo para continuar tudo com qualidade e, acima de tudo, com desenvoltura. Deixei para o fim a desenvoltura, pois acredito que este seja um atributo de liberdade, pois pressupõe alguem solto, como se deixasse que os elementos da natureza o conduzissem, o que seria uma boa coisa, acredito. Este trololó quer dizer que tomei uma decisão: de agora em diante vou dar passos de qualidade, na direção que a felicidade quiser, sem permitir subtrações, nem vindas do passado, nem de projeções de futuro. E vivam as decisões novas e as mudanças de rumo, desde que fincadas no aqui e agora!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre nudez e pornografia - Pedro Cardoso


Será que Pedro Cardoso conseguiu retratar e colocar em palavras o nosso mal-estar? Será que alguém do meio artístico e que vive do meio artístico sente o mesmo que sentimos ao ver o aviltamento de pessoas? Será que já não estamos com a mente deturpada a ponto de aderirmos ao comportamento voyerista de cineastas e produtores vestidos e barrigudos, bebericando champanhe francês, enquanto vendem a inocência de um povo? Reproduzo aqui seu pronunciamento, retirado do blog www.casacinepoa.com.br, para que possamos refletir sobre o assunto e, quem sabe, corrigir alguns comportamentos inadequados:

09/10/2008
Pedro Cardoso e a nudez
"Mentir é o ato mais distante possível da arte de representar".Pedro Cardoso
Texto do Pedro Cardoso, originalmente publicado em Todo mundo tem problemas sexuais
09/10/2008
Esse é o texto que eu li na primeira exibição do filme "Todo mundo tem problemas sexuais" no cinema Odeon no dia 08 de outubro de 2008.
Ah, eu sou o Pedro Cardoso. Espero que ele ajude a todos nós.


Senhoras e senhores, nesta primeira exibição pública de "Todo Mundo Têm Problemas Sexuais", eu gostaria de, na qualidade de ator e produtor do filme, compartilhar com vocês algumas preocupações a respeito da pornografia que percebo presente na quase totalidade da produção audiovisual mundial, e na brasileira especialmente; e como esta invasão está aviltando a profissão de ator e de atriz; e gostaria de situar o filme no contexto desta questão.
A meu ver, as empresas que exploram a comunicação em massa (e as que dela fazem uso para divulgar seus produtos) apossaram-se de uma certa liberdade de costumes, obtida por parte da população nos anos 60 e 70, e fazem hoje um uso pervertido dessa liberdade.Uma maior naturalidade quanto à nudez, que, naquela época, fora uma conquista contra os excessos da repressão à vida sexual de então, tornou-se agora, na mão dessas empresas, apenas um modo de atrair público. Com a conivência de escritores e diretores (alguns deles, em algum momento, verdadeiros artistas; outros, nunca!) temos visto cenas de nudez, ou semi-nudez, ou roupas sensuais, ou diálogos maliciosos, ou beijos intermináveis, em quase todos os minutos da programação das televisões e nos filmes para cinema, sem falar na publicidade. A constância com que essas cenas aparecem tem colocado em permanente exposição a nudez dos atores, especialmente das mulheres; é sobre as atrizes que a opressão da pornografia é exercida com maior violência, uma vez que ela atende, na imensa maioria das vezes, a um anseio sexual do homem. É raro o convite de trabalho, seja filme ou novela ou programa de humor, que não inclua cenas desse tipo para o elenco feminino.No filme que assistiremos em breve, apesar do nome que tem, não há cenas de nudez. Embora o drama de todas as histórias aconteça nas imediações de atos sexuais, este filme não tem cenas de nudez. Esta foi uma sugestão minha que foi muito bem recebida pelo diretor, Domingos Oliveira, e por ele endossada. A minha tese é de que a nudez impede a comédia, e mesmo o próprio ato de representar. Quando estou nu sou sempre eu a estar nu, e nunca o personagem. Quando vemos alguém nu vemos sempre a pessoa que está nua. O personagem é justamente algo que o ator veste. Ao despir-se do figurino, o ator despe-se também do personagem, e resta ele mesmo, apenas ele e sua nudez pessoal e intransferível. Diante da irredutível realidade da nudez de seu corpo, o ator não consegue produzir a ilusão do personagem. O ator ou atriz que for representar um personagem que estiver nu, terá que vestir um figurino de nu (seja lá o que isto queira dizer!).Fiz algumas poucas cenas de nudez muito parcial e eu me senti sempre muito mal, porque, despido, devia representar ainda, embora já sem personagem nenhum. Este absurdo causa grande desconforto ao ator ou a atriz porque nos obriga a mentir, e mentir é o ato mais distante possível da arte de representar.Neste filme de hoje a vida íntima dos personagem é o ambiente onde seus dramas acontecem, apenas isso. Não há intenção de provocar excitação sexual, como há na pornografia. Acredito que a dramaturgia, que é arte de contar histórias, busca oferecer ao público um pensamento, e não uma sensação. Esta pertence a vida. É na vida que sentimos frio e fome; na arte, falamos do frio e da fome, se possível com alguma inspiração. A apresentação da nudez busca produzir uma sensação erótica, e não sugerir um pensamento sobre o erotismo. Neste filme, os atores estão vestidos para que os personagens possam estar desnudos. O estímulo ao anseio sexual está esquecido para que o pensamento possa ser provocado.Fazer o filme assim é uma decisão política para mim. A pornografia está tão dissimulada em nossa cultura, que já não a reconhecemos como tal. Hoje, qualquer diretor ou autor de novela ou programa de televisão (medíocre ou não, mas medíocre também!), ou qualquer cineasta de primeiro filme, se acha no direito de determinar que uma atriz deve ficar pelada em tal cena, ou sumariamente vestida (já vem escrito no texto!), ou levando um malho, ou beijando calorosamente durante dez minutos um ator que ela acabou de conhecer (e já aconteceu de ser apresentado um prostituto para fazer uma cena de beijo com uma colega nossa). E, depois, é freqüente que esses cineastas de primeiro filme exibam para seus amigos, em sessões privê, as cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz. (E quanto mais séria e profissional for a colega, maior terá sido o feito de tal cineasta de merda.)E quando hesitamos diante de um diretor que nos pede a nudez, ele fica bravo, faz má-criação, como uma criança mimada, porque se considera no direito a ela. E, se a atriz for jovem, é bem capaz que ainda ouça uns desaforos.Até quando nós, atores, ficaremos atendendo ao voyeurismo e à disfunção sexual de diretores e roteiristas que, instigados pelos apelos do mercado ou por si mesmos, nos impingem estas cenas macabras? Até quando nós, atores e sobretudo as atrizes, serão constrangidas a ficarem nuas em estúdios ou praias onde homens em profusão se aglomeram para dar uma olhadinha? Ou, pior: quando dissimulam o seu apetite sexual num respeito cerimonioso; respeito esse que é pura tática para não espantar a presa, a oferenda que vai ser imolada no altar do tesão alheio dos impotentes!Um diretor não deveria pedir a uma atriz que faça algo que ele não pediria a uma filha sua. Assim como um homem não deve fazer a uma mulher algo que ele não quer que seja feito a uma filha sua. Eu não conheço outra dignidade além dessa.Se essa gente quer nudez, que fiquem nus eles mesmos, e então conhecerão o uso pornográfico de suas próprias imagens e saberão onde dói! Além do que, seria uma doce vingança para nós conhecer a nudez dessas belíssimas pessoas, geralmente fora do peso!Quem quer a nudez do outro é porque tem problemas com a sua própria.Eu ambiciono o dia em que os atores e as atrizes saibam que podem e devem dizer "não" a cenas onde não se sintam confortáveis. O dia em que saibamos que não temos obrigação de tirar a roupa, que esta não é uma exigência do ofício de ator e sim da indústria pornográfica. O dia em que não nos deixaremos convencer por patéticos argumentos do tipo: "é fundamental para a história", "a luz vai ser linda", "você vai estar protegida", "é só de lado", "a gente vai negociar tudo", "se você não gostar, depois eu tiro na edição" e o pior argumento de todos, "vai ser de bom gosto". E a conclusão de sempre "confie em mim". E há também um argumento criminoso: "O programa é popular. Tem que ter calcinha e sutiã." Como se a gente brasileira fosse assim medíocre.Claro que somos imperfeitos, pornografia talvez sempre haverá. Mas que ela não seja dominante e absoluta. E, principalmente, que ela não seja irreconhecível, disfarçada de obra dramatúrgica, de entretenimento inocente. Isto é uma perversão de conseqüências trágicas porque rouba à arte o seu lugar. E a arte, mesmo quando seja entretenimento inocente, é fundamental para a nossa saúde coletiva. E se a pornografia também o for, que ela o seja, mas como pornografia, e não querendo se passar pela nossa vida de todo dia, no ar na novela das sete, ou mesmo das seis, como se aquelas situações fossem a coisa mais normal do mundo. Criam-se cenas de estupro, de banho, de exibicionismo, de adultério, ambientadas em boates, prostíbulos, etc, tudo apenas para proporcionar cenas de nudez.A quem diga que a nudez destas cenas é fundamental para a história, eu sugiro que assista a pelo menos dois filmes de François Truffaut, "Le Dernier Métro" e "La Femme à Coté", e aprendam alguma coisa sobre a narrativa da intimidade de personagens sem haver exposição da intimidade dos atores.Um bom ator pode surgir em qualquer lugar, na escola, na rua ou mesmo no deserto hipócrita de um reality show. O fundamental aqui é fazer uma distinção, não quanto ao caráter de cada pessoa individualmente, mas quanto à natureza de cada coisa. O que é pornografia é pornografia, o que é arte é arte. Que os pornógrafos sejam os pornógrafos, e que os atores e atrizes sejam os atores e as atrizes. Hoje está tudo confuso e sendo tomado pelo mesmo. E nós, atores, que deveríamos estar servindo à dramaturgia de uma história, temos sido, constantemente, o veículo da pornografia, com maior ou menor consciência do que estamos fazendo.Mas é bom lembrar que nunca é o ator que escreve para si mesmo a cena em que ele ficará nu. Nunca é uma escolha do ator. É sempre a escolha de um roterista e de um diretor e, certamente, do produtor.Eu ambiciono o dia em que nós não teremos medo do YouTube ou das Sessões Nostalgia dos canais Brasil da vida, com suas retrospectivas do nosso cinema; o dia em que não teremos medo de os nossos filhos terem que responder perguntas constrangedoras a colegas na escola. Não é necessário ser assim. Os filhos de grandes atrizes, de um passado ainda muito recente, não passaram por esse constrangimento. Não há por que nós aceitarmos tamanho aviltamento. Saibamos dizer "não"! Nada acontecerá.Claro que tudo isso nos é vendido como algo inofensivo, apenas uma crônica dos costumes do nosso tempo. Mas esse é o grande álibi para a disseminação da pornografia através do nosso trabalho. Há muito tempo estamos passando por esse constrangimento e fingimos que não. Temos mil desculpas esfarrapadas para nos enganar. Mas a verdade é que temos medo de ficar sem emprego. A pornografia é uma mercadoria muito fácil de vender, mas eu acredito que o público, por fim, a rejeita e se sente desrespeitado. Eu escrevi para televisão brasileira, em companhia de outros colegas, e para o teatro, obras que não tinham pornografia e que fizeram sucesso. Participo há oito anos de "A Grande Família", onde, se alguma pornografia houver, é muito pouca. Digo "se alguma houver" porque a pornografia tem tantos disfarces que nenhum de nós está livre de todo; então, faço eu mesmo a ressalva.Onde há pornografia, não há liberdade. Há alguém ganhando dinheiro e alguém sofrendo para produzir o dinheiro que este outro está ganhando. Quem se vê submetido a cena pornográfica sempre sofre, mesmo apesar de seus possíveis comprometimentos subjetivos a tal submissão. O comprometimento eventual de alguns de nós não legitima o ato agressivo de quem propõe a pornografia.A quem se afobe em me acusar de exagerado, eu só peço que assista aos filmes recentes e à televisão. Está tudo lá. É só ter liberdade para ver.A quem se afobe em me acusar de moralista, peço antes que procure conhecer o meu trabalho em teatro e que assista ao filme desta noite. Nele, assim como algumas vezes no teatro, tratei, junto com meus colegas, de assuntos bem distantes da uma moralidade puritana. Quem for me acusar, tente primeiro perceber a diferença entre a liberdade para tratar de qualquer assunto e a intenção de usar qualquer assunto para difundir pornografia usando a liberdade de costumes para disfarçá-la de obra dramatúrgica.Para que não digam que eu sou contra a nudez em si, dedico este texto à atriz Clarisse Niskier, que faz de sua nudez em "A Alma Imoral" um excelente instrumento para a narrativa do seu espetáculo e não um ato pornográfico. Na televisão não há cena de nudez que eu me lembre de ter considerado justificada, mas no cinema há pelo menos uma: Leila Diniz vestindo a nudez de sua personagem no filme "Todas as Mulheres do Mundo", enquanto o personagem de Paulo José diz um belíssimo poema de Domingos Oliveira.E para que não digam que estou assim transtornado com este assunto porque agora estou namorando uma atriz, digo "logo eu!" De fato, nos dói mais a dor que dói em nós mesmos. Mas saibam que estas idéias, incômodos e preocupações já nos ocupavam, tanto a mim quanto a ela, muito antes do nosso encontro. Agora, ver a mulher que eu amo ter que diariamente se defender no trabalho contra a pornografia reinante tornou este assunto a primeira ordem do meu dia. Se antes era apenas por responsabilidade profissional que eu me opunha à pornografia, agora é também por amor. Se alguém conhecer um motivo melhor do que este para lutar por uma causa, me diga, porque eu não conheço. E ainda afirmo: o meu afeto não me nubla o discernimento. Ao contrário, acredito que ele me deixe mais lúcido porque mais determinado.E se, ainda, alguém quiser me acusar de mais alguma coisa, acho que dificilmente serão atores e muito menos atrizes. As acusações virão certamente daqueles que sempre permanecem vestidos nos estúdios de televisão e nos sets de filmagem ou nem saem das salas de reuniões.Aqui nesse filme também não houve amestradores de ator. Esse assunto parece nada ter a ver com a pornografia, mas tem sim. O haver agora no mercado esses amestradores de atores faz parte da desautorização do ator como autor do seu próprio trabalho. Quer dizer que nem o seu próprio trabalho é o ator que faz?! Há alguém que o faz fazer como deve ser feito. Isso acontece, na minha opinião, porque os cineastas confundem sua própria perplexidade diante da dramaturgia (que, por vezes, eles desconhecem) com uma suposta incompetência do ator, e resolvem o problema chamando um amestrador de ator. (Melhor fariam se estudassem teatro.) É nocivo para nós. Um ator desautorizado na autoria de seu próprio trabalho irá aceitar, com muito mais subserviência, a pornografia que lhe será exigida logo mais à frente. O que está escondido sob esta prática é a desautorização do ator como líder da arte de representar e senhor do seu ofício. Lembremo-nos de que só há realidade fílmica ou televisiva, e certamente teatral, se um ator a faz existir! Sem o ator não há nada. Este é um poder que podem nos impedir de exercer, mas não nos podem tirar.Espero que o filme que vamos assistir explique os meus sentimentos e idéias a respeito desse assunto melhor do que estas minhas palavras.Vamos ao filme.Escrito por Pedro Cardoso

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mais do que sorte, busque Direitos Humanos


Campanha publicitária deflagrada a partir de hoje e lançada ontem no Fórum (salão do júri): "Os Direitos Humanos protegem a dignidade, promovem a justiça e garantem a liberdade de todas as pessoas. Não aceitam preconceitos ou privilégios, domínio ou exploração, exclusão ou discriminação. Mais do que na sorte, acredite nos Direitos Humanos. Procure orientação na Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo." Rua Senador Pinheiro, 304 - Vila Rodrigues - fone 54 3313-2305 - http://www.ckhpf.org.br/

Será veiculado na mídia um vídeo lindo de 30', assim como serão distribuídos folders e adesivos falando sobre a campanha de afirmação dos Direitos Humanos, trabalho que já vem acontecendo desde o ano passado. Continuará acontecendo um trabalho de conscientização em forma de oficinas em escolas, assim como foi lançado o concurso de fotografia do qual poderão participar alunos de todas as escolas da cidade.

A Escola de Pais do Brasil foi convidada a participar do lançamento e teve oportunidade de garantir parceria para o sucesso da campanha.

Esta é mais uma campanha que serve para tornarmo-nos mais cultos e consequentemente melhores cidadãos. Se olharmos para trás, não muito mais para trás, veremos o quanto avançamos no intento de fazermos uma cultura de Direitos Humanos. Nossa construção histórica passa pelo fato de termos o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Maria da Penha, o movimento antimanicomial, a indignação que começa a tomar corpo contra o que está acontecendo nos presídios, as leis contra a tortura, nossa clara ocupação em preservar o planeta, com o intuito de melhorarmos nossa qualidade de vida. Quem falar que no passado era melhor, não conhece a história. Eu estou bem feliz com o que está acontecendo, só acho que está muito devagar. Gostaria de poder ver tudo resolvido de uma vez.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

René Cecconello


Gosto dele. Fomos colegas de Filosofia e temos uma relação de camaradagem e de querer bem. Tenho uma história de militância petista bem explícita, já que bandereei e ostentei adesivos no carro em todas as eleições, menos nesta. Usei o blog pra demonstrar minha opção para vereador, coisa que fiz de peito aberto e com muito orgulho, mesmo que minha candidata Cláudia não fosse do PT. O PCdoB é um partido pelo qual nutro muita simpatia pelo que representou historicamente para o Brasil, mas reconheço seu fisiologismo histórico também. O PCdoB tem a virtude de acolher gente muito legal, que eu adoro e admiro, como é o caso do Juliano aqui, o Carrion, a Jussara e a Manoela em POA, o que o redime desse parasitismo. O que quero dizer com esse prólogo, é que não fui militante este ano, apesar do meu afeto por Cecconello, candidato a vice prefeito junto com Dipp. Para ser militante tenho que estar apaixonada por uma causa e não consigo me apaixonar por causa nenhuma onde se leia PDT, ou DEM, ou PP ou o raio que o parta. Com a devida vênia aos meus amigos às pessoas que compuseram esta administração e que fizeram um bom trabalho, este ano não consegui. Vi coisas que reprovei e que considerei inadmissível em alguém que fez oposição e que não soube ser situação. Vi gente ser muito boa na oposição, onde divergiu e mostrou opções, mas que no executivo caiu na vala comum e cometeu os mesmos erros que combateu. Em outra postagem falei sobre Paulo Paim ser um reduto de inteireza política, falo o mesmo do meu querido amigo Cecconello, que além dessa inteireza, é querido pra burro. Quero que tudo dê certo, para que esta cidade onde moro há 50 anos seja boa para todos, para todos. Dá-lhe René!

Sobre dignidade


Recebo muito seguidamente textos atribuídos a Martha Medeiros, Arnaldo Jabor e Luiz Fernando Veríssimo. Já os vi queixarem-se de que grande parte do que corre por aí não é deles, mas, hoje, divulgo um texto quentinho, extraído de Zero Hora de hoje e que adorei. Aí vai:

MARTHA MEDEIROS
Infelizmente, algumas mulheres e homens íntegros costumam dar férias para sua integridade durante campanhas eleitorais. Nessa hora, todo mundo vira leão e quer devorar o outro. Imagine um candidato admitir, antes do resultado final, que o adversário é um homem capaz. Por essas e outras é que a grande novidade desta eleição foi a votação expressiva de Gabeira, a despeito de todos os preconceitos que poderiam barrar a alavancagem de sua candidatura. Isso, por si só, já é uma vitória do Brasil – não só do Rio de Janeiro.Se Gabeira ganhar, será a prova de que o brasileiro está votando de forma mais consciente e que cansou de ficar se lamentando em balcão de bar, repetindo a ladainha de que político é tudo igual.Se Gabeira ganhar, saberemos que existe uma parcela da população que não tem medo de quem possui uma mentalidade aberta e que está apostando em novos horizontes, em quem tem experiência não só política, mas de vida.Se Gabeira ganhar, finalmente teremos em um cargo público um homem que conversa com o eleitor feito gente grande, dizendo exatamente o que pensa, em vez de apelar para discursos fleumáticos e repetitivos, entulhado de jargões.Se Gabeira ganhar, vai ser a recompensa merecida por ele ter peitado Severino Cavalcanti, dando nele um cala-boca que todos nós gostaríamos de ter dado na ocasião do “mensalinho”.Se Gabeira ganhar, não será apenas o deputado federal que assumirá o cargo, mas também o escritor e jornalista que tantas vezes defendeu as liberdades individuais, os direitos humanos, as formas alternativas de viver em sociedade e que possui uma consciência ecológica que vem de muito antes disso virar moda.Muitos políticos – inclusive Fogaça e Maria do Rosário, que disputarão o segundo turno aqui em Porto Alegre – já eliminaram a pose de super-heróis e a prosa característica dos “profissionais” do ramo, aqueles que dizem apenas o que o eleitor quer ouvir, sem compromisso com a viabilidade do que está sendo dito. Mas Fernando Gabeira, pela projeção nacional que tem e pela cidade problemática que pretende governar, é o fato eleitoral de 2008. É interesse de todos que o Rio resolva suas dificuldades, e que a política brasileira espane a caretice e ganhe um perfil mais corajoso e cosmopolita. Se ele será um bom prefeito, caso vença? Não tenho bola de cristal. Mas ter superado a desconfiança diante da sua biografia incomum já é motivo para comemorarmos.-->
Se o Gabeira ganhar
“Sempre fomos amigos, ele é uma pessoa capaz e não pretendo vencer a qualquer preço.” O autor dessa frase é Fernando Gabeira, avisando que não engrossará o tom da campanha para enfrentar Eduardo Paes no segundo turno pela prefeitura do Rio.Infelizmente, algumas mulheres e homens íntegros costumam dar férias para sua integridade durante campanhas eleitorais. Nessa hora, todo mundo vira leão e quer devorar o outro. Imagine um candidato admitir, antes do resultado final, que o adversário é um homem capaz. Por essas e outras é que a grande novidade desta eleição foi a votação expressiva de Gabeira, a despeito de todos os preconceitos que poderiam barrar a alavancagem de sua candidatura. Isso, por si só, já é uma vitória do Brasil – não só do Rio de Janeiro.Se Gabeira ganhar, será a prova de que o brasileiro está votando de forma mais consciente e que cansou de ficar se lamentando em balcão de bar, repetindo a ladainha de que político é tudo igual.Se Gabeira ganhar, saberemos que existe uma parcela da população que não tem medo de quem possui uma mentalidade aberta e que está apostando em novos horizontes, em quem tem experiência não só política, mas de vida.Se Gabeira ganhar, finalmente teremos em um cargo público um homem que conversa com o eleitor feito gente grande, dizendo exatamente o que pensa, em vez de apelar para discursos fleumáticos e repetitivos, entulhado de jargões.Se Gabeira ganhar, vai ser a recompensa merecida por ele ter peitado Severino Cavalcanti, dando nele um cala-boca que todos nós gostaríamos de ter dado na ocasião do “mensalinho”.Se Gabeira ganhar, não será apenas o deputado federal que assumirá o cargo, mas também o escritor e jornalista que tantas vezes defendeu as liberdades individuais, os direitos humanos, as formas alternativas de viver em sociedade e que possui uma consciência ecológica que vem de muito antes disso virar moda.Muitos políticos – inclusive Fogaça e Maria do Rosário, que disputarão o segundo turno aqui em Porto Alegre – já eliminaram a pose de super-heróis e a prosa característica dos “profissionais” do ramo, aqueles que dizem apenas o que o eleitor quer ouvir, sem compromisso com a viabilidade do que está sendo dito. Mas Fernando Gabeira, pela projeção nacional que tem e pela cidade problemática que pretende governar, é o fato eleitoral de 2008. É interesse de todos que o Rio resolva suas dificuldades, e que a política brasileira espane a caretice e ganhe um perfil mais corajoso e cosmopolita. Se ele será um bom prefeito, caso vença? Não tenho bola de cristal. Mas ter superado a desconfiança diante da sua biografia incomum já é motivo para comemorarmos.


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Quem ganhou e quem perdeu?


Acabou-se! É hora do balanço e da contagem dos votos, ou melhor, da interpretação da contagem dos votos. O processo eleitoral é um massacre que exige de quem se candidata, que levante cedo e passe o dia dizendo: olha eu aqui, vota em mim, por favor! Hoje conversei com algumas pessoas e ouvi comentários variados acerca do dia de ontem. Ouvi alguns que passaram pelo processo de que falei e os encontrei muito cansados, uns felizes e ungidos pelo voto do povo, outros decepcionados e maldizendo o fato de não terem sido ungidos, outros surpresos por terem merecido maior unção do que esperavam. O fato é que não é fácil ser candidato, menos fácil se ignorar o fato de que o voto é secreto, que o povo é soberano nesse momento e faz o que quer, doa a quem doer. Pior para quem pensou ser diferente, para quem pensou em aliciar, pagar, seduzir e, ao fim e ao cabo, descobrir que foi covardemente traído pelo populacho ingrato que comeu e se lambuzou sem conduzir pessoa tão boa e generosa às benesses do cargo eletivo. Que decepção, gente! Mas, melhor para quem não esperava o retorno em forma de votos, às centenas. Surpresa é pouco para descrever o que representou a abertura das urnas, a contagem, a expectativa de algo concreto, não de um sonho, de uma quimera, como se algo indefinido tomasse corpo. Ah! Uma eleição é algo que mexe com as pessoas, com um povo. Ouvi também eleitores felizes, outros inconformados, outros alienados. Dos alienados não gosto de falar, nem sobre eles, nem com eles, pois para mim, são os responsáveis pelo desastre que são nossos parlamentos, sim senhor, sim senhora. São os que votam no homem e não em um projeto político e, ainda por cima, são a maioria. Enfim, é fascinante observar pessoas, conversar com elas. O concreto, nesta altura do campeonato, é que teremos que conviver por quatro anos com o que aprontamos em um único dia, pois, "o voto não tem preço, mas tem consequencias."

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sobre eleições


Não sei se é confiável o que estou publicando, mas dizem que a frase é de Eça de Queiroz, escritor português realista do século XIX, falando em eleições:«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.»
Sou obrigada a concordar com Eça. Todos conhecemos políticos profissionais, aqueles que têm raízes profundas fincadas nas câmaras e palácios e que conhecem os mecanismos para sua reeleição, ano após ano. A frase de Eça é mordaz e revela que a prática de perpetuação no poder não é coisa nova, mas já causava indignação por volta de meados de 1800. Por outro lado, sabemos de personalidades que são reconduzidas ao poder por absoluta competência e ilibada conduta, como é o caso de Paulo Paim, um senador respeitado tanto por seus pares, seus eleitores e até pelos que lhe fazem oposição. Espero nunca "cair do cavalo" como já me aconteceu tantas vezes. Com relação a ele, eu ficaria especialmente triste.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Mal estar


Sente-se perfeitamente no ambiente quando não somos bem recebidos. O mal estar que se estabelece é algo concreto, quase visível. Em família isso é mais do que sensível, já que as pessoas se conhecem de longa data. Estou falando da família ampliada, já que na nuclear não há como disfarçar, pois vive-se grudado e os conflitos são vividos, não só sentidos. Na família ampliada é difícil disfarçar as animosidades, as fofocas, as coisas do passado que continuam a assombrar seus membros, mesmo muitos anos depois que fatos desagradáveis aconteceram. Amadurecemos desde que fomos concebidos e o processo não pára. Nossa maturidade nunca está pronta e costumamos nos culpar por atitudes que tomamos, sem levar em conta que, no momento em que as tomamos, era o melhor que podíamos, o melhor que tínhamos a oferecer. Usar atitudes do passado, carregados de emoção e de imaturidade para embasar o presente, é muito perigoso. Acusar aos outros ou a nós mesmos pode causar estragos irreparáveis. Por isso, nós os pais, devemos adotar políticas familiares que sejam avessas em contar fatos desagradáveis acerca da família, por que ao fazê-lo provocamos rejeição e pré-conceitos que prejudicam o que reputo da maior importância: o respeito que devemos ter por avós, tios e primos, por representarem a nossa história. O crime de desacreditarmos pessoas, de desqualificarmos pessoas é um desserviço ao crescimento saudável dos nossos filhos. Os filhos devem ser pessoas com boa auto-estima, com um potencial afetivo que seja visível na forma de atitudes gentis e confiantes. Todos os pais querem que os filhos sejam socialmente aceitos e isso tem um preço. O preço é olharmos com generosidade para o passado, é nos perdoarmos do que fizemos e que hoje não faríamos mais, é perdoar o que fizeram conosco, pois isso não podemos mudar. Considero crime contar mentiras e denegrir imagens que poderiam ser importantes para a estruturação dos nossos filhos e que, se não são, foram destruídas de alguma forma. Temos só uma família de origem e é difícil para todos conviver com ela pela vida afora sem que se tenha que abrir feridas que já fecharam, sem que se abram novas feridas. Penso que a gente diminui os estragos, preservando os filhos de ver feridas abertas, permitindo que, se inevitável, vejam somente cicatrizes.