quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Licença maternidade ampliada


De acordo com o Diário Oficial a instrução normativa nº 991, que regulamenta o Programa Empresa Cidadã, a licença maternidade pode ser ampliada de quatro para seis meses, o que é motivo de júbilo para toda a sociedade, pois permite que os bebês sejam amamentados e acalentados por um período muito maior, trazendo benefícios a ele e à mãe.

Todos conhecemos a situação de angústia por que passam as mães ao terem que se desvenciliar de seus filhos tão pequenos e tão dependentes, dependência essa que é uma característica humana. Uma criança é humanizada devidamente quando tem oportunidade de permanecer aconchegada ao corpo da mãe, sentindo seu cheiro, sentindo seu coração e sugando seu seio. Freqüentar uma creche ou ser cuidada por uma pessoa estranha em tão tenra idade traz prejuízos tanto para a mãe, quanto para o bebê.

Pouco ou nada podemos fazer em favor das crianças do Haiti, dos órfãos das catástrofes tão comuns pelo mundo afora, mas podemos cuidar das nossas crianças. Condoemo-nos com a situação de tantas crianças que sofrem e nos sentimos impotentes e, por vezes, desesperançados quanto ao futuro da humanidade. Há muitos que preferem não ter filhos por causa desta angústia, que não os deixa vislumbrar um futuro possível para os que virão. Quanto a isso não podemos fazer nada, a não ser lamentar.

O que é possível e viável é cuidarmos do aqui e do agora, é cuidarmos do que é possível fazer em nosso entorno e, proporcionar uma vida melhor para as mães e os pais é possível, pois isso reflete diretamente na qualidade do nosso povo. Está mais do que na hora de pararmos com a falácia de que as crianças são o futuro do Brasil. Devemos incorporar a máxima de Daniela Mistral que diz: “O futuro da criança é sempre agora.”

Todas as iniciativas que priorizam o bem estar de mães, pais e bebês devem mobilizar-nos no sentido de darmos nosso apoio incondicional, pois estaremos apostando na prevenção da saúde mental e física de toda a população. Sabe-se que mães mais tranquilas, para as quais é permitido que cumpram seu papel de maternar, são muito mais saudáveis, faltam menos ao trabalho e comparecem menos aos serviços de saúde. Sabe-se também, que crianças amamentadas exclusivamente com leite materno, não necessitam ingerir outro alimento durante esse período, são mais saudáveis, não ficam expostas a contaminação por via alimentar, são mais felizes e seguras.

Será que segurança, amor, felicidade, saúde e salubridade são argumentos suficientes para que todos os esforços sejam investidos para que o Programa Empresa Cidadã seja uma realidade? Será que, de tão preocupados com a situação mundial, estamos nos esquecendo do que é possível fazer em nossa empresa, em nossa casa, em nosso bairro, em nossa cidade? Não há ação garantidora de vida melhor que suplante a ação concreta de cuidarmos de crianças de forma adequada. Não há ação mais concreta que a de cuidarmos das mães, tanto as gestantes, quanto as que têm sob sua guarda crianças pequenas, cujas necessidades temos obrigação de suprir.

Permitir que as mães permaneçam a maior parte do seu tempo junto ao bebê é algo tão lindo e grandioso, que não pode ser negligenciado por quem quer que seja.



Publicado em O Nacional de 02/02/2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ressaca

“São casas simples, com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima, que é um lar...” Gente humilde – Garoto, Chico e Vinícius

Da época da música citada aos nossos dias encontramos diferenças abissais, começando pelo fato de que vivíamos com vagar, com tempo de conversar com os vizinhos, quando uma viagem daqui a Carazinho levava quase um dia. Hoje, percebe-se uma pressa louca, mesmo com estradas asfaltadas que nos levam daqui para ali em questões de minutos.

Estamos vivendo a ressaca da natureza implacável, coisa provocada por nós, segundo os cientistas, ou segundo outros, vivemos um ciclo natural de mudanças, mas, de qualquer forma, o fato é que estamos enterrando nossos mortos e lamentando a perda de bens materiais, tendo que reconstruir cidades inteiras.

A ressaca da nossa pressa em chegar é mais chocante, pois enterramos centenas de pessoas, vitimas das estradas ocupadas afoitamente, no afã de chegar logo e viver os feriadões tão aguardados. Os ocupantes dos veículos envolvidos em acidentes sabiam que estavam sendo aguardados com ansiedade, sabiam de suas mães e pais preparando ceias e docinhos e quitutes que eles sabiam, eram seus preferidos.

Há ressacas sem cura, há ressacas que amargaremos para sempre, porém as estradas estão cada vez melhores, os espumantes estão sendo fabricados em quantidade suficiente, as cervejas são cada vez mais variadas e não temos mais que perder tempo sentados nas calçadas, proseando com os vizinhos, afinal temos nossos amigos virtuais, os quais podemos acessar de qualquer lugar do mundo.

O fato é que somos muito condescendentes com o perigo e não hesitamos em arranjar desculpas pessoais para nossos desmandos. Ouvimos nossos filhos, nossos amigos e ouvimos de nós mesmos desculpas para correr na estrada, já que ela está tão boa e não tem pardais; concordamos e toleramos que em festas é permitido beber e dirigir, já que alguns, segundo eles, não perdem os reflexos com a bebida, já que alguns são mais fortes pra bebida do que outros; concordamos com o fato de que a fiscalização está frouxa, então podemos abrir uma exceção; e, sorridentes e felizes abrimos mão do que deveria ser fundamental, abrimos mão da segurança dos nossos filhos, abrimos mão da firmeza nas nossas opiniões, abrimos mão do exemplo cidadão que deveríamos ser.

Quem sabe se, cansados disso tudo, este ano e nos próximos, tomemos decisões inteligentes para preservar o planeta, viajemos apreciando a natureza, dentro da velocidade permitida, sem ultrapassagens perigosas e, façanha das façanhas, voltemos a colocar cadeiras nas calçadas para conversar com os vizinhos e aprender uma nova forma de fazer chimarrão, numa troca que só pode ser enriquecedora. Quem sabe se essa prática não espanta assaltantes? Quem sabe se aquele menino enlouquecido pelo crack, filho do nosso vizinho, não vem bater um papo conosco?

Temos direito aos nossos brindes, à nossa alegria, mas temos a obrigação de chamar um taxi que nos leve para casa, caso nossos brindes contenham álcool, não lhe parece? Ressaca é um sintoma de algum excesso, mas não pode ser permanente. Um remedinho pra dor de cabeça, muita água e um café forte devem bastar, afinal, não estamos em guerra pra perder tantos filhos e filhas, não é?



Publicado em O Nacional de 11/01/2010

Publicado no Diário da Manhã em 14/01/2010