quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A morte de Joelmir Betting provocou em mim sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que o via como alguém próximo, alguém com origem parecida com a minha, eu o via, também, como alguém que falava sem dó o que eu não queria ouvir. Tenho uma mania estranha de fugir de assuntos que me desagradam, assim como fujo de brigas e de discussões como o diabo foge da cruz. As discussões de que falo não são as discussões de idéias, que essas eu adoro e, confesso, adoro ganhar, mas, quando perco, aprendo muito. Sei que toda a verdade precisa do contraditório, mas, como qualquer ser humano, é difícil olhar de frente o contraditório, já que temos a sensação de perder o chão. Joelmir funcionava pra mim como alguém que falava forte demais e, com suas palavras, tirava minhas esperanças, derrubava pessoas do status em que estavam, e, como o respeitava muito por não ser maledicente nem sensacionalista, eu acreditava no que ele falava, mesmo sabendo que ele podia errar, mas sem a intenção de distorcer informações, de puxar brasas para assados, de manipular opiniões. Ao contrário dos datenas, ele não era justiceiro, ao contrário dos ratinhos, ele não usava seres humanos como escada. Ele era um jornalista especializado em finanças e, percebia-se, não era do tipo de que pensa saber tudo, que dá pitaco opinativo em tudo. Acho que ele deixava as opiniões para os casoys. Joelmir também não tinha o charme dos globais, apesar de ter feito parte do rol, mas manteve uma postura própria, o que inspirava muita credibilidade. Este Brasil está de um jeito, que as palavras de Joelmir só podiam ser assustadoras, só podiam trazer más novas, mas o vi muitas vezes mais leve, mais relaxado. Para mim ele vai fazer falta, já que, hoje, acredito em pouca gente da poderosa mídia, essa que é o quarto poder, que depõe, julga, condena, manipula, distorce, idiotiza, corrompe. Os canais de televisão são concessões públicas, mas estão muito fortemente presas em poucas mãos.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Nosso bebê que não vingou

Quase tivemos um bebê, fruto do amor de um casal que se ama sem medida. Afirmo isso, baseada no fato de que a frustrada gravidez provocou nos dois, um grau de sofrimento enorme, mas um grau maior de cuidado e carinho, que os fez resilientes, fortes e cientes de que são felizes. A felicidade dos dois ficou visível pela disposição de recomeçar, de voltar à alegria de viver, certos de que a ideia de serem pais é prova do amor que existe e que eles expressam na forma inconfundível. Os três dias de apreensão e de sofrimento, mostraram a solidariedade de muitos, que, mesmo de tão longe, não economizaram orações, lágrimas, mensagens, presença concreta. O bebê que não veio ocupou seu lugar e ficará nele para sempre. Já o amávamos, já o imaginávamos, já havíamos inserido o serzinho em nossos corações e em nossas vidas. Seria uma criança feliz e amada. Agora, o lugar do bebê que não veio, será generosamente cedido a um outro bebê, que virá ocupar um lugar que está vago e cheio de colos, beijos, abraços, risos. Que a vida continue nos trazendo surpresas, às vezes sofridas, mas que ela nos pegue fortes e unidos pelo amor. Como sempre...



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nova paixão

O cotidiano faz com que passemos os dias com a sensação de que não aconteceu nada, mesmo que realizemos muitas coisas. Tornar nosso dia a dia interessante é um desafio e é o que proponho a mim mesma o tempo todo. O mundo se nos apresenta novo a todo momento e ignorar isso é acomodação. Ter uma vida interessante é olhar para os lados, observar pessoas, comportamentos, entender a dinâmica frenética da cidade, que muda no trânsito, na arquitetura, no clima, nos sons. Acompanhar o ritmo da vida implica em ficar atenta e não abrir mão das paixões que nascem, sem que esperemos. Outro dia, olhei para o Diego, meu amigo de tantos anos e que organizou meu primeiro livro com tanto entusiasmo, e fiquei louca pra ter a sensação de ter isso de novo. Ao propor a ele um livro novo, vi reluzir em seus olhos um furor, uma paixão pelo projeto, que me surpreendeu. Não fiquei surpresa pelo entusiasmo dele, que isso é sua característica, mas pelo fato de ser comigo, que tenho projetos tão alheios à sua formação filosófica. Sou alguém que escreve o prosaico, o óbvio, a vida como ela é, sem firulas e devaneios românticos, nem tão filosóficos, embora, reconheço, dou umas investidas nesse sentido. Contar com o Diego é muito bom e me empurra, me instiga a fazer algo lindo, o mais lindo que eu possa, para que meu novo livro seja minha nova paixão. Chamo de paixão as utopias que movem minha vida, que pretendo sempre nova, sempre inquieta, sem pretender ser jovem, mas com o vigor da juventude. O vigor físico é uma limitação que não lamento, por ser natural, assim como não ligo para as modificações que a idade traz e que são visíveis a cada vez que me olho no espelho. Eu estaria com sérios problemas se minha idade não fosse visível e sensível, pois não seria uma pessoa normal. Mas o vigor necessário por me apaixonar por projetos de vida, isso não quero perder nunca e meu novo livro acena para mim, lá em março, quando o Diego e eu virmos um objeto inanimado conter o trabalho cheio de dedicação por parte dos dois. Esse objeto ganhará vida no momento em que entrar em contato com pessoas, quando ele entrar nas estantes da casa de amigos, quando for percorrido por olhos generosos. O intuito de quem escreve é ser lido, então lá vai mais um projeto para o prelo, o que será bom, muito bom.  
Meus Natais

Meus Natais traziam cheiro, 
Sobretudo de confeitos,
Colocados em cima de biscoitos
Tão brancos como a neve,
Do algodão de cima do pinheiro.

Meus Natais continham medo,
De haver errado em conduta,
E não merecer nada do velhinho,
Que sorrateiro aparecia,
Na forma de brinquedos e fantasia.

Meus Natais de hoje
Trazem filhos, netos, genros e noras,
Que simbolizam os cheiros e presentes,
Dos Natais de outrora.