terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobre palmadas e tapinhas

A tarefa de educar crianças é a mais complexa e ao mesmo tempo a mais significativa com que deparamos na vida. Nada se compara à contribuição dos pais na fase mais frágil da trajetória dos seres humanos.

Nossa humanização acontece de forma satisfatória, desde que obedeçamos aos requisitos mínimos que regem a convivência pacífica, carinhosa, atenta, comprometida. Ter filhos inteligentes, saudáveis, generosos e pacíficos é o que todos queremos e isso não depende do nosso grau de escolaridade, nem da nossa conta bancária. Pensar diferente é de um reducionismo atroz.

A palavra diálogo tornou-se lugar comum, na medida em que todos sabemos da sua importância e, mesmo assim, não conseguimos nos desvencilhar da idéia de que o tapa no bumbum é pedagógico e que não traz conseqüências. Se um tapa não dói, ele não serve pra nada e se dói é violência pura. Os pais pensam que se não tiverem o recurso do tapa, não sobra nada para aquele momento de birra, para aquela situação em que nos encontramos cansados e com raiva e, como último recurso, recorremos ao tapa, o que traz mais choro, descambando facilmente para uma sessão de pancadaria. A fronteira entre o que dói e o que não dói á muito tênue, já que muitas vezes, lá no íntimo, o tapa machuca mais. Abandonar o tapa e qualquer agressão deve ser uma meta, um imperativo para quem cuida de crianças.

A Lei deve conter em sua letra, claramente, que não se bate nas crianças de forma nenhuma e esta é a intenção do adendo que pretendem colocar na nossa Lei. Isso já aconteceu em vários outros países, como conta Marcos Rolim, em sua crônica de domingo. Foi necessário que fizessem adendos às leis, falando claramente que é proibido bater em crianças e adolescentes.

A exemplo dos países que aderiram à proibição, no Brasil está-se protestando com veemência, dizendo que o Estado pretende se imiscuir na vida das famílias, como se o Estado não tivesse o dever de proteger as duas pontas mais vulneráveis da população: os velhos e as crianças. Protestou-se muito também lá no estrangeiro, mas aprendeu-se muito no processo de criação dos adendos às Leis e para nós não vai ser diferente. Aprenderemos muito e passaremos a ter um olhar mais atento para com as nossas crianças e para com as que não são nossas.

As crianças são um nicho da população que não pode fazer passeatas, queimar soutiens, reivindicar em praça pública, bater sinetas, nem se dirigir à delegacia, pois em muitos casos, são de colo. Elas precisam que o Estado, os pais, os cuidadores e a sociedade toda, as protejam e essa é uma tentativa concreta de nos fazer falar, debater, achar alternativas condizentes com o tempo evolutivo em que nos encontramos.

Lindo seria se o Estado tivesse olhos também para a falta de creches, para o sistema de saúde que ainda não é como precisamos, para o aparelhamento decente dos Conselhos de Direitos, para o cuidado e educação dos que já são e dos que pretendem ser pais um dia.

sábado, 17 de julho de 2010

Que frio!!!!!!!!!!!

Estamos enfrentando um frio de lascar! Hoje é sábado e estou fazendo uma sopa de capeletti. Uma delícia. O que antecede a sopa é uma dose reforçada de uísque, o que também é uma delícia. Estou quente e o inverno está passado ao largo, como por encanto. Tomara que os filhos que prometeram tomar a sopa apareçam, ou vou ter que tomar muita sopa com o Mingo, o que é uma delícia dobrada. Os filhos não sabem que, às vezes. são completamente dispensáveis, por conta da parceria que é estabelecida entre os pais, ou melhor, para os pais que sabem ser parceiros. O Mingo e eu somos parceiros e isso me agrada muito. Uhú!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Toque de proteger é uma necessidade?

Somos um país que gosta de legislar e é bom nisso. Temos leis de primeiro mundo para a preservação ambiental, coisa elogiada e copiada por aí afora. Temos o Estatuto da Criança e do Adolescente que é um primor humanista, além de ser uma lei democrática e um avanço que vai para além do Código de Menores que continha medidas reducionistas, dando lugar a arbitrariedades que feriam a dignidade e a liberdade de crianças e adolescentes.

O ECA contempla todos os aspectos da proteção à infância e à adolescência, mesmo que contestada por muitos na intenção de fazer modificações como a redução da idade penal, coisa debatida e sonhada por quem se assusta com a criminalidade juvenil. Há vinte anos já, estudamos, debatemos, sonhamos, instituímos órgãos de proteção, adaptamos como dá, aceitamos o que os gestores oferecem, mesmo que sejam arremedos do que seria necessário e constatamos que, em vinte anos, o ECA, essa lei perfeita e democrática, ainda não foi efetivada, pois a criança está longe de ser prioridade absoluta.

Esse gosto por legislar e por contemplar o clamor do povo, criou um Projeto de Lei Municipal, que já foi aprovado pela Câmara de Vereadores, faltando ainda ser sancionado pelo Sr. Prefeito, que institui o que foi chamado de “toque de proteger”, como se trocar “proteger” por “recolher”, escondesse os verdadeiros objetivos da lei. Estamos, portanto, aguardando a decisão do Executivo, que esperamos seja o veto ao texto completo do projeto.

O clamor do povo nós já conhecemos, pois acontece quando algo muito grave ganha a mídia, que gosta de noticia exaustivamente explorada e faz com que, revoltados e extremamente sensibilidados, demos apoio a medidas nem sempre humanas e humanizadoras. . Aí acontece a grita geral. Facilmente a solução é apoiar medidas para ver meninos e meninas trancafiados com 16 anos, falamos em impunidade da juventude, esquecemos as sanções previstas no ECA, mais severas do que as aplicadas a adultos, pois são imediatas e prevêem a reeducação e a reinserção social.

O Toque de Proteger quer ser uma tentativa de proteção, porém é perigosa por vários motivos: não há equipe capacitada para abordagem de crianças e adolescentes; não há um lugar adequado para colocar esses meninos e meninas enquanto se busca a família; em caso de surto por ingestão de drogas, não há onde tratá-los pelo período necessário para sua eventual cura; não temos garantia de que a lei não seja usada como tentativa de fazer-se uma “limpeza social”. Todos nós sabemos quem seria retirado das ruas, para quem não sabe, ou para quem faz de conta que não sabe, serão crianças e adolescentes pobres, aqueles que não podem dizer: “sabes com quem estás falando?”; não se está prevendo intervir em festas particulares de formatura de primeiro e segundo graus, por exemplo, onde a bebida corre solta; não está previsto intervir em festinhas de crianças e adolescentes, quando sabemos que os próprios pais servem e oferecem bebidas a seus filhos e convidados, quando não fazem vista grossa à vodka escondida dentro de inocentes refrigerantes. Proteger, definitivamente, não é sinônimo de recolher.

O que necessitamos é que as leis sejam cumpridas com rigorosa e eficiente fiscalização; o que necessitamos é uma sociedade imbuída da responsabilidade de cuidar de todas as crianças e adolescentes e não só dos próprios filhos; o que necessitamos é de um legislativo que também fiscalize o cumprimento das leis que já existem, pois esta é uma atribuição importante, inerente ao seu mandato.

Não queremos leis novas, queremos crianças e adolescentes felizes e livres, devidamente protegidos pela família, pelo Estado e pela sociedade. É isso o que reza o ECA e é isso que não estamos fazendo, mas temos esperança de que seja feito.


Publicado no Diário da Manhã de 9/07/2010