domingo, 23 de dezembro de 2012


Boas Festas, e daí?

Somos sete bilhões de pessoas no mundo e vamos virar mais um ano juntos, na
condição de seres que partilham o mesmo planeta. Somos todos animais sociais, conscientes
de que só sobreviveremos se conseguirmos nos agrupar, se formos integrantes de uma
comunidade.

Seres humanos têm necessidades diferentes dos outros animais, pois crescemos
nos fazendo perguntas e fazendo perguntas aos outros. Sentimo-nos parte da aldeia se
nos permitirem as perguntas, se houver alguém disposto a respondê-las e se, a partir das
respostas, possamos fazer perguntas novas. As perguntas novas são a mola propulsora da
humanidade.

Há uma fatia grande demais de pessoas dentre essas sete bilhões, a quem não são
respondidas as perguntas, que nem sequer sabem que podem fazer perguntas novas, só as
velhas: haverá comida amanha? Quando essa guerra vai acabar? Esse filho que estou
esperando vai sobreviver? Há outras mais velhas ainda: Como posso me beneficiar do serviço
público? Como posso tirar vantagem dessa situação? Faz diferença de usar a vaga de que não
preciso? No meu caso, jogar lixo no chão não é tão grave, mas, será que alguém viu? São
perguntas velhas e revelam um conceito desatualizado, que é o da separação das pessoas,
onde o nós não existe, onde o individualismo é a tônica.

Há um contingente que é realmente feliz, por que encontra dentro de si o
contentamento da compaixão. Está sempre de olhos bem abertos para o outro, percebe o
outro e constrói amizades de verdade, confia e se envolve. O fato de estar comemorando uma
data significativa não modifica seus hábitos. Quem confia convive de verdade com o outro e é
o próprio presente, mesmo que costume dar presentes. Ele não reserva datas para o presente.

Desejar Boas Festas é querer que o outro, sinta menos medo, que se sinta em um lugar
seguro, onde ele possa fazer perguntas novas. O direito de fazer perguntas novas significa
substituir um mundo obsoleto, por um outro, cheio de confiança. As perguntas de um novo
mundo são formuladas visando a liberdade, o direito de todos e consistem em permitir que
todos falem sem barreiras sobre suas necessidades, com a garantia de que serão ouvidos.

A civilização não vive de respostas, mas se alimenta de perguntas e, enquanto
estivermos presos ao obsoleto, Boas Festas será somente para alguns.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Gravidez na maturidade

Acredito que gravidez em qualquer idade assusta. Sabemos que temos que dar conta de alguma forma daquilo que é grande demais, representativo demais para a nossa vida. As mulheres, a julgar pelas que conheço, têm o mesmo sentimento ao se saberem grávidas, que, a princípio, é medo, depois é que a ficha vai caindo, e elas começam a revelar ao mundo a sua condição. E o mundo festeja! 
É festa saber que chegará um bebê e é isso que estamos comemorando. A chegada de um bebê que vem, segundo palavras do meu filho, na segunda metade do segundo tempo, por se tratar de uma gravidez na maturidade da minha nora e do meu filho. É um bebê que terá uma irmã de quase dez anos, o que representa algo não tão comum.
Estamos acompanhando a perplexidade, a alegria, a expectativa, o susto e comemoramos os rápidos preparativos para o recebimento daquele ou daquela que já tem um lugar consagrado em uma família feliz. O primeiro ninho de um bebê é o útero de sua mãe, mas isso não é suficiente. Começa-se a gestar um ninho dentro de cada coração, de cada pessoa que vai amar essa criança. Percebe-se o nascimento de sentimentos novos, da mesma forma que se vai criando espaço físico para que o bebê tenha conforto, acolhimento, saúde. O interior de cada um vai sendo preenchido de amor, pois é através dele que o novo bebê vai perceber o mundo e conseguir reconhecer seu lugar, sua importância. 
Nossa neta, percebe-se, está fazendo o reconhecimento do terreno para a chegada de um irmão, ou de uma irmã. Ela já identificou lugares perigosos, já experimentou temor com relação a degraus, já imaginou a divisão de espaços, já dividiu mentalmente seus brinquedos. Percebe-se também a clara delimitação que já está estabelecida entre o que é dela, o que dá pra negociar e o que sempre será dela, numa demonstração de que a noção de limites deverá acontecer.
A gravidez mais tarde é vantajosa, pois nosso espírito é mais pacífico, já elaboramos a vida em muitos aspectos, nos conhecemos que mãe somos. Mais maduros já aprendemos o exercício da paciência, temos uma carreira consolidada, sem as angústias e incertezas que embalaram o começo. Juventude é um conceito histórico, que se faz na medida em que evoluímos e vivemos mais. Juventude é uma questão de saúde, de disposição, de atitude e seguramente não leva em consideração a idade. Minha norinha é linda, jovial, bem sucedida, saudável, feliz e será mãe de novo com muita propriedade. Meu filho, tão imbuído de seus compromissos, tem uma disposição incrível para o cuidado, para o afago e acredita piamente que sentar e conversar com a criança desde pequenininha é obrigatório, que levá-la a passear para conhecer os lugares importantes para ele é diversão garantida. 
Venha bebê, seu lugar está pronto! Até seu nascimento ainda vamos elaborar surpresas, carinhos, vamos preparar nossas casas, nossos corações e serás muito feliz. A família está ficando grande e cheia de risos, de choros, dentinhos nascendo e dentinhos caindo, e você será mais alguém que amaremos até doer. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A morte de Joelmir Betting provocou em mim sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que o via como alguém próximo, alguém com origem parecida com a minha, eu o via, também, como alguém que falava sem dó o que eu não queria ouvir. Tenho uma mania estranha de fugir de assuntos que me desagradam, assim como fujo de brigas e de discussões como o diabo foge da cruz. As discussões de que falo não são as discussões de idéias, que essas eu adoro e, confesso, adoro ganhar, mas, quando perco, aprendo muito. Sei que toda a verdade precisa do contraditório, mas, como qualquer ser humano, é difícil olhar de frente o contraditório, já que temos a sensação de perder o chão. Joelmir funcionava pra mim como alguém que falava forte demais e, com suas palavras, tirava minhas esperanças, derrubava pessoas do status em que estavam, e, como o respeitava muito por não ser maledicente nem sensacionalista, eu acreditava no que ele falava, mesmo sabendo que ele podia errar, mas sem a intenção de distorcer informações, de puxar brasas para assados, de manipular opiniões. Ao contrário dos datenas, ele não era justiceiro, ao contrário dos ratinhos, ele não usava seres humanos como escada. Ele era um jornalista especializado em finanças e, percebia-se, não era do tipo de que pensa saber tudo, que dá pitaco opinativo em tudo. Acho que ele deixava as opiniões para os casoys. Joelmir também não tinha o charme dos globais, apesar de ter feito parte do rol, mas manteve uma postura própria, o que inspirava muita credibilidade. Este Brasil está de um jeito, que as palavras de Joelmir só podiam ser assustadoras, só podiam trazer más novas, mas o vi muitas vezes mais leve, mais relaxado. Para mim ele vai fazer falta, já que, hoje, acredito em pouca gente da poderosa mídia, essa que é o quarto poder, que depõe, julga, condena, manipula, distorce, idiotiza, corrompe. Os canais de televisão são concessões públicas, mas estão muito fortemente presas em poucas mãos.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Nosso bebê que não vingou

Quase tivemos um bebê, fruto do amor de um casal que se ama sem medida. Afirmo isso, baseada no fato de que a frustrada gravidez provocou nos dois, um grau de sofrimento enorme, mas um grau maior de cuidado e carinho, que os fez resilientes, fortes e cientes de que são felizes. A felicidade dos dois ficou visível pela disposição de recomeçar, de voltar à alegria de viver, certos de que a ideia de serem pais é prova do amor que existe e que eles expressam na forma inconfundível. Os três dias de apreensão e de sofrimento, mostraram a solidariedade de muitos, que, mesmo de tão longe, não economizaram orações, lágrimas, mensagens, presença concreta. O bebê que não veio ocupou seu lugar e ficará nele para sempre. Já o amávamos, já o imaginávamos, já havíamos inserido o serzinho em nossos corações e em nossas vidas. Seria uma criança feliz e amada. Agora, o lugar do bebê que não veio, será generosamente cedido a um outro bebê, que virá ocupar um lugar que está vago e cheio de colos, beijos, abraços, risos. Que a vida continue nos trazendo surpresas, às vezes sofridas, mas que ela nos pegue fortes e unidos pelo amor. Como sempre...



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nova paixão

O cotidiano faz com que passemos os dias com a sensação de que não aconteceu nada, mesmo que realizemos muitas coisas. Tornar nosso dia a dia interessante é um desafio e é o que proponho a mim mesma o tempo todo. O mundo se nos apresenta novo a todo momento e ignorar isso é acomodação. Ter uma vida interessante é olhar para os lados, observar pessoas, comportamentos, entender a dinâmica frenética da cidade, que muda no trânsito, na arquitetura, no clima, nos sons. Acompanhar o ritmo da vida implica em ficar atenta e não abrir mão das paixões que nascem, sem que esperemos. Outro dia, olhei para o Diego, meu amigo de tantos anos e que organizou meu primeiro livro com tanto entusiasmo, e fiquei louca pra ter a sensação de ter isso de novo. Ao propor a ele um livro novo, vi reluzir em seus olhos um furor, uma paixão pelo projeto, que me surpreendeu. Não fiquei surpresa pelo entusiasmo dele, que isso é sua característica, mas pelo fato de ser comigo, que tenho projetos tão alheios à sua formação filosófica. Sou alguém que escreve o prosaico, o óbvio, a vida como ela é, sem firulas e devaneios românticos, nem tão filosóficos, embora, reconheço, dou umas investidas nesse sentido. Contar com o Diego é muito bom e me empurra, me instiga a fazer algo lindo, o mais lindo que eu possa, para que meu novo livro seja minha nova paixão. Chamo de paixão as utopias que movem minha vida, que pretendo sempre nova, sempre inquieta, sem pretender ser jovem, mas com o vigor da juventude. O vigor físico é uma limitação que não lamento, por ser natural, assim como não ligo para as modificações que a idade traz e que são visíveis a cada vez que me olho no espelho. Eu estaria com sérios problemas se minha idade não fosse visível e sensível, pois não seria uma pessoa normal. Mas o vigor necessário por me apaixonar por projetos de vida, isso não quero perder nunca e meu novo livro acena para mim, lá em março, quando o Diego e eu virmos um objeto inanimado conter o trabalho cheio de dedicação por parte dos dois. Esse objeto ganhará vida no momento em que entrar em contato com pessoas, quando ele entrar nas estantes da casa de amigos, quando for percorrido por olhos generosos. O intuito de quem escreve é ser lido, então lá vai mais um projeto para o prelo, o que será bom, muito bom.  
Meus Natais

Meus Natais traziam cheiro, 
Sobretudo de confeitos,
Colocados em cima de biscoitos
Tão brancos como a neve,
Do algodão de cima do pinheiro.

Meus Natais continham medo,
De haver errado em conduta,
E não merecer nada do velhinho,
Que sorrateiro aparecia,
Na forma de brinquedos e fantasia.

Meus Natais de hoje
Trazem filhos, netos, genros e noras,
Que simbolizam os cheiros e presentes,
Dos Natais de outrora.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Enfim, sós!

Nossa casa está em silêncio, incrível,
Toda arrumada, como nunca,
Sem o furor da correria, de tanta gente.

Foi esta casa que abrigou,
Crianças, jovens e velhos,
As necessidades mais prementes,
E aquelas que escolhemos de presente.

Rimos, choramos, nos divertimos à larga,
Fizemos barulho, comemos, bebemos
E dormimos em três quartos, que façanha!
Precisaríamos de mais, mas conseguimos,
Imprimir em cada um a tolerância,
Fruto do amor que embalou nossa vida,
Para viver em grupo, em dupla, em trinta.

Estamos sós agora, papai e mamãe,
Com as portas escancaradas e com a casa pronta,
Para acolher todos os que se achegaram, devagarinho
Ou com pressa, mas que conquistaram
Um lugar de destaque nessa casa,
Que não será nem grande, nem pequena,
Mas do tamanho certo para a família que conquistamos.

terça-feira, 25 de setembro de 2012


Solidariedade entre mulheres!

                Nos últimos dias tenho observado mais atentamente o dia-a-dia de muitas mães, na medida em que, às vezes, acompanho a saída do meu neto da escolinha. São mulheres expostas a uma vida que, há bem pouco tempo, seria inviável. Cuidar de crianças é trabalho árduo, embora prazeroso, isso dito por todas as mães, todas, evidenciando que, no quesito amor, não mudamos nada.
                Essas mulheres atendem múltiplos interesses, enfrentam um trânsito insano, são movidas pela responsabilidade de uma profissão, pela casa que cuidam com esmero, por uma relação amorosa que também demanda um aporte emocional enorme e, legitimamente, procuram ser felizes e participantes de uma sociedade que ainda não sabe muito bem cuidar delas.
                Solidarizo-me com essas quase meninas, mães, profissionais, donas de casa, que estão fazendo a vida pós moderna, ou ultra moderna. Não sei se as pessoas da minha idade conseguiriam desempenhar tão bem o que elas fazem. Além do mais, elas inauguram uma modalidade familiar que também não conhecemos ainda: elas têm, geralmente, só um filho.
                Em um programa de TV, produzido a partir da ECO 90, apresentado no TV FUTURA, mostraram alguns jovens que os jornalistas acompanharam desde a época. As filmagens do nascimento, da primeira infância, da adolescência e de adultos, mostram que as fórmulas tradicionais não são as únicas capazes de resultados educacionais e humanos satisfatórios e que, em meio às adversidades, à violência, à fome, à solidão, gravitam pessoas cujos filhos conseguem sobreviver com dignidade. O principal foi constatar que as crianças têm uma incrível capacidade de resiliência e que o amor dos filhos pelos pais e dos pais para com os filhos está incólume.
                Solidarizo-me com os que sabem ser este o único lugar que temos para viver e que este deve ser arranjado da melhor forma, mesmo que adverso e concorrido e assustador e cuidam dos seus com tanto carinho.
                Solidarizo-me, principalmente, com as mamães que vivem situações limite, a exemplo do fato tão insólito desta semana, quando um bebê foi esquecido dentro do carro. Imagino o horror ao verificar que, mesmo tomando todos os cuidados do mundo, podem ocorrer lapsos graves, causados pela correria insana em que estamos metidos. A solidariedade deve ser a tônica dos que falam sobre o assunto, dos que lidam com o assunto e dos que têm contato com a família que sofreu tamanho trauma.
                Solidarizo-me também com as vovós, que gostariam de ver suas filhas e noras um pouco menos atarefadas, mas que compreendem e ajudam quando podem, sem pensar que o certo está com elas, que o certo só acontecia como na música que Angela Maria cantava: “são casas simples, com cadeiras na calçada, e na fachada escrito em cima que é um lar...”, pois esse mundo só acontece de vez em quando, muito de vez em quando.
                Enquanto isso, continuamos mulheres do mesmo jeito de antes, as crianças nascem do mesmo jeito de antes. O que necessitamos é aprender todos os dias novas formas de nos cuidarmos uns dos outros.


Publicado em 11/10/2012 no Jornal Diário da Manhã  

sábado, 15 de setembro de 2012


Piquenique, que coisa boa!

                Está acontecendo um movimento por aqui, que premia nossos mais nobres sentimentos de compartilhamento da vida. As grandes extensões urbanas para convívio comum deixarão de ser áreas entregues ao descaso, para tornarem-se de uso para a vida boa, coisa tão cara à filosofia grega.
                É comum vermos nas grandes cidades do mundo, as pessoas procurarem as praças e parques para tomar sol, brincar na neve, estender toalhas na grama e promover um convívio ao ar livre impossível para quem vive confinado em apartamentos. Em Paris criam até um ambiente de praia, enchendo ruas e ruas de areia, onde a população leva cadeiras, guarda-sóis e comida.
                Pois, aqui na nossa cidade, há um grupo organizando um piquenique na Praça Tamandaré para comemorar a chegada da primavera. Fico imaginando a beleza do cenário, a praça toda bonita e cuidada por uma associação, há tempos, toalhas jogados sobre os gramados, crianças correndo, comidinhas sendo oferecidas uns aos outros, numa verdadeira festa de alegria por conviver, não só uns com os outros, mas com a natureza.
                A vida boa dos gregos é isso! É ter a cidade para o povo, organizada de forma a que todos tenham acesso a ela. E isto também é democracia, no ótimo sentido da palavra. O povo não deve adaptar-se à cidade, mas a cidade deve ser organizada de tal forma, para todos os cidadãos possam usá-la. Daí as lutas por acessibilidade, por beleza, por segurança.
                Imagino que um evento desses seja o pontapé inicial para uma nova ordem pública, onde o povo ocupa a cidade, por que a cidade não existe só em função dos carros, mas ela existe para as pessoas circularem, para as bicicletas, para os skates, para o lazer. A alegria pode ser a tônica dos finais de tarde, a troca de ideias também. Isso de sairmos do trabalho e nos trancarmos a chave em casas e apartamentos gradeados, mortos de medo do que pode vir de fora, tem os dias contados, pois, isso não aguentamos mais.
                Uma cidade que tem uma avenida principal tão linda quanto a nossa, deve sentir um orgulho imenso e transformá-la em uma via de circulação de todas as formas de transporte, seja pelas nossas próprias pernas, o que dá um pique e um bem estar danado, seja para permitir que se vá trabalhar de bicicleta, o que desafogaria em muito a circulação de carros, seja para que se faça com que o transporte público fique mais racional e planejado com inteligência, enfim, temos uma Avenida Brasil como nenhuma outra. A nossa é a mais larga, com os canteiros centrais mais amplos e as mais lindas possibilidades.
                Vamos aguardar mais manifestações como a do pequinique na praça, pois não acredito, que depois de experimentá-lo, consigamos olhar novelas e faustões e iô-iô-iô e tcha-tcha-tcha com a mesma tolerância de até agora.
                Há, importante dizer, que música alta não será permitida na praça. Ufa!

Publicado no Diário da Manhã de 14/09/2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Bruno, o caçula

Meu caçula é coisa nova,
Daquela geração tão rápida,
E daquela que é tão feliz.
Ele tem a tranquilidade de quem sabe,
Que o mundo que existe, já não serve,
E constrói um novo, com outras bases,
Para desespero dos instalados.
Divirto-me com a tolerância,
Com que trata o que é obsoleto,
E, magnânimo, oferece soluções ainda verdes,
Que passamos a entender bem mais tarde.
Para ele as asas são ferramentas poucas,
Ele necessita máquinas, apetrechos, lógica,
Para viver esse mundo que aguarda,
Mais gente que, como ele, olha o velho, valoriza,
Mas constrói para a sua vida, coisas que,
Para nosso entendimento, são mistério.
Vai, meu filho! Precisamos de um mundo novinho!
Ricardo primogênito

Foste o primeiro, que expectativas!
Carregaste os temores dos que começam,
Sabíamos do muito amor já com raízes,
Plantadas durante anos, tempo de tua espera.
Não sabíamos da alegria, uma constante, cantante
Enquanto crescias, tão depressa, olhar atento,
De quem sabe puxar uma fila
De outras tantas alegrias,
Que encheram nossa casa de tantas camas,
De tantos livros, que amaste desde cedo.
A tua cara séria não assusta,
Esconde uma ternura nunca vista
Sobrancelhas cerradas escondem
Uma alma altruísta, onde cabe tudo,
E não só a nós, tua família, mas todos os que,
Como nós, partilham tua vida.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


Conversa com o Théo

Há exatamente um ano, quando te preparavas para nascer, conversei contigo emocionada. Hoje participei do teu primeiro aniversário, junto com as pessoas que estavam à mão, por que, se pudessem, teríamos contado também com a tia Vanessa, o Tio Rodrigo, o teu primo Augusto e a tua prima Aninha, assim como os teus dindos Flávia e Paulo. Quem almoçou um delicioso churrasco contigo foram os teus pais, teus avós, teus tios e tua prima, todos comemorando a tua presença. Tu tinhas que ver a alegria com que nos recebeste, era um sorriso pra cada um, uma festa de brinquedos e brincadeiras. A tua paixão pela Galinha Pintadinha foi comemorada com uma galinha de brinquedo que teus pais te deram. Dizem que sentaste no chão com ela e conversaste um tempão. Na minha opinião, o que mais te diverte é a música, por que prestas atenção, danças e bates palmas quando a música acaba. A cantoria que fizemos te assustou um pouquinho, aí procuramos baixar o volume. Preciso te contar como foi o ano que se passou, para que, mais tarde, entendas o que a tua chegada significou para todos nós que te amamos tanto. Imagina um bebê todo cheiroso, que crescia como uma abóbora, cada dia mais lindo... nós quase fomos à loucura, todos. Teus cabelos que já tinhas eram de um ruivo bem amarelinho, e tornaram-se alaranjados, cada vez mais alaranjados. Foi uma sucessão de progressos, sorrisos, gargalhadas, intermináveis crises de choro, dias de frio em que eras empacotado até o pescoço, sem possibilidade de usar calçados, pois nada ficava bem, tudo caía, e assim fomos nos divertindo, nos revesando, vendo a felicidade e o movimento diferente e maravilhoso que trouxeste para as nossas vidas. Imagina a alegria com teus primeiros dentinhos, aos cinco meses, veja só, para em seguida nos surpreenderes ficando sentado, para depois fazeres esforços cada vez maiores de locomoção. Teus movimentos tornaram-se complexos mesmo, após os seis meses, quando conseguiste sair do lugar. O esforço que fazias para passar por cima de uma perninha que teimava em ficar parada era muito engraçado, pois exigia muitas e muitas tentativas, aliás, dias de tentativas, até que conseguiste engatinhar com perfeição. Sim, os movimentos de pés e mãos eram perfeitamente sincronizados, ao mesmo tempo em que teu corpo acompanhava com elegância e executavas uma verdadeira dança ancestral em busca da vida. Agora imagina todo mundo babando ao ver que te erguias, dia após dia, ora no sofá, ora na perna da mamãe e, um passo dado e um tombo; levanta, dois passos e um tombo, até que te ergueste de vez, caíste muito, houve testa roxa, marquinhas pra cá e pra lá, mas, sem desistir fizeste jus ao status de homus erectus, o que era esperado, mas não com dez meses. És um menino rápido, agora com os cabelos mais alourados, nem gordo nem magro, nem baixo nem alto, és o nosso bebê na medida certa. Neste primeiro ano de vida devemos agradecer-te por seres o bebê mais maravilhoso do mundo. 

Da tua vovó Sueli
Cássio, meu filho!

Dos filhos homens és o do meio,
E dentre eles o mais doce, o mais perto.
Pareces eleito pra cuidar, 
E cuidado devo ter pra não deixar.

Deves ser livre, demos-te asas,
Que deves usar sem temor, com coragem,
Tens talento pra tudo, mas coragem,
Diga não quando cansar.

Devo-te tanto, principalmente aquele olhar
Quando preciso me animar,
Aí vem aquela conversinha engraçada,
Que me faz rir até chorar.

Na mesa selecionas, o que não gostas não comes,
Mas não recusas simplesmente,
Fazes graça e justificas, com pesquisa séria,
O que gostas é bom, o que não, não faz sentido.

Quando puderes, fica pertinho,
Pra que eu sinta tua presença,
Que poderosa em muitos sentidos,
É muito mais forte pelo carinho.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Hiperatividade, uma questão complicada


                O número de pais que diagnosticam e rotulam seus filhos como hiperativos é preocupante. A vontade de medicar crianças que “incomodam”, que “não param quietas”, os leva a procurarem um pediatra e, não raro, são apoiados e atendidos, sem que haja embasamento suficiente para uma avaliação e têm os filhos “parados” por medicamentos.
                As escolas, desde que existem, contam com crianças agitadas, barulhentas, brincalhonas, assim como com as sossegadas, organizadas, ciosas por estudar e contam também com casos especiais, o que demanda observação séria por parte de professores, pais e profissionais. No caso de haver suspeita de hiperatividade, o encaminhamento da criança ao pediatra não basta, devendo-se estender o atendimento a outros profissionais, como ao psiquiatra que, avaliando o caso, receitará remédios ou não.
                Tratar com leviandade algo como a hiperatividade, levou o Conselho Federal de Psicologia (Zero Hora 19/08/2012 pg.23) a fazer uma campanha nacional chamada Não à Medicalização da Vida. A campanha deve-se ao fato de que, em 2000 consumiu-se 70 mil caixas de remédio para hiperatividade, ao passo que em 2010 o número subiu para 2 milhões, vejam só!
                 Aos pais cabe respeitar a infância e não rotulá-la ao sabor de comentários sem fundamento. A expressão “meu filho é hiperativo” corre solta nos portões das escolas, nas reuniões de pais, entre amigos. Esses mesmos pais descrevem a pretensa patologia com expressões que revelam crianças felizes, que brincam, tagarelam, resistem a ficar sentadas quietinhas (coisa boa) bebendo do saber adulto, respeitando a autoridade que vem imposta e não reconhecida.  
                 Aos professores cabe a imensa responsabilidade de detectar, sim, algo que esteja impedindo a aprendizagem de crianças e devem alertar os pais para que ajudem a observar, sem que haja formulação de diagnósticos apressados, que podem servir de rótulo e discriminação. Após essa medida responsável e a detecção de que algo anormal esteja realmente acontecendo, a criança merece o melhor que a medicina pode oferecer, que é avaliação criteriosa, feita por especialistas e usar medicação específica. Mas isso ainda não basta. Os medicamentos devem ser ministrados por adultos responsáveis, que não interrompam, nem esqueçam, nem aumentem ou diminuem a prescrição feita pelo psiquiatra.
                A tarefa do professor é enorme, a responsabilidade dos pais é imensurável, mas deixar por menos é crime, na medida em que, ao se omitir o cuidado, nega-se a possibilidade de desenvolvimento saudável, o que, fatalmente, trará consequências. 


Publicado no Diário da Manhã de 21/08/2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2012


A menina e o Facebook

                A menina de oito anos estava louca por uma página no Facebook e usou o domingo para pedi-la. Os pais, temerosos, argumentaram sobre a necessidade de se ter dezoito anos, sobre a possibilidade de invasão de desconhecidos, sobre o tempo que seria dispensado à página todos os dias e a menina, filha única, insistiu e argumentou também. Disse ter amigos com face, disse ter saudades das tias e tios e que aceitaria as restrições que lhe seriam impostas.
                A elaboração da página pela mãe foi acompanhada com ansiedade, a postagem de fotos nem se fala, mas, a chegada de convites de amizade causaram-lhe um frenesi. Foram gastas duas horas para que tudo começasse a funcionar e para que a menina conseguisse entender o funcionamento da coisa. Aí começou tudo...
                Face funcionando, menina excitada, pais preocupados e, como não poderia deixar de ser, começou o estabelecimento de regras: 1) não pode aceitar ninguém sem supervisão; 2) entrar na página sem tomar café, escovar os dentes, arrumar os cabelos, trocar de roupa e ter as tarefas escolares prontas, nem pensar; 3) em dia de sol tem que brincar lá fora; e,4) comportar-se com educação e respeito com todas as pessoas com que entrar em contato, como se fosse ao vivo.
                A sanção para o não cumprimento das regras: fechamento imediato da página de relacionamento. Acostumada com regras e com o cumprimento delas, a menina aceitou tudo e, relutante, foi dormir. A vontade dela seria continuar conversando com seu primo, mas o horário de dormir – regra anterior – havia chegado.
                Na manhã seguinte sua avó acordou cedo e deparou com a neta toda arrumada, de uniforme do colégio, cabelo escovado, toda linda e... teclando. Havia uma fila de pedidos de amizade não aceita, que passou pelo crivo da avó. Sim, já havia tomado café – banana com granola e leite = e os dentes estavam impecáveis. E, sim, as tarefas haviam sido feitas, só faltava estudar para a prova de língua portuguesa, coisa que foi cobrada a seguir pela mãe pelo telefone e, sim, ela estudou, um monte. A avó ainda está contando pra todo mundo...
                Do resultado de algo tão simples e tão perigoso pode-se tirar algumas conclusões: a menina, assim como muitos de seus colegas e amigos, é filha única e necessita interagir e tagarelar e trocar; a novidade proporcionou aos pais uma preocupação a mais, mas viu a filha levantar mais cedo, tomar café e sentir necessidade de lanchar no meio da manhã; deu a chance a eles de conversar sobre comportamento ético, sobre os perigos da internet, sobre delicadeza e respeito; constatou-se mais prontidão para os estudos; viu-se que a pouca habilidade para teclar- com um só dedo – deu lugar a uma agilidade muito maior e com o uso de mais dedos, capacitando-a para outras tarefas.
                Diante das ofertas que a tecnologia traz, cabe aos pais, não rechaçá-las, mas tomar as providências de segurança de que os filhos necessitam. Deixar crianças soltas diante do computador é como abandoná-las na rua à noite. A internet é lugar público e exige cuidados e um comportamento adequado, sem dar lugar à exposição exagerada, nem chance de que a inocência seja violada. Atenção e cuidado são pressupostos para quem cuida de crianças e amor e proteção são direitos inalienáveis de todas elas.  


Publicado no Jornal Diário da Manhã em 17/08/2012

No dia 01/09/2012 este artigo serviu de base para uma matéria no Diário da Manhã, acerca das crianças e o acesso à internet. Fomos visitados pela jornalista Alessandra, que entrevistou a Cecília e a Vanusa. A matéria é bem educativa.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012


Meu pai
                Ele era homem das antigas, não de atitudes antigas, mas das lides antigas. Era um alfaiate de mão cheia, daqueles perfeitos, daqueles que desmanchavam cada pontinho fora do lugar. As fatiotas, no começo das lides, eram passadas a ferro de brasa. E era um tal de: suspende casaco, coloca travesseirinho de retalhos por baixo, assopra as brasas do ferro, coloca paninho úmido por cima e lá se iam todas as ruguinhas  do linho, do gabardine, da lã, e, muito tempo depois, do tergal. Aliás, não tenho certeza de vê-lo usar tergal.
                Ele ia a festas, mas sempre atrasado por causa das fatiotas que devia entregar, frequentava o clube, mas só à tarde, quando o cansaço batia e aí era a hora da cervejinha, do bate-papo, do pontinho. A alfaiataria grudada a casa permitia que meu pai sempre estivesse à mão e como eu o procurava... Ele era mestre em dedos cortados, nos quais colocava uma generosa camada de pomada penicilina, um bom pedaço de pano branco que vinha de uma gaveta da cozinha - o que garantia a limpeza necessária, para depois amarrar tudo com linha, que ele enrolava exaustivamente, mas sem apertar. No dia seguinte, milagre! O dedo estava limpinho e quase bom.
                Ele era homem das antigas com atitudes sempre de vanguarda. Viajava para Porto Alegre e trazia novidades, a exemplo de uma enorme quantidade de mamão, que imediatamente odiei, mais pelo aspecto do que pelo gosto e que ele, explicava, seria coisa muito chique consumir, já que o encontrara no café da manhã do hotel. Foi de lá que ele trouxe o primeiro exemplar de “O Cruzeiro”, uma revista mensal que era a coqueluche da época nas grandes capitais. Pois o Seu Elmo fez a assinatura da revista para acompanhar o que acontecia na Argentina com Perón e no Brasil com Getúlio. A maior novidade e a mais apreciada por mim era o chocolate granulado, coisa muito linda e cheirosa que figurava nos ninhos de Páscoa, junto com um enorme coração de açúcar todo enfeitado de florzinhas.
                O Seu Elmo, meu pai, era homem de pegar bebê no colo, de ajudar a trocar, de atender de madrugada, sim senhor! Era homem também de ficar apreensivo com os enjoos intermináveis das tantas gestações da minha mãe. Não se furtava de ir pra cozinha preparar comida, café da manhã, quando a gente podia abusar da manteiga, dos nacos de salame, coisa que minha mãe cuidava de não haver abusos. Ele era assim, generoso. E alegre...
                O Ford 29 dele era usado para passear, não só para o trabalho. Na estrada ficávamos sem luz e imediatamente aquele pai começava a conversar animado e a assoviar não me lembro que tipo de música, mas era música de tranquilizar, disso eu tenho certeza.
                Ele tinha grandes preocupações quanto à formação dos filhos, por isso, nunca abriu mão de um bom colégio de freiras para todos, sempre fiscalizou as revistas Grande Hotel que líamos escondido e tinha preocupação com respeito às novelas de rádio que ouvíamos junto com a Dona Lina, minha mãe.
                Mas o meu pai nunca se esquivou de uma conversa, sempre respondeu a minhas perguntas, mesmo as constrangedoras e, na véspera do meu casamento, chamou-me à parte e disse coisas que nunca contei a ninguém, para não estragar a magia. As palavras dele embalam o meu casamento e servem até hoje quando quero ter uma conversa de vanguarda com os meus filhos.
                Meu pai era de épocas antigas, mas ele seria um grande pai de hoje, por que ele era movido pela alegria e pelo amor imenso que nutria pela família. Esse amor ele externou sem preguiça, com barulho, com risos e cuidados.
                Feliz Dia dos Pais, Seu Elmo, meu pai! Gostaria que ainda estivesses aqui para me ensinar algumas coisas que não tivemos tempo de conversar.

domingo, 1 de julho de 2012


Eis-te!

Debato-me,  sofro.
Procuro e não te encontro.
Teu travesseiro é só vazio.
Lembro então que foste embora.

Quero-te de volta,
Exijo sentir a respiração mansa,
Do amor que escolhi, há tanto
Para fazer parte de mim...

Lembro-me então da morte, da dor, das velas,
Levando devagar para muito longe
O quem mais amo, tu!
Choro aos gritos, desfaço-me em lágrimas,
Soluços sufocam-me a garganta,
Para então, em agonia,
Dar-me conta de que sonhei,
De que estás aqui, como sempre,
Fazendo-me companhia, como nunca!

domingo, 6 de maio de 2012

SOBRE MEDIAÇÃO - Texto extraído do face book do Mauro.

Parte I

1.Introdução

O papel do mediador é dar amor, é estimular as pessoas a chegarem aonde elas querem estar, é estimular a comunicação, o diálogo e o entendimento.

O mediador aprende com a sua própria experiência e com a experiência dos outros, deixa ligado todos os sentidos e busca no outro sinais de entendimento e de aceitação para que assim sejam resolvidos os problemas. O seu ser esta ligado no interior dos outros, em buscar aquilo que esta escondido, a verdade real , para assim então surgir ou trazer a tona a transformação que resultará na solução dos problemas.
O mediador é um mestre e não um professor, pois o mestre esta interessado no eu pessoa, no eu interior, no verdadeiro aprendizado, que é o conhecimento do ser. O mestre mexe com o outro, muda-o, faz com que ele repense valores e idéias, ensina-o a colocá-las na prática, o verdadeiro mestre sabe que este relacionamento vem da confiança, da lealdade e elas levarão ao amor.
A verdade existente entre as pessoas são frutos dos diálogos, do nosso autentico ser, enquanto que a verdade da ciência nos afasta de nós na medida que nos impede de duvidar das coisas, de indagar, de conversar e de correr o risco do desconhecido.
Em todo aprendizado para que sim haja a resolução dos problemas, a comunicação, as palavras escritas, os gestos não são os únicos a serem utilizados, existem também os pensamentos e o raciocínio e não podemos esquecer os sentimentos, tudo se comunica, tudo se completa e só assim chegaremos as descobertas.

1.2 Esse não é um livro de filosofia

A sociologia desqualifica a sensibilidade e a razão dos sentimentos bases da mediação, pois a filosofia é argumento, mente persuasiva, raciocínio e pensamentos lógicos.
No que diz respeito a filosofia, o argumento e a discussão nos fecham, no agridem, a verdade e a solução dos problemas procuradas na mediação não podem ser reconhecidas através da violência e da agressão existentes na filosofia.
A verdade tem haver com a consciência do ser que surge através da sensibilidade. O real é imprevisível, ninguém sabe quando ele irá acontecer.
Devemos saber distinguir os homens da ciência e da filosofia dos da sabedoria. Os homens tanto da ciência quanto da filosofia estão preocupados com as respostas prontas com as verdades existentes, já os homens da sabedoria se preocupam com as respostas não prontas, com o que possa vir, com o inacabado, com a verdade oculta.
É perda de tempo se preocupar com perguntas e respostas feitas, elas são inúteis quando se procura uma nova existência. Para procurarmos uma nova existência temos que colocar para fora tudo aquilo que nos esta atrapalhando, vivemos cheios de opiniões que não usamos para nada, são apenas lixos acumulados por todas as experiências que já passamos. A existência é a procura do próprio ser, a existência é quem nós somos, o importante é o profundo, o que esta dentro da gente.

1.3 A xícara de chá tem uma enorme importância para um mestre Zen

A primeira atitude do mestre Zen quando observa alguém carregado de perguntas sem respostas é olhá-lo em silêncio por um longo tempo e depois dizer: Acalme-se e tome uma xícara de chá. A xícara de chá representa para o mestre Zen o pensamento, a meditação e a consciência. A xícara é um convite para que pessoa se desprenda do seu ego, do seu eu exterior e comece a se ligar com a sua essência, com o seu eu interior, com o seu ser. È um convite para nos olharmos por dentro para podermos fazer transformações. A xícara de chá é um convite para a mudança, para o encontro do amor, do êxtase, da inocência e da simplicidade, é a sintonia para todos estes elementos.
Para encontrarmos o nosso verdadeiro eu temos que esvaziar a xícara, isto é, esvaziar o nosso interior do que é supérfluo, ou então quebrar a xícara ou impedi-la que seja cheia novamente. A xícara não pode ser cheia com nada que vem de fora e sim com a nossa essência mais pura.
Procurar uma nova existência é um trabalho árduo, é um trabalho de destruição e depois de construção, é uma morte para depois surgir um novo nascimento. Se nós estamos prontos para morrer estamos prontos para uma nova existência, para a morte não há perguntas, não há respostas, só o caminho. De tanto saber e tanto procurar o homem esquece de viver, o mediador tem o dever de proteger, de guiar, de ajudar. A transformação acontecerá em nós, nós é quem temos este poder, é a voz que não se capta, é o eu interior. Precisamos sair das nossas prisões, nas prisões os sentimentos estão ausentes, precisamos escapar delas encontrando o nosso próprio eu.
A sabedoria não vem através do sofrimento, mas sim da aceitação daquilo que acontece, seja o que for, o sofrimento servirá apenas como um aprendizado, pois o problema desaparece se o aceitamos e permanece se criamos condições de alimentá-lo, se temos um problema não devemos criar outro dentro dele, mas simplesmente extingui-lo.

1.4 Quando existe um sofrimento, geralmente, vem o medo

O medo aumenta o sofrimento e não deixa que passemos por ele. O medo nos oprime, nos esconde, nos impede de passar pela vida, de vivê-la. O medo é tão forte que é capaz de criar uma armadura ao redor de si, uma armadura que serve para nos esconder de nós mesmos, de nossos objetivos e sonhos.
Cuidado também com a coragem, pois a coragem quando é simulada também nos prejudica, pois nos impede também de prosseguir, pois pode criar raízes e nos prender sem deixar que sigamos adiante. As pessoas aprendem a simular, a esconder tudo, pois assim acreditam que podem fugir da vida. A verdade, a autenticidade e o amor nos levam a compreensão e ao entendimento.

1.5 Para ficar mediado, é necessário ser autentico

O mediador precisa atuar com autenticidade e verdade, para ser mediador a pessoa precisa estar consciente que não há ninguém ali pra ser enganado. Ser íntegro e maduro são quesitos básicos para a compreensão .
O mediador deve usar toda a sua sabedoria para trazer o problema á tona e fazer com que as partes cheguem ao ponto central do problema, para que assim exista a transformação. A mediação surge através da sensibilidade que á a percepção sutil do que esta invisível, isto é, daquilo que não esta aparente.
Um bom mediador precisa ser harmonizado, ele precisa renunciar a tudo aquilo que é falso, sem renunciar a vida e ao mundo. Ser harmonizado é sacrificar o presente pelo futuro e nunca a contrário.

1.6 Tentemos sentir o conflito

O segredo da mediação é descobrir aquilo que esta escondido, que passa desapercebido. Para ser mediador é preciso sentir, é preciso ter sentimentos, o mediador tem a preocupação de intervir no conflito com a intenção de resolvê-lo, de transformá-lo.
Os conflitos não desaparecem, apenas se transformam, nos casos em que alguns só querem intervir no conflito sem pensar nos sentimentos das pessoas eles não se resolvem como deveriam, porém o mediador deve entender a diferença entre intervir no conflito e no sentimento das partes, pois a função do mediador é ajudar as partes, fazer com que elas prestem atenção em si mesmas e não ao conflito, como se ele fosse uma coisa externa a ela mesma.

1.7 O sentimento do outro

A mediação pode nos ajudar na busca dos sentimentos, pois integra um pensamento ao outro. A mediação equivale a uma primeira aproximação, para fazer mediação é preciso viver em harmonia com a própria interioridade.
Os conflitos reais encontram-se no interior, no coração das pessoas, por isso uma nova linguagem para a mediação, uma linguagem nova, poética e cheia de sentimentos. A linguagem que vem do coração é um linguagem mágica, diferente da falada e da escrita, é uma linguagem sentida.
A dever do novo mediador é ajudar lentamente as pessoas a manifestarem os seus sentimentos através da linguagem do coração, pois é sentindo que a pessoa para pensar no que o outro também esta sentindo e assim é mais fácil convergir o conflito.

1.8 O tempo da mediação

O tempo da mediação é o tempo da sensibilidade, o tempo do amor, é o tempo da espera do momento certo, do instante propicio para agir, para assim então resolver a crise.

1.9 Mediação e sensibilidade

A mediação é um processo que recupera a sensibilidade das pessoas, que recupera o crescimento interior para poder agir na resolução dos conflitos. A mediação que atinge a sensibilidade das pessoas resolve com simplicidade os conflitos, a mediação não aceita aqueles que não resolvem os seus problemas internos, pois aquele que não esta aberto ao amor não pode recebê-lo..

1.10 Como se forma um mediador?

A maioria das escolas de mediação estão formando profissionais incompletos, pois preocupam-se com as técnicas, com rituais, as formalidades, boas recomendações e esquecem do principal o trabalho dos sentimentos e da sensibilidade. As escolas de mediação formam conciliadores, negociadores, porém não mediadores.
A mediação é uma arte que precisa ser experimentada e não explicada. Para ser mediador é preciso estar além das técnicas de comunicação, é preciso ver o problema com os olhos do amor, é preciso renunciar as máscaras, aos jogos.
A maioria das escolas de mediação estão preocupadas em revelar respostas prontas, formam mediadores ensinando-os a planejar o acordo, como se fossem robôs preocupados com o próprio ego. O pensamento planeja porque quer mandar, quer dominar. O que se deve procurar na mediação não é só a comunicação que é o encontro de palavras, deve se procurar também a comunhão, que é o acordo silencioso entre dois corações, sem palavras, apenas sentimento.
Para formar um mediador é preciso levá-lo a um estado de mediação , ele deve estar mediado, ser, viver e sentir a mediação. Estar mediado é compreender o valor de não resistir, de não lutar, de não manipular, é deixar livre a energia dos outros.

1.11 A postura corporal

A proposta de mediação e sensibilidade pretende chegar nas pessoas através da postura corporal mais do que a postura verbal. A expressão corporal vale muito mais do que as palavras, as vezes um simples silêncio diz tudo. O mediador tem que aprender a interpretar o que esta nas entrelinhas, o que esta no não verbal.
A comunicação não verbal é aquela que vai de corpo pra corpo, de sentimento pra sentimento, quando falamos estamos diminuindo o sentir, o corpo representa melhor que as palavras.

1.12 O reencontro amoroso

A mediação usada como terapia do reencontro considera o conflito dos sentimentos amorosos através de uma psicologia sensível, generosa, educativa e comunitária. Na psicoterapia do reencontro se tenta ajudar as pessoas para que possam amar e construir vínculos a partir de suas identidades e valores, assim o amor é apresentado as partes através de vínculos conflitivos, como um retorno ao eu interior, como um processo de aprendizado e de mutação constante, ensinando assim as pessoas a se importarem com as outras e a compartir.
O amor esta presente na vida de todas as pessoas, tanto o amor como a afetividade são sentimentos básicos do ser humano, pois todos precisam amar para serem amados. Dependemos desse conhecimento para melhorar a nossa qualidade de vida, o nosso equilíbrio afetivo e emocional e o nosso contato com o mundo.
A mediação deve atuar em conjunto com o amor, pois o amor é um dos caminhos para se encontrar o crescimento pessoal, introduzindo o amor em nossas vidas teremos autonomia e assim fica mais fácil a solução dos problemas.

1.13 Amor. Que é o amor?...

O amor é complexo e ao mesmo tempo simples, é transmitido através dos sentimentos. O amor é uma maneira feminina de expressar os sentimentos, pois na forma masculina o amor é comandado pelos pensamentos e pelo ego que o fazem perder o seu real valor, que nos impede de chegar ao outro desarmado. Muitas mulheres são frustradas no amor porque querem se comportar como homens.
O feminino do amor é a busca mais profunda dos sentimentos, pois o amor é um modo de vida e paradoxalmente o amor da sentido a vida, mas o amor puro sem expectativas, sem propósitos sem metas.
O amor é um pouco de loucura, e a loucura deve-se ao fato de não podermos provar porque amamos. Nascer, morrer e amar são os três maiores propósitos da vida, sendo que os dói primeiros escapam ao nosso controle. O amor é aquilo que encontramos entre o nascer e o morrer. O amor é vida, é transformação, o amor é o religamento com a natureza e com os outros.

1.14 Situação limite

Os sentimentos de ternura e de agressividade encontram-se em todas as relações. Os piores golpes dados contra os sentimentos são aqueles dados contra as idéias do outro. Com o direito não é diferente, ele também não escapa da violência e do amor, porém a carga negativa é bem maior, e transmitindo violência teremos de volta o retorno dessa violência.

1.15 O que é a imagem do outro?

Para a mediação do reencontro a imagem do outro não é aquela que enxergamos, e sim o contrário, isto é, a imagem que nos olha , é a não classificada, a não esperada, a não dominada, é a imagem pura de sentimentos, que se esconde atrás das aparências.
No direito, os juristas constroem a imagem daquele que é justo, que é bom, do que é proibido, do que é permitido. São modelos de exclusão do outro, feitas através de normas estigmatizadas das imagens idealizadas que queremos que os outros nos devolvam.

1.16 A sensibilidade é um dos grandes temas do Direito na virada do milênio

A mediação vista longe do paradigma jurídico da modernidade, apoiada apenas na ignorância e no individualismo do outro são preocupantes. Juntar sensibilidade e mediação é um modo de pensar o lugar do direito no terceiro milênio.

1.17 Provocando e refletindo

A mediação abordada é aquela baseada em novos contextos de integridade e humanização do homem, é uma ruptura com os saberes da modernidade na busca da sabedoria interna, é aquela que é transformada. A mediação como um novo paradigma, vem nos ajudar a aprender a viver e a sentir.

1.18 Autonomia e ética

A mediação, holisticamente falando, é vista como direito da alteridade, enquanto realização da autonomia e dos vínculos com o outro. Tanto a mediação como a holística são visões transformadoras. A mediação e o holismo quebram o saber da modernidade através da tomada da consciência daquilo que se esconde no moderno .A mediação e o holismo também tem em comum a busca da sabedoria que não quer se tornar uma nova ciência.
No que diz respeito ao direito tanto a mediação como a holística criam uma concepção ética comprometida uma com a outra e também com a vida, algo que será impossível atingir e transformar em sabedoria.
O holismo tem uma grande ligação com o amor nas oportunidades vitais, nos vínculos, nos conflitos, na ética ou no direito. È uma afirmação que sem a participação afetiva do outro, não tem a possibilidade de melhorar a qualidade de vida.

2. Mediar com advogados: mediar as oportunidades vitais

2.1 Os significados da mediação

A mediação é diferenciada da negociação direta por ser uma autocomposição assistida, é um trabalho de reconstrução simbólica, imaginária e sensível que exige a presença de um terceiro que irá cumprir com as funções de escuta e implicação.
A função do mediador é ajudar cada pessoa envolvida no conflito para que elas reflitam, falem de si mesmas ativando a sua posição diante dos problemas, para que assim elas possam agarrar como uma oportunidade única o roteiro que irão seguir para a solução do problema e poder caminhar pela vida com uma nova perspectiva
A autocomposiçãio é uma forma de realização da autonomia, na medida em que educa, facilita e ajuda na produção de diferenças. Já na mediação, a autocomposição esta inserida na tomada das decisões, pois são as partes envolvidas no conflito aquelas que assumem o risco das decisões, já na arbitragem o risco ocorre por conta dos árbitros, da mesma forma que estes riscos são assumidos pelos magistrados no momento da decisão judicialmente do litígios.

2.2 Sentidos, funções e destino da mediação

Existem várias correntes sobre os sentidos, as funções e o destino da mediação. O procedimento adotado é um diferente do da conciliação e da arbitragem, a diferença baseia-se no caráter transformador dos sentimentos que ocorrem geralmente nas relações conflituosas, o que é ignorado no procedimento judicial e nos outros procedimentos alternativos.
A mediação é uma proposta transformadora do conflito, já que não busca a solução por um terceiro, mas sim a solução pelas próprias partes que recebem o auxílio do mediador para administrá-la. A mediação não se preocupa com o litígio, nem com a verdade formal contida nos autos e nem tem como finalidade a obtenção do uni acordo. A mediação visa ajudar as partes a redimensionar os problemas e o mediador exerce a função de ajudar as partes a reconstruírem a relação conflituosa.
A mediação é um procedimento de intervenção sobre todo o tipo de conflito. Quando os juristas falam de conflito o resumem ao litígio, o que não é a mesma coisa, pois quando se decide judicialmente, por meio de um litígio, se considera normativamente os efeitos, desse modo, o conflito pode ficar ainda mais agravado em qualquer momento futuro.

2.3 O litígio

No Litígio o juiz decide pelas partes. No litígio os magistrados trabalham sobre o conflito interditando-o ou congelando-o no tempo, na lógica do litígio, os juristas intervêm diminuindo o tempo mediante um processo de antecipação do tempo para provocar o efeito de um controle normativo do futuro.
O conceito jurídico do conflito como litígio apresenta uma visão negativa, pois os juristas vêem o conflito como algo que deve ser evitado, como litígio, como controvérsia, os juristas nunca vêem o conflito com termos satisfatórios para ambas as partes.
Assim a mediação é vista como uma forma alternativa de intervenção nos conflitos, como uma possibilidade de transformação, tudo através da possibilidade assistida de podermos nos olhar a partir do olhar do outro para entendê-lo e a nós mesmos.

2.4 Em nome do acordo

Na mediação o acordo é secundário, na medida em que é praticado ao longo de todo o procedimento e tem um resultado mais participativo do que finalistico.

2.5 Imparcialidade

A mediação é caracterizada pelo mediador, que é o terceiro que ajuda na resolução do litígio. O mediador tem que ser imparcial, já que ele tem o poder de ajuda, não possui o poder de decisão no litígio.
O juiz ou o arbitro no litígio tem relação de poder, já o mediador ao contrário, ocupa um lugar de ajuda, de transição e de amor. O mediador é cuidadoso, é amoroso, é paciente, o mediador não impõe o seu critério como o juiz.
A função da mediação é recolocar o conflito e resolvê-lo através do amor e não da dependência ou da dominação.

2.6 Mediação dentro dos conflitos

A mediação pode atuar dentro de qualquer tipo de conflito como o comunitário, o ecológico, o empresarial, o escolar, o familiar, o penal, o trabalhista, o político, o de menores em situação de risco, os de realização de direitos humanos e da cidadania e os relacionados com o consumidor.
A mediação deve ser encarada como uma atitude positiva diante da vida, como uma visão do mundo e do futuro. É fundamental na mediação tratar os não ditos, pois eles expressam mais o conflito e possuem um maior grau de riqueza, pois em um conflito revelam se mais pelo não-dito , do que pelo dito.
A mediação mesmo considerada como um recurso alternativo do judiciário, não pode ser baseada em crenças ou em pressupostos dos juristas, a mediação é antes de tudo um conciliação

3. Meditar a partir da psicoterapia do reencontro ou do amor mediado

3.1 Mediação é / Mediação não é

A mediação é:

· A inscrição do amor no conflito
· Uma forma de realização da autonomia
· Uma possibilidade de crescimento interior através dos conflitos
· Um modo de transformação dos conflitos a partir das próprias identidades
· Uma prática dos conflitos sustentada pela compaixão e pela sensibilidade
· Um paradigma cultural e um paradigma específico do direito
· Um direito da outridade
· Uma concepção ecológica do Direito
· Um modo particular de terapia
· Uma nova visão de cidadania, dos direitos humanos e da democracia

A mediação não é:

· Uma resolução psico-analitica dos conflitos
· Um litígio
· Um modo normativo de intervenção nos conflitos
· Um acordo de interesses
· Um modo de estabelecer promessas

3.2 Amor / Desamor

A mediação vista como terapia do reencontro amoroso se baseia nos processos de amor e desamor que se encontram na vida de toda pessoa. Por amor ou desamor sentimos alegria, tristeza, depressão, ilusão, esperança, impotência, vazio. Através do amor ou desamor desenvolvemos a criatividade, adquirimos ensinamentos, temos medo, solidão.
O amor e a afetividade são requisitos básicos do ser humano, precisamos amar para sermos amados, nos vincularmos a outras pessoas afetivamente, sermos reconhecidos e valorados, é impossível uma pessoa conseguir se manter plenamente ignorado afetivamente pelos outros.
A mediação como terapia emocional aborda o universo amoroso através de uma perspectiva psicológica, sexológica, educativa, política, jurídica,, comunitária, simultânea e complexa.

3.3 Reencontro com o bem estar

Toda terapia tem como objetivo final a proporção do bem estar aqueles que querem se tratar e melhorar a sua qualidade de vida. A terapia do reencontro é baseada em um contexto conflitivo e em desajustes amorosos.
Evitamos todos os tipos de emoções, temos medo de intimidade afetiva, de vínculos amorosos, seja do tipo que for, porque temos medo da dor, do desamparo e da solidão. Tem um momento da vida que precisamos cuidar de nós mesmos. Amar-se significa não renunciar a si mesmo como forma de fuga. Devemos aprender a dar e receber amor,precisamos de uma terapia que nos ajude a aprender a amar com maturidade, bem estar e autonomia

3.4 Aprender e transformar

É entendendo o funcionamento dos vínculos que aprendemos a nos transformar, temos que aprender a tirar algumas lições das experiências vinculares satisfatórias e apagar aquilo que não presta, só assim aprenderemos também a respeitar o nosso espaço vital como o do outro e assim a trocar experiências.
O modelo de interdependência afetiva ao qual não posso deixar de destacar se baseia em um contrato ao qual se estabelece limites para que assim sejam evitadas invasões ao espaço vital do outro, pois não existe amor quando se tenta controlar o espaço vital que é do outro.
O contrário do modelo de interdependência é o modelo de separação total,este modelo é um modo radical de defesa dos espaços vitais de cada um , ao qual impede que os vínculos entre as pessoas durem, que força a pessoa a ir passando de vinculo a vinculo, existindo apenas relacionamentos superficiais.

3.5 Relacionamentos e afetos

Os relacionamentos primários são baseados na ameaça de abandono do amor, o parceiro que a todo o momento deixa bem claro que se você não fizer aquilo que ele quer ou espera que ele vai te abandonar, entretanto as pessoas não podem se sentir realmente queridas se não são aceitas do jeito que são.
A pessoa deve se anular em relacionamentos deste tipo? A resposta é não, devemos sim é apostar em relacionamentos que nos beneficiem, e que e nos tragam autonomia, em relacionamentos que nos deixem alegres e que nos desafiem a procura de constantes primeiras vezes, se isso não ocorrer acabamos ficando prisioneiros de nossas próprias condições de alienação e dependência.
Quando não renunciamos a nós mesmos para vivermos o amor, encontramos condições de criar relacionamentos de confiança, de autonomia, pois em relacionamentos de autonomia cada parceiro encoraja o outro a seguir a sua liberdade.
A pessoa deve mudar por si própria e não mudar na direção que o outro propõe por medo de perder o seu amor. A pessoa não pode mudar pelo medo de perder, ou por culpa ou por um dever de amar, assim ela estará se anulando, estará deixando de ser o que ela é para ser o que o outro espera, assim acaba ficando perdido e não sendo nem uma coisa nem outra.
O manipulador domina para se proteger de suas próprias frustrações, medos e inseguranças, ele sufoca, ele invade ele asfixia. O manipulador esconde os seus medos na braveza, na irritação.
O amor autônomo necessita que não escondamos de nós mesmos e do outro os nossos sentimentos mais profundos, ele necessita de nós pelo que nós somos e não pelo que o outro quer.

3.6 O conflito como catalisador

Sabemos que não é o conflito em si mesmo, mas sim, como lidamos com ele que geram as dificuldades. O conflito é um catalisador de respostas, estas respostas podem ser agrupadas em dois grandes grupos de motivações. A primeira, que é a motivação auto-protetora, são aquelas motivações aprendidas através da nossa história pessoal, ao qual criam barreiras e muros intransponíveis. Já a segunda que é a defensiva e de aprendizagem, é aquela em que os parceiros conjuntamente, se defendem e se protegem reciprocamente um do outro. Já a intenção de aprender abre caminhos para mudanças significativas, ela é a única que pode abolir, abrir ou quebrar o círculo das defesas
A intenção de aprender esta baseada em ter que ver o conflito como uma oportunidade vital e não uma calamidade em nossas vidas.É através dos conflitos que aprendemos a assumirmos a responsabilidade sobre nossa própria vida, para aprendermos a arriscar, a confiar no outro, a expressar os nossos sentimentos.

3.7 O amor desmedido

Os conflitos de amor são relacionados com enamorados excessivos, alucinados e inter dependentes. O ser que é ama em excesso, de forma obsessiva e neurótica, parece querer enterrar o outro em seus devaneios e desmesuras, em seus delírios confundidos com o amor, para irritar a si próprio e ao outro conservando assim as feridas do excesso que o fazem seguir na sua loucura.
O ser que nos prendeu pode muito bem nos soltar pela delicadeza e não pelo ódio, portanto o mediador tem que estar atento para ver um conflito de amor e perceber se existe a possibilidade de converter um dos parceiros a realidade, fazendo com que um medie o outro. Não sendo possível esta estimativa, o mediador deverá ocupar o lugar da gradativa.

3.8 Desamor

O desamor pode ser entendido como um fim do amor, uma morte e transformação de sentimentos. O desamor é a despedida de um vinculo antigo, de um modo de nos relacionarmos, no desamor existem tanto perdas como ganhos. Perde-se a história vivida, mas leva-se algo desta história se dela conseguimos tirar alguma lição e nos prepararmos abrindo os nossos sentimentos a perspectivas de futuro. O desamor é triste e complicado porque as pessoas não sabem dizer adeus, não sabem botar um ponto final em uma história que não estava tendo um final feliz. Dizer adeus é muito difícil, as pessoas precisam ser ajudadas para que não desmoronem, pois ninguém nos ensinou a amar, muito menos a desamar, esta iniciativa depende de nós.
O desamor tem a ver com distâncias afetivas e quebras de vínculos, alem de bloqueios de comunicação. Mediar os vínculos em desamor é ajudar as partes a aprenderem a despedir-se.

3.9 O papel da psicoterapia no nono milênio

A psicoterapia terá um papel importante no nono milênio, pois suas formas de tratamento expandidas, diversificadas e consolidadas nos trazem novidades. Através de estudos podemos afirmar que o consumo de psicoterapias irá aumentar dada a quantidade de problemas psicológicos, transtornos e perturbações estimuladas pela ansiedade, pelos desamores, dependências, sombras, déficits de personalidade e novas enfermidades da alma.
As terapias alternativas terão a função de ajudar as pessoas que tem a sua qualidade de vida prejudicada, devido a sofrimentos que carregam na alma e a problemas que não conseguem resolver, as terapias alternativas servirão para administrar e transformar para melhor as suas vidas.
As psicoterapias do nono milênio irão partir da premissa de que será um processo de difícil recuperação aonde será preciso a participação de várias pessoas, com diferentes perspectivas de vida e experiências, o terapeuta não irá impor a sua vontade, simplesmente será um terceiro que irá escutar a pessoa a ajudando e evitando focalizar seu trabalho sobre os medos das pessoas, fazendo um trabalho participativo que permitirá que cada pessoa achar os seus próprios recursos.
3.10 A ética da cidadania

A ética da cidadania reconhece no afetivo a sua dimensão fundamental, este tipo de ética começou a instalar-se socialmente através da mediação, uma ética baseada na ternura que destrói por completo a ética antiga e arbitrária.

Parte II

Cidadania e Direitos Humanos da Outridade.
Os caminhos de uma justiça cidadã e da construção de juízes cidadãos – a justiça mediadora

1. Prelúdio insatisfeito

1.1 Cidadão e Direitos Humanos

A cidadania pertence aqueles que têm opinião própria. Ser cidadão é ter voz, é poder opinar e poder decidir por si mesmo. A cidadania sempre se destacou em locais públicos, aonde as decisões construídas baseavam se um no outro, isto é decisões construídas através de vínculos, acordos, alianças.
A fusão da cidadania com os Direitos Humanos de deu através do discurso jurídico moderno, um relato fundador, manipulador e gerador de dependências.
A teoria do Direito da mediação vê as concepções de cidadania e direitos humanos como formas sinônimas, como um programa de qualidade total de vida .

1.2 Agora as coisas podem mudar

No inicio do século XXI começou a surgir um novo paradigma jurídico-cultural, o paradigma da mediação, que é baseado na cidadania e nos Direitos Humanos.
Os Direitos Humanos estão diretamente ligados à própria condição de ser homem, independentemente de atributos sociais, intelectual, virtude moral ou talento de qualquer tipo. Os direitos do homem são primeiramente os direitos do outro homem, isto é, são os deveres do homem para com os outros homens.
Atualmente o cidadão esta perdido no anonimato, ele é um espectador passivo de seus próprios conflitos e também dos do outro. Atualmente o cidadão esta na democracia dos silenciados e no exercício de uma cidadania do silêncio. Se não participo não existo como cidadão, o importante é participar dos relacionamentos com o outro , poder mediar as próprias relações para assim poder participar das decisões participativas e comunitárias..
Se eu não consigo me encontrar comigo mesmo e com a minha auto-estima como poderei participar das ações públicas? Exercer a cidadania não é só participar, mas participar exercendo autonomia.

1.3 O sujeito Kitsch

O sujeito Kitsch é uma pessoa vazia de vida interior, que é capturado por movimento ágeis e sem destino, com uma personalidade obsessionada pelos meios em que vive, uma pessoa fechada em si mesma e em tudo o que faz.

1.4 Receita da modernidade
A modernidade se baseia na combinação de ciência, de ética e de arte. A modernidade antecipou as coisas, ela trocou a poupança pelo gasto antecipado e pelas ações, ela trocou a compra sem dinheiro pelo cartão de crédito que é nada mais do que uma promessa de pagamento, o capitalismo roubou a cena. A cidadania e os Direitos Humanos estão reduzidos a possibilidade de ter alguma coisa.

1.5 Desconstrução

A desconstrução é baseada em considerações sobre a banalização da guerra e a morte. A desconstrução é a autodestruição, a realização do mal que esta no centro da razão e da condição moderna.
A condição moderna começou a ser invadida pelo desencanto, começou a surgir um momento posterior a modernidade, marcado pela desilusão em relação aos fundamentos universalistas, é uma pós-modernidade que se constrói na desconstrução do eu moderno e da racionalidade, uma desconstrução nascida no interior da arte moderna.
Atualmente estamos diante de uma nova concepção de cultura. Dispostos a construir desconstruindo todo tipo de dispositivo que antes era considerado imodificável.

1.6 Uma estratégia

Atualmente a desconstrução pode ser vista como uma estratégia para os procedimentos de mediação. O mediador tem que ajudas as pessoas se construir e a andar por suas próprias margens. O mediador precisa ajudar as partes a desconstruírem-se, desmontarem sua personalidade, para que possam aparecer os seus aspectos positivos e negativos, suas fragilidades e fortalezas, seus medos, as suas angústias e as suas metas. O mediador deverá mostrar as partes do conflito os fragmentos de sua vida, as ambigüidades, a insatisfação em seus relacionamentos. Ele tem que trabalhar com um processo de reconstrução do pensamento, dos sentimentos, da sensibilidade e das condutas.

1.6.1 A transciência

Com a transciência temos a predisposição em pensar a impossibilidade das totalidades, o anseio de não trancar os sistemas, mas de abri-los, de dividi-los, de liberar a todos de propostas estreitas da realidade atual, que negam a multiplicidade, em nome de leis antigas ultrapassadas universais e imutáveis.
A transciência atualmente vai libertando uma racionalidade fechada, vai tendo um diálogo com a natureza não com a intenção de dominá-la, mas sim para interagir.

1.6.2 Subjetividades renovadoras

O dispositivo é uma estratégia muito importante na mediação, através dela o mediador pode conseguir a importância de provocar o inesperado em meio a uma crise no conflito que trata de mediar e que parece impossível de solucionar ou modificar.

1.7 O Direito e a modernidade

O Direito moderno que era pomposo, que possuía discursos modernos conjugados com discursos de ordem, de verdades e de pureza, foram gradativamente perdendo o seu espaço e os seus poderes encantados e dando lugar para rotinas cansativas e burocráticas.
Com o surgimento da pós-modernidade jurídica, uma nova qualidade de juristas vem se destacando e pensando de uma nova forma, deixando de lado a confecção de uma literatura jurídica erudita, pomposa e simulada, para escrever de forma pós-moderna misturando estilos no modo de pensar do direito, abrindo cada vez mais espaço para o paradigma da mediação.

1.8 O espaço simbólico da cidadania

Os Direitos Humanos e a Cidadania vistos por um novo prisma, através de uma visão positiva do conflito, fora da temática normativa, simplesmente dentro do conflito, como um modo de relacionamento de um com o outro. É o direito de decidir por si só, por seus sentimentos, sem que outras pessoas digam o que é bom ou ruim sentir, é a cidadania como forma de construir o amor por nós mesmos, o direito de decidir como aprender, amar, querer.

2. A construção ética da outridade

2.1 a outridade

A outridade é vista como o espaço construído com o outro para realização da ética, da autonomia e da configuração de outra concepção de Direito e de sociedade.
È A outridade é o encontro consigo mesmo através do outro, através do vínculo. A outridade define a natureza ética que une cada homem com o seu semelhante.

2.2 A ética como alteridade

O ser como alteridade representa uma fuga ao intelectualismo moderno e clássico. A alteridade ética é urgente nos tempos atuais, é de extrema tristeza, com pessoas saturadas que se desesperam para fazer compras de última hora, baseada no bem estar, no conforto e nos êxitos pessoais acima de tudo. São pessoas fora de controle, vivendo em cidades crescidas tecnologicamente, mas cujos habitantes vem perdendo o sentido comunitário, tornando-se cada vez mais egoístas, desconfiados e violentos.
Captamos o rosto na expressão das palavras, e captar o outro , em seu rosto não é fácil. O alheio é sempre complexo, inesperado, perturbador, difícil. Captar o outro serve como espelho aonde vemos as coisas que são insuportáveis em nós mesmos e não queremos enxergar. Captar é ter uma observação ética sobre o outro, é importante na medida em que possamos descobrir a nossa honestidade, conosco e com os outros.

2.3 Quem é o outro?

O outro é o outro, não somos nós. É uma violência reduzir o outro a nós. O outro é visto como o que nunca poderemos conseguir, o ser sempre fugitivo de nós, o outro é visto como o lugar e a presença permanente do inacessível, que só poderemos fingir possuir, reduzindo-o, pensando e nos enganando que ele é igual a nós.
O rosto pode ser entendido também como a força moral do outro. A resistência do outro não nos faz violência, como eu chegarei a esse outro que me espera para que eu possa aprender com o seu rosto a responsabilidade? O outro e seu rosto não podem ser pensados, mas tem que ser sentidos. O que nos aproxima do outro é a sensibilidade, pensar no outro sem senti-lo é destruir o seu rosto.
Somos responsáveis por nós e pelos outro, o outro porque ele é o que nós, vocês e eu fizemos dele, o outro para existir precisa escapar de nosso controle, precisa de autonomia e conhecimento adquiridos por si só.
O grande problema da magistratura é que ela decide sobre os conflitos que lhe são alheios, sem sentir os outros do conflito. Encaixa o conflito num modelo existente sem sentir as partes. Para os juízes o outro não existe, sempre decidem baseados em si mesmos, em seus egos. Decidem sem responsabilidade, porque projetam a responsabilidade na norma do Direito. Os juízes decidem conflitos sem relacionar-se com os outros e com os rostos. A decisão dos juízes são sem alma, sem expressão, sem sentimento, sem rosto.

3. O juiz cidadão

3.1 O Direito da cidadania e a justiça cidadã

Uma nova concepção do Direito e da justiça estão surgindo baseadas na cidadania e no nosso Direito de nos amar, de buscarmos uma melhor qualidade de vida. Um Direito que não esta mais centrado em normas, uma justiça não mais centrada em valores, mas no cotidiano . A justiça cidadã visa humanizar o Direito, reduzindo o poder normativo a uma expressão mínima a ser aplicada.

3.1.1 Voz a cidadania

A tarefa de dar voz a cidadania depende da justiça cidadã, através de programas de cidadania, de juizados de cidadania, onde as pessoas possam sair do silêncio imposto a elas e recuperar a voz.

3.2 Projeto de humanização da Magistratura Catarinense

O projeto do tribunal atende a vários objetivos fundamentais, um projeto multirevolucionário. O processo de humanização da magistratura coloca os juízes diante de vários desafios, dentre eles o de maior importância tem haver com a reformulação do pensamento jurídico, fazendo com que ele se torne mais humano, mais participativo e menos pomposo.

3.2.1 ¨Fazer sua própria cabeça¨

Vale mais a cabeça bem feita de um sábio do que a de um homem cheio de saberes fragmentados e incompletos. O importante no significado de uma cabeça bem cheia e toda fragmentada é que ela não dispõe de nenhum princípio de seleção de saberes, são informações guardadas fora de ordem, muitas vezes obsoleta.
Uma cabeça bem feita produz competências de modo geral e não específico. È uma cabeça para organizar os conhecimentos e com isso evitar o acúmulo do que é supérfluo, inútil.
A sabedoria estimula o emprego da inteligência e da solução dos problemas. Estamos diante do desafio de repensar o pensamento para assim permitir o pleno emprego da inteligência.

3.2.2 O cuidado com a vida

O ponto de partida do conhecimento é o ser humano, temos que ter um tipo de pensamento que nos ajude a nos preparar para a vida, que nos ajude a nos compreender e a compreender os outros.
A educação tem que ser diferente do ensino, deve nos ajudar a assumir o humano, como a única forma de nos ajudar a aprender a viver. O humano é complexo e alimenta-se cós conflitos e do antagonismo entre as pessoas.

3.2.3 O pensamento cio complexo

O pensamento complexo como compreensão do humano deve juntar-se ao surrealismo. O surrealismo denuncia uma vida vivida entre os destroços do Direito romano, a queda geral da revolução cristã e o fracasso da ciência mecanicista em termos de felicidade no passado. Na modernidade a intervenção surrealista introduz um novo formato para a cidadania.
A intuição surrealista nos diz que a salvação do homem tem que passar pela sua própria desintelectualização poética.

3.2.4 Cidadania surrealista

O único formato com que o homem de hoje conta para compreender a viagem de humanização do humano é o surrealismo, para isto ele tem que procurar a cidadania surrealista e descobrir algumas lições desta difícil busca.
Para o surrealista a realidade deve sempre ser construída poeticamente, a vida é algo que deve ser amado com fervor. O cidadão surrealista e um cidadão poético e sensível. Para os surrealistas o conhecimento e a sabedoria não são um dom que se possa entregar, são dons que se conquistam.

3.2.5 Repensar o pensamento

Os Direitos internos do homem afirmam a idéia de que a transformação da sociedade é possível, e que ela depende da transformação do homem. Os Direitos internos baseiam-se em uma reserva de sensibilidade, que é uma reserva de poesia.

3.3 A espiritualidade do magistrado

Em um sentido geral e amplo, o juiz cidadão é uma pessoa que realiza parte de sua cidadania surrealista por meio da sua função humanizada aplicada na magistratura.
É no espírito do legislador ou no espírito da lei que se encontra a mais genuína fonte do Direito. O juiz cidadão é o juiz de visão abrangente, que troca o tipo e os conceitos pela forma de ver o que pensa como poética. A ética para este juiz é poesia e sua intervenção é usada na solução dos conflitos como gestão de potencias.

3.4 Juizados de cidadania

A justiça Catarinense tem um projeto de juizados de cidadania denominado Casas da Cidadania, este projeto esta em fase inicial. Os julgados de cidadania levam, neles mesmos, o compromisso de humanização na magistratura. Os juízes que trabalham neste projeto precisam recompor os seus vínculos, se assim quiserem ajudar as pessoas a reencontrarem – se na realização de seus vínculos pessoais de cidadania.
A cidadania e os Direitos Humanos terminam agindo em conjunto, com uma aposta no vínculo para que não fiquem sozinhos. Todos nós somos vulneráveis e precisamos de um tipo de cidadania especial que nos ajude a superar isso.

Parte III

O Pensamento complexo e a qualidade de vida

1.O sentido da vida

1.1 A complexidade da subjetividade e do real

O terceiro milênio chegou absolutamente desacreditado no ocidente. São sociedades que criam homens loucos, alienados, co-dependentes e sem nenhum olhar inteligente sobre a sua própria pessoa. A realidade foi construída em cima dos meios de comunicação, que são formas do real que não precisam de palavras para construir a virtualidade. O que comanda é uma inteligência cega que faz com que os homens fujam de si mesmos.

1.2 Vazio existencial

O fim existencial da modernidade nos coloca a frente de um esgotamento do estilo de vida por ela proposto, por isso a sensação de vazio existencial. As preocupações com o sentido da vida estão ligadas a necessidade e aos cuidados consigo mesmo.
Para se melhorar a qualidade de vida é preciso realizar a autonomia, é preciso sensibilizar-se com as enormes carências dos saberes da modernidade e entender que um pensamento que nos mutila nos conduz necessariamente a ações condizentes com este pensamento.

1.3 Uma política de civilização

A cultura da informática não deixará nada no mundo sem se revolucionar, podemos ate passar os limites do inimaginável. Vivemos em uma sociedade com pessoas hiperdependentes emocionais, aonde domina uma realidade virtual que persuade e que controla as pessoas, sem a mediação de argumentos. É um tipo de convencimento para homens presos em novas formas de extermínio de sua autonomia, criando assim um empobrecimento da experiência mostrada pelos meios como se fosse a auto-evidencia do instantâneo. São culturas que deixam o homem sem herança, condenados a buscar e a reencontrar a sua cultura.
  • LUIS ALBERTO WARAT - livro: SURFANDO NA POROROCA: O OFÍCIO DO MEDIADOR (RESENHA)