quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Como assim?

Quem tem filhos há de entender o que aconteceu comigo, pois, acredito, acontece na maioria das famílias. Sabe aquela brincadeira de crianças, em que um “galo” da vez, passa a torturar o irmão, agarrando, imobilizando, enquanto o outro grita “não”? E no outro dia, troca a vítima e o galo é o outro? Pois isso me incomodava e eu perguntava: Em que tom de voz uma pessoa tem que dizer não e o outro ouvir e atender? Um não, nesse caso, deve ser uma ordem e não deveria ter que ser repetida.

Nem sempre fui ouvida, mas, acredito, ficou o germem do que eu pretendia dentro da consciência deles.

Ao acompanhar a estapafúrdia polêmica acerca do barulho nos postos de gasolina e lendo o manifesto da minha amiga Doli do Posto Esso Morom, pus-me a pensar sobre o comportamento ético que deveria nortear o comportamento das pessoas. Perguntei-me: em que tom de voz o povo, os moradores, os idosos, os doentes, as crianças, os clientes do posto, têm que dizer “não” à baderna e à falta de respeito?

Que direito alguns têm de perturbar e de desrespeitar o direito assegurado pela lei e pela civilidade? Que retrocesso civilizatório é esse, em que pessoas se atrevem a um comportamento tão danoso? Como as pessoas prejudicadas podem manifestar seu repúdio, para serem ouvidas e atendidas em suas justas reivindicações? O que falta para que seja permitido aos cidadãos e cidadãs de dormir, descansar, tomar chimarrão na sacada, conversar com os filhos sem que os nervos estejam à flor da pele? Como é possível viver sadiamente em um clima tão agressivo e desrespeitoso?

Quero me solidarizar com os moradores, com a minha amiga Doli, tão bem representado pelo também meu amigo Dr. Otávio, pois moro em um bairro onde não acontece nada disso que comentei, porém somos torturados dioturnamente por som alto, com músicas das quais não gostamos e ouvimos latidos de muitos cães, cães demais, o que está comprometendo nossa qualidade de vida. Não conseguimos ler, conversar, descansar em algumas horas do dia, principalmente aos finais de semana.

Temo que o barulho esteja encobrindo a falta de objetivos, a falta de educação, a falta de respeito, a falta de que alguém dissesse aos barulhentos as coisas simples que os pais têm a obrigação de dizer aos filhos. Não há necessidade de diplomas para dizer essas coisas simples, basta que a gente se importe e saiba olhar para os pequenos e ver neles grandes pessoas, pessoas que merecem bons exemplos e chances de desenvolvimento humano.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Olha o que encontrei!

Cães e gostos

Crédito: ARTE PEDRO LOBO" src="http://multimidia.radioguaiba.com.br/thumb.aspx?Caminho=multimidia/2011/02/04/146286.JPG&Tamanho=250&HW=2" rel="
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Crédito: ARTE PEDRO LOBO

Em Santa Catarina, um Pit Bull quase arrancou as mãos da irmã de um amigo meu. Vou provocar latidos, rosnados e ataques. Eu odeio Pit Bull. É um bicho horrendo, com uma cara pavorosa, agressiva e assustadora. Não consigo entender o que pode levar alguém a ter um animal tão hediondo. Volta e meia, um Pit Bull mata uma criança. Os defensores da raça saem a campo para dizer que a culpa foi dos seres humanos, pois o bichinho seria por natureza "dócil, leal e equilibrado". Duvido. Sou traumatizado com cachorros. Na infância, fui mordido várias vezes. Eu tinha de ir todas as manhãs a uma casa onde morava um buldogue. Eu tinha horror daquele monstro, que saltava em cima de mim todos os dias. O dono sempre me dizia indiferente ao meu pânico: "É só não mostrar medo que ele é doce, amigo e brincalhão". Uma ova. Eu morria de medo, ele pressentia e me atacava sem piedade.

Já vi gente juntando cocô de Pit Bull na rua, pegando aquilo tudo com a mão dentro de um saco plástico. Eu prefiro passar uma temporada no presídio central a sofrer uma tortura como essa. Segundo um dono de Pit Bull que conheci, a culpa pela má imagem dessas feras é da mídia. Para mim, a humanidade está perdendo definitivamente os pinos. Vejo gente beijando cachorro na boca, carregando cachorro em carrinho de criança, vestindo cachorro com roupinha de nenê e chamando cachorro de meu bem. Eu, hein! Nada tenho, em geral, contra os cachorros. Cachorra eu até entendo. Tive um cachorro, quando adolescente, o Lobo. Era um lindo vira-lata baio. Só gosto de vira-latas. É questão de identificação. Já tem gente defendendo até que o homem deve ser visto como o melhor amigo do cão. Por que não?

O politicamente correto antiespecismo permite que se fale mal do vizinho - sendo que cada um quase sempre tem mil razões para falar mal do vizinho, menos eu -, mas não do cachorro dele. Dizem que é uma questão de ética. Sou contra maltratar animais. Nem por isso acho bonito andar por aí com um monstrengo sempre prestes a tentar engolir alguém. Vou confessar, pronto: quando vejo uma mulher chamar um cachorro de meu filhinho, numa boa, eu me retiro. Se um dia eu voltar a morar numa casa, terei um cachorro. No pátio. A sua obrigação será nunca assustar alguém e jamais pôr uma pata dentro de casa. Sei que tem cachorro limpinho, até mais cheiroso do que muita gente, mas não me acostumo. Sou de Palomas. Lá, quando cachorro entrava na casa, a gente gritava: "Sai pra lá cachorro".

Sou grosso. Represento a "era Dunga" do jornalismo. Misturo Beethoven com José Mendes e Gildo de Freitas. Cachorro comigo é do lado de fora. A frescura canina está passando de todos os limites imagináveis. Tem gente que não pode viajar nas férias por não ter com quem deixar o cachorro. Em Paris, já pisei em muito cocô de cachorro. Meu trauma só aumentou. Essa obsessão por cachorros é pura transferência de energia afetiva represada. Carência. Crianças dão mais trabalho e, depois de certa idade, perde-se o controle sobre elas, que podem acabar no crack. Estou exagerando? Claro. Eu sempre exagero.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br