sábado, 23 de maio de 2009

Um encontro interessante, de novo!


Tive um encontro, aliás quatro encontros com monitores das casas que abrigam pessoas vítimas de violência, de abandono, de abusos, enfim, pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. Propus-me a trabalhar, de forma didática, sobre como suprir essas pessoas institucionalizadas do afeto e da segurança negadas a elas até então, de uma forma geral. Foi uma experiência interessante, na medida em que permitiu que eu visualisasse a realidade. Se há cerca de sessenta monitores, pressupõe-se um número muito maior de pessoas institucionalizadas pelo município e, entre elas, muitas crianças retiradas de seus lares por terem sofrido todo tipo de abusos por parte de quem deveria cuidar delas. Percebi também a impossibilidade de cuidarem melhor das pessoas, dado às carências de toda ordem, que vão desde falta de pessoal, falta de espaço físico, até de desinteresse por parte de alguns. Em todo o grupo com que trabalhamos, sempre há os que mostram má vontade, os que estão esgotados por já terem sido melhores, mas que não tiveram apoio do poder público, ou os que só são figuras colocadas dentro do serviço público e estão lá, apáticas, acima do bem e do mal. Mas, na maior parte dos casos, tratamos com pessoas muito bem formadas, inteligentes e que dão o melhor de si em prol do que, paulatinamente, se mostra ineficaz e insuficiente. Percebi que dependemos, como sempre, de vontade política para que, o que deve ser feito, seja feito. Acho que o intento a que me propus foi alcançado, junto com minha amiga Rita, sempre tão solícita e competente. Sei que, às vezes, necessitamos parar para pensar nossa capacidade de dar amor aos outros, de questionarmos a forma mecânica com que realizamos nosso trabalho no dia a dia. A proposta foi a de parar para uma sensibilização e o que se conseguiu através dela, foi apurar o que falta para que os abrigos sejam lugares melhores, mais humanizadores. Pelo menos os adolescentes foram retirados do albergue municipal e colocados em uma casa destinada só para eles. Ao menos a lei deve ser cumprida pelo poder público. Amor e segurança são pressupostos de humanidade que deveriam mover a todos, desde a família até as últimas instâncias. No caso de falha da família nestes quesitos, resta às crianças e adolescentes a escola; na falha da escola não resta nada, talvez a rua ou a polícia, ou a cadeia. Agora, é triste saber que necessitamos de casa da criança, de meninas, de meninos, de mulheres, de carentes. Que sociedade pode conviver com tanta negligência? Que sociedade pode conviver com o abandono de pessoas, de crianças? Que sociedade pode conviver com crianças violentadas e abandonadas? Eu confesso que não consegui dormir direito por dias e ainda me angustio com uma realidade que eu não conhecia por inteiro. Será que a conheço agora? Quais outras facetas e carências não me foram reveladas? Sei que a Casa da Criança precisa de uma biblioteca, de uma brinquedoteca, de uma mesa para fazer os temas, de pessoas que ajudem as crianças a estudar, de pessoas que as coloquem no colo quando estão sofrendo, de pessoas disponíveis para conversar, cantar, brincar. Sei que a casa deve ser bonita e colorida, onde possa haver ao menos um pouco de alegria, para assim proporcionar condições de crescimento integral a seres já tão prejudicados. Sei que os adolescentes necessitam ser cuidados por adultos capacitados, por profissionais da saúde que tratem seus corpos e almas, para que possam ter alguma chance de largar possíveis vícios e sequelas de uma infância ruim, onde todos falharam com eles. Sei que as mulheres maltratadas por seus companheiros necessitam de um lugar limpo e seguro para que curem suas dores físicas e psíquicas. Sei, hoje, que os andarilhos, os sem teto, os com frio e fome necessitam de um lugar quentinho e aconchegante para enconstarem seu corpo nesse nosso inverno tão rigoroso. Sei muitas coisas hoje, mas me considero alguém que, de alguma forma, reivindica em favor dos que sofrem, que não fica em situação de espectador, mas necessita se colocar na situação cidadã de protagonista para ajudar a conseguir uma sociedade mais justa, na medida em que vê e interfere do jeito que sabe e do jeito que dá.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Acessibilidade para todos




Aos poucos incorporamos ao nosso vocabulário palavras que, mesmo não sendo novas ou desconhecidas, vêm carregadas de novos conceitos. Exemplo disso são as palavras portabilidade e acessibilidade. A primeira dá conta de problemas relativos aos aparelhos celulares e a segunda, trata do acesso a prédios, repartições publicas, locais de lazer e de cultura, igrejas, escolas, enfim, locais que interessam a todas as pessoas. Torna a cidade um lugar onde todos podem transitar, o que pressupõe que as ruas e as praças sejam organizadas de tal sorte, que cegos, cadeirantes, engessados, idosos e doentes consigam chegar até o lugar que lhes interessa, com facilidade.
A acessibilidade é um direito de todos e de todas e, sendo um direito, deveria ser respeitado e exigido também por todos. Não deveríamos ter que caminhar de cabeça baixa para cuidar dos buracos, reentrâncias, pedras soltas, rampas para carros, bueiros mais baixos do que a calçada, ou mais altos, armadilhas construídas deliberadamente para dar prioridade a alguma coisa que não seja o ser humano. Os carros são muito melhor tratados do que nós, pois merecem que a calçada seja erguida ou baixada ao bel prazer do seu dono. Há armadilhas em todos os lugares, chegando-se ao cúmulo de, ao construir-se uma rampa, tenha-se que construir degraus para quem passa pela calçada.
O proprietário de um imóvel deve respeitar o plano diretor e a prefeitura deve fiscalizar o que e como o proprietário faz na sua propriedade, no que diz respeito ao espaço comum. A condescendência ou a preguiça dos gestores municipais compromete a saúde dos cidadãos, a liberdade de locomoção, a capacidade de ir e vir, pressupostos da democracia.
Não respeitar a acessibilidade, portanto, é algo grave, pois tolhe e limita a ação humana. Mesmo em tempos em que a palavra limites está na moda, nenhum de nós quer ser menos do que pode ser, nem fazer menos do que pode fazer, por causa de algo tão menor e tão fácil de ser resolvido.
Todos nós queremos apreciar a natureza, sentir o vento batendo no nosso rosto, olhar e sorrir para as pessoas, e, mesmo assim, chegarmos à casa inteiros, felizes. Nós merecemos isso, não é?