sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Papai Noel


Ontem fomos falar com o Papai Noel, o Domingos e eu e ontem gostei de fazê-lo. Tenho uma mania bem brasileira de deixar isso para o fim e me vejo em apuros, ano após ano, por causa disso. Gostei de escolher presentes na Nobel, acessorada pela querida Laura, mulher inteligente e de trato suave e agradável. Percorremos a livraria várias vezes, conversando e escolhendo, pensando em cada um dos filhos, genro, noras. O Domingos vez ou outra, trazia-nos um achado dele, aliás, sempre um feliz achado, antenado que é na observação de cada um da família. Dei-me conta ali, da diversidade de que é composta a nossa família, na qual cada um exerce um papel claramente definido. Somos muitos, assim como somos muitos temperamentos, muitos interesses, muitos gostos e pensar em cada um e escolher para cada um foi um exercício revelador. Vi-me escolhendo um livro novamente para a Cecília, nossa neta de quatro anos, coisa que venho repetindo desde que ela nasceu, a exemplo do que fiz com as nossas crianças, que sempre ganharam muitos livros. O Domingos sempre teve o cuidado de proporcionar bolas, jogos e bicicletas, mesmo que estivéssemos mal de dinheiro, para bicicleta ele sempre dava um jeito. Lembro sempre da mesa de ping-pong oficial que compramos e colocamos na garagem. Ela serviu para o que foi destinada, isto é, para jogar ping pong e como mesa de churrasco, enorme e por isso mesmo adequada. Ela foi suporte para muitas festas até que começou a esfarelar e não permitir que a garagem ficasse limpa. Foi um pouco doído separar-nos dela. Lembro também do Banco Imobiliário, promotor de discussões acirradas, de nervosismo explícito, de risadas rasgadas e de brigas. Não sou das mães mais caprichosas em arrumar a casa para o Natal, no que me penitencio, nem me ocupei muito com os presentes, mas sei que o essencial foi feito, sei também que nada foi perfeito, mas que a gente foi feliz e se divertiu, isso sim! Em tempo: falei no pretérito, mas está errado, pois a gente ainda se diverte muito, ainda bem!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tia avó, quase bisavó







Estamos comemorando mais um nascimento na família. Trata-se de Bianca, que nasceu em Olinda, PE. O título fala em quase bisavó e é disso que se trata mesmo. Minha irmã Lúcia, a caçula, funciona quase como uma filha para mim. Isso por vários motivos: por ser a mais nova, quase temporã e por ter cuidado dela nas duas ocasiões em que teve filhas. Lucia e Alexandre moravam no Mato Grosso quando as meninas nasceram e dado a doença de nossa mãe, fui para lá, de mala e cuia e filho pequeno para fazer as vezes de mãe e avó. Hoje as meninas Alexandra e Gabriela são adultas e as amo como se fossem netas. O melhor de tudo isso é que, parece, o sentimento é recíproco, elas me amam também. Sempre tive delas muito carinho e consideração. Pois Alexandra, a mais velha, é mãe há dois dias de Bianca, uma linda menininha. André, o pai, dizem estar todo bobo, cuidando das duas com desvelo, passando a noite no hospital inclusive, no que faz muito bem. Pai de verdade é assim mesmo. Eu estou na torcida para que as dores da cesárea passem logo, já que não suporto a idéia de que Alexandra esteja com dor, de que Bianca seja bem glutona e mame muito, de que o leite seja farto, de que a alegria que Bianca está espalhando seja redobrada a cada dia. Sofro por não sentir o cheirinho dela, de perder o espetáculo de vê-la mamar, de não segurá-la no colo quando bem novinha, mas, sei que breve irei para lá, a fim de abraçar um por um e matar a saudade tão grande que sinto deles todos. Viva Bianca! Viva a vida!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Impor dor faz as pessoas piores


As sociedades protetoras dos animais têm muito a nos ensinar. Ensinam-nos, por exemplo, que não é necessário promover dor nos abatedouros de animais de corte e que devemos investir em métodos para a matança, que sejam rápidos e indolores. Este cuidado é estendido também aos animais domésticos, com os quais a crueldade, com o intuito de adestrá-los, deve ser banida.
Os argumentos que usam para tanto são poderosos e esclarecem que medidas contra a crueldade e a dor provocadas por nós humanos, melhoram nossa condição de seres racionais, em evolução, tornam-nos melhores e sensíveis para o belo e para o bom. Não nos faz bem conviver com o sofrimento desnecessário e, pior, provocado por nós mesmos.
A situação do Presídio Central de Porto Alegre, retratado em ZH de domingo, remete-nos a uma situação de extremo sofrimento por parte das pessoas confinadas, para as famílias que as visitam, para os funcionários impotentes diante da indiferença e da falta de recursos por parte do Estado e para as autoridades sensíveis à situação. A pocilga em que o presídio se transformou ofende nossas humanidade e cidadania, enquanto cidadãos e seres humanos. Sentimo-nos envolvidos pela dor de pessoas que, ainda que autoras de crimes, devem ter como pena somente a privação de liberdade. O que se acrescenta de sofrimento à segregação constitui crime. Indignamo-nos também com a insalubridade e a insegurança a que estão submetidos os trabalhadores das casas prisionais.
Se usarmos a lógica de que a dor não educa, que causar dor a qualquer ser nos torna piores, então estamos todos cobertos de culpas causadas por permitirmos que problemas graves como o do presídio nunca sejam solucionados, por querermos, como diz Marcos Rolim, “mais do mesmo”, isto é, por querermos mais prisões, mais depósitos para desrespeito aos elementares direitos das pessoas, quando deveríamos empenhar nossos esforços, nosso talento e capacidade de mobilização, no sentido de promover o cuidado efetivo com as crianças, impedindo que sejam maltratadas, tendo a coragem de dizer com todas as letras que em criança não se bate, mesmo que seja de leve; da mesma forma, deveríamos nos insurgir contra as práticas de tortura tão comuns dentro das instituições prisionais, delegacias, orfanatos, escolas e, principalmente, dentro das famílias. Também, deveríamos cuidar de tudo e de todos como se tudo e todos fossem nossos, o que não deixa de ser verdade, já que tudo nos afeta, tanto o que é bom, quanto o que é ruim. Essas são medidas profiláticas que podem começar uma nova construção, uma nova racionalidade, capaz de melhorar a condição humana. Nossas opiniões devem ser orientadas para o crescimento das pessoas e, governantes e gestores na área da segurança pública, devem nos ouvir e prestar contas do que fazem, pois, mesmo leigos, temos direito à insurgência e à indignação.
Publicado no dia 21/11 em www.ifibe.edu.br

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Há piadinhas e piadinhas!




Será possível que piadinhas grosseiras possam cair no gosto das pessoas? Vêem-se grosserias de tal sorte, que ficamos corados, mesmo estando sós, sem poder acreditar que algo tão chocante possa partir de alguém que conhecemos, de alguém que teve uma boa educação. Geralmente o intuito de proclamar algo estúpido é o de chocar mesmo, não importando o que os outros pensam. Nossa reputação fala muito do nosso comportamento, da nossa compostura e do respeito que temos pelas pessoas. Ser apontado como alguém inconveniente e grosseiro, depõe contra uma pessoa, é claro. A consciência é algo íntimo que não transparece para os outros, a não ser através de nossas atitudes. Trabalhamos na Escola de Pais com um tema apaixonante que é: COMO MARCO O MUNDO COM A MINHA PRESENÇA, conteúdo que sempre me faz pensar sobre o papel que desempenhamos e que é o nosso logotipo humano. Qual o formato do meu logotipo e que as pessoas vão lembrar depois que eu morrer? O que as pessoas pensam de mim? O que eu sou corresponde ao que pensam de mim? A última pergunta penso ser a mais emblemática, na medida em que questiona a dualidade reputação x consciência. Para sair do impasse, pode-se e deve-se unir os dos dois termos de forma a que me apresente ao mundo exatamente como minha consciência exige, para que minha reputação seja condizente com minha consciência. Gosto de pessoas irreverentes, divertidas, de bem com a vida, todavia, as grosseiras, mal educadas, contadoras de piadinhas baratas e as que se dizem com direito a "dizer verdades" doa a quem doer, essas eu abomino. Inventei hoje algo curioso: logotipo humano. Putz

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama e Michelle


Gostei de ver Obama eleito, mas não pelos motivos óbvios, mesmo sabendo que os destinos dos Estados Unidos da América tenham grande influência sobre os nossos destinos. Gostei por que ele é um cara legal. Obama olha pra mulher dele de forma significativa, sorri para ela e a gente sente que eles se entendem. Sou fã dos dois assim como sou fã de casais que conseguem levar adiante uma relação de verdade, por que não há coisa mais difícil do que isto. Uma relação amorosa dá muito trabalho, imagina então para pessoas públicas. Obama mostra através de seus olhares e sorridos que há cumplicidade e um código pessoal difícil de ser explicado. A intimidade cria códigos entre pessoas, que funcionam como um mundo a parte, onde é proibida a entrada de estranhos, mesmo por que, um estranho não entenderia nada e seria um estrangeiro absoluto. Quem consegue conquistar um nicho destes, em meio a tudo, conseguiu um lar, pois lar é um lugar muito mais emocional do que físico. Papai e mamãe são um lugar por causa dos códigos que a intimidade criou, às vezes a duras penas, por isso sentimos que, se tudo der errado, sempre podemos voltar para a casa dos pais. O ideal seria que todos tivéssemos um nicho restaurador, também chamado de porto seguro. Seria ótimo se todos pudéssemos trocar olhares significativos como o fazem Obama e Michelle. Seria ótimo se um olhar bastasse para nos entendermos, o que denotaria a realização de um trabalho ininterrupto de auto conhecimento e conhecimento do outro. Vida longa a Obama e Michelle!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vestido de noiva


Acredito agora que todos somos fascinados por vestido de noiva. Nos ultimos anos passei a acreditar que o amor basta, que só ele justifica uma vida de casados. Passei a ver os rituais como algo de que se pode prescindir, embora lindos e cheios de significado. Todavia, quando o bixo pega dentro da casa da gente e acontece a possibilidade de só o amor reger a saída da solteirice dos nossos filhos e filhas para a vida a dois, dá um susto enorme e passa-se a ter a sensação de que algo está faltando, de que algo não está certo. Viver isso é colocar na balança tanto nossa vida atual, cheia de novidades, de reflexões novas, de contato com as ciências, quanto com nosso passado que foi povoado por sonhos, arquétipos, tradições, valores e, sobretudo, por imagens de coisas vividas e das quais temos lembranças estéticas. Trazemos cheiros na memória, que, às vezes, de tão vívidos, transportam-nos ao casamento da madrinha, cujo bolo era todo merengue, cujas rosinhas cor de rosa tinham cheiro de merengue e a própria noiva era um merengue dançante de bochechas rosadas; o cheiro de tecido tem um enorme poder de túnel do tempo, na medida em que evoca as festas nas quais dançávamos envoltos em figurinos novos, frequentemente pinicantes e coceirantes, enquanto os pés sofriam um processo de fricção da pele com as costuras de trás do sapato novo, o que provocava enormes bolhas e dor dilacerante. O vestido de noiva, desde que me lembro, esteve envolto em uma aura de ascetismo vitoriano. Lembro de muitos comentários acerca do merecimento ou não de se usar véu e grinalda, por causa da virgindade. Segundo me lembro, todos sabiam quem era virgem e quem não era, chegando-se ao preciosismo de haver pessoas capazes de detectar a perda do hímem, apenas com um olhar, ou apenas vendo como a moça caminhava na rua. A lei que proibia o uso de vestido de noiva para quem não fosse virgem, sempre foi burlada. As grávidas enfaixavam a barriga e depois diziam que o filho nascera prematuro e isso tudo com a conivência da família. A virgindade já foi considerada propriedade dos pais, que tomavam conta dela zelosamente, a ponto de, mesmo às custas de muito dinheiro, pagarem para recuparar cirurgicamente a virgindade das suas moçoilas desobedientes. Hoje a reconstrução do hímem é um fetiche que movimenta uma indústria de cirurgia plástica, empenhada em reproduzir uma juventude artificial, o que inclui, pasmem, a virgindade.

A visão de um vestido de noiva traz de volta tudo isso e nos faz pensar: que bom que as coisas mudaram e nossas filhas podem escolher seu vestido de noiva, e usá-lo se quiserem, da cor que quiserem, para caminharem esplendorosas em direção ao noivo, escolhido livremente, sem qualquer imposição (coisa nova), e com o qual casarão simplesmente por que se amam de verdade.

A visão de um vestido de noiva é algo poderoso, mas se for o da nossa filha, é pra matar!