Hiperatividade, uma questão
complicada
O
número de pais que diagnosticam e rotulam seus filhos como hiperativos é
preocupante. A vontade de medicar crianças que “incomodam”, que “não param
quietas”, os leva a procurarem um pediatra e, não raro, são apoiados e
atendidos, sem que haja embasamento suficiente para uma avaliação e têm os
filhos “parados” por medicamentos.
As
escolas, desde que existem, contam com crianças agitadas, barulhentas,
brincalhonas, assim como com as sossegadas, organizadas, ciosas por estudar e
contam também com casos especiais, o que demanda observação séria por parte de
professores, pais e profissionais. No caso de haver suspeita de hiperatividade,
o encaminhamento da criança ao pediatra não basta, devendo-se estender o atendimento
a outros profissionais, como ao psiquiatra que, avaliando o caso, receitará
remédios ou não.
Tratar
com leviandade algo como a hiperatividade, levou o Conselho Federal de
Psicologia (Zero Hora 19/08/2012 pg.23) a fazer uma campanha nacional chamada
Não à Medicalização da Vida. A campanha deve-se ao fato de que, em 2000
consumiu-se 70 mil caixas de remédio para hiperatividade, ao passo que em 2010
o número subiu para 2 milhões, vejam só!
Aos pais cabe respeitar a infância e não
rotulá-la ao sabor de comentários sem fundamento. A expressão “meu filho é
hiperativo” corre solta nos portões das escolas, nas reuniões de pais, entre
amigos. Esses mesmos pais descrevem a pretensa patologia com expressões que
revelam crianças felizes, que brincam, tagarelam, resistem a ficar sentadas
quietinhas (coisa boa) bebendo do saber adulto, respeitando a autoridade que
vem imposta e não reconhecida.
Aos professores cabe a imensa responsabilidade
de detectar, sim, algo que esteja impedindo a aprendizagem de crianças e devem
alertar os pais para que ajudem a observar, sem que haja formulação de
diagnósticos apressados, que podem servir de rótulo e discriminação. Após essa
medida responsável e a detecção de que algo anormal esteja realmente
acontecendo, a criança merece o melhor que a medicina pode oferecer, que é
avaliação criteriosa, feita por especialistas e usar medicação específica. Mas
isso ainda não basta. Os medicamentos devem ser ministrados por adultos
responsáveis, que não interrompam, nem esqueçam, nem aumentem ou diminuem a
prescrição feita pelo psiquiatra.
A
tarefa do professor é enorme, a responsabilidade dos pais é imensurável, mas
deixar por menos é crime, na medida em que, ao se omitir o cuidado, nega-se a
possibilidade de desenvolvimento saudável, o que, fatalmente, trará
consequências.
Publicado no Diário da Manhã de 21/08/2012