sábado, 30 de agosto de 2008

Saber brincar


Há quem pense que a vida é uma grande brincadeira, que é só ir arrancando as folhinhas do calendário e mais nada. Essas pessoas são meras espectadoras da vida dos outros, sem brilho, sem glamour, sem élan, necessitam de um sustentáculo onde se apoleirar como se fossem parasitas das emoções, das realizações dos outros. Uma vez um professor me disse que há quem faça opção pela mediocridade e é isso que observo quando ouço ou leio comentários desastrosos que visam a desqualificação de pessoas. Quem fala das pessoas não chega ao dedão do pé dos que falam sobre idéias, dos que constróem pensamentos novos, inéditos e que contribuem para que a humanidade avance e não regrida. Vivemos em meio a muito sofrimento para que possamos nos dar ao luxo de nos entregar à mesmice; somos um povo que ainda tem muito o que aprender, para que possamos sequer pensar em parar de imaginar grande, de realmente querer contribuir positivamente, de alguma forma que nos dignifique e nos faça sentir cidadãos. Não é possível que tenhamos licença de nos concentrarmos somente em nós mesmos, esquecendo nossa missão pacificadora, educadora uns dos outros. Quem dera que a vida fosse uma brincadeira e que todos pudéssemos brincar o tempo todo e não precisaríamos pagar nossas contas, poderíamos deixar de assumir nossos compromissos, poderíamos só ficar observando o que os outros fazem e escrevem, sem precisar de nenhum esforço próprio. Seria uma festa poder ler placidamente Paulo Coelho, adorar ver o grande sofrimento por que passam os brothers da TV. Seria uma festa pensar que Deus é o responsável pelo que passamos, que é ele quem permite que as pessoas sofram. Isso sim seria brincar, meu bem!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mais uma daquelas conversas


Creio estar encerrando uma série de conversas nas escolas sobre a possibilidade de se fazer um novo pacto na educação formal, que consiga varrer a tendência à mediocridade, coisa que está se infiltrando em todos os setores da sociedade. Hoje estive em uma escola estadual e conversamos com alunos do EJA, isso quer dizer que eram adultos de todas as idades, mas de todas as idades mesmo. O incrível foi sentir a empatia entre mim e aquelas mulheres mais velhas das turmas. Elas sorriam quando lhes contei que também estudei até há pouco, que também desenvolvi varizes e que também fui muito feliz em ter passado por tudo aquilo. Havia muitos homens entre eles, já bem idosos. Outros mostravam-se extenuados físicamente e molhados por causa de uma tromba dágua bem no começo das aulas. Durante a conversa que entabulamos, mostrei-lhes um texto que conta as falcatruas e os deslizes cometidos por figurões e por pessoas comuns, relatados em uma única edição de Zero Hora, eles ficaram boquiabertos. Não imaginavam que a coisa fosse tão feia. Quando os questionei sobre o fato de a platéia do Festival de Folclore haver vaiado os representantes da Argentina, senti que eles não tinham se dado conta da gravidade do fato. Acho que foi um belo trabalho, já que todos ficaram atentos e percebi que refletiram de verdade sobre as questões. Perguntados sobre quem já tinha filhos, quase todos levantaram a mão, o que propiciou mais uma oportunidade de oferecermos a eles nosso trabalho de Escola de Pais do Brasil. Oferecemo-lhes também algumas revistas que eles receberam com prazer. Eles gostaram de saber que aprendemos pelo amor e que aprendemos uns com os outros. Sorriram como quem diz que entenderam tudo direitinho! E aprendemos mesmo! Um professor que é amado pelos seus alunos é um ótimoo professor. Conheço alguns.

Musculação II


Tudo o que escrevi ontem foi por causa das dores generalizadas que sentia, fruto de um contorcionismo totalmente desconhecido para mim. Meus limites estão sendo testados e, pior, aprovados para mais altos pesos, tempos e intensidades. O que quis deixar postado, é o fato de que fomos privadas de tomar sol por vários motivos, um por que estamos reclusas em nossas lavanderias protegidas das intempéries e estamos ameaçadas veementemente de contrairmos câncer de pele. Sim, minhas amigas, câncer de pele, caso nos submetamos a algumas réstias de sol com várias letras maléficas embutidas nele. Nunca mais sentiremos aquela ardência na pele, aquele calorão no decote que ficava marcado pra sempre, nem teremos que pedir às pessoas que nos besuntem com um sem número de coisas fresquinhas para que aguentemos a loucura de termos nos submetido ao crime de tomar sol. Estamos livres consequentemente de muitas doenças de pele, mas temos que dar conta dos buracos tipo queijo suiço que estamos conseguindo em nossos ossos, isso sem contar que o filtro solar tornou-se tão importante quanto escovar os dentes. Na idade média as mulheres viviam trinta e poucos anos e morriam sem rugas, sem câncer de pele, sem osteoporose e sem menopausa. Estamos portanto, vivendo uma era em que nos aprontamos todas as manhãs com vários fantasmas pairando sobre nossas cabeças que nos dão comandos: tome banho, não esqueça o protetor solar (o labial também), tome seu hormônio e seu cálcio, faça uma caminhada de uns trinta minutos, se possível usando uma roupa australiana que nos dispensa de usar filtro em todo o corpo, não esqueça do tênis com amortecedor. Volte para casa, tome outro banho, use protetor, maquilagem, faça chapinha, vista-se e vá trabalhar, ou ao mercado e, antes de dormir, tome banho, use um creme antiidade, creme pras mãos e hidratante corporal sem perfume por causa da alergia. Se tiveres alergia não esqueça de borrifar dentro do nariz. Nos intervalos entre essas atividades obrigatórias, você pode comer carne magra de boa procedência, de carne abatida nos padrões que respeitem a não violência com os animais, verduras selecionadas e certificadas de que são de origem orgânica, frutas idem e nunca, nunca ouse beber refrigerante com açúcar. Umas quatro horas antes de dormir submeta-se a uma sessão de musculação caprichada e tome outro banho e use cremes... blá, blá, blá. Que inferno!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Musculação


Antigamente as mulheres carregavam a roupa suja até um rio para que fosse lavada. Esse rio nem sempre era lá atrás da casa e a roupa não era pouca. As mulheres lavavam ao sol, estendiam tudo no gramado para courar, para depois devolverem a roupa à agua para enxaguar e daí para o varal. Vi várias fotos e ouvi relatos de como torciam a roupa, geralmente em duas pessoas, uma de cada lado do lençol para conseguirem tirar o máximo da água. Imagino o investimento em tempo, em energia, em força com toda essa roupa até que finalmente estivesse seca e pronta a ser levada para casa. O que o ato de carregar essa roupa representava às costas e às pernas dessas heroínas, não posso nem imaginar. Mas, não estava tudo acabado, pois essa roupa toda tinha que ser passada a ferro, mas não com um ferro elétrico como conhecemos hoje, mas com um ferro à brasa, abastecido com brasas vindas de um fogão muito quente, insuportável em dias de calor, confortável no inverno. A propósito, se o fogão era confortável no inverno, o rio devia ser insuportavelmente frio, não? Todo esse relato serve pra que se imagine o dispêndio calórico dessas mulheres frente somente a esta atividade. Havia ainda as camas a serem estendidas e afofadas tanto nos colchões de palha de milho, quanto nos travesseiros e cobertas de pena de ganso; o chão tinha que ser varrido e o pó retirado de cima dos móveis; a comida era feita todos os dias, de manhã bem cedinho, ao meio dia e à tardinha, em fogão à lenha, uma delícia! Leite recém tirado, geléia feita em casa, manteiga batida em casa, pão feito em casa, queijo feito em casa, massa feita em casa, galinha criada logo ali no quintal e morta logo ali no quintal, feijão novo, hortaliças cultivadas logo ali nos fundos da casa, tudo muito natural, muito saudável.

Hoje nós somos empurradas pelo cardiologista, pelo ginecologista, pelos amigos, pelas revistas, pelos profetas do apocalipse a frequentarmos uma academia, a caminharmos quilômetros em cima de uma esteira, tendo como cenário as paredes dela, a nos alongarmos em cima de bolas imensas, a nadarmos em ambientes fechados, a pedalarmos em bicicletas que não saem do lugar. Isso, ou nos esfarelamos em osteoporoses, morremos entupidos de colesterol e não podemos sequer dar tchau aos netos sem que nossos bíceps e tríceps abanem entusiasmados pra lá e pra cá. Sorte que contamos com umas tais endorfinas que são nossa salvação. Eita sensação boa essa que elas nos proporcionam. Estou tentando ver alguma beleza nesta atividade que não me agrada muito, mas já estou cansada de sentar à frente do meu médico e ser xingada por ele todos os anos. Espero que tudo o que minhas amigas me contam de maravilhoso seja verdade e eu acabe o ano magra, forte e cansada como hoje? Não vou aguentar, juro!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Brilho


A mulher do momento na minha opinião é Michelle Obama. Ela é aquele tipo de pessoa que tem luz própria, que não fica à sombra de outros, nem mesmo do presidente dos EUA. Ela será presidente adjunta, no mínimo e não uma primeira dama como as outras. Existem pessoas assim, que brilham, que se mostram e que são mostradas. As michelles têm que se cuidar daquelas ladras de luz, que se iluminam com a luz delas, que, mesmo na sombra, urdem mil estratégias para "pegá-las" de alguma forma. As ladras de luz observam - enquanto levam uma vidinha mais ou menos - planejam e, quando dá, largam farpas, cobram e criticam, como se o alvo tivesse a obrigação de mover-se conforme elas querem. Geralmente as michelles lutam contra as amélias, aquelas que não conseguem perceber os sinais dos tempos, aqueles que trazem novos ares, que por sua vez varrem o que é medíocre e que sopram tanto às michelles, quanto às amélias, só que só as michelles aproveitam. Uma pena, não?

domingo, 24 de agosto de 2008

Censura


Vivi os anos de ditadura militar e assisti aos estragos que a censura causou ao nosso país. Foram muitos anos de receitas culinárias, divulgação de concursos de misses e de generalidades nas mídias existentes à época, para que a realidade de crimes e arbitrariedades não fossem divulgados e para que o povo se distraisse, sem perceber o que estávamos vivendo. Vi profissionais serem silenciados, presos e até mortos por causa de suas opiniões, assim como vi artistas serem tolhidos em suas manifestações, na presunção de que estivessem fazendo críticas ou insuflando a insurgência ao regime. Não gosto de censura, mas censurei meu blog. Sei quando acontece uma crítica, já fui criticada muitas vezes, assim como já critiquei. A crítica é algo positivo e serve para puxar-nos para a realidade, para fazer-nos ver facetas e idéias diferentes das nossas. Mas, sei também, quando uma atitude é rasteira, indigna, quando se está usando desse instrumento para ferir e tentar denegrir uma reputação construída com dignidade e espírito coletivo. Não vou permitir que conspurquem meu espaço que é democrático e ao alcance de todos. Todos podemos usufruir deste espaço e ter um blog, a fim de colocar aí idéias, vivências. No meu caso, fico surpresa pelo fato de que o blog serve para organizar-me internamente. Gosto do meu espaço, gosto das pessoas que o visitam e peço desculpas pela demora na divulgação dos comentários. Abração

Gente querida


Encontramos rostos queridos demais no curso de noivos no qual trabalhamos em substituição aos nossos amigos Simone e Paulo. O convite nos foi feito menos de vinte e quatro horas antes do evento, o que nos deixou um tanto apreensivos, mas, olhando para aquelas pessoas tão lindas, olhando-nos como nos olham nossos filhos, fomos tomados de uma comoção nova, longe daquilo tudo que sentimos ao falar com pais durante nossos círculos de Escola de Pais. Segundo nos disseram, tratava-se de um grupo muito culto e preparado intelectual e tecnicamente, mas, ali, eram homens e mulheres com os quais mantivemos um contato humano de empatia e de cumplicidade diante do que é tão complexo e ao mesmo tempo tão bonito: a possibilidade de construção de uma vida a dois que seja significativa. Uma família transcende pra fora de seus muros, o que se vive dentro dela. É a sociedade que se beneficia do que se constrói lá. Mostramos ao grupo a mensagem que Miriê Tedesco colocou nos jornais daqui acerca do falecimento de Rogério Kurek, seu marido, para demonstrar a afirmação de que o amor, o respeito e o carinho que acontecem dentro de casa, transcendem o lar e se espalham lindamente, como bem diz Miriê em seu convite comovente. Enfim, foi uma experiência nova, coroada pelo olhar de três casais que amo de paixão e que serão certamente muito felizes.

sábado, 23 de agosto de 2008

Desforra


Dizem que a melhor vingança é viver bem, é ser feliz. Há quem tenha que afirmar e reafirmar que é feliz e isso pressupõe que a afirmação e a reafirmação são necessários até pra internalizar o que não é verdade. Gente feliz é. É gentil, camarada, leal e verdadeira, na medida em que quer que todo mundo seja também, por isso, promove, empurra e ajuda de todas as formas. Ás vezes sofremos agressão e ninguém está livre disso, mas eu tenho um método de desforra - não sei onde li isso, mas reproduzo com a devida vênia ao autor - que consiste em mandar, o mais rápido possível, em contrapartida, uma atitude inteligente, com o objetivo de que o agressor(a) seja alcançado (a)para que aprenda alguma coisa e tenha oportunidade de reavaliar seu comportamento agressivo. Devemos todos apreciar as oportunidades que se apresentam e que nos dão momentos de felicidade, pois a felicidade completa e constante é atributo de quem não sofre crises, reavaliações e que pensa de forma infantil sobre a vida. A dor de viver é de todos, não podemos fugir disso, mas as atitudes frente à vida devem nos levar à procura ao menos de uma forma harmoniosa de viver. Harmonia me parece ser a forma mais próxima da felicidade, pois contrabalança os altos e baixos do que chamamos vida. A felicidade não vem da superficialidade, da difamação, da inveja, nem é possível quando nos servimos de porta-vozes inocentes para atacar as pessoas. Felicidade é coisa pra poucos, apesar de tantos se dizerem capazes.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Dia curto demais


Ontem no programa Happy Hour do GNT trataram do assunto falta de tempo. Aconteceram alguns relatos sobre a vontade que um tem de dormir mais um pouquinho pela manhã, mas não pode, outro sobre o fato de se dar ao luxo de dormir depois do almoço, coisa de que não abre mão, enfim, há mil maneiras de se lidar com o fator tempo. Houve até quem dissesse que sente remorso por dormir sete horas e não se sentir pressionado pelo tempo. Dei tratos à bola e concluí algumas coisas bem interessantes. Há pessoas que se ocupam excessivamente por pensarem que as coisas só funcionam se forem elas mesmas a fazê-las, passando posteriormente a culpar aos que a rodeiam por estar cansada e, como se diz hoje, estressada; há os que conseguem organizar sua vida de forma a fazer tudo a seu tempo, sem preocupações com acúmulo de tarefas, já que se recusam a fazer isso. Fazem uma coisa após a outra e rendem muito e terminam tudo sem grandes queixas; há os que fazem de conta que trabalham muito, fazem muito barulho, contam incansavelmente tudo o que fizeram, não sem suspirar de vez em quando e dizer das suas dores, do grau de escravidão que o seu trabalho se tornou; há ainda os que se ocupam das pessoas, principalmente consigo mesmas, e que conseguem ficar mais soltas a fim de cuidar do bem estar geral. Essas são as mais produtivas, mesmo que o desgaste emocional seja grande, sempre conseguem sentar e conversar na tentativa de amenizar o desconforto dos que a procuram. Para essas pessoas, uma pia cheia de louça não é problema, um amontoado de papéis também não, tendo à frente alguém que queira compartilhar coisas, conversar sobre cinema, televisão, filhos. São essas pessoas que conseguem tempo pra fazer serviços voluntários, que enxergam quilômetros à frente do próprio umbigo, que vêem perspectivas de vida invisíveis à maioria. O tempo é um tema filosófico por excelência e já mereceu quilômetros de produção científica e literária. Luc Ferry trata do assunto, recuperando os filósofos pré-socráticos, e diz em seu tratado sobre a felicidade, que devemos viver sem a nostalgia do passado e sem a esperança do futuro, pois nem um, nem outro existem, o que temos é só o presente. O tempo é um ponto de partida interessante pra se pensar a condição humana em sua grandeza, para que se consiga entender como essa grandeza está diluída em jogos de poder, de fama instantânea, em best sellers de auto ajuda sem comprometimento com a capacidade humana de pensar-se de fazer-se. Portanto, neste meu exercício de pensar o pouco ou o muito tempo de que dispomos, permitiram-me concluir que, mesmo tendo o mesmo tempo à nossa disposição, há os que conseguem produzir para serem felizes junto com os demais e há os que só o gastam, sem deixar marca significativa no mundo. Antes que me esqueça, concluí também que aqueles que enxergam muito a vida do outro, esquecem da sua própria e depois têm a sensação de que o outro não faz nada na vida. Não será o contrário?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Prática em desuso, totalmente!



A prática retratada desmerece a mulher pós-moderna, que está investindo pesado em sua valorização e crescimento em todos os sentidos. Ainda encontramos mulheres imbuídas em perpetuar comportamentos que prejudicam a elas mesmas, na medida em que ficam visadas, não por contribuírem com um mundo mais bacana, mas por conseguirem disseminar o que há de reles e baixo (ainda) entre as pessoas. Elas são a negação da nossa evolução humana. Digo elas, não sem bater no peito, difícil que é abandonar séculos de mediocridade sem que derrapemos de vez em quando. Mas, ignorar que nós as mulheres nascemos pra muito mais do que isso, é negar todo um movimento pela nossa emancipação e que fez vítimas que nos olham, dedo em riste, através das trevas da idade média e modernidade a dentro. Cresçamos, pois!

Olhar ou não para o chão?


No meu primeiro dia na academia, topei com uma porta de vidro que estava fechada por causa da chuva. Desconfio que quebrei o nariz tal foi a pancada. O Domingos riu e falou que isso aconteceu por que não olho pro chão, segundo ele, nem morta! Neste caso ele se enganou, pois bati por que estava olhando pro chão por não conhecer o terreno ainda. Estive pensando sobre isso, sobre olhar pra cima e olhar pra baixo com o intuito de me proteger. Acredito que se tenha que ter um olhar amplo, capaz de enxergar a maior parte do que nos cerca, mas não na intenção de enxergar algo que nos prejudique, mas pra apreciar a beleza e a possibilidade de interferir no meio de forma construtiva, bonita. Isso certamente deixará marcas indeléveis na qualidade de vida de todos. Olhar só pro horizonte é muito bonito pra Paulo Coelho e seus leitores, coisa simples; olhar só pro chão para não topar com cobras, ratos, baratas, mesmo que saibamos que existem, poderá nos transformar em criaturas rasteiras a fuçar no meio da imundície. Tudo é uma questão de querer mais abrangência, nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Gente, mas que existe cobra venenosa, isso existe..., e que morde!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Um encontro interessante e revelador na APAE



O mês de agosto caracteriza-se por ser o mês da família. Faço parte de uma entidade que cuida dela, portanto, é em agosto, mais do que nos outros meses, que nos chamam a trocar idéias sobre o assunto nos mais diversos locais.
Este ano, um dos convites partiu da coordenação da APAE, mais precisamente do EJA da APAE, o que nos alegrou muito. Lá fomos nós para mais um contato que, preferimos, seja interativo, o que permite aprendizado mútuo. A Escola de Pais do Brasil caracteriza-se pela interatividade, permitindo que seus membros estejam sempre atualizados sobre o que se pensa e sobre o que se faz em educação de crianças e adolescentes.
Com este espírito ensinante/aprendente dirigimo-nos à APAE e tivemos uma das mais ricas experiências de todos os agostos de que nos lembramos. Trocamos idéias com pessoas especiais e felizes, muito felizes.
Eles sabiam tudo de família, pelo menos tudo o que precisamos saber sobre família. Segundo eles, família é onde se consegue amor e cuidado. A sabedoria que vinha deles, sentia-se, era fruto da não idealização, mas, o que mais marcou, foi a ausência de mágoas do passado e a não projeção de futuro. Eles são felizes no presente, e pronto!
Não consegui saber muito bem quem era adulto e quem era ainda adolescente, pode até ser que fossem todos adultos, por se tratar de um grupo extremamente alegre, e, descobri, pensamos que a alegria seja coisa de criança. Explico: um dos meninos (?) disse que seu pai parece uma criança, já que o espera chegar em casa, ficando atrás da porta pra brincar com ele. Isso foi contado com um orgulho genuíno e com um grau de verdade tal, que vimos a cena nitidamente: o filho chega em casa e já sabe que será “assustado” pelo pai que, de tão feliz, parece uma criança. Lindo, não?
Jamais esquecerei os relatos que ouvi daquele grupo. Ora contavam que tinham irmãos, ora que tinham pais, ora contavam sobre uma sobrinha ainda bebê e tudo isso com um sorriso rasgado no rosto. Sabiam exatamente a quem chamar de família, ficando evidente a qualidade da escola que trabalhou com eles o tema com uma linguagem respeitosa, sem infantilizá-los. Aliás, fui orientada a falar normalmente com eles e foi o que fiz. Não demorou e estávamos tocando idéias e sorrisos, em meio a informações trocadas acerca das olimpíadas, futebol e festival de folclore. Ser do Inter ou do Grêmio para eles não significa rivalidade, mas a mais pura fonte de felicidade.
Ao fim fui presenteada com cartazes, com cartão, com caixinha de madeira, tudo feito por eles e devidamente assinado. Ganhamos muitos e muitos beijos e abraços e a leitura em coro do que haviam escrito nos cartazes. Uma festa! Um encanto!
Gostaria que alguém me dissesse como a gente faz pra agradecer um convite desses.

Texto publicado hoje no Diário da Manhã

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Patronato

Quero só registrar que fui a uma reunião de Nós e a Rede e vi o que está acontecendo no Patronato. Pelo menos os telhados são novos e uma parte está reformada. O cheiro de pão toma conta do lugar e há projetos muito bons sendo colocados em prática. Estou feliz por recuperar algo que já foi muito bom e foi abandonado. Hoje tenho que começar um projeto pessoal que adio o quanto posso: fazer ginástica. Ufa! Vamos lá, vamos à tortura...

sábado, 16 de agosto de 2008

Teatro e Nelson Rodrigues

Convidei minha prima Adriana Gehlen, escritora brilhante que comparo a Nelson Rodrigues, a assistir à peça Cachorro, obra baseada em pesquisa profunda da obra de Nelson e que resultou em um espetáculo maravilhoso. A peça é produto de uma companhia de teatro do Rio de Janeiro e tem texto tão dramático e patético quanto o de Nelson Rodrigues. Fomos o Bruno e sua namorada (que adoro) Rocheli, a Drix e eu e nos divertimos muito, ficamos até para o debate. Adorei, adorei! Quer conferir o talente de Adriana? Então acesse o blog http://aquelaparquevirouimpar.blogspot.com/

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Conversa mais do que interessante

Fui convidada a participar de um debate no IMED, mais precisamente, com a faculdade de Psicologia, sobre educação sustentável, com a Ms. Fabiani Ortiz Portella - Presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia - Seção RS. Fiz parte da mesa como debatedora o que foi uma ótima experiência, na medida em que pude divulgar um pouco mais a Escola de Pais do Brasil, assim como dizer o que nos inquieta e da experiência que temos em educação. O assunto é apaixonante e foi brilhantemente abordado, ficando claro, de novo, que devemos cuidar melhor dos pais para que eles cuidem melhor dos filhos. O grupo de psicologia presente ao debate, era formado basicamente de jovens que debateu muito bem e foi gentilmente atendido pela palestrante. Ao fim dos debates, a direção do IMED foi de uma gentileza muito grande, ofereceu-nos um livro que eu queria muito ter que é: Atrás dos Muros - de cara com a realidade, fruto da coordenação de Isair Abrão e Vera Lucia Biasin e é composto por expressões e textos de adolescentes autores de atos infracionais que cumprem medida socioeducativa de internação no CASE de Passo Fundo. Imaginam esses meninos escrevendo sobre si mesmos. Estou bem cansada da experiência de ontem, estou com minha ajudante doente, mas estou ansiosa pra devorar esse livro que certamente renderá muitas e muitas horas de reflexão e muitas linhas escritas. Esta semana, ufa!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Conversa interessantíssima

Hoje fui conversar com alunos do EJA sobre a família. Até aqui tudo bem, não fosse o fato desse EJA ser na APAE e composto por alunos especiais. Foi uma conversa muito interessante. Eles tinham a exata noção do que seja uma família, sem idealizações. O mais marcante foi a alegria que demonstraram em contar dos seus parentes, dos avós, dos irmãos, dos pais. Um rapaz contou que seu pai tem 54 anos e parece uma criança, segundo ele. Disse que o pai o espera atrás da porta quando ele chega em casa, pra poderem brincar. Senhoras de uma certa idade contaram que seus pais já morreram, mas que convivem com irmãos e irmãs e sobrinhos. Uma moça estava feliz com a sobrinha Samanta, nova integrante da família. Perguntados sobre o que a família precisa ter para ser uma família, eles enumeraram vários requisitos como: amor, cuidado, atenção, carinho, mostrando um preparo e uma alegria que, juro, não esperava encontrar. Para encerrar, mostraram os trabalhos manuais que tinham feito para comemorar a data. Fizeram cartazes com desenhos, colagens, palavras que eles mesmos escreveram e alguns, conforme me disseram, foram feitos pra mim. De fato, no fim entregaram-me os pequenos cartazes assinados e um agradecimento também assinado por vários deles. Confesso que senti neles uma felicidade difícil de encontrar e que vem do fato de simplesmente viverem sem julgamentos, sem agressividade, sem esperar mais da vida a não ser o momento presente. Adorei! Um dia quero conseguir dizer à minha querida amiga Luciana o quanto agradeço pela oportunidade de conhecer essa turma especial.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Outra conversa interessante

Fui chamada a conversar com pais, professores e alunos de uma escola pública estadual, por causa da semana da família. Fomos a Rita e eu para mais uma conversa interativa, onde todo mundo deveria poder opinar para trocamos idéias, como sempre. Eis que, surpresa, vejo um salão ser invadido por um monte de crianças barulhentas e alguns professores. Fomos muito bem recebidas pela direção e fui colocada à frente daquela platéia estranha para mim, acostumada que estou a interagir com pais e eventualmente com professores. Foi difícil encontrar um ponto de identificação de olho no olho, fato que me é fácil comumente. Após alguns pedidos de atenção, conseguimos uma forma harmoniosa para podermos falar sobre qualidade em educação. Pude contar pra eles minhas experiências e o que penso sobre o assunto e minha proposta de uma virada no comportamento dos atores da educação atual. Consegui contar a eles sobre a hora nobre da sala de aula e da figura do professor como um facilitador do aprendizado; sobre a necessidade de se estudar com afinco e de se procurar alguma forma de concentração para que se estude efetivamente; sobre a necessidade de ler muito e de se aproveitar as oportunidades de leitura que a cidade oferece, como a Jornada de Literatura e do Festival de Folclore, que é leitura por excelência; sobre a necessidade de a comunidade escolar toda elaborar regras de conduta para que, elaboradas por todos, sejam seguidas à risca, o que acabaria com a impunidade e a falta de interesse; conversamos sobre muita coisa, o que foi uma surpresa para mim. O que me entristeceu foi o fato de uma menina bem da frente sempre tentar responder as perguntas e ser contida pelos colegas, com desdém, com crueldade. Não me contive várias vezes e disse para o menino que mais torturava a menina: "ela é sua colega, não faça assim." Ao fim do trabalho, contaram-me que a menina sofre intimidação por parte de toda a turma, o que configura uma clara situação de bullying. No pátio do recreio, ela andava de braço dado com um funcionário da escola como a se proteger, o que se mostrou inútil. Logo, logo, ela estava toda escabelada pelos tapões que recebia na cabeça de meninos que batiam e saíam correndo. Uma tristeza! Esta é uma situação que necessita ser solucionada, e logo. A menina tem o direito de ser tratada com respeito e o que está acontecendo com ela é uma grande quebra de direitos. Mas, no geral, correu tudo bem e tivemos mais uma rica experiência de vida.

sábado, 9 de agosto de 2008

Novos tempos, novo pai



Vivemos tempos em que é imperativo aprender a desaprender, para aprender de novo. Segundo Clarice Lispector não devemos entender, por que entender é limitado. Ela diz mais. Diz que o bom é ser inteligente e não entender. De tudo isso, pode-se dizer que o novo pai é aquele que está desaprendendo a paternidade antiga, aprendendo uma nova, sem entender tudo.
O pai de vinte anos para cá não age mais ancorado na obrigação de prover o sustento, mas em outro tipo de relação com seus filhos, bem mais complexo e bonito. Os homens estão reinventando um papel que não costumava ser questionado. O pai contemporâneo reinventa comportamentos, mesmo que não entenda tudo. Ele não precisa entender por que ele quer uma aproximação física com seus filhos, mesmo que ele mesmo não tenha tido uma aproximação com o pai. O fato de não entender abre ainda mais as possibilidades de uma relação nova e inédita.
Para Clarice não entender é a possibilidade de não ter fronteiras, o que pode significar que é possível viver o amor ilimitado, a paternidade cheia de promessas por estar apoiada em novas bases. As novas bases são as que devem fundamentar um comportamento capaz de cumprir o amor que todos nós procuramos e necessitamos. Saber-se capaz de amar não é suficiente, tem-se que ser capaz de dizer e de mostrar isso e isso pressupõe um novo pai, aquele dos novos tempos. Tem-se que esquecer aquele homem distante, sentado na sala, ou aquele sentado atrás do fogão à lenha sorvendo silenciosamente seu chimarrão. Nunca se soube se aquele pai não queria ou não conseguia uma aproximação mais íntima, embora na condição de filhos, sentíssemos a necessidade de um carinho explícito, de um elogio, de um sorriso rasgado.
Esse pai que está emergindo, mesmo cheio de dúvidas, sabe-se um novo homem, um novo marido, um novo cidadão. Pesam sobre ele expectativas novas para as quais ainda não encontra correspondências. Convive com uma nova mulher, uma nova mãe, tão perplexa e cheia de dúvidas quanto ele, em famílias com configurações novas e desconhecidas. As dúvidas de que nos fala Clarice têm a ver com todas essas novidades, esses às vezes, paradoxos da vida.
O que dá pra vislumbrar é que ainda teremos muito o que pensar, o que errar, o que aprender e desaprender, mas já sabemos algumas coisas. O novo pai já sabe que, se sentiu lá no passado que lhe faltou amor, quando não, demonstração de amor, então tem que suprir seus filhos dessa demonstração tão necessária nestes tempos bicudos e violentos. O novo pai sabe que ele pode salvar seus filhos das agruras da solidão da era da comunicação, onde é possível falar com todos sem olhar pra ninguém dentro dos olhos; sabe que seus filhos esperam dele um comportamento que os salve do imponderável, do efêmero, do superficial, para colocá-los em contato com a vida de verdade, aquela onde a gente tem que viver e ser feliz e onde o amor é o lenitivo das feridas inerentes ao ato de viver.
Devemos comemorar esse novo pai que duvida, que pondera, que pergunta, que aprende tudo de novo, pois neste processo contínuo, está aprendendo a ser mais feliz, por conversar com sua criança ainda dentro da barrida da mãe, por balbuciar junto com ela quando bebê, por ajudar nos estudos e nas brincadeiras quando estudante e por observar sua adolescência, estimulando e servindo de apoio quando necessário. Este pai está tendo muito trabalho, mas está dado chance a si mesmo de cumprir todas as etapas de uma nova paternidade, que está se mostrando bem mais gratificante para todo mundo.


Texto publicado no Diário da Manha de 6/08/2008

Magra ou gorda?


Dá um pouco de raiva não conseguir emagrecer. As roupas não entram e ter que fazer roupa na costureira já é um saco, imagina entrar em um provador de loja então? Não falo em estar gorda ou não, mas de estar fora do peso e saber que daqui a pouco a roupa não servirá mais, ou porque o processo de engorda continua, ou por que se emagreceu. Ter parado de fumar é uma coisa ótima, concordo. Sinto-me saudável e livre de um fantasma que me assombrou desde que deixei de ver o cigarro como algo charmoso, para vê-lo como um grilhão que me impedia de ser livre. Estar gorda também quer dizer que estou vendendo saúde, o que também é bom e me enche de coragem para enfrentar alguns projetos que tenho em mente e que pressupõem que eu esteja em forma. Por falar em estar em forma, ponho-me a pensar sobre essa expressão que quer dizer tanta coisa. Para mim, hoje, estar em forma quer dizer estar alerta, estar pronta e forte para acompanhar uma menininha, a Cecília, que me solicita, me chama, me convence a participar de suas brincadeiras e fantasias; quer dizer também estar tranquila para poder tranquilizar quem precise, nesta fase de tantas mudanças na família; quer dizer estar forte para tantos exames médicos e tratamentos que, mesmo eletivos, preocupam. Estando gorda ou magra a vida está se apresentando e tenho que vivê-la da melhor forma, mas que dá uma certa raiva de não ter cintura, isso dá!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Música boa


Dentro da programação da semana do Município, houve show de Jorge Barcellos & Quinteto Carlinhos Tabajara. Fomos todos daqui de casa, em peso, mesmo por que, um dos integrantes do quinteto é o Gustavo, um dos sobrinhos mais talentosos que temos. O Gustavo, com este gosto refinado que ele tem, encaminhou-se para a música com tal propriedade que chega a ser emocionante. Seus passos rumo a uma linda profissão são firmes e convictos, dando a entender que ele sabe o que quer e como quer realizar. O show foi de muito bom gosto, com momentos de chorinho, tango, bolero, samba, bossa nova. Em dado momento anunciaram que um convidado apelidado Sarará cantaria e, qual não foi minha surpresa, se tratava do mesmo Sarará dos meus tempos de bailes e reuniões dançantes que embalaram minha juventude, nos quais ele tocava guitarra. Nunca tivera notícia de que ele cantasse e ele cantou, e como cantou. Abriu um vozeirão e foi muito aplaudido. Cantou justamente aqueles boleros de que me lembro e que ainda me encantam. Eu adorei ver a estréia do que promete ser um grupo de sucesso e grande talento. Alguns integrantes comentaram que cometeram alguns errinhos, mas não notei nada, nadica de nada de errado. Ver João Vicente Ribas cantando tango foi emocionante também. Estava tudo perfeito. Não, não estava tudo perfeito. O Teatro Municipal Múcio de Castro estava sujo, com cadeiras soltas a ponto de quase fazer duas senhoras caírem. Nosso teatro está decadente, acreditem. Fiquei muito triste por ver que aquele lugar decrépito não mereceu sequer uma limpeza cuidadosa na semana de aniversário de Passo Fundo. Pena, não?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Virada

Não casar e morar juntos e casar e morar juntos, qual a diferença? O fato de casar ou não casar mexe com sentimentos bem escondidos e que não confessamos com facilidade. Temos mania de comemorar as datas importantes e, sem uma cerimônia, sem uma festa, as datas não ficam devidamente marcadas. O que falar então de uma cerimônia religiosa para quem é religioso? Chega a doer o fato de que os filhos não queiram mais casar conforme os ritos com os quais os compromissos da vida foram firmados. Eu gosto de saber que uma data foi devidamente marcada, que um compromisso foi firmado na presença de pais, tios, irmãos, amigos. Acho importante ter uma data para lembrar, para comemorar ou para chorar, no caso de um rompimento por qualquer motivo. Por tudo isso, fico feliz de que tenhamos um casamento mais este ano. Os que haviam decidido morar juntos, renderam-se finalmente ao fato de que todos queremos comemorar um amor tão bonito e longo. Todos queremos brindar, abraçar, desejar felicidades. E vamos fazer isso muito breve.