quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ladrões de felicidade


Fui a um café colonial organizado por voluntárias da Paróquia Santa Teresinha. É um grande acontecimento onde comparecem pessoas de todas as idades, mulheres no geral, alguns homens e neste ano, havia até candidatos a vereador. A comida estava deliciosa, o café quente e forte, o leite devidamente escaldante, tudo servido com capricho e simpatia. Percebia-se que tudo havia sido cuidadosamente planejado e executado a contento, a julgar pela alegria das organizadoras. Encontrei muitas amigas, levei uma junto comigo e vi outras conhecidas de longa data. Ora me assustava com o passar do tempo estampado no rosto de uma, ora me surpreendia com a cara jovial de outra. Mas, adorei ver quem eu pensava já tivesse morrido. Encontrei umas três que tiveram câncer e estavam lá, lépidas e fagueiras, comendo e comendo, conversando e se divertindo como nunca. Encontei uma professora aposentada, ex diretora de escola pública que remoçou tanto e estava tão bonita que quase não a reconheci. Fiquei muito feliz com isso. Vi outras tão bonitas e que não eram bonitas até outro dia e pensei: como pode isso? Aí lembrei: só podem ter se separado de um ladrão de felicidade. Minha amiga Cata (Eni) fala muito bem disso. Ela chama de ladra de felicidade aquela pessoa que joga um pouquinho de água fria na fervura, ou que dá uma alfinetadinha pra derrubar a outra. Conheço pessoas que conseguiram ficar bonitas após a morte da mãe, juro. Há mães que sufocam, não deixam crescer, solicitam atenção, cobram fidelidade, cuidado, exclusividade. Há filhas que conseguem liberdade e discernimento quando se libertam de uma mãe dessas. Falta encontrarem companheiros que façam a mesma coisa com elas, o que não é incomum. Aí tá tudo perdido. Só vão conseguir ser livres quando ficarem velhas e viúvas, quando não tiverem coragem de se separar de outra forma. Tenho uma tia que se casou e o marido a levou embora de vez. Ela voltou a procurar a família quando ele morreu, uns trinta e tantos anos depois. Meus avós não conheceram os netos, morreram antes. Hoje descobri que beleza vem do íntimo, que vivacidade vem do exercício da liberdade. Uma pessoa livre e segura tem um movimento diferente, ela pisa suave mas bate com o salto que é para que a vejam. Alguém feliz não quer passar em branco. Alguém livre quer ser notado e faz questão de compartilhar sua liberdade, sua felicidade. Alguém livre e feliz não fala mal de ninguém, não alfineta, não sufoca. Alguém feliz o é por conquista, não por ter roubado felicidade dos outros.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Alívio

Estar livre de um processo torturante é um alívio muito grande. Às vezes somos alvo de coisas que não procuramos, nem merecemos. O alívio que sinto deve-se à sensação de estar em paz e pelo fato de ter lido uma frase de Clarice Lispector que fala assim: "Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
Portanto, a sabedoria de Clarice me tranquilizou, pois não preciso entender tudo, nem devo, para permanecer aberta ao aprendizado, para permanecer pronta para novas possibilidades. Meu ex professor Carbonari disse-me hoje que está confirmado, aprende-se nos "intervalos". Creio firmemente nisso e agora mais do que nunca. Mesmo em meio ao sofrimento e à angústia, nossas dúvidas nos mantém alertas para ao menos tentar entender de onde vêm os ataques, as agressões e por que estamos sendo alvo. O irritante é ser alvo e elegante. Hoje na crônica de David Coimbra fiquei boquiaberta com o nível de agressividade de que ele é capaz. Seu palavrório acerca de uma mordida que um cachorro deu no rostinho do bebê dele foi algo inacreditável. Todos nós teríamos vontade de matar quem mordesse nosso filho, lógico, mas daí a deitar palavras violentas, com requintes didáticos, na medida em que ensina técnicas de tortura a bichos, é demais. Não dá pra tolerar que um formador de opinião tenha permissão de escrever coisas desse nível de violência. Mas, voltando à nossa Passo Fundo, falava que o irritante é ser elegante quando se é agredido, mas, pensando bem, ser elegante com o agressor deve ser mais irritante ainda para ele mesmo. Engolir sapos é uma arte, alguém já dizia...

domingo, 27 de julho de 2008

Paixão II

Conversando com a Angélica hoje a respeito de aprendizagem e o fato da criança dar uma "parada" no ímpeto de aprender lá pela quarta série, fiquei sabendo de coisas super interessantes que elucidam algumas das minhas dúvidas. Ontem conversei com a Rocheli a respeito e ela disse que se lembra da quarta série como a série em que ela perdeu a professora única para ganhar várias, assim como foi a série que a obrigou a manusear vários cadernos, um de cada matéria. Ela falou também sobre o fato de não ter conseguido se afirmar afetivamente, pois este ítem ficou diluído em meio a tanta gente e tanto assunto. O fenômeno quarta série, segundo a Angélica, deve-se à idade das crianças, que estão entrando na idade da latência, ou seja, no período que antecede a adolescência. Este é o período em que a criança começa a prestar atenção em si mesma, nas mudanças que estão se operando em seu corpo e no corpo dos seus pares, assim como está empenhada em fazer as comparações necessárias entre o que um faz e o que o outro faz. A confrontação de idéias e de formas toma muito tempo nesta idade, fazendo com que, o que sobra, seja usado para a educação formal introduzida justamente nesta idade. É muito trabalho pra tão pouca idade. Todos nós passamos por isto, mas costumamos esquecer nossos embaraços e dificuldades, o que nos faz críticos da meninada que está empenhada em viver e em entender a vida, assim como nós ainda fazemos, as vezes sem conseguir.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Paixão

Agora sim estou de quatro mais do que nunca por minha netinha. Entramos eu e ela em uma nova fase do nosso relacionamento. Agora nos divertimos mais do que antes, pois ela está entendendo melhor as coisas e está muito feliz com isso. Ela adquire habilidades importantes para ela, como manejar o mouse do computador e reconhecer os números, o que facilita que consiga telefonar pras pessoas, isso se alguém ditar os números. Quando tudo dá certo ela abraça e beija quem estiver perto dela para comemorar a conquista. Hoje ela pediu pra deitar no sofá comigo pela primeira vez, já que sempre quer brincar freneticamente. Hoje pediu pra ouvir e contar histórias. Eu adorei por que sempre sonhei com aquela menininha prestando atenção e se concentrando por algum tempo. Dá pra ficar mais tempo sentindo o cheiro do cabelinho, não é? O fato de conversarmos sossegadas permitiu que eu conhecesse vários de seus amigos e a várias de suas amigas, os ciúmes que ela sente de um ou de outro, o que ela tem vontade de fazer, de comprar. Sua vontade de estudar é algo latente e para mim assustador. Lembro dos nossos filhos quando apresentaram a mesma voracidade por aprender e isso durou forte até mais ou menos a quarta série, quando alguma coisa se quebrou e aconteceu uma decepção, ou alguma coisa parecida com isso. Penso que a quarta série seja um divisor de águas não sei de que, mas que existe alguma coisa aí, existe. Vou perguntar um dia desses a alguém que entende do assunto. Talvez a decepção tenha sido minha e não das crianças.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Conversa interessante

Estivemos em uma escola pública estadual hoje, a Rita e eu, para conversarmos sobre o artigo que escrevi e que já postei aqui no blog chamado Pacto pela Mediocridade. Ele foi publicado também por Zero Hora na segunda-feira e tem-se falado muito, muito sobre ele. Hoje houve mais escolas que pediram pra discutir o assunto. Mas, voltando à escola de hoje de manhã, gostei e aprendi muita coisa. Houve relatos dramáticos de como a escola pública está sendo desmantelada por causa de políticas públicas que priorizam tudo, menos os nossos meninos e meninas. Pensando bem, não só meninos e meninas, mas homens e mulheres feitos do EJA. Soubemos, por exemplo, que as salas de aula foram medidas para ver quantos alunos comportam, sem levar em consideração se havia estudantes com necessidades especiais, como cadeirantes, por exemplo. O que se consegue perceber claramente é o desencanto que leva os professores a um profundo sentimento de terem sido traídos pelo poder público, assim como lamentam que os pais os estejam abandonando para cuidarem das crianças no seu lugar. A mim tudo isto afeta muito, pois uma escola não pode e não deve funcionar sozinha. A escola precisa que a comunidade escolar esteja toda envolvida na execução dos fins de uma escola, que é a educação, que é o cuidado com crianças e adolescentes. A escola pode e deve tornar-se um poder político concedido pela força da união das pessoas interessadas na educação, que são os professores e professoras, as crianças, os pais e mães, os funcionários e funcionárias, as pessoas que compõem o entorno da escola, que, juntos, podem fazer a diferença, por poderem reivindicar, exigir, ajudar, apoiar. Eu acredito na escola pública para todos, assim como acredito que todos temos que trabalhar para que ela seja uma realidade bonita e não uma tristeza só como algumas se transformaram. Quando chego em uma escola e vejo os sinais do esforço das pessoas para deixar a escola bonita e colorida, apesar das condições precárias que são oferecidas peloo poder público, passo a acreditar que tudo vai dar certo, por termos tanta gente de qualidade trabalhando, mesmo contra a maré.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Rivera

Consegui finalmente conhecer Rivera, ou melhor, conhecer uma rua de Rivera, exatamente aquela do consumo de coisas importadas e das quais gostamos, apesar de falarmos mal delas e do consumo delas. Não podemos negar que são de ótima qualidade, se forem legítimas. Ficamos dentro da cota por dois motivos: por que tínhamos pouco dinheiro disponível para essas coisas e por que o medo de perder nossas coisinhas tão cheirosas e gostosas deve doer de lascar. Aproveitamos pra conhecer os meandros daquele comércio e para comer muuuuuuuuuuuuuuito bem mesmo. Alfajores, queijos, azeitonas, biscoitos e parrillas fazem o paraíso dos glutões. Os funcionários das lojas falam um português perfeito e tratam as pessoas com uma polidez única, sem cair na subserviência, nem na insistência. São educadamente profissionais. Na primeira tentativa de troca de mercadoria, fomos recebidos e atendidos da mesma forma quando da compra. Nunca havia visto aquele marco onde pisamos com um pé no Uruguai e com outro no Brasil, coisa que povoou minha imaginação de criança e de adolescente. Agora o conheço e confesso não me causou o frisson que achei que causaria. Adorei a viagem que foi muito bem compartilhada com um casal de novos amigos, a Ivana e o Itacir, pais do nosso genro Iuri. Conversamos muito, tomamos chuva, corremos como loucos para fugir dela, rimos e degustamos uma cerveja inesquecível. Tenho consciência de que aquele jantar com chuva lá fora, aquela cerveja, a parrilla deliciosa e a conversa agradável, serão lembranças que guardarei como um presente no meu coração. São experiências das quais não devemos nos furtar, pois são ricas e irrepetíveis.

sábado, 19 de julho de 2008

Lei seca

Já temos elementos pra comemorar o resultado da lei seca. Os meios de comunicação dão-nos conta da redução drástica de acidentes, atropelamentos e mortes por causa da proibição de dirigir depois de beber. Confesso que fiquei com medo de que os argumentos dos que ganham dinheiro com a bebida pudessem fazer com que a lei fosse revogada, ou não adotada. Há leis no Brasil que não "pegam", todos sabemos disso. O que comemoramos é o fato de que muuuuuuuuuuuitos meninos e meninas deixaram de morrer ou de ficar mutilados; o que comemoramos também é a mudança no comportamento do brasileiro, no sentido de viver uma vida mais de acordo com os novos ares civilizatórios; o que comemoramos é uma convivência menos bárbara e desrespeitosa uns com os outros. Estamos todos de parabéns!
Estive conversando outro dia com uma amiga que passou dois meses nos EUA e ela contou que não servir bebidas alcoolicas em festinhas é absolutamente normal. Ela ficou surpresa ao ver cerveja em uma mesa de festa e comentou o fato com o anfitrião. Ele explicou que ninguém mais se arrisca a servir álcool em festas, pois, se acontecer um acidente, o dono da festa não é envolvido. O álcool servido na mesa foi adquirido pelo próprio convidado, com todos os riscos inerentes. Interessante, não?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mediocridade

A postagem anterior tem dado pano pra manga. Não no blog, aliás, ando meio chateada por causa da falta de comentários. As pessoas dizem que lêem, comentam pessoalmente, mas não postam comentários. Então, por favor, se você lê, pode chinelear. Segundo o professor André de filosofia, um texto não nasceu pra ser elogiado, mas pra ser discutido. Bem voltando ao texto sobre o pacto pela mediocridade, temos discutido muito entre nós pais, com professores, com estudantes de diversas faculdades. Senti-me autorizada a escrever sobre o assunto, apesar de não ser especialista, por ser mãe de universitário, por ter sido estudante universitária até há bem pouco tempo e por ser mãe de dois professores universitários, além, é claro, de trabalhar em uma entidade de ouve pais e educadores. A preocupação que relatei no texto é uma unanimidade. Penso que a discussão deve ser amplianda para que se crie um novo pacto. Será que dá pra começar um movimento aqui mesmo, em Passo Fundo? Por que não?

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pacto pela mediocridade

Quem já não ouviu as queixas dos professores quando relatam ataques de que são vítimas por parte de alunos prepotentes e mal educados?
Há professores que já ouviram de tudo, desde chantagens para “aliviar” a prova, até a famosa frase: – Sabes com quem estás falando?
A arrogância e a certeza de impunidade nós todos sabemos de onde vêm, não é? Sabemos que são jovens criados à imagem e semelhança de alguém bem próximo e que se comporta igual. Esse alguém próximo comparece à escola sempre que chamado, mas para defender os interesses escusos de seu apadrinhado, palavra melhor do que filho, neste caso.
Até aqui, nada de novo, certo? O novo é o desempenho da instituição que carrega a presunção de educandário, ou faculdade, ou universidade, por estar de joelhos para este tipo de comportamento cada vez mais comum. O novo é estarmos reféns de jovenzinhos despreparados em todos os níveis. Quem provoca situações constrangedoras do tipo descrito, é alguém que escreve mal, não entende o que lê e, pior, não lê. Pior, orgulha-se quando dribla o sistema lendo resumos ou capturando uma frase ou outra para dar a impressão de que leu.
Temos a sensação de estar vivendo algum tipo de piada, onde se brinca de estudar e onde se ri constrangido pra não perder os amigos. E a instituição ri amarelo pra não perder a fonte de renda. Triste, não?
No meio de tudo isto há os professores que, diligentes e firmes na sua disposição de ensinar, mantém o que sobra da educação, assim como está também, grande parte dos estudantes, os quais pegam ônibus, estudam com afinco nas horas vagas, geralmente poucas e ainda outros, que se não necessitam pegar ônibus, fazem por merecer as facilidades que têm.
Atire a primeira pedra quem nunca conversou com um professor que, desencantado, não falasse estar com vontade de aprovar todo mundo. E grassa nas nossas faculdades e escolas uma legião de copiadores do talento alheio, de especialistas em “puxar” trabalhos da internet, não se importando sequer em serem flagrados, acostumados que estão com o perdão e a condescendência das instituições.
Não podemos nos conformar com uma situação destas. Os trapaceiros e plagiadores das nossas universidades e colégios devem ser rigorosamente admoestados de que isto é um comportamento criminoso; os alunos que ousam tentar encurralar um professor ou professora no sentido de conseguir vantagens pessoais indignas e imerecidas, devem ser convidados a pedir desculpas formalmente pela ofensa grave que cometeram.
Curvar-se ante a mediocridade é renunciar aos mais nobres ideais de que nos orgulhamos, como a verdade, a honestidade e o verdadeiro exercício da cidadania.
Urge um novo pacto, que deve ser tão consistente a ponto de reconhecermos o espaço nobre da educação formal, onde todos aprendem e onde todos ensinam e onde todos devem ser respeitados, cada um no papel que esteja exercendo, reconhecendo-lhe a dignidade inerente e merecida.
Matéria escrita por mim e publicada no jornal Diário da Manhã no dia 11/07/2008

Tristeza

Sentir-me triste e decepcionada é algo que consigo administrar nesta altura da vida. Sei que, daqui a pouco, tudo estará resolvido de uma forma ou outra, quase sempre bem. Consigo viver com o fato de que há pessoas que pensam diferente de mim e que não gostam de mim como outras gostam. O fato de pensarmos diferente é que enriquece nossa convivência humana. A grande tristeza que se abate sobre mim acontece quando fico impotente frente à violência. Ninguém suporta ser agredido e sempre sabemos quando somos nós próprios os agressores, mesmo quando agredimos sutilmente. Um dos princípios da não violência é a não permitirmos que nos agridam de nenhuma forma. Penso que a impunidade cria o agressor, mesmo aquele que age escondido, camuflado. Nós que somos pais temos uma responsabilidade muito grande sobre a forma como nossos filhos e filhas tratam as pessoas. Penso que não precisamos ensinar as crianças a beijar e a abraçar as pessoas, nem a emprestar a cadeira melhor à vovó. As crianças vêem nosso comportamento, assimilam, e ouvem o que falamos em casa sobre as pessoas. A violência gratuita nasce aí, da forma como mostramos em casa a inveja, a raiva, o ressentimento e a falta de respeito. É muito grave jogarmos nossos filhos e filhas contra pessoas da família. A família ampliada é estruturante. Sabermos que temos tios e tias, avós, primos, padrinhos que nos amam, ajudam-nos a "estar em casa". Dá um trabalho danado perder alguém que amamos por causa da morte dela, mas, dói também quando a perdemos por causa de conversas infelizes e inconsequentes. Tenho pensado muito nisto ultimamente. Tenho estado triste, mas não estou infeliz. Acho que estou fortalecida, por que posso dividir minhas emoções com quem as aprecia e gosta realmente de mim.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Mudança, de novo!

Estamos em vias de ver um outro filho mudando-se da nossa casa para sua própria. Sei que isto é motivo de alegria, mas não deixa de ser algo marcante para mim. Não sei o que sinto de verdade, juro! É claro que tudo o que fazemos é no sentido de proporcionar condições para que os filhos se tornem autônomos e que alcem seus vôos solo. Melhor ainda quando saem acompanhados por um amor, por alguém tão ou mais significativo do que nós, os pais. É inegável a alegria que percebemos sentirem, esses danadinhos, com o fato de que estão se afastando de nós, estão ganhando o mundo. Essa alegria toda não nos ofende em nada, pelo contrário, nos alegra e ajuda a lembrar do dia em que fizemos o mesmo. Há trinta e sete anos atrás, entramos no Gordini verde do Domingos e partimos alegremente em lua-de-mel. Que maravilha, gente! Eu estava livre de uma casa tão cheia de gente, de tantos parentes, de tanta correria e trabalheira. Morávamos no centro, perto do Grazziotin e meus pais hospedavam muita gente vinda do interior pra consultar, além dos avós e tios que sempre nos visitavam. Éramos muitos naquele apartamento, que, apesar de grande, era um apartamento. E ainda havia as brigas com as irmãs, por causa de roupa, por causa do banheiro, por causa de maquilagem. Enfim, saímos e eu me sentia livre, livre, livre... Alguns dias depois, em plena lua-de-mel, deu uma saudade, mas uma saudade da minha mãe, de tudo. Chorei e tratei de voltar pra matar aquela saudade toda. Aí, em meia hora, já estava calma, estava tudo no lugar, minha mãe ainda existia e lá estava eu, longe da minha tão sonhada viagem de núpcias, em plena vida comum. Quis voltar para a viagem, mas havia casado com um trabalhador compulsivo e não voltamos mais. De qualquer forma é bom lembrar do quanto é bom partir para a nossa vida, para a nossa casa e o que queremos dos filhos é que consigam ser muito felizes na sua nova vida. O Cássio e a Angélica estão preparando um lugar que está ficando como eles merecem: aconchegante e bonito. Falta colocar no meio de tudo alguns bebês, benzadeus!