quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Para gostar de poesia


"Para entender uma mulher é preciso mais que deitar-se com ela...Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa que se possa prever nossa vã pretensão...Para possuir uma mulher é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade...Há de se conseguir fazê-la sorrir antes do próximo encontro...Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que amante perfeito...Há de se ter o jeito certo ao sair, e fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso...O potente, o amante, o homem viril, são homens bons...Bons homens de abraços e passos firmes... Bons homens pra se contar histórias...Há, porém, o homem certo, de todo instante: o de depois!Para conquistar uma mulher, mais que ser este amante, há de se querer o amanhã, e depois do amor um silêncio de cumplicidade...E mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder...É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café...Há que ser mulher, por um triz e, então, ser feliz!Para amar uma mulher, mais que entendê-la, mais que conhecê-la, mais que possuí-la, é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também ser possuído e, ainda assim, também ser viril...Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la, há de ser conquistado...Todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser amado!"(Carlos Drummond de Andrade )

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Musculação II


Hoje é dia de fazer apologia à musculação. Devo a ela muitos elogios, apesar das dores que me causou. Faz tempo que ouço que, com a idade, perdemos músculos, densidade óssea, tônus, elasticidade da pele e que tudo isso pode e deve ser amenizado. Vivemos muito mais hoje do que antigamente, por isso a necessidade de se chegar à velhice com uma boa forma física e qualidade de vida. Esse blá, blá, blá (no bom sentido) é repetido nos consultórios médicos e sempre entrou-me por um ouvido e saiu pelo outro. Porém, comecei a sentir que secar os pés não era mais uma tarefa fácil, por faltar-me equilíbrio suficiente; que cada movimento brusco causava uma contratura em pontos cada vez mais numerosos do corpo, fazendo com que minhas atividades ficassem restritas; que passar horas digitando estava se tornando uma tarefa impossível, pela impossibilidade de destravar pernas e costas na tentativa de sair da frente do computador; enfim, a vida prática, cotidiana passou a ser algo pesado e muito mais lento do que o normal. Parar de fumar foi uma decisão emblemática, por ser um pontapé inicial para uma série de decisões, não só para mim, mas a dois, pois para o Mingo também. Passamos a engordar assustadoramente, consequentemente tivemos nossa pressão alterada para cima, ao mesmo tempo nosso humor sofreu uma transformação radical e passamos de felizes para profundamente infelizes e frustrados por causa da abstinência às substânicas contidas no cigarro e à falta do ritual de acender um cigarro, aspirar profundamente e, pasmem, gostar daquilo. Era urgente que começássemos a fazer algumas coisas em nosso favor e, uma entre tantas, é a que reputo mais visível e gratificante: a musculação.

Os primeiros resultados são dor, cansaço, depois dor e depois cansaço. É difícil descrever o que a gente sente quando inicia algo que deve ser feito, mas que é adiado ano após ano. A dor é suportável por causa disso e a espera pelo resultado também. O resultado não demora, pois com um mês de exercícios o humor já muda e a gente passa a gostar de suar, de cansar e depois dormir muito melhor. A silhueta é que demora a mostrar algo, mas acontece. Com sessenta e um anos não é de se esperar algo muito muito marcante visualmente, mas o equilíbrio volta a ser o que era, as dores no corpo do tipo bursite, somem, simplesmente somem e a gente não se machuca mais, podendo até mesmo erguer peso. Enfim, estou feliz com o meu forte Domingos, lindo como nunca e superando as dores profissionais com as quais vem convivendo há anos. E viva as decisões que tomamos e que nos beneficiam tanto! E viva a afirmação da Eliza ao nos ver sofrer, de que estávamos necessitando de endorfinas, que agora segregamos por meios saudáveis.
Aviso: A foto não é do Domingos, mas nunca se sabe o que pode acontecer no futuro.

sábado, 25 de outubro de 2008

Uma das muitas formas de preconceito



Faz um tempo que sabemos da existência de jovens emo, que se caracterizam por usar roupas diferentes, de preferência pretas, maquilagem preta nos olhos, tanto por parte dos meninos como das meninas, uma franja farta jogada sobre o rosto e um comportamento estranho pautado por grande sensibilidade.
Se observarmos bem, podemos constatar tratar-se de pequenos grupos que ficam sós, isolados dos demais, numa demonstração de que existe algum estranhamento entre os “diferentes” e os “iguais”. Talvez possa-se dizer que existe um estranhamento entre os “normais” e os nem tanto, como sempre vimos acontecer.
Se pesquisarmos sobre essa nova forma de manifestação juvenil, veremos que ela é totalmente pacífica e o estranho na verdade é o fato de serem extremamente sensíveis, o que é inusitado em tempos de individualismo e busca do prazer imediato. Trata-se de meninos e meninas que encontraram uma forma de expressão e estão sendo punidos, geralmente por outros da mesma idade, massificados e vestidos de acordo com o que a propaganda manda.
Nós que permitimos que pessoas sejam isoladas, somos tão responsáveis quanto os que o fazem ostensivamente. Já assistimos a sofrimento demais para que continuemos a ser coniventes com o preconceito contra qualquer pessoa, contra qualquer grupo, contra qualquer povo. Toda vez que a liberdade de expressão é cerceada, damos um passo atrás no nosso processo civilizatório.
Os pais e os professores têm, de forma intrínseca à condição de educadores, a tarefa de mediarem esses conflitos e de pacificarem-nos. Não devem permitir, muito menos alimentar comentários sobre pessoas, que possam desqualificá-los e colocá-los em risco de discriminação e isolamento. Devem defender o direito de todas as pessoas de se manifestarem, de serem como são, o que representa um dos conceitos de direito mais bonitos que a civilização conquistou a duras penas: o direito a ser diferente, o direito à inclusão.
Não há forma melhor de pacificação das nossas relações humanas, do que usarmos todos os nossos sentidos para observar, para detectar e para corrigir as manifestações de preconceito com que deparamos. Devemos usar o amor que temos pelos nossos filhos e alunos para ajudá-los a olhar para o outro como alguém que pode ensinar, assim como aprender. Nossos meninos e meninas devem ser orientados a perguntar intimamente, quando encontram alguém diferente: - O que eu posso aprender com você? – O que você pode aprender comigo?
E nós, pais e professores, os grandões e sabichões, não temos que “normalizar” ninguém, pelo contrário, devemos incentivar e ver a riqueza da diversidade.
Publicado no dia 26/10/2008 no Jornal Zero Hora
Publicado no dia 27/10/2008 no Jornal O Nacional
Publicado no dia 28/10/2008 no Jornal Diário da Manhã

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quase!


Ontem quase fui atropelada, gente! Cheguei a ver um sorriso, quase um esgar irônico, meio virado pro lado direito, por parte da minha quase atropeladora. Calculei cuidadosamente minha travessia em uma ruela, mas ouvi uma aceleração e a vinda inexorável daquele carro em minha direção. Num átimo pensei: será que calculei mal? Será que vai dar tempo? Será que a pessoa está mesmo acelerando? E estava... Mas eu tinha calculado direito e consegui atravessar em tempo, não sem antes conferir o tal sorriso e aí me deu uma coisa e eu ri às gargalhadas. Se alguém perguntar por que eu ri, eu não conto, nem sob tortura. Ufa! Dessa eu escapei!
Quando cheguei em casa lembrei de um romance que li há muitos anos atrás, de Stephen King, que se chama Christine. Trata-se de um carro assassino. E ele mata muito, em série. É uma história de terror das boas, já que mantém o leitor em constante tensão por causa de algo inusitado, como um carro que mata. Ontem lembrei de Christine, veja só!

domingo, 19 de outubro de 2008

Festa boa, muito boa!


Comentei esta semana com uma amiga, o fato de não nos envolvermos mais em preparativos de festas. Há uma indústria que toma para si todas as preocupações e ocupações que uma festa, de qualquer porte, necessita. Contrata-se um(a) promoter e o resto é por conta desse novo profissional, que, parece, não é tão novo assim, eu é que andava meio desatualizada. Mas, comentando com minha amiga, a mãe do noivo da festa de ontem, que há umas poucas décadas, uma festa era sinônimo de trabalho insano. Tinha-se que fazer tudo, da comida às lembrancinhas, isso sem falar na limpeza do lugar. A civilização vai acontecendo na nossa frente sem que percebamos as sutilezas e quando nos damos conta, as coisas mudaram e nós estamos inseridos em uma nova forma de viver, queiramos ou não. As festas infantis é que começaram a me espantar, pelo fato de ter frequentado muitas, com cinco crianças sendo convidadas sistematicamente por anos. Quase não percebi quando as festas passaram a ter obrigatoriamente um tema. Ao planejarmos uma festa ela tinha que ter um nome, uma cara, um tema e aí tudo girava em torno disso. A contratação de recreacionistas foi um choque pra mim, pois percebi que os adultos não necessitavam mais cuidar de seus filhos em festas, havia gente que o fazia. Tânia Zagury, uma filósofa e educadora, em um de seus livros sobre como educar filhos, fala sobre essas festas planejadas, no sentido de alertar os pais de que estariam perdendo uma chance preciosa de educar seus filhos. Ela fala a respeito da foto em volta da mesa, dizendo que todas as mães conseguem o milagre de encaixarem seus filhos em volta do aniversariante para que saiam na foto do bolo com velinhas. Tirada a foto, os mais afoitos pegam os brigadeiros, mesmo antes da autorização para fazê-lo e enchem a boca com eles. Os que os anjinhos não conseguem comer, eles colocam dentro de copos descartáveis e os levam às mães para que ela guarde para depois. E as mães guardam... As mães sabem que as crianças comem demais em festas e que aqueles brigadeiros não vão ser comidos, mas guardem assim mesmo, quando o comportamento deveria ser outro. Segundo Tania, as mães e pais, ao invés de procurarem outros adultos em festas infantis, deveriam ficar atentos ao comportamento social de seus filhos, no sentido de ensinar-lhes regras fundamentais de convivência humana. Por exemplo: os brigadeiros não podem ser retirados da mesa antes da hora certa e quando os donos da festa derem o sinal; não se deve pegar mais do que se vá comer, pois com isso, haverá falta para os que não são tão afoitos assim; não se leva nada para casa que não seja nosso. Parecem-me regras elementares e óbvias, mas que precisam ser ensinadas e observadas se quisermos que sejam incorporadas como valor. Só conseguimos reconhecer valores que são vividos, se são regras que valem para todos, principalmente para os meus filhos e para mim. O que acontece se não observarmos isso que é fundamental? Continuaremos vivendo situações ambíguas do tipo: economizar luz é necessário, mas no meu caso... não se pode jogar lixo na rua, mas hoje, no meu caso... As festas são sim uma ótima oportunidade de exercitarmos nossa cidadania, sejam elas organizadas por profissionais ou não. Estamos tão melhores neste mister que, na mesa de festa que visitarmos, encontraremos quem comente que não está bebendo por que vai dirigir. Ótimo! E viva a civilização! E viva quem promove uma festa linda como a de ontem! E viva quem me convida para uma festa tão linda!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Professores e professoras


Converso muito com eles. Tenho um prazer imenso em perguntar acerca da escola, das crianças, de como todo mundo está se sentindo no meio da educação formal. O que sinto nos ultimos anos é algo que dá quase pra pegar com a mão, que é um desânimo, o que vem a ser algo contrário ao desassossego. Eu gostaria de ver professores e professoras inquietos, dasassossegados, por que, aí sim a gente poderia vislumbrar algo de bom, mas lidar com desânimo é difícil. Numa das minhas conversas, fiquei sabendo que existe um estudo sobre uma síndrome que está acometendo os professores e professoras de forma avassaladora. Trata-se de um sentimento que tem até um nome, do qual não lembro, mas que traduz um fato: há professores que não se dizem mais professores, que não se sentem mais professores, mas que estão professores até que se aposentem, e o quanto antes melhor. Penso que o desânimo de que falei é esta síndrome que está minando a saúde dos professores e a saúde da educação em geral.

A professora com quem falei é uma especialista que escreveu uma tese na qual analisou a participação dos pais na escola. Perguntei a ela se pensa em publicar a tese. Ela respondeu que agora temos que nos preocupar com quem cuida dos pais e com quem cuida dos professores. Isto que conversamos está me cutucando e quando sou cutucada tenho que me mobilizar. A Márcia prometeu que manda as referências para estudar a tal síndrome, o que farei é claro. Mas, e os pais? Se cuidarmos dos pais, automaticamente cuidaremos do professor, não é? Se cuidarmos dos pais, as crianças serão mais calmas, mais educadas, mas prontas para a aprendizagem. Se cuidarmos dos pais, as crianças serão mais inteligentes e mais curiosas, fazendo com que o professor se sinta encorajado a procurar novidades, e, novidades curam qualquer alma, não é? A mesmice mata qualquer um, quanto mais quando se trata de educadores formais obrigados a trabalhar em estruturas obsoletas, com material obsoleto, mesmo lidando com vidas que, segundo visões equivocadas, são o futuro do Brasil. Enquanto eles forem o futuro, não acontecerá mudança, pois criança tem que ser o presente, o agora, pois amanhã será tarde. Eu conheço algo que pode ajudar em curto prazo e de forma eficaz, inteligente, dinâmica: é investindo pesado em círculos de debates da Escola de Pais do Brasil, sim senhor. A Escola de Pais do Brasil cobre grande parte do país e no caso do Rio Grande do Sul, grande parte do estado, estando em condições portanto, de cuidar de pais, para que cuidem melhor dos filhos, para que o professor seja socorrido em suas angústias e carências.

Mário Quintana e o tempo


Algumas hora depois de postar sobre o passado e o futuro, encontrei uma preciosidade em forma de poesia de Mário Quintana, falando quase sobre o mesmo assunto. Aí vai:
Mário Quintana

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, já passaram-se 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado. Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas. Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.' Mário Quintana

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nostalgia e esperança


Segundo alguns filósofos, essas são as desgraças da vida. Já li muito a respeito, já pensei muito, mas sempre caio nesses dois pecados mortais, nesses dois atrasos de vida. Levo uma vida bem movimentada, mas, como todo mundo, tenho momentos a sós, o que é solo propício ao pecado, pois é aí que penso no passado, e é aí que projeto o futuro, inutilmente... Com o passado minha relação, às vezes, é meio doente, é meio de fuçar em feridas. Faço-o sem querer, sem perceber. Quando sinto que dói alguma coisa, procuro, procuro e percebo que estava me torturando, de novo. Não tenho problemas com desviar minha atenção, pois tenho muitos recursos à mão, já que leio, escrevo, converso, saio, trabalho, faço muitas coisas com as quais encontro distração e prazer, mas, o estrago já aconteceu. Ficou uma amargura, uma mágoa, uma saudade até. Sei da inutilidade disso, tanto que me recomponho, me reconstruo todos os dias e todas as noites, isso sem falar das madrugadas de sono truncado, interrompido, quando olho pro escuro e imagino, lembro, projeto, arquiteto, choro, me angustio, me levanto e tomo leite morno, quando não umas gotinhas. Relacionar-me com o futuro é o maior paradoxo. Como posso ter uma relação com o que não existe? A esperança não é um projeto de futuro. Há algo mais inútil do que ter esperança? O passado eu já vivi, tem alguma concretude, mas o futuro não é nada, nada. Então, como posso gastar tempo e energia com algo sem fundamento algum? O prejuízo que isso causa ao meu momento concreto, o único, o presente que já é passado e que gasto com taquicardia, suor nas mãos, boca sêca de tanto procurar soluções onde não há soluções, e, pior, para problemas que trago de lá de trás, lá de onde emergi e que fez de mim o que sou. Como encontrar a suprema sabedoria para conseguir desvencilhar-me do que fui, sem projetar o que serei, para poder saborear o agora, o que sou? Quando falamos em resgatar a criança que vive em nós é disso que se está falando. Eu quero ser uma criança, sem que me infantilize, que aí seria retardada. Quero ser confiante como a criança; quero sorrir olhando nos olhos do outro sem me preocupar com julgamentos; quero me abandonar nos braços do amor incondicionalmente, sem julgar, assim como faria minha neta Cecília, que aceita o amor de todos e ama a todos, simplesmente por que é assim que é; quero brincar para me divertir de verdade, mesmo que seja com a louça da pia, pela qual nutro um sentimento não nobre e que não confesso aqui; quero poder resolver meus problemas à medida em que acontecem, nem antes, nem depois, a exemplo do que me contou um médico oncologista que, indagado sobre como lidar com casos bombardeados, ele falou que resolve um problema de cada vez, do tipo, o que o paciente quer para hoje eu faço; quero contemplar a vida dos filhos, sem interferir, a não ser que solicitem interferência, mesmo que estejam sofrendo, por entender que a vida é deles e que eles conseguem resolver a vida assim como nós resolvemos a nossa; quero que meus filhos olhem para mim e encontrem rugas de alegria no lugar de rugas de angústia, para que consigam transitar pela vida afora sabendo que estão livres e que não sou amarra para eles; e, quero ser um amor de verdade para o Mingo, que dividiu a vida comigo e continua fazendo isso com honestidade, carinho e amor, sem que me torne um peso, mas um estímulo para continuar tudo com qualidade e, acima de tudo, com desenvoltura. Deixei para o fim a desenvoltura, pois acredito que este seja um atributo de liberdade, pois pressupõe alguem solto, como se deixasse que os elementos da natureza o conduzissem, o que seria uma boa coisa, acredito. Este trololó quer dizer que tomei uma decisão: de agora em diante vou dar passos de qualidade, na direção que a felicidade quiser, sem permitir subtrações, nem vindas do passado, nem de projeções de futuro. E vivam as decisões novas e as mudanças de rumo, desde que fincadas no aqui e agora!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre nudez e pornografia - Pedro Cardoso


Será que Pedro Cardoso conseguiu retratar e colocar em palavras o nosso mal-estar? Será que alguém do meio artístico e que vive do meio artístico sente o mesmo que sentimos ao ver o aviltamento de pessoas? Será que já não estamos com a mente deturpada a ponto de aderirmos ao comportamento voyerista de cineastas e produtores vestidos e barrigudos, bebericando champanhe francês, enquanto vendem a inocência de um povo? Reproduzo aqui seu pronunciamento, retirado do blog www.casacinepoa.com.br, para que possamos refletir sobre o assunto e, quem sabe, corrigir alguns comportamentos inadequados:

09/10/2008
Pedro Cardoso e a nudez
"Mentir é o ato mais distante possível da arte de representar".Pedro Cardoso
Texto do Pedro Cardoso, originalmente publicado em Todo mundo tem problemas sexuais
09/10/2008
Esse é o texto que eu li na primeira exibição do filme "Todo mundo tem problemas sexuais" no cinema Odeon no dia 08 de outubro de 2008.
Ah, eu sou o Pedro Cardoso. Espero que ele ajude a todos nós.


Senhoras e senhores, nesta primeira exibição pública de "Todo Mundo Têm Problemas Sexuais", eu gostaria de, na qualidade de ator e produtor do filme, compartilhar com vocês algumas preocupações a respeito da pornografia que percebo presente na quase totalidade da produção audiovisual mundial, e na brasileira especialmente; e como esta invasão está aviltando a profissão de ator e de atriz; e gostaria de situar o filme no contexto desta questão.
A meu ver, as empresas que exploram a comunicação em massa (e as que dela fazem uso para divulgar seus produtos) apossaram-se de uma certa liberdade de costumes, obtida por parte da população nos anos 60 e 70, e fazem hoje um uso pervertido dessa liberdade.Uma maior naturalidade quanto à nudez, que, naquela época, fora uma conquista contra os excessos da repressão à vida sexual de então, tornou-se agora, na mão dessas empresas, apenas um modo de atrair público. Com a conivência de escritores e diretores (alguns deles, em algum momento, verdadeiros artistas; outros, nunca!) temos visto cenas de nudez, ou semi-nudez, ou roupas sensuais, ou diálogos maliciosos, ou beijos intermináveis, em quase todos os minutos da programação das televisões e nos filmes para cinema, sem falar na publicidade. A constância com que essas cenas aparecem tem colocado em permanente exposição a nudez dos atores, especialmente das mulheres; é sobre as atrizes que a opressão da pornografia é exercida com maior violência, uma vez que ela atende, na imensa maioria das vezes, a um anseio sexual do homem. É raro o convite de trabalho, seja filme ou novela ou programa de humor, que não inclua cenas desse tipo para o elenco feminino.No filme que assistiremos em breve, apesar do nome que tem, não há cenas de nudez. Embora o drama de todas as histórias aconteça nas imediações de atos sexuais, este filme não tem cenas de nudez. Esta foi uma sugestão minha que foi muito bem recebida pelo diretor, Domingos Oliveira, e por ele endossada. A minha tese é de que a nudez impede a comédia, e mesmo o próprio ato de representar. Quando estou nu sou sempre eu a estar nu, e nunca o personagem. Quando vemos alguém nu vemos sempre a pessoa que está nua. O personagem é justamente algo que o ator veste. Ao despir-se do figurino, o ator despe-se também do personagem, e resta ele mesmo, apenas ele e sua nudez pessoal e intransferível. Diante da irredutível realidade da nudez de seu corpo, o ator não consegue produzir a ilusão do personagem. O ator ou atriz que for representar um personagem que estiver nu, terá que vestir um figurino de nu (seja lá o que isto queira dizer!).Fiz algumas poucas cenas de nudez muito parcial e eu me senti sempre muito mal, porque, despido, devia representar ainda, embora já sem personagem nenhum. Este absurdo causa grande desconforto ao ator ou a atriz porque nos obriga a mentir, e mentir é o ato mais distante possível da arte de representar.Neste filme de hoje a vida íntima dos personagem é o ambiente onde seus dramas acontecem, apenas isso. Não há intenção de provocar excitação sexual, como há na pornografia. Acredito que a dramaturgia, que é arte de contar histórias, busca oferecer ao público um pensamento, e não uma sensação. Esta pertence a vida. É na vida que sentimos frio e fome; na arte, falamos do frio e da fome, se possível com alguma inspiração. A apresentação da nudez busca produzir uma sensação erótica, e não sugerir um pensamento sobre o erotismo. Neste filme, os atores estão vestidos para que os personagens possam estar desnudos. O estímulo ao anseio sexual está esquecido para que o pensamento possa ser provocado.Fazer o filme assim é uma decisão política para mim. A pornografia está tão dissimulada em nossa cultura, que já não a reconhecemos como tal. Hoje, qualquer diretor ou autor de novela ou programa de televisão (medíocre ou não, mas medíocre também!), ou qualquer cineasta de primeiro filme, se acha no direito de determinar que uma atriz deve ficar pelada em tal cena, ou sumariamente vestida (já vem escrito no texto!), ou levando um malho, ou beijando calorosamente durante dez minutos um ator que ela acabou de conhecer (e já aconteceu de ser apresentado um prostituto para fazer uma cena de beijo com uma colega nossa). E, depois, é freqüente que esses cineastas de primeiro filme exibam para seus amigos, em sessões privê, as cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz. (E quanto mais séria e profissional for a colega, maior terá sido o feito de tal cineasta de merda.)E quando hesitamos diante de um diretor que nos pede a nudez, ele fica bravo, faz má-criação, como uma criança mimada, porque se considera no direito a ela. E, se a atriz for jovem, é bem capaz que ainda ouça uns desaforos.Até quando nós, atores, ficaremos atendendo ao voyeurismo e à disfunção sexual de diretores e roteiristas que, instigados pelos apelos do mercado ou por si mesmos, nos impingem estas cenas macabras? Até quando nós, atores e sobretudo as atrizes, serão constrangidas a ficarem nuas em estúdios ou praias onde homens em profusão se aglomeram para dar uma olhadinha? Ou, pior: quando dissimulam o seu apetite sexual num respeito cerimonioso; respeito esse que é pura tática para não espantar a presa, a oferenda que vai ser imolada no altar do tesão alheio dos impotentes!Um diretor não deveria pedir a uma atriz que faça algo que ele não pediria a uma filha sua. Assim como um homem não deve fazer a uma mulher algo que ele não quer que seja feito a uma filha sua. Eu não conheço outra dignidade além dessa.Se essa gente quer nudez, que fiquem nus eles mesmos, e então conhecerão o uso pornográfico de suas próprias imagens e saberão onde dói! Além do que, seria uma doce vingança para nós conhecer a nudez dessas belíssimas pessoas, geralmente fora do peso!Quem quer a nudez do outro é porque tem problemas com a sua própria.Eu ambiciono o dia em que os atores e as atrizes saibam que podem e devem dizer "não" a cenas onde não se sintam confortáveis. O dia em que saibamos que não temos obrigação de tirar a roupa, que esta não é uma exigência do ofício de ator e sim da indústria pornográfica. O dia em que não nos deixaremos convencer por patéticos argumentos do tipo: "é fundamental para a história", "a luz vai ser linda", "você vai estar protegida", "é só de lado", "a gente vai negociar tudo", "se você não gostar, depois eu tiro na edição" e o pior argumento de todos, "vai ser de bom gosto". E a conclusão de sempre "confie em mim". E há também um argumento criminoso: "O programa é popular. Tem que ter calcinha e sutiã." Como se a gente brasileira fosse assim medíocre.Claro que somos imperfeitos, pornografia talvez sempre haverá. Mas que ela não seja dominante e absoluta. E, principalmente, que ela não seja irreconhecível, disfarçada de obra dramatúrgica, de entretenimento inocente. Isto é uma perversão de conseqüências trágicas porque rouba à arte o seu lugar. E a arte, mesmo quando seja entretenimento inocente, é fundamental para a nossa saúde coletiva. E se a pornografia também o for, que ela o seja, mas como pornografia, e não querendo se passar pela nossa vida de todo dia, no ar na novela das sete, ou mesmo das seis, como se aquelas situações fossem a coisa mais normal do mundo. Criam-se cenas de estupro, de banho, de exibicionismo, de adultério, ambientadas em boates, prostíbulos, etc, tudo apenas para proporcionar cenas de nudez.A quem diga que a nudez destas cenas é fundamental para a história, eu sugiro que assista a pelo menos dois filmes de François Truffaut, "Le Dernier Métro" e "La Femme à Coté", e aprendam alguma coisa sobre a narrativa da intimidade de personagens sem haver exposição da intimidade dos atores.Um bom ator pode surgir em qualquer lugar, na escola, na rua ou mesmo no deserto hipócrita de um reality show. O fundamental aqui é fazer uma distinção, não quanto ao caráter de cada pessoa individualmente, mas quanto à natureza de cada coisa. O que é pornografia é pornografia, o que é arte é arte. Que os pornógrafos sejam os pornógrafos, e que os atores e atrizes sejam os atores e as atrizes. Hoje está tudo confuso e sendo tomado pelo mesmo. E nós, atores, que deveríamos estar servindo à dramaturgia de uma história, temos sido, constantemente, o veículo da pornografia, com maior ou menor consciência do que estamos fazendo.Mas é bom lembrar que nunca é o ator que escreve para si mesmo a cena em que ele ficará nu. Nunca é uma escolha do ator. É sempre a escolha de um roterista e de um diretor e, certamente, do produtor.Eu ambiciono o dia em que nós não teremos medo do YouTube ou das Sessões Nostalgia dos canais Brasil da vida, com suas retrospectivas do nosso cinema; o dia em que não teremos medo de os nossos filhos terem que responder perguntas constrangedoras a colegas na escola. Não é necessário ser assim. Os filhos de grandes atrizes, de um passado ainda muito recente, não passaram por esse constrangimento. Não há por que nós aceitarmos tamanho aviltamento. Saibamos dizer "não"! Nada acontecerá.Claro que tudo isso nos é vendido como algo inofensivo, apenas uma crônica dos costumes do nosso tempo. Mas esse é o grande álibi para a disseminação da pornografia através do nosso trabalho. Há muito tempo estamos passando por esse constrangimento e fingimos que não. Temos mil desculpas esfarrapadas para nos enganar. Mas a verdade é que temos medo de ficar sem emprego. A pornografia é uma mercadoria muito fácil de vender, mas eu acredito que o público, por fim, a rejeita e se sente desrespeitado. Eu escrevi para televisão brasileira, em companhia de outros colegas, e para o teatro, obras que não tinham pornografia e que fizeram sucesso. Participo há oito anos de "A Grande Família", onde, se alguma pornografia houver, é muito pouca. Digo "se alguma houver" porque a pornografia tem tantos disfarces que nenhum de nós está livre de todo; então, faço eu mesmo a ressalva.Onde há pornografia, não há liberdade. Há alguém ganhando dinheiro e alguém sofrendo para produzir o dinheiro que este outro está ganhando. Quem se vê submetido a cena pornográfica sempre sofre, mesmo apesar de seus possíveis comprometimentos subjetivos a tal submissão. O comprometimento eventual de alguns de nós não legitima o ato agressivo de quem propõe a pornografia.A quem se afobe em me acusar de exagerado, eu só peço que assista aos filmes recentes e à televisão. Está tudo lá. É só ter liberdade para ver.A quem se afobe em me acusar de moralista, peço antes que procure conhecer o meu trabalho em teatro e que assista ao filme desta noite. Nele, assim como algumas vezes no teatro, tratei, junto com meus colegas, de assuntos bem distantes da uma moralidade puritana. Quem for me acusar, tente primeiro perceber a diferença entre a liberdade para tratar de qualquer assunto e a intenção de usar qualquer assunto para difundir pornografia usando a liberdade de costumes para disfarçá-la de obra dramatúrgica.Para que não digam que eu sou contra a nudez em si, dedico este texto à atriz Clarisse Niskier, que faz de sua nudez em "A Alma Imoral" um excelente instrumento para a narrativa do seu espetáculo e não um ato pornográfico. Na televisão não há cena de nudez que eu me lembre de ter considerado justificada, mas no cinema há pelo menos uma: Leila Diniz vestindo a nudez de sua personagem no filme "Todas as Mulheres do Mundo", enquanto o personagem de Paulo José diz um belíssimo poema de Domingos Oliveira.E para que não digam que estou assim transtornado com este assunto porque agora estou namorando uma atriz, digo "logo eu!" De fato, nos dói mais a dor que dói em nós mesmos. Mas saibam que estas idéias, incômodos e preocupações já nos ocupavam, tanto a mim quanto a ela, muito antes do nosso encontro. Agora, ver a mulher que eu amo ter que diariamente se defender no trabalho contra a pornografia reinante tornou este assunto a primeira ordem do meu dia. Se antes era apenas por responsabilidade profissional que eu me opunha à pornografia, agora é também por amor. Se alguém conhecer um motivo melhor do que este para lutar por uma causa, me diga, porque eu não conheço. E ainda afirmo: o meu afeto não me nubla o discernimento. Ao contrário, acredito que ele me deixe mais lúcido porque mais determinado.E se, ainda, alguém quiser me acusar de mais alguma coisa, acho que dificilmente serão atores e muito menos atrizes. As acusações virão certamente daqueles que sempre permanecem vestidos nos estúdios de televisão e nos sets de filmagem ou nem saem das salas de reuniões.Aqui nesse filme também não houve amestradores de ator. Esse assunto parece nada ter a ver com a pornografia, mas tem sim. O haver agora no mercado esses amestradores de atores faz parte da desautorização do ator como autor do seu próprio trabalho. Quer dizer que nem o seu próprio trabalho é o ator que faz?! Há alguém que o faz fazer como deve ser feito. Isso acontece, na minha opinião, porque os cineastas confundem sua própria perplexidade diante da dramaturgia (que, por vezes, eles desconhecem) com uma suposta incompetência do ator, e resolvem o problema chamando um amestrador de ator. (Melhor fariam se estudassem teatro.) É nocivo para nós. Um ator desautorizado na autoria de seu próprio trabalho irá aceitar, com muito mais subserviência, a pornografia que lhe será exigida logo mais à frente. O que está escondido sob esta prática é a desautorização do ator como líder da arte de representar e senhor do seu ofício. Lembremo-nos de que só há realidade fílmica ou televisiva, e certamente teatral, se um ator a faz existir! Sem o ator não há nada. Este é um poder que podem nos impedir de exercer, mas não nos podem tirar.Espero que o filme que vamos assistir explique os meus sentimentos e idéias a respeito desse assunto melhor do que estas minhas palavras.Vamos ao filme.Escrito por Pedro Cardoso

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mais do que sorte, busque Direitos Humanos


Campanha publicitária deflagrada a partir de hoje e lançada ontem no Fórum (salão do júri): "Os Direitos Humanos protegem a dignidade, promovem a justiça e garantem a liberdade de todas as pessoas. Não aceitam preconceitos ou privilégios, domínio ou exploração, exclusão ou discriminação. Mais do que na sorte, acredite nos Direitos Humanos. Procure orientação na Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo." Rua Senador Pinheiro, 304 - Vila Rodrigues - fone 54 3313-2305 - http://www.ckhpf.org.br/

Será veiculado na mídia um vídeo lindo de 30', assim como serão distribuídos folders e adesivos falando sobre a campanha de afirmação dos Direitos Humanos, trabalho que já vem acontecendo desde o ano passado. Continuará acontecendo um trabalho de conscientização em forma de oficinas em escolas, assim como foi lançado o concurso de fotografia do qual poderão participar alunos de todas as escolas da cidade.

A Escola de Pais do Brasil foi convidada a participar do lançamento e teve oportunidade de garantir parceria para o sucesso da campanha.

Esta é mais uma campanha que serve para tornarmo-nos mais cultos e consequentemente melhores cidadãos. Se olharmos para trás, não muito mais para trás, veremos o quanto avançamos no intento de fazermos uma cultura de Direitos Humanos. Nossa construção histórica passa pelo fato de termos o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Maria da Penha, o movimento antimanicomial, a indignação que começa a tomar corpo contra o que está acontecendo nos presídios, as leis contra a tortura, nossa clara ocupação em preservar o planeta, com o intuito de melhorarmos nossa qualidade de vida. Quem falar que no passado era melhor, não conhece a história. Eu estou bem feliz com o que está acontecendo, só acho que está muito devagar. Gostaria de poder ver tudo resolvido de uma vez.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

René Cecconello


Gosto dele. Fomos colegas de Filosofia e temos uma relação de camaradagem e de querer bem. Tenho uma história de militância petista bem explícita, já que bandereei e ostentei adesivos no carro em todas as eleições, menos nesta. Usei o blog pra demonstrar minha opção para vereador, coisa que fiz de peito aberto e com muito orgulho, mesmo que minha candidata Cláudia não fosse do PT. O PCdoB é um partido pelo qual nutro muita simpatia pelo que representou historicamente para o Brasil, mas reconheço seu fisiologismo histórico também. O PCdoB tem a virtude de acolher gente muito legal, que eu adoro e admiro, como é o caso do Juliano aqui, o Carrion, a Jussara e a Manoela em POA, o que o redime desse parasitismo. O que quero dizer com esse prólogo, é que não fui militante este ano, apesar do meu afeto por Cecconello, candidato a vice prefeito junto com Dipp. Para ser militante tenho que estar apaixonada por uma causa e não consigo me apaixonar por causa nenhuma onde se leia PDT, ou DEM, ou PP ou o raio que o parta. Com a devida vênia aos meus amigos às pessoas que compuseram esta administração e que fizeram um bom trabalho, este ano não consegui. Vi coisas que reprovei e que considerei inadmissível em alguém que fez oposição e que não soube ser situação. Vi gente ser muito boa na oposição, onde divergiu e mostrou opções, mas que no executivo caiu na vala comum e cometeu os mesmos erros que combateu. Em outra postagem falei sobre Paulo Paim ser um reduto de inteireza política, falo o mesmo do meu querido amigo Cecconello, que além dessa inteireza, é querido pra burro. Quero que tudo dê certo, para que esta cidade onde moro há 50 anos seja boa para todos, para todos. Dá-lhe René!

Sobre dignidade


Recebo muito seguidamente textos atribuídos a Martha Medeiros, Arnaldo Jabor e Luiz Fernando Veríssimo. Já os vi queixarem-se de que grande parte do que corre por aí não é deles, mas, hoje, divulgo um texto quentinho, extraído de Zero Hora de hoje e que adorei. Aí vai:

MARTHA MEDEIROS
Infelizmente, algumas mulheres e homens íntegros costumam dar férias para sua integridade durante campanhas eleitorais. Nessa hora, todo mundo vira leão e quer devorar o outro. Imagine um candidato admitir, antes do resultado final, que o adversário é um homem capaz. Por essas e outras é que a grande novidade desta eleição foi a votação expressiva de Gabeira, a despeito de todos os preconceitos que poderiam barrar a alavancagem de sua candidatura. Isso, por si só, já é uma vitória do Brasil – não só do Rio de Janeiro.Se Gabeira ganhar, será a prova de que o brasileiro está votando de forma mais consciente e que cansou de ficar se lamentando em balcão de bar, repetindo a ladainha de que político é tudo igual.Se Gabeira ganhar, saberemos que existe uma parcela da população que não tem medo de quem possui uma mentalidade aberta e que está apostando em novos horizontes, em quem tem experiência não só política, mas de vida.Se Gabeira ganhar, finalmente teremos em um cargo público um homem que conversa com o eleitor feito gente grande, dizendo exatamente o que pensa, em vez de apelar para discursos fleumáticos e repetitivos, entulhado de jargões.Se Gabeira ganhar, vai ser a recompensa merecida por ele ter peitado Severino Cavalcanti, dando nele um cala-boca que todos nós gostaríamos de ter dado na ocasião do “mensalinho”.Se Gabeira ganhar, não será apenas o deputado federal que assumirá o cargo, mas também o escritor e jornalista que tantas vezes defendeu as liberdades individuais, os direitos humanos, as formas alternativas de viver em sociedade e que possui uma consciência ecológica que vem de muito antes disso virar moda.Muitos políticos – inclusive Fogaça e Maria do Rosário, que disputarão o segundo turno aqui em Porto Alegre – já eliminaram a pose de super-heróis e a prosa característica dos “profissionais” do ramo, aqueles que dizem apenas o que o eleitor quer ouvir, sem compromisso com a viabilidade do que está sendo dito. Mas Fernando Gabeira, pela projeção nacional que tem e pela cidade problemática que pretende governar, é o fato eleitoral de 2008. É interesse de todos que o Rio resolva suas dificuldades, e que a política brasileira espane a caretice e ganhe um perfil mais corajoso e cosmopolita. Se ele será um bom prefeito, caso vença? Não tenho bola de cristal. Mas ter superado a desconfiança diante da sua biografia incomum já é motivo para comemorarmos.-->
Se o Gabeira ganhar
“Sempre fomos amigos, ele é uma pessoa capaz e não pretendo vencer a qualquer preço.” O autor dessa frase é Fernando Gabeira, avisando que não engrossará o tom da campanha para enfrentar Eduardo Paes no segundo turno pela prefeitura do Rio.Infelizmente, algumas mulheres e homens íntegros costumam dar férias para sua integridade durante campanhas eleitorais. Nessa hora, todo mundo vira leão e quer devorar o outro. Imagine um candidato admitir, antes do resultado final, que o adversário é um homem capaz. Por essas e outras é que a grande novidade desta eleição foi a votação expressiva de Gabeira, a despeito de todos os preconceitos que poderiam barrar a alavancagem de sua candidatura. Isso, por si só, já é uma vitória do Brasil – não só do Rio de Janeiro.Se Gabeira ganhar, será a prova de que o brasileiro está votando de forma mais consciente e que cansou de ficar se lamentando em balcão de bar, repetindo a ladainha de que político é tudo igual.Se Gabeira ganhar, saberemos que existe uma parcela da população que não tem medo de quem possui uma mentalidade aberta e que está apostando em novos horizontes, em quem tem experiência não só política, mas de vida.Se Gabeira ganhar, finalmente teremos em um cargo público um homem que conversa com o eleitor feito gente grande, dizendo exatamente o que pensa, em vez de apelar para discursos fleumáticos e repetitivos, entulhado de jargões.Se Gabeira ganhar, vai ser a recompensa merecida por ele ter peitado Severino Cavalcanti, dando nele um cala-boca que todos nós gostaríamos de ter dado na ocasião do “mensalinho”.Se Gabeira ganhar, não será apenas o deputado federal que assumirá o cargo, mas também o escritor e jornalista que tantas vezes defendeu as liberdades individuais, os direitos humanos, as formas alternativas de viver em sociedade e que possui uma consciência ecológica que vem de muito antes disso virar moda.Muitos políticos – inclusive Fogaça e Maria do Rosário, que disputarão o segundo turno aqui em Porto Alegre – já eliminaram a pose de super-heróis e a prosa característica dos “profissionais” do ramo, aqueles que dizem apenas o que o eleitor quer ouvir, sem compromisso com a viabilidade do que está sendo dito. Mas Fernando Gabeira, pela projeção nacional que tem e pela cidade problemática que pretende governar, é o fato eleitoral de 2008. É interesse de todos que o Rio resolva suas dificuldades, e que a política brasileira espane a caretice e ganhe um perfil mais corajoso e cosmopolita. Se ele será um bom prefeito, caso vença? Não tenho bola de cristal. Mas ter superado a desconfiança diante da sua biografia incomum já é motivo para comemorarmos.


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Quem ganhou e quem perdeu?


Acabou-se! É hora do balanço e da contagem dos votos, ou melhor, da interpretação da contagem dos votos. O processo eleitoral é um massacre que exige de quem se candidata, que levante cedo e passe o dia dizendo: olha eu aqui, vota em mim, por favor! Hoje conversei com algumas pessoas e ouvi comentários variados acerca do dia de ontem. Ouvi alguns que passaram pelo processo de que falei e os encontrei muito cansados, uns felizes e ungidos pelo voto do povo, outros decepcionados e maldizendo o fato de não terem sido ungidos, outros surpresos por terem merecido maior unção do que esperavam. O fato é que não é fácil ser candidato, menos fácil se ignorar o fato de que o voto é secreto, que o povo é soberano nesse momento e faz o que quer, doa a quem doer. Pior para quem pensou ser diferente, para quem pensou em aliciar, pagar, seduzir e, ao fim e ao cabo, descobrir que foi covardemente traído pelo populacho ingrato que comeu e se lambuzou sem conduzir pessoa tão boa e generosa às benesses do cargo eletivo. Que decepção, gente! Mas, melhor para quem não esperava o retorno em forma de votos, às centenas. Surpresa é pouco para descrever o que representou a abertura das urnas, a contagem, a expectativa de algo concreto, não de um sonho, de uma quimera, como se algo indefinido tomasse corpo. Ah! Uma eleição é algo que mexe com as pessoas, com um povo. Ouvi também eleitores felizes, outros inconformados, outros alienados. Dos alienados não gosto de falar, nem sobre eles, nem com eles, pois para mim, são os responsáveis pelo desastre que são nossos parlamentos, sim senhor, sim senhora. São os que votam no homem e não em um projeto político e, ainda por cima, são a maioria. Enfim, é fascinante observar pessoas, conversar com elas. O concreto, nesta altura do campeonato, é que teremos que conviver por quatro anos com o que aprontamos em um único dia, pois, "o voto não tem preço, mas tem consequencias."

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sobre eleições


Não sei se é confiável o que estou publicando, mas dizem que a frase é de Eça de Queiroz, escritor português realista do século XIX, falando em eleições:«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.»
Sou obrigada a concordar com Eça. Todos conhecemos políticos profissionais, aqueles que têm raízes profundas fincadas nas câmaras e palácios e que conhecem os mecanismos para sua reeleição, ano após ano. A frase de Eça é mordaz e revela que a prática de perpetuação no poder não é coisa nova, mas já causava indignação por volta de meados de 1800. Por outro lado, sabemos de personalidades que são reconduzidas ao poder por absoluta competência e ilibada conduta, como é o caso de Paulo Paim, um senador respeitado tanto por seus pares, seus eleitores e até pelos que lhe fazem oposição. Espero nunca "cair do cavalo" como já me aconteceu tantas vezes. Com relação a ele, eu ficaria especialmente triste.