domingo, 25 de dezembro de 2011

Publicado em O Nacional de 22/12/2011

Onda justiceira contra a enfermeira cruel

Quem participa de redes sociais está presenciando as manifestações hostis espalhadas contra a enfermeira que matou seu cãozinho em Goiás.
Esta onda remete-nos à Idade Média, período em que a justiça era praticada sistematicamente, levando à forca ou à guilhotina, para regozijo do povo, criminosos julgados por um juiz e pelo clamor popular por justiça a qualquer preço.
Com o advento das ciências, a justiça é perpetrada valendo-se dos recursos que a psicologia, a sociologia, a medicina, a psiquiatria e os júris populares proporcionam, que julgam o grau de periculosidade do criminoso, os motivos que o levaram a cometer o crime e a probabilidade de voltar a cometer crimes.
O sistema judiciário, desta forma, marca o advento de formas mais humanas e científicas de julgamento, fazendo com que as injustiças e a arbitrariedade sejam reduzidas. Aos poucos também, abandonamos as execuções em praça pública e passamos a afastar os criminosos do convívio com a sociedade, trancando-os em presídios geralmente insalubres, onde, longe dos nossos olhos, pratica-se a tortura e a degradação, sem chances de recuperação. A reinserção do preso ao convívio social, por essa razão, ainda hoje, é difícil.
Estamos vivendo uma forma de clamor popular por justiça nas redes sociais, a exemplo da retaliação feita à enfermeira. Isso acontece com uma violência inominável, chamando-a de todos os adjetivos pejorativos que podemos imaginar; incitando para que ninguém lhe dê trabalho, divulgando seu nome, nome dos filhos, endereço, numero de telefone, numa clara demonstração de que têm em suas mãos a prerrogativa de fazer justiça.
Todos sabemos a força que as redes sociais têm para agrupar multidões, derrubar ditaduras, cometer bullying, agredir grupos, formar gangues e tantas outras práticas que não a comunicação entre as pessoas, a facilidade para fazer amigos, a disseminação de cultura, enfim, todos os recursos que a internet nos proporciona.
A crueldade que a enfermeira cometeu não justifica que nos tornemos algozes dela, incitando os ânimos para que seja linchada moral e, talvez, fisicamente, trazendo de volta a justiça medieva que encontra aí, todos os ingredientes de violência e arbitrariedade.
Cabe-nos esperar que as leis que existem em defesa dos animais sejam usadas para fazer a enfermeira responder pelo que fez, assim como seja julgada com base no Estatuto da Criança e do Adolescente por ter exposto seu filho pequeno à visão dantesca capaz de virar o estômago de qualquer pessoa.
Indignação não é sinônimo de incitação à violência. Temos que evitar o datenismo justiceiro, sob pena de nos tornarmos piores do que ela.
Sueli Gehlen Frosi

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Capítulo encerrado

Tudo o que se relaciona com os últimos acontecimentos acerca do tumor que atingiu a próstata do Mingo, foi solucionado. Desde a semana passada soubemos que não haverá necessidade de se fazer radioterapia, o que nos fez comemorar muito. Foi feito um exame do PSA, que resultou em 0.13, o que segundo o médico é ótimo. A qualidade de vida que a cirurgia trouxe não tem preço, pois a hipertrofia da próstata incomoda um pouco, exigindo várias idas ao banheiro durante a noite. Isso acabou, proporcionando um noite ininterrupta de sono, o que é muito bom. O Mingo é tranquilo e sempre confiou, mas eu, apesar de confiar também, tive um desgaste emocional enorme, aliado ao fato de que a Eliza estava grávida. Com o sucesso das duas empreitadas, estou empenhada em aproveitar, em ser feliz, em aceitar todos os convites para ajudar a cuidar do Théo, a tomar os chopinhos em happy hours de que tanto gostamos. Vou descansar, ler muito, terminar meu livro de contos que estou escrevendo. É muito bom esse estado de espírito, que é fruto de muito trabalho, dedicação, compromisso com o que é realmente importante. Estou absolutamente encantada com meu Théozinho, tão lindo, tão forte e tão sorridente. Sinto que ele já me conhece, pasmem! Tudo vale a pena, se a alma não é pequena, segundo o poeta.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O papel marcante do professor.

O saber humano é imensurável e não cabe em uma biblioteca, em uma rede virtual, muito menos na cabeça de uma pessoa. Somos seres que apreendem o que precisam, mas alguns vão um pouco além e especializam-se em uma ínfima parte de um saber, tornando-se especialistas de uma área ignorada pela maioria.

Uma instituição de ensino, mesmo que conte com doutores, pós doutores, mestres e especialistas, jamais conseguirá contemplar todos os interesses, todas as subjetividades, todos os pendores e todos os sonhos das pessoas que abriga.

Um professor portanto, estando à frente de uma classe só conseguirá atingir seus alunos, ou alguns alunos, pelo seu modo de ser, pelo jeito com que instiga a curiosidade, pelas marcas humanas que imprime nas tantas aulas que ministra. O conteúdo científico sempre será pequeno, sempre estará aquém do que os alunos devem receber. O que fica de seus esforços é o que será levado para a vida, o que poderá servir de empurrão, ou de desalento.

Um professor deve contar com a curiosidade da classe, sem o que pouco ou nada poderá fazer e o que é digno de ser aprendido será desperdiçado por conta da falta de interesse. Esse é o ponto em que estamos nos perdendo, na falta de interesse dos alunos, na falta de interesse do professor que tem a sensação de estar jogando pérolas aos porcos e pela instituição de ensino, que é onde tudo respinga, tanto o que é bom, quanto o que é ruim e que, ao invés de cumprir seu papel de gestora de boas práticas didáticas, de produtora de arte e de beleza, passa a se preocupar com disciplina, com ausências de professores, com evasão de alunos, com desempenho medíocre da comunidade academica e escolar.

O privilégio de ter um professor marcante é a salvação de tantas e tantas pessoas, que, motivadas, procuram aprender mais, pesquisam, perguntam, animam-se com as próprias conquistas, não dependendo só da Universidade ou da escola onde estudam para realizar suas aspirações acadêmicas. Esses foram marcados por uma figura de primeira categoria, que conseguiu tocar suas almas e comunicou sua humanidade de uma forma grandiosa e essencial.

É para esses professores e professoras que este dia deve ser dedicado, pois espíritos universais proporcionam a possibilidade de seus educandos darem uma olhada no todo, dão as ferramentas para que dêem um passeio abrangente pelo conhecimento humano e, a partir daí, de forma livre, fazerem suas escolhas.

Feliz Dia do Professor e da Professora, heróis que carregamos com muito carinho pela vida afora.

domingo, 2 de outubro de 2011

Carta escrita ao meu netinho Théo, em 02/09/2011, na noite antes do seu nascimento.

Querido Théo

Estou aqui te esperando. São vinte e três horas e quarenta e cinco minutos e acabei de saber que tua mãe está no hospital.

Minha primeira reação foi correr para junto dela, mas disseram-me para ficar em casa, já que, provavelmente, vais demorar algumas horas para nascer. Vou ficar em casa, mas meu coração está clamando por estar com a minha filha linda, tua mãe e com o meu genro também muito amado, teu pai. Estando com eles, eu estaria também junto contigo, meu amor, para ver tua carinha e poder constatar que meu coração é muito forte para aguentar tantas emoções.

Teu avô está na cama, mas sei que, cada vez que acordar, vai ansiar por notícias tuas, para saber se já nasceste e se estás feliz por ter chegado.

Tu tens muitos tios que estão também ansiosos e a espera de ti.

O tio Ricardo está em casa e muito feliz com a tua chegada, mas a mulher dele, a tia Vanusa foi para o hospital acompanhar tua mãe nesta empreitada que é a mais importante da vida dela: o teu nascimento. Eles têm uma filha linda, a Cecília de sete anos que já te ama e não vê a hora de brincar contigo. Vocês serão muito amigos. O tio Ricardo é um excelente professor na UPF, na área do Direito e funcionário da Receita Federal há muitos anos. Tua tia Vanusa é enfermeira altamente competente, funcionária do Hemopasso.

A tia Flávia, casada com o tio Paulo, está lá em São Paulo, de passagem marcada para terça-feira só pra te esperar, mas resolveste dar o ar da tua graça mais cedo. Vamos ver como ela vai fazer pra correr ao teu encontro. O tio Paulo fica, pois está de emprego novo e não pode faltar. A Flávia é advogada em São Paulo e é das pessoas mais apaixonadas por linguística que conheço. O Paulo é engenheiro e trabalha para uma multinacional da indústria farmacêutica. Os dois são casados há pouco tempo e não pensam ainda em ter filhos.

O tio Cássio, casado com a tia Angélica já está sabendo que estás chegando e os dois devem estar loucos pra te ver. O Cássio hoje, após o trabalho foi jogar futebol, coisa que ele adora fazer. A tia Angélica é psicóloga e é distribuidora de produtos plásticos muito conhecidos no mundo inteiro, a Tupperware, mas o que ela gosta mesmo é trabalhar com seus pacientes. O Cássio trabalha no escritório de advocacia, na loja de móveis e ajuda a tia Angélica a tocar o negócio. Tomara que eles queiram ter filhos logo, pra que eu e o vovô tenhamos mais netos e netas.

O tio Bruno tem uma namorada, a Rocheli, uma graça de pessoa. Eles adoram crianças e tenho certeza que vão ficar apaixonados por ti assim que te virem. O Bruno trabalha com programação de computadores e a Rocheli é jornalista, mas trabalha na loja da família da Angélica.

O vovô Domingos acabou de sofrer uma cirurgia de próstata, mas tudo correu bem e ele está ótimo. Trabalha em uma empresa falida, a Bertol S/A e tem o cargo de assessor da presidência. Ele está esperando para ver o que acontece com a firma e com os empregados que estão inseguros e sofrendo por falta de pagamento de seus salários. Ele é uma pessoa calma e bondosa, com uma capacidade de amar e de brincar com as crianças, que é uma coisa do tamanho do mundo. Por vezes vais notar que ele incomoda. A Cecília diz que ele “ajudia”, mas é só força de expressão, pois ele só quer brincar.

A vovó Sueli, que sou eu, adora crianças, todas as crianças, por isso faz muitos trabalhos voluntários por elas. Gosto de cuidar de todos e, se permitirem, cuidará de ti também, mas fique tranquilo, vai ser uma farra, assim como é uma farra com a Cecília. Vamos nos divertir muito, vamos ler, escrever, desenhar, rolar pela grama, montar quebra cabeças e tantas outras coisas que as crianças gostam de fazer.

Nós somos uma família muito feliz e queremos que tu te sintas muito bem conosco, assim como queremos que te sintas com a família do teu pai.

Eles são muito legais e já tem dois netinhos que moram em Brasília. O Augusto e a Aninha são lindos e gentis, são educados e doces e já estão te esperando faz tempo. O Vovô Itacir e a vovó Ivana faz tempo que te esperam e não cansam de comprar coisinhas pra te esperar e fazer tua alegria. Tens também o tio Igor, um homem lindo e cavalheiresco e que trabalha com publicidade, já que é formado em Publicidade e Propaganda. Vais adorar conhecê-los e sentar no colo deles.

Os pais do Augusto e da Aninha, Rodrigo e Vanessa são teus tios também. São pessoas corajosas e não hesitam em correr atrás das oportunidades que a vida oferece, por isso estão morando longe. Eles são biólogos e o tio Rodrigo aceitou um emprego que ele esperava muito conquistar. Estão felizes onde moram, mas duvido que consigam esperar o final do ano pra te conhecerem.

O teu quarto está pronto há alguns dias. Está tudo uma beleza e reflete o carinho que teus pais têm por ti, mesmo sem te conhecerem. Todos os meses os dois iam espiar aquelas máquinas que mostram bebês, para saberem como serias, mas não dá pra ver muita coisa, só que és saudável e perfeito. Sabemos que aquelas fotos que tiraram de ti, não fazem jus a tua beleza e graça, por isso estamos tão ansiosos para que te mostrem ao vivo e a cores.

Queremos que venhas tranqüilo, pois amor e carinho não hão de faltar, antes pode acontecer que serás um pouco sufocado de beijos e abraços, mas vais agüentar e talvez gostar da maioria deles. Prometemos ter semancol quando necessário.

Vais encontrar um mundo que ainda não está pronto, mas que, acredito, está se aprimorando para receber as crianças com melhores estruturas, principalmente estruturas humanas.

Somos pessoas que procuram cumprir uma lei federal que já tem vinte anos e que foi promulgada para o bem estar de todas as crianças: o Estatuto da Criança e do Adolescente, o que foi um grande avanço para acabar com os maus tratos e o trabalho infantil. Nós os adultos queremos que vocês tenham o direito assegurado de serem cuidados e que possam brincar e frequentar boas escolas e a ter espaços condizentes com a condição em que estão. Prometemos ficar atentos para que essa lei seja respeitada, para que tu, a Cecília, o Augusto e a Ana e todas as outras crianças do mundo possam ser crianças de verdade.

Agora já é meia-noite e não sabemos de nada do processo da tua chegada, portanto, nos resta ficar calmos e tentar dormir, enquanto você faz o trabalho do teu nascimento, junto com tua mãe e teu pai.

Estamos torcendo pra que seja um momento mágico e lindo e que teu nascimento seja motivo de felicidade incapaz de ser descrita. Fique certo que a gravidez, o parto e o momento em que olhares para a tua mãe, ficarão indelevelmente vivos na memória e no coração da tua mãe e do teu pai Iuri.

Venha Théo, venha com confiança, pois tens uma família toda que te ama mesmo sem te conhecer, imagina quando te virem, vão morrer de alegria.

Bom nascimento meu amor...

Tua vovó Sueli

sábado, 17 de setembro de 2011

Núcleo de Justiça Comunitária

Fomos hoje, Domingos e eu, à casa de mediação comunitária, que é Núcleo de Justiça Comunitária do Bairro Zácchia. Lá compareceu o BOE Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, com o intuito de conversar com a comunidade sobre seu trabalho e sobre polícia pacificadora. Aprendemos muito e ficamos entusiasmados com os novos métodos usados para contenção de pessoas. A tecnologia fornece a esses homens, tidos como violentos, um aparato que conta com uma pistola de paralisação, que alcança o indivíduo, deixa-o desfalecido por cinco segundos, tempo suficiente para que seja algemado ou dominado de alguma outra forma. Outro recurso é o gás de pimenta, usado há bastante tempo de forma a atingir um grande grupo. Porém, agora, cada policial é municiado com um spray menor, que atinge o rosto de um só indivíduo em meio a outras pessoas, não penalizando a todas, como era feito. Outro recurso é o cacetete, muito pouco usado hoje, devido aos recursos anteriores, o que está evitando muita violência. Após isso, todos sabemos dos métodos, dos expedientes arbitrários que, mesmo por parte deles, estão sendo minimizados. Ficamos satisfeitos pela disponibilidade do grupo em responder perguntas, em usar da máxima franqueza, em mostrar os homens que estão por trás da farda. Eu, como sempre, passei meio congelada perto de tantas armas e pus-me a pensar em como ninguém gosta de violência, como todas as pessoas anseiam pela paz, em como há comunidades reféns de bandidos e em como precisamos de medidas de prevenção, mas não podemos negar, de repressão também. A repressão que queremos é a presença da polícia, a confiança nela, o poder chegar e conversar, para dizer o que nos assusta e o que todos podemos fazer para sossegar nossos corações de seres humanos que tanto necessitam viver em paz.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Alegria!

Deve-se deixar as avós falarem sobre seus netos e netas, ou elas definham até morrer. Como sou muito nova para morrer, vou falar do meu netinho recém nascido, cujo nome é Théo (deus da guerra). Meu encantamento por esse menininho vem desde a primeira notícia de sua existência, mas tornou-se algo gigantesco após seu nascimento. Sou tomada de uma alegria tão grande quando o vejo, quando o coloco no colo, quando ele mama, que quase não consigo me conter. A figura da mãe com o bebê mamando, sempre é algo tocante, mas quando se trata de uma filha que amamenta, torna-se um retrato que nos acompanha desde o despertar até dormir de novo. As lembranças que tenho sobre os meus cinco bebês surgem de forma muito viva, todos os dias, é só olhar meu neto louquinho de fome, chorando a plenos pulmões só por que estão trocando suas fraldas e quando, após a mamada, ele faz aquelas gracinhas com a cara mais satisfeita do mundo. Já peguei vários sorrisos dele, juro! Meus bebês eram tão voluntariosos quanto o Théo e todos encontravam calma e sossego no colo do pai, coisa que estou revivendo agora com meu genro, que tem o poder de devolver sossego em meio à choradeira desenfreada. A voz do pai faz com que o bebê reaja de alguma forma bem perceptível e essa reação não acontece com o som da voz ou do toque de ninguém mais, o que é muito significativo. Ontem ele engasgou e foi o primeiro susto que soube que minha filha teve e ela chorou ao contar. Entendi o porquê do choro, já que nós, as mulheres e mães, sabemos o quanto nosso filho é dependente, o quanto somos responsáveis pela vida dele e isso nos assusta e nos enche um sentimento de urgência em acudir, em cuidar, mesmo quando estão dormindo placidamente. Minha filha e meu genro nunca mais serão os mesmos, por que na vida deles há alguém que eles amam acima de tudo, assim como aconteceu conosco, eu e o Domingos, com os outros avós Ivana e Itacir. Sou convicta de que os filhos não nos devem nada e que o amor que eles dão aos filhos deles é que paga de tudo o que investimos em amor, carinho, educação, exemplo e dedicação de uma vida toda. Filhos que foram bem paternados e maternados, têm um potencial enorme de serem ótimos pais. É alegria o que sinto, mas uma alegria enorme e incapaz de ser descrita. Só posso agradecer à vida por tudo...

domingo, 21 de agosto de 2011

O meu gigante sarou!

Confesso que sentirei um pouco de saudade desses dois últimos meses em que enfrentamos uma doença que, a princípio foi assustadora. Foram dois meses de dor, muita dor, de sondas, cirurgia, biópsia, pomadas, drenos e tudo o que a situação nos impôs. A saudade a que me refiro é do acampamento no nosso quarto, com as comidinhas e cafés e chás que rolaram para receber minhas três noras maravilhosas que cobriram o sogro delas de carinho e atenção; do ar assustado dos meninos, nossos filhos, que foram incansáveis em socorrer, animar, atender e fazer o pai rir a ponto de dar dor na cirurgia; da nossa filha grávida que, mesmo cansada comparecia sempre, dormia ao lado do pai, enchia a nossa vida com sua presença poderosa, portadora que é do nosso neto Théo, que já amamos tanto. O mais marcante foi verificar o desespero da Flávia por estar longe e ver que correu, com a ajuda do marido, para ver o pai, chorar no ombro dele e, nos dias seguintes alegrá-lo com mimos e cuidados. Hoje tudo terminou, não há mais sonda, não há mais dreno, não há mais pomada, só alguns remedinhos para manutenção. Jamais esqueceremos os saraus no acampamento, das conversas com os amigos tão dedicados, da alegria de cada ciclo vencido.
Agradecemos a todos por nos acompanharem neste processo e, garantimos, tudo isso nos fortaleceu para que sejamos ainda mais felizes. Segunda feira começa uma nova fase: o Domingos volta para o trabalho, coisa constante na vida dele, mesmo aposentado, pois o intuito dele é contribuir com um trabalho qualificado para servir de exemplo aos que olham pra ele e o admiram.
Queremos agradecer a muitas pessoas, principalmente à preocupação da nossa querida Francine e dizer para ela que sim, o Domingos está bem e vai continuar bem, pois está forte justamente por ter comido em casa, ter comido coisa boa para preservar sua saúde, coisa que serve de exemplo também. Fique tranquila, querida, vamos visitá-la, a você e a seus pais para agradecermos pessoalmente.
Lá em cima falei do meu gigante, o que justifico. O Mingo foi um gigante de dignidade, de paciência, de prontidão para a cura. Um gigante assim não morre nunca.

domingo, 7 de agosto de 2011

Aprendi que o pior não é a notícia da doença, mas o que pode vir junto com ela. Contaminar uma pessoa durante uma biópsia devia ser proibido. Não basta diagnosticar? Não basta invadir? Tinha que ser assim tão horrível? A dor nos deixa paralisados, impotentes. Ver alguém que amamos urrar de dor, por uma coisa que poderia ser evitada dá muita raiva. As consequencias de uma contaminação são dor, adiamento de cirurgia, remédio, troca de remédio, mais dor, sonda para a urina, mais dor, mais remédio. Na semana que vem temos hospital, operação, retirada da próstata e, finalmente, o fim da tortura. Pensei que a retirada da próstata fosse algo traumatizante, mas foi-nos explicado que não. A próstata tem a função de fabricar o líquido que leva o sêmem até a saída, tendo portanto a função estritamente reprodutiva. No caso de sua retirada, o cirurgião, quando habilidoso, preserva dois nervinhos responsáveis pela ereção. Caso isso aconteça, o ato sexual acontece normalmente, com a diferença de que é um ato "limpo", sem ejaculação, mas com a sensação de ejaculação. Os homens que têm pavor de fazer exames para detecção de tumor na próstata, podem morrer por isso. Fazer o exame de sangue para saber o PSA é fácil, assim como é fácil o exame de toque para ver o tamanho dela e a possibilidade de tocar em alguma alteração. Nós estamos felizes por termos apostado na prevenção, o que ocasionou a constatação de que o tumor é inicial e pequeno, não havendo necessidade de radioterapia. Vale muito a pena o cuidado, por que somos uma geração que está vivendo mais e o câncer de próstata parece ser uma epidemia. Agora ficamos sabendo de inúmeros casos, todos bem sucedidos, assim como já presenciamos algumas mortes, aliás já vimos que todos os homens de uma família foram acometidos pelo mal. Se há antecedentes familiares a investigação é mais urgente ainda. Aprendi muito e estou absolutamente confiante de que, após a cirurgia, vamos ter uma vida normal de novo.

domingo, 24 de julho de 2011

Um presente do meu amigo Paulo Carbonari



Apologia da preguiça

O sequestro do nosso tempo pelo trabalho

RESUMO
Em tempos de tecnociência, permanece irrealizada a utopia da libertação do homem pelas máquinas: nunca se trabalhou tanto, e o tempo livre jamais esteve tão fora da pauta. Ora estigmatizado na ordem produtiva, ora exaltado na tradição filosófica, o preguiçoso é hoje o símbolo do tempo livre para o pensamento.

ADAUTO NOVAES

O trabalho deve ser maldito, como ensinam as lendas sobre o paraíso, enquanto a preguiça deve ser o objetivo essencial do homem. Mas foi o inverso que aconteceu. É esta inversão que gostaria de passar a limpo.
Malevitch, "A Preguiça como Verdade Definitiva do Homem"

SABE-SE QUE uma única palavra é suficiente para arruinar reputações e, entre todas, preguiça é uma das mais suspeitas e perigosas. Ao longo dos séculos, foi carregada de significações contraditórias e impressionantes variações.
Dela decorre longo cortejo de acusações bizarras, mas também sabe ser tema de obras de arte, poesia, romance, pinturas, reflexões filosóficas: o preguiçoso é indolente, improdutivo, nostálgico, melancólico, indiferente, distraído, voluptuoso, incompetente, ineficaz, lento, sonolento, silencioso. Preguiça e trabalho guardam um misterioso parentesco, quase simétrico e especular.
Para o preguiçoso, "é preciso ser distraído para viver" (Paul Valéry), afastar-se do mundo sem se perder dele; exatamente por isso, é acusado de não contribuir para o progresso.
Além de praticar crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete pecado capital. Pela lógica do mundo do trabalho e da igreja, ele deve sentir-se culpado, pagar pelo que não faz.
Mais: pensadores como Lafargue, Stevenson, Bertrand Russell, Jerome K. Jerome, Marx e Samuel Johnson apostaram no desenvolvimento técnico como possibilidade de liberação do trabalho. Erraram: na era da tecnociência, nunca se trabalhou tanto e nunca se pensou tão pouco. Assim, o espírito tende a se tornar coisa supérflua.

O QUE FAZER Ao pensar sobre o fazer, o ocioso pode prestar um grande serviço e ajudar a responder à velha questão moral: o que devo fazer? Dependendo da resposta, teremos diferentes definições do que seja o homem, a política, as crenças, o saber, nossa relação com o mundo, e, principalmente, nossa relação com o trabalho. A resposta pode nos dizer não apenas o que fazemos mas também o que o trabalho faz em nós.
Hoje, maravilhosas máquinas "economizam" o trabalho mecânico, mas criam novos problemas: primeiro, uma espécie de intoxicação voluntária, isto é, "mais a máquina nos parece útil, mais ela nos torna incompletos" (Valéry).
A máquina governa quem a devia governar; daí decorre o segundo problema, bem mais complexo: tantas potências auxiliares mecânicas tendem a reduzir "nossas forças de atenção e de capacidade de trabalho mental", o que se relaciona à impaciência, à rapidez e à volatilidade nunca antes vistas.
Assim escreveu Paul Valéry (1871-1945): "Adeus, trabalhos infinitamente lentos, catedrais de 300 anos cuja construção interminável acomodava curiosas variações e enriquecimentos sucessivos... Adeus, perfeições da linguagem, meditações literárias e buscas que tornavam as obras ao mesmo tempo comparáveis a objetos preciosos e a instrumentos de precisão!
[...] Eis-nos no instante, voltados aos efeitos de choque e contraste, quase obrigados a querer apenas o que ilumina uma excitação de acaso. Buscamos e apreciamos apenas o esboço, os rascunhos. A própria noção de acabamento está quase apagada".

MONTAIGNE Valéry retoma uma tradição. Lemos em Montaigne (1533-92) que "a alma que não tem um fim estabelecido perde-se. Porque, como se diz, estar em toda parte é não estar em lugar algum". Aqui, entendemos por alma o "trabalho teórico do espírito", potência de transformação. O que leva a alma (espírito) a se perder é o trabalho desordenado.
Habitar o próprio eu, comenta Bernard Sève, é o projeto de Montaigne: viver em repouso, longe das agitações do mundo, retirar-se da pressa do mundo "para se conquistar, passar do negotium ao otium", do negócio ao ócio.
É isso que podemos ler na inscrição que Montaigne mandou pintar nas paredes da sua torre: "No ano de Cristo de 1571, aos 38 anos, vésperas das calendas de março, dia de aniversário de seu nascimento, depois de exercer longamente serviços na Corte (Parlamento de Bordeaux) e nos negócios públicos [...] Michel de Montaigne consagrou este domicílio, este tranquilo lugar vindo de seus ancestrais, à sua própria liberdade, à sua tranquilidade, ao seu 'loisir' (otium)".
Eis que Montaigne recolhe-se ao ócio reflexivo, com um espírito criativo leve e vagabundo. Como escreve Sève, um Montaigne distante das pressões políticas e das injunções do trabalho burocrático, com o espírito já amadurecido, "construído pela vida, espírito prestes ao fecundo exercício de uma ociosidade inteligente e feliz". Mas interpretemos com cuidado esse afastamento do mundo.
Se a vida teórica aparece mais compensadora, é porque Montaigne não encontrou na vida prática -social e política-, no Parlamento de Bordeaux, aquilo que buscava. À diferença dos comuns, Montaigne não procurava satisfação no reconhecimento social e político. No ócio, preferiu a busca da verdade às coisas da política.
Sua "contemplação" teórica é discursiva, isto é, transforma-se em atos de pensamento e, portanto, em atividade prática. Nascem aí os monumentais "Ensaios".

FOUCAULT A aliança entre capital, igreja e disciplina militar para regular o trabalho tem história. Em um curso de 1973, ainda não publicado, Michel Foucault (1926-84) narra a institucionalização do trabalho através da "fábrica-caserna-convento" no final do século 19. Ele descreve as regras de uma comunidade fechada de até 400 trabalhadores: acordar às 5h, 50 minutos para toalete e café, trabalho nas oficinas das 6h10 às 20h15, com uma hora para as refeições. À noite, jantar, reza e cama às 21h. Só no sul da França, 40 mil operárias trabalhavam nessas condições.
O trabalhador é fixado no aparelho produtivo, no qual "o tempo da vida está submetido ao tempo da produção". Vemos nessa experiência uma mudança essencial que nos interessa porque se torna mais aguda e determinante no trabalho hoje: "da fixação local a um sequestro temporal". Ou melhor, da ideia de controle do espaço no trabalho à ideia de controle do tempo.
O trabalho sequestrou o tempo. Se, no século 19, o controle do tempo era apresentado ao operário como um "aprendizado de qualidades morais" que, na realidade, significava a integração da vida operária ao processo de produção, hoje o controle é aceito com naturalidade, e até mesmo desejado.
O homem se integra voluntariamente "a um tempo que não é mais o da existência, de seus prazeres, de seus desejos e de seu corpo, mas a um tempo que é o da continuidade da produção, do lucro".
A reivindicação de tempo livre tornou-se quase que palavra de ordem subversiva: "Preciso tanto de nada fazer que não me resta tempo para trabalhar", conclama Pierre Reverdy, citado no prefácio ao livro de Denis Grozdanovitch "A Difícil Arte de Quase Nada Fazer".

TRABALHO CEGO A mobilização veloz e incessante do trabalho cego não permite ao homem dizer qual é o seu destino e muito menos o que acontece. Ele não dispõe de tempo para pensar e muito menos tem consciência de que seus gestos, no trabalho, produzem muito mais do que os objetos que fabrica.
Há um excedente invisível, entendendo-se por "excedente" tudo o que não é mensurável, que produz catástrofes através do trabalho "normal e produtivo" e se manifesta na poluição, nos desastres ecológicos, no esquecimento e na desconstrução de si.
Como nos lembra Robert Musil em "O Homem sem Qualidades", foi preciso muita virtude, engenho e trabalho para tornar possíveis as grandes descobertas científicas e técnicas, graças aos sucessos dos "homens de guerra, caçadores e mercadores". Tudo isso fundado na disciplina, no senso de organização e na eficácia do trabalho, o que talvez pudesse ser resumido assim: o trabalho mecânico da produção de mercadorias pretende tomar o mundo de assalto, produzindo agitação social e frenesi econômico e consumista, dada a multiplicação de objetos "não naturais e não necessários".
Já o preguiçoso põe-se na escuta de si e do mundo que o cerca.

PENSAMENTO Talvez o mais danoso de todo esse legado para o espírito humano seja a criação de um mundo vazio de pensamento que o ocioso procura preencher. Guardo uma imagem que o poeta e filósofo Michel Deguy me fez ver à janela de seu apartamento, em Paris: um mendigo que dormia 20 horas por dia na escadaria da igreja Saint-Jacques.
Deguy narra essa experiência em um pequeno ensaio com o título "Do Paradoxo": em imagem semelhante, diz ele, também nas escadarias de uma igreja, "a 'Derelitta' de Botticelli está pelo menos sentada, parecendo meditar. Hoje, ninguém medita, como dizia Valéry na figura de M. Teste. Portanto, o mendigo talvez não esteja errado, uma vez que o fato de estar deitado nada muda [...] E quando lembro que Pascal era o pároco da igreja e cuidava dos abandonados, a comparação me perturba: os 'pobres' não são mais como eram -mas os pensadores também não. Portanto, o 'despertar do pensamento'? Nós, você e eu, não queremos dormir. Mas estamos acordados?"
O trabalho técnico, mecânico e acelerado abole o tempo do pensamento, que exige virtudes atribuídas ao preguiçoso: paciência, lentidão, devaneio, acaso -o imprevisto. Em um texto célebre, Valéry nota: "O futuro não é mais como era". Isto é, não há mais o tempo lento do pensamento, momento em que o tempo não contava. Sabemos que é na vida meditativa e lenta que o homem toma consciência da sua condição.

SERES OCULTOS Ora, como escreveu ainda Valéry, o amanhã é uma potência oculta, e o homem age muitas vezes sem o objeto visível de sua ação, como se outro mundo estivesse presente, "como se ele obedecesse a ações de coisas invisíveis ou de seres ocultos".
Essa poderia ser uma boa definição do ocioso. Coisas invisíveis e seres ocultos participando do mundo do devaneio e do pensamento. Mundo do trabalho do espírito, em contraposição ao trabalho mecânico.
As ideias e os valores, lembra-nos Maurice Merleau-Ponty (1908-61), não faltam a quem soube, na sua vida meditativa, liberar a fonte espontânea, não deliberadamente, em direção a fins predeterminados por cálculos técnicos e produtivos. Todo trabalho finito e alienado é pura perda.
Através de uma admirável reversão, o meditativo transforma a desrazão do mundo do trabalho alienado em fonte de razão. Isso porque o trabalho meditativo do ocioso é um trabalho sem finalidade, sem "telos", um trabalho sem fim. O trabalho meditante do ocioso exige muito mais trabalho do que o trabalho mecânico. O trabalho da obra de arte e da obra de pensamento pede um tempo que não pode ser medido pelo relógio.

PREGUIÇOSO Como se pode, então, pensar essa figura que sempre teve péssima reputação? Talvez uma boa definição seja a de um autor inglês, Jerome K. Jerome (1859-1927), em seu livro "Pensamentos Preguiçosos de um Preguiçoso" (1886): "O que melhor caracteriza um verdadeiro preguiçoso é o fato de ele estar sempre intensamente ocupado. De início, é impossível apreciar a preguiça se não há uma massa de trabalho diante de si. Não é nada interessante nada fazer quando não se tem nada a fazer! [...] Perder seu tempo é uma verdadeira ocupação, e uma das mais fatigantes. A preguiça, como um beijo, para ser agradável, deve ser roubada".
Jerome K. Jerome leva-nos a pensar que a preguiça não é coisa passiva. Perder o tempo mecânico dá trabalho e exige enorme atividade do espírito.
O egípcio Albert Cossery é apresentado pela revista francesa "Magazine Littéraire" como o escritor contemporâneo que celebra a preguiça como uma arma de subversão política e como um modo de resistir à impostura das potências. Para Cossery, o exercício da preguiça tem o valor da arte de viver. Mas ele distingue dois tipos de preguiçosos: os idiotas e os reflexivos.
"Um idiota preguiçoso permanece idiota!", escreve. "E um preguiçoso inteligente é quem reflete sobre o mundo no qual vive. Mais você é ocioso, mais tempo você tem tempo para refletir... Esses são os valores da preguiça, que supõe, pois, dupla recusa: nosso mundo imediato e a triste realidade."
Mas o mais radical dos libelos contra o trabalho alienado continua a ser o pequeno ensaio de Paul Lafargue (1842-1911), "O Direito à Preguiça" (1880). "Trabalhem, trabalhem, proletários, para aumentar a fortuna social e suas misérias individuais; trabalhem, trabalhem, para que, tornados mais pobres, tenham mais razões ainda para trabalhar e tornarem-se miseráveis. Essa é a lei inexorável da produção capitalista".
Para Lafargue, o trabalho é invenção relativamente recente, uma vez que os antigos gregos desprezavam o trabalho e deliciavam-se com os "exercícios corporais" e os "jogos de inteligência". Ele critica a moral cristã ao proclamar o "ganharás o pão com o suor do rosto" e ao lembrar que Jeová, "depois de seis dias de trabalho, repousou por toda a eternidade".
Robert Louis Stevenson (1850-94), na "Apologia dos Ociosos" (1877), mostra que o ócio "não consiste em nada fazer, mas em fazer muitas coisas que escapem aos dogmas da classe dominante".

MELANCOLIA A tradição relaciona a melancolia e o devaneio à preguiça. Nisso, mais uma vez, igreja e capital estão juntos. O trabalho é o grande meio que a igreja encontrou para lutar contra a melancolia e a vertigem do tempo livre. Seu lema sempre foi "Rezai e trabalhai", ou seja, só abandonar a oração quando as mãos estiverem ocupadas.
Lemos em um ensaio de Jean Starobinski sobre a melancolia -"A Erupção do Diabo-" que o trabalho tem por efeito ocupar inteiramente o tempo que não pode ser dado à oração e aos atos de devoção: "Sua função", escreve ele, "consiste em fechar as brechas por onde o demônio poderia entrar, por onde também o pensamento preguiçoso poderia escapar". Assim, o trabalho interrompe o "vertiginoso diálogo da consciência com seu próprio vazio".
A crítica que Jean-Jacques Rousseau (1712-78) faz ao trabalho não é diferente. Na sétima caminhada dos "Devaneios de um Caminhante Solitário" (1782), ele busca a solidão, mas procura trabalhar tudo o que o cerca, escolhendo o mais agradável. Não escolhe os minerais porque, escondidos no fundo da terra "para não tentar a cupidez", exigem indústria, trabalho, pena e exploração dos miseráveis nas minas.
As plantas não. A botânica é o estudo de um "ocioso e preguiçoso solitário": "Ele passeia, erra livremente de um objeto a outro, passa em revista cada flor... Há, nesta ociosa ocupação, um charme que só se sente na plena calma das paixões, o que basta para tornar a vida feliz e tranquila. Mas, quando se mistura aí um motivo de interesse ou vaidade, seja para ocupar espaços, seja para escrever livros, ou quando se quer aprender apenas para se instruir ou pesquisar as plantas apenas para se tornar professor, todo o charme da tranquilidade se desfaz; [...] no lugar de observar os vegetais na natureza, ocupa-se apenas com sistemas e métodos".
O que importa hoje, talvez, é propor a luta do progresso contra o progresso; isto é, a valorização do progresso do espírito, a valorização dos valores contra o progresso técnico, esta "ilusão que nos cega". Eleger a quietude, o silêncio e a paciência para conhecer e aprofundar indefinidamente as coisas dadas.
Eis o ócio que Karl Kraus (1874-1936) nos propõe: "Se o lugar aonde quero chegar só puder ser alcançado subindo uma escada, eu me recusarei a fazê-lo. Porque lá aonde eu quero realmente ir, na realidade já devo estar nele. Aquilo que devo alcançar servindo-me de uma escada não me interessa".

"O que importa hoje, talvez, é propor a luta do progresso contra o progresso; isto é, a valorização do progresso do espírito, a valorização dos valores"

"Além de praticar crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete pecado capital. Pela lógica do mundo do trabalho e da igreja, deve sentir-se culpado"

"O trabalho meditativo do ocioso é sem finalidade, sem "telos", um trabalho sem fim; exige muito mais trabalho do que o trabalho mecânico"

"O trabalhador é fixado no aparelho produtivo, no qual "o tempo da vida está submetido ao tempo da produção". O trabalho sequestrou o tempo"


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il2407201105.htm

sábado, 16 de julho de 2011

Descobertas

Descobri que posso me desinteressar por pessoas que não me fazem bem, ficar neutra, sem sofrer. Acho que a gente deve fazer o máximo de esforço para harmonizar as relações, mas há algumas que não têm restauração possível. É bem aquilo que sempre se diz sobre o vaso trincado, fica uma marca desagradável e deve-se escondê-lo o mais depressa possível, pois cada vez que se olha pra ele, as lembranças do que foi, voltam. O melhor é continuar cuidando dos outros vasos que temos e, na medida em que vamos vivendo, adquirir outros, às vezes tão ou mais bonitos do que o trincado. Acho também que há relações que se esgotam por haver esforço por manutenção de um lado só. Havendo resistência, é sinal de que não há possibilidades. O importante é cuidar da própria saúde mental, pois só temos chance de felicidade se cuidarmos dela com carinho. Eu estou pacificada por ter encontrado dentro de mim um equilíbrio que eu pensava perdido, mas, pensando bem, não poderia ter sido diferente do que foi. Não culpo mais ninguém, por que a culpa é toda minha por haver assumido coisas além das minhas forças. Também não me arrependo muito, só um pouquinho, por ter permitido que me perturbassem. Sei do meu potencial, sei da minha reputação, sei também o que se diz e o que se pensa dos que tentaram me desestabilizar. Tenho que ouvir também a voz da razão e não só a voz da emoção. Tenho que aprender definitivamente que, assim como fui forte até agora, continuarei sendo, continuarei contando com quem vale a pena, com quem me ama de verdade. Ser rico interiormente não é para todos, por isso tenho que entender que pobreza de espírito é inato, é congênito e é uma anomalia sem remédio.

sábado, 2 de julho de 2011

Como é conviver com um diagnóstico assustador

Fala-se muito em medos, dos quais o medo da morte figura soberano. Acho que aquelas fobiazinhas bobas do tipo de altura, de ambientes fechados, de falar em público não chegam perto do grande medo da morte. Pra mim, o medo de perder meus amores é o pior de todos, superando o de agonizar, de ter falta de ar, de ficar anos na cama dependendo dos outros. Tenho pavor de passar pela experiência de perder alguém da minha família. Sempre pensei que não conseguiria reagir a um diagnóstico assustador, mas enganei-me. Consegui ultrapassar as primeiras horas tendo em mente palavras como: tumorzinho, inicial, contornável, cirurgia, possibilidade de radioterapia e lá vai um palavrório que enfrentei de forma inesperada. Tive a nítida sensação de que era vital que eu encarasse o fato de cabeça erguida, que acreditasse nas palavras animadoras do médico e que soubesse distribuir a informação aos outros de forma adequada. Usar a inteligência nesse momento, para que todos ficassem tranquilos foi a solução para o primeiro susto. Em seguida vem a capacidade de administrar os procedimentos práticos que envolvem a situação, e, em meio a tudo isso, amar desmedidamente. Acho que nunca vi tanta necessidade de envolver os meus queridos com o meu amor, com a minha coragem, com o meu carinho. Tive que aprender a deixar de lado algumas coisas para exercer minha função que sempre tive como primordial, que é a de cuidar das pessoas. Meus medos se apequenaram frente à realidade do fato de que somos vulneráveis. Não há situação que revele nossa humanidade como em momentos em que vemos a real possibilidade de finitude. A filosofia contemporânea é farta em pensamentos relacionados à finitude, ao drama de nos vermos passíveis de morrer e não sobrar nada. Estou aqui, em pé, com coragem e sei que darei conta de tudo o que tiver que ser. Chegaremos ao final do ano com um netinho lindo, com os fantasmas daquelas palavras do médico afastadas e seguindo a vida com a dignidade de termos encarado um desafio que nos deixou melhores como seres humanos.

domingo, 12 de junho de 2011

Isto é esperança...

Aprendemos muito com os amigos. Quem prescinde desse aprendizado é um solitário, ou quer ficar encimesmado no que já sabe, sem ver que devido à diversidade, somos aprendizes uns dos outros. Discutir idéias é algo muito saudável.

Conversei com um amigo que falou uma frase consagrada e conseguiu dar-lhe um tom capaz de fazê-la fugir do lugar comum: - Hoje percebi que “um novo mundo é possível”, e passou a contar-me duas experiências marcantes, as quais vou tentar contar aqui. Estávamos teclando, mas, mesmo assim, foi como se eu o visse engasgado de emoção ao relatar a criação de uma cooperativa composta só de surdos, uma serigrafia. Ele contou-me de forma comovida que ele não é pessoa de se emocionar, mas que esse evento amoleceu seu coração.

A outra experiência diz respeito a uma reunião de que participou do projeto Justiça Comunitária de Passo Fundo, que busca a paz e a cidadania, que visa a democratização do acesso à justiça, por meio da mobilização e capacitação de agentes comunitários, preparados para a gestão de conflitos. O projeto está vinculado ao PRONASCI (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), que está sendo implementado e executado em uma parceria entre a Prefeitura Municipal e a Faculdade de Direito da Faculdade Meridional – IMED.

O relato do meu amigo, entre outras coisas, fez com que eu revisse os candidatos a agentes comunitários que conheci lá no Bairro Zácchia e lá no Bairro Valinhos. Assim como a ele, impressionou-me a simplicidade, a inteligência e o profundo sentimento de compaixão que os move. Pude rever, como num filme, a minha amiga professora Rejane da Escola Municipal do Bairro Zácchia, uma locomotiva que arrasta junto consigo um mundo de gente boa, honesta, solidária e transforma-os em colaboradores do “novo mundo possível”. Vi também minha amiga Claudia Furlanetto e seus amigos surdos, tomando iniciativas e ajudando pessoas para a vida.

Compreendi por que o meu amigo estava impressionado, pois muitas vezes já me senti assim, cheia de esperança, cheia de fé, cheia de entusiasmo, vendo tanta coisa sendo feita e que passa desapercebida por parte da maioria das pessoas.

Entristece-me a fala tão comum de que nenhum político presta, de que não se faz nada pelo povo, de que estamos abandonados à própria sorte. As ações de prevenção de violência que temos em nossa cidade são muito consistentes. Podemos começar com as muitas ações na sócio educação em favor dos adolescentes em conflito com a Lei. Temos trabalhos neste sentido desenvolvidos pelo CEDEDICA, pela Leão XIII, pelos Voluntários Sociais. Nas medidas protetivas podemos citar o Fórum Permanente Por Um Ambiente de Paz na Família e na Escola, um projeto desenvolvido há anos por muitas entidades e voluntários. Temos o PROMAD, o GIEP, a Escola de Pais do Brasil, a AVOCE – Associação de Voluntários Cidadãos Entusiastas, assim como muitas outras entidades e órgãos públicos imbuídos em promover o bem estar e a pacificação das pessoas.

Quero dizer ao meu querido amigo que ele não está sozinho no seu sentimento de esperança, de otimismo e de alegria pela competência do nosso povo em organizar-se e trabalhar olhando para o mundo todo, mas agindo no único lugar onde temos como fazer a diferença: aqui e agora!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

QUINTA-FEIRA, 21 DE ABRIL DE 2011

Cada criança tem seu monstro da guarda



por Mário Corso
A conexão é inegável: infância e monstros andam juntos. Basta lembrar das letras das cantigas de ninar, ou olhar para os brinquedos, assistir a um pouco de TV, ler algumas histórias infantis. Lá estarão eles com suas caras feias e sua pele escamosa, rugindo, vomitando fogo ou raios cósmicos. É de pequeno que se conhece o medo, mas ele não ocorre por obra de adultos malvados que assustam as crianças para se prevalecer: os monstros aparecem ao chamado delas. A questão é discernir quando eles vêm para ajudá-las das vezes em que o susto é fonte de sofrimento.
Nosso primeiro impulso seria deixar essas coisas feias de fora da vida infantil, mas se eles estão aí há tanto tempo e são tão populares, devemos nos perguntar por sua função. Os monstros das canções de ninar, a Cuca por exemplo, catalisam a angústia difusa da criança, permitindo a transição da vigília para o sono. Pode parecer ruim, mas é melhor sentir medo de alguma coisa específica, que tem até nome, do que angústia. O medo é algo que se pode controlar, sabemos onde está, já a angústia não tem contornos, está em toda parte e ninguém pode nos ajudar. Seria muito pior ficar olhando a escuridão sem poder supor o que ela esconde, sabe por quê? Porque no escuro ou ao adormecer os pequenos (e às vezes os grandes) perdem-se de seus contornos pessoais, sentem-se diluídos, inexistentes, dá vertigem, medo de morrer. Se o monstro está embaixo da cama, ou é nomeado pela cantiga de ninar, então a mãe, esse ser gigantesco e poderoso, que faz dos bebês o que quer, não é a encarnação do monstro. Paradoxalmente, nesse momento o monstro ajuda a criança a acalmar-se para adormecer.
Mas os medos são mais do que isso. Existe um “núcleo fóbico” (aquelas coisas que na vida a gente foi escolhendo para temer) em todos nós. Por exemplo, vocês conhecem alguma mulher que não tenha medo de baratas? Por que esse “terrível” ortóptero que não morde nem tem veneno põe tantas a correr com sua simples presença? O filme Batman begins, que está em cartaz, serve para demonstrar o papel do medo em nossas vidas. Bruce Wayne, o Batman na vida comum, transforma sua fobia infantil de morcegos na fonte da sua força, e por isso o morcego é o símbolo de sua identidade secreta. Todos esses exemplos demonstram que sentir medo e imaginar uma cara para ele tem mais utilidades que o cinto do homem morcego. Aliás, outro filme, Monstros S.A., ilustrou bem essa relação estável e de comunhão de bens entre as crianças e suas criaturas assustadoras.
Um dia, todos descobrimos que nosso pai não é tão poderoso como gostaríamos que fosse para nos proteger do mundo e até da mãe (outra poderosa). É nesses momentos que imaginamos monstros e super-heróis que vêm, pelo menos na fantasia, regular um mundo carente de autoridades e limites. Os monstros podem ser muito feios, mas acreditem, suas intenções são das melhores, usamo-los para elaborar nosso desamparo.
O problema não são os monstros, e sim pais que, por várias razões, não têm autoridade com os filhos e resolvem terceirizar a face malvada da função que deveriam estar exercendo. Chamam então o monstro, ou uma figura de autoridade de fora da dupla paterna, para fazer o trabalho que consideram sujo. A mensagem passada é: “Não sou eu que quer que você se comporte, é outro, eu mesmo não me importo com o que fazes ou deixas de fazer”. Na verdade, o que realmente assusta uma criança é todo tipo de abandono, é o adulto fraco, distraído ou preguiçoso demais para se ocupar dela. Quando as coisas chegam a esse ponto, algo não vai bem. Com os monstros a gente brinca, com a solidão a gente sofre.

Texto publicado em: ZERO HORA. Porto Alegre: Zero Hora, ano 41, 18 jul. 2005. Meu filho. p.3

domingo, 22 de maio de 2011

Não seria normal uma família portar-se sempre igual, não haver percalços, não haver sobressaltos. Pois a minha também é assim. Nos últimos tempos temos vivido muitas novidades e novidades lindas, como casamento de uma filha e gravidez de outra, formatura de filho, consolidação de carreiras, descobertas íntimas bem promissoras. Por outro lado, enfrentamos crise em emprego, falta de pagamento de salário, mas isso não abala nossa forma de viver que é simples, dizem alguns, simples demais. O difícil é conseguir absorver a velocidade com que as coisas acontecem hoje em dia. Quando nos damos conta, temos alguém mudando-se subitamente para muito longe, começando de novo algo que eu pensava estar estabelecido e sólido. Jamais imaginei que as coisas acontecessem tão rápido e que num piscar de olhos aparecesse um emprego tão maravilhoso e esperado, capaz de arrancar raízes inexoravelmente e levar duas criaturas embora, felizes da vida. Ficamos nós aqui, comemorando a conquista, aguardando com ansiedade cada email, cada telefonema, cada recadinho, cada espiada através da rede e, felicidade das felicidades, cada visita. Sinto pena dos que vão e perdem o crescimento da sobrinha tão amada e do sobrinho que ainda não nasceu, mas fico feliz por poder ter tanto orgulho das conquistas que animam a vida dos nossos filhos, filhas, genros e noras. O Mingo e eu temos a função de manter um cantinho quente e aconchegante para cada um que quiser reabastecer suas baterias humanas e isso nós fazemos bem. Acho!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Você não pode tocar em mim.”

Visitei uma escola ontem onde presenciei algo que me chocou. Uma professora foi torturada durante três períodos de aula, por uma aluna munida de uma câmara fotográfica. A provocação de que a professora foi alvo, remeteu-me imediatamente ao caso do professor acusado de agredir uma aluna, nesta semana.

O relato pungente do professor em uma entrevista deu-nos conta de que também foi provocado à exaustão, até tomar a atitude de conter – uma atitude normal – à pessoa que perturbava sem parar.

Questionei a direção da escola sobre que atitude deveria ser tomada para restabelecer a autoridade, o que rendeu uns belos minutos de ponderações e, principalmente, de queixas.

Uma discussão dessas fatalmente vai parar no Estatuto da Criança e do Adolescente, o que me causa estranhamento, por entender que a Lei ainda não foi bem entendida em sua dimensão filosófica. Ainda se pensa que os adultos estão à mercê da sanha de crianças, pois ficam sem as mínimas condições de exercerem autoridade.

Lembro-me sempre dos pais com quem convivo nos trabalhos voluntários, sedentos de entender o fenômeno de ver as crianças serem consideradas cidadãs. Ouvi muitos pais assustados, até mesmo revoltados, falando a seus filhos que o Estado havia-lhes usurpado os mecanismos para educá-los e que daí pra frente os filhos é que mandariam em casa. Essa concepção percebi também por parte de professores, a ponto de se tornar senso comum.

É evidente que a aluna da escola que visitei estava copiando o que havia visto na mídia. É evidente que as atitudes dela podem ser caracterizadas como abuso moral contra sua professora. É evidente que a professora estava sendo premeditadamente torturada. O que ela dizia, ilustra o senso comum: “Você não pode tocar em mim!”

Nós adultos somos capazes de reconhecer quando uma criança está fazendo birra, quando está com muita raiva, quando está fora de si, quando está fora de controle. Todos nós temos obrigação de conter atitudes violentas. Segurar uma criança não é uma atitude violenta, mas está prevenindo outras atitudes violentas. Será que isso caiu em desuso e ficamos inertes diante de alguém que foi ensinado que está com todos os poderes e pode aprontar o que quiser?

Devemos crer que os Conselheiros Tutelares, que os Promotores, que os Juízes, que os gestores tenham cérebro, que tenham inteligência suficiente para discernir entre o que é violência e o que é uma atitude amorosa de contenção de atitudes aberrantes. Bullying – palavra moderna – não acontece só entre iguais e foi isso que aconteceu com os dois professores. Sempre que algo se encaminha para a violência, para a falta de respeito, parta de quem partir, deve ser contido, parado na hora.

Solidarizo-me com os professores e com as professoras, também com os meninos e meninas que, equivocados, tomam atitudes erradamente aprendidas.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Texto publicado na Revista Somando da Rádio Planalto

Família, promotora de desenvolvimento:
Estamos acostumados com índices que aferem o desenvolvimento. O PIB (Produto Interno Bruto) pode ser comparado ao PNB (Produto Nacional Bruto) o que dá uma visão acerca das riquezas e do prestígio que algumas nações têm em comparação a outras. O prêmio Nobel Samuelsen criou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), capaz de medir se está sendo realizada a Justiça Social. Percebe-se que, de tão preocupados com o PIB e o PNB, subestima-se o IDH, um índice que só será satisfatório se cuidarmos devidamente das famílias.
Segundo Maturana, o futuro da humanidade não são as crianças, mas os adultos que cuidam das crianças. Portanto, não cuidar dos pais significa colocar em risco nossa condição humana.
Sabendo da importância de capacitar os pais para que cuidem do desenvolvimento sadio de seus filhos é que nasceu a Escola de Pais do Brasil, em 1963. Ela começou em São Paulo, por um grupo de voluntários – forma de atuação ainda em vigor – que perceberam a aceleração das mudanças em curso em todos os níveis, o que provocava uma grave deterioração nas relações familiares.
A Escola de Pais do Brasil tem caráter preventivo, pois reforça a família, conscientiza sobre paternidade e maternidade responsáveis, prepara para um mundo em constante mudança e transmite conhecimentos básicos de psicopedagogia e de técnicas educativas que ajudam a reformular conceitos e melhoram a convivência entre pais e filhos. Ela faz isso de forma sistemática, com uma metodologia que privilegia o debate, permitindo que os pais encontrem soluções criativas e inteligentes para a sua família, que não é igual a nenhuma outra. Para tanto, contamos com um temário que é desenvolvido por um período de 10 semanas, uma vez por semana, por uma hora e meia. Desenvolvemos em nossos ciclos de debates os seguintes assuntos: 1) Educação no Mundo Atual; 2) Amor e Segurança – alicerces para um desenvolvimento sadio; 3) Mãe, Esposa e Mulher – sua atualidade; 4) O Pai e o exercício da paternidade; 5) A maturidade dos pais na vivência familiar; 6) Ação Educativa na infância, meninice e pré-adolescência; 7) Dificuldades para se educar; 8) Ação Educativa na Adolescência; 9) Sexualidade Humana; e, 10) Como marco o mundo com a minha presença.
Atuamos principalmente em escolas, mas também podemos atender outras instituições onde haja pais e responsáveis por crianças e adolescentes.
Ao longo desses anos de trabalho com as famílias, percebemos que a confusão e a falta de parâmetros seguros para o cuidado com as crianças e adolescentes não se constituem privilégio de nenhuma classe em especial, mas é uma insegurança generalizada, fazendo com que muitas famílias, impotentes, terceirizassem a educação dos filhos. A maior queixa dos professores, tanto nas escolas públicas quanto nas escolas privadas, é a de que muitos pais desistiram de educar seus filhos e tentam passar para a escola esta atribuição, que, sabe-se, é intransferível. Percebemos também que os pais acolhidos em um ciclo de debates de Escola de Pais, quando ouvidos com atenção e respeito, quando contam com a empatia de outros pais, desaprendem métodos educativos inadequados para se apropriarem de outros, adequados àquelas crianças que são suas e que devem ser amadas e respeitadas, tomando para si o que compreendem ser a tarefa mais importante de suas vidas. Percebemos, pelo relato dos professores, que pais bem cuidados em suas necessidades de diálogo e troca de idéias, têm filhos que percebem o outro em suas relações, aprendem melhor e são mais felizes.
Sueli e Domingos Frosi - Delegados Regionais da Escola de Pais do Brasil seccional de Passo Fundo, RS

quarta-feira, 27 de abril de 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

Casamento

Flávia e Paulo casaram-se de forma informal, porém da forma mais linda que alguém poderia se casar. Foi uma festa de amor e significado. Houve dois momentos mágicos e solenes: o momento oriental deu-se com a Cerimônia do Chá, quando a Flávia serviu chá aos dois pais e Paulo serviu-o às duas mães. O momento ocidental teve como mestre de cerimônias Paulo Coelho - não aquele dos livros - mas um amigo muito querido dos noivos, onde não faltaram músicas maravilhosas e citações de Nietzsche. Coube-me a fala que reproduzo:
"É com muito carinho que agradecemos a presença de tantas pessoas amigas, que a partir de hoje, tornam-se testemunhas do casamento da Flávia e do Paulo.
Saudamos também, com especial reverência aos pais do Paulo, Ling e Ana que, vindos de Taiwan, cobrem nossa filha de carinho e atenção e recebem-na em sua família como a uma filha.
Saudamos aos noivos Flávia e Paulo, protagonistas deste ato de amor e compromisso.
Ao ser incumbida da difícil tarefa de falar em ocasião tão importante, pus-me a procurar inspiração principalmente dentro de mim, mas, valho-me de Cecília Meirelles que diz:
O Amor
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e que querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois, e nunca desistir da busca de ser feliz, é para poucos!!
Desde nosso primeiro contato com o Paulo, percebemos que algo muito forte estava acontecendo ali, na relação com a Flávia.
Tratava-se do nascimento de uma história entre duas pessoas que eu gostaria de comparar a duas árvores perenes - o carvalho e o cipreste, tal a força das duas personalidades incomuns que haviam se encontrado.
A nossa filha Flávia, desde pequena, mostrou-nos o paradoxo da aparência suave e frágil e a tenacidade de alguém capaz de prender a respiração para protestar, alguém que gaguejou até quando quis e falou uma linguagem ininteligível até o primeiro dia de aula.
Em meio a uma família grande, ela se fez notar pela doçura e pela inteligência; pelo carinho com todos e pela bravura com que defendia suas idéias; pela delicadeza com que se preparava para o futuro e pela tenacidade de luta em busca do que acreditava ser importante.
Pois essa mulher tão linda, tão aparentemente frágil, tem como marca pessoal a busca pela liberdade. Ela encontrou no Paulo um companheiro tão absurdamente parecido que a figura do cipreste e do carvalho, árvores fortes e perenes, aplica-se perfeitamente. Vejam o que diz Gibran: "... o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro."
O compromisso de um casamento baseia-se no fato de que duas pessoas passam a viver uma intimidade indevassável, passam a viver momentos únicos, jamais compartilhados com outras pessoas e passam a fazer tudo, para que sua relação dê certo.
O Domingos e eu não temos nada de material para oferecer-te Paulo, mas oferecemos o que de mais caro temos, a nossa família.
Queremos oferecer o respeito e o carinho do Ricardo, da Vanusa e da nossa linda Cecília; da Eliza e do Iuri e o menininho que estão esperando; do Cássio e da Angélica que um dia nos darão netos também e do Bruno e da Rocheli, que mantém uma linda história juntos.
O Domingos e eu estamos aqui, assumindo o compromisso de respeitar a liberdade desse lindo casal, de sermos refúgio de carinho e amor, sempre que formos procurados.
Nós amamos vocês!"

terça-feira, 5 de abril de 2011

Bairro Valinhos - Escola Sebastião Rocha


Meu marido e eu temos formação em Contabilidade. Fomos colegas de Sebastião Rocha na primeira turma de Ciências Contábeis da UPF e fizemos o último vestibular oral e escrito. Lembro bem do terror que era enfrentar uma banca, onde ficavam sentados vários professores das diversas áreas, esperando por nós vestibulandos e fazendo perguntas do tipo: Fale sobre... Não tivemos chance de chutar absolutamente nada, já que não havia múltipla escolha, nem perguntas objetivas. Tivemos que dissertar sobre história, geografia, fazer redação, interpretação de texto, calcular à frente dos professores e muito mais. Lembro-me da alegria em sermos aprovados, nas passeatas que fazíamos pelas ruas da cidade, no paparico que recebíamos em casa. Nos primeiros dias de aula conhecemos o Sr. Sebastião Rocha, casado e com filhos adultos, uma personalidade marcante, extremamente gentil e que nos conquistou a todos. Ficamos amigos daquele senhor sorridente, cavalheiresco e inteligente além do que poderíamos mensurar à época. Lembro bem das vezes em que frequentou a nossa casa - casei com um dos colegas - para estudar, fato que nos alegrava sobremaneira e nos enriquecia como pessoas. Ficamos também amigos da família, fizemos festas em sua casa o que nos permitiu conhecer a Neusa, hoje figura proeminente na UPF. Era uma menina linda, simpática, que gostava de seus animais de estimação, com quem convivíamos sempre que fomos convidados à sua casa. A esposa do nosso colega Sebastição era uma pessoa doce, corajosa, inteligente e, como traço forte, destemida. Gostamos de conhecer a escola que leva o nome do nosso amigo. Gostamos que a escola seja sede, pelo menos, num primeiro momento, do projeto Justiça Comunitária, do Pronasci. Sei que gostaremos da comunidade, por que, não é possível que um nome como o do nosso amigo, deixe de exercer influência positiva para toda uma comunidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Justiça Comunitária - Compre essa idéia!

Esta chamada é a cara do meu amigo Dr. Mauro Gaglietti, que novamente encabeça uma causa que me comove, me mobiliza e me faz acreditar que um novo mundo é possível (gosto disso, mesmo sendo um lugar comum). Participei esta semana da assinatura do convênio entre a Prefeitura Municipal e a IMED, instituição que venceu a licitação para a execução do programa do Pronasci de Justiça Comunitária. A mediação de conflitos é a saída para as demandas de uma comunidade, ao mesmo tempo que capacita pessoas para atuarem como interlocutoras e ouvidoras das dores e das angústias de uma comunidade. Temos uma demanda insolúvel em meu bairro, que é o excesso de barulho causado por música muito alta e latidos de cachorros, fatos que comprometem nossa qualidade de vida. Caso houvesse um núcleo de mediação de conflitos em meu bairro, poderíamos sentar e conversar, meus vizinhos e eu, a fim de encontrarmos uma solução para o que tanto me incomoda. São pequenos conflitos e revezes que comprometem nossa convivência pacífica, tornando nossa vida menos agradável. Na cerimônia de assinatura do convênio, realizada no Bairro Zácchia, pude perceber o envolvimento de tantos voluntários, de tantas instituições, de tantas autoridades envolvidas com a causa da pacificação e da cidadania. De mais significativo, posso ressaltar a presença de um bebê, ora no colo da madrinha, ora no colo do papai e que, à minha tentativa de aproximação, foi tão carinhoso, tão amável que, encostando-se a mim, pude perceber o som de um beijinho. Fiquei parada, pensando em como o carinho dos pais, dos dindos, das pessoas próximas, produzem alguém tão doce e tão próximo da nossa humanidade. Depreendi que, é disso que a humanidade precisa, para que não chegue a vivenciar manifestações violentas que costumamos testemunhar. Quero ressaltar em tempo, que o bebê é afilhado de grandes amigos, grandes pessoas e é filho de pessoas extremamente sensíveis, ou não estariam lá, na solenidade. São fatos como estes que me fazem otimista e esperançosa de que estamos vivendo, plenamente, o futuro que tanto anunciaram para nós, povo brasileiro. Nosso futuro é o nosso presente, gente!

terça-feira, 15 de março de 2011

Estamos esperando um menino.

Acabei de conversar com meu genro e ele não parava de rir de tão feliz. Ontem, conversei com minha filha, ainda sob impacto, por ter visto que estava grávida de um menino, felicíssima também. Creio que a reação seria a mesma fosse uma menina, embora sejamos sensíveis a algumas coisas que diferenciam-se no quesito gênero. Ao visualizarmos uma menina, vem-nos a imagem da ternura, da delicadeza, de vestidinhos, de babadinhos. No caso de meninos logo pensamos em parceria para futebol, para competições, para um certo atrevimento frente à vida. O que conheço de meninos e meninas, sendo mãe de três meninos e duas meninas, é exatamente o oposto. Usei babadinhos e vestidinhos muito pouco, dado à rebeldia das meninas que sabiam muito bem o que queriam e não se curvaram ao que eu gostava, mas conseguiram impor seus gostos, amores e cores. Foram super parceiras do pai, torceram pelo inter como ele e foram absolutamente moleques quando pequenas. Quanto aos meninos, a ternura e a delicadeza no trato com as pessoas sempre foram a tônica de comportamento. Vi neles, logo que começaram a manifestar sua índole, que eu tratava de criar cavalheiros sensíveis. Acho que fomos bem sucedidos em nosso afã de criar verdadeiros cidadãos, na medida em que percebemos o respeito com que tratam de tudo e de todos, todos eles. Creio que não temos que seguir esteriótipos e, no caso meu neto, só espero que seja uma pessoa muito legal, assim como a Cecília já está mostrando ser. Sou uma avó feliz, uma mãe feliz, uma esposa feliz e uma cidadã feliz.

sábado, 12 de março de 2011

Para que escrever?

Há pessoas para as quais uma folha em branco é uma tortura, para outras, é um desafio e para outras ainda, um prazer indescritível.

Shoppenhauer em seu livro A Arte de Escrever fala-nos a respeito de emitirmos nossas próprias idéias, abstendo-nos de só nos apropriarmos das idéias dos outros. Isso dá muito o que pensar em tempos de Google, em tempos em que o conhecimento está logo ali, ao alcance por um clique.

Em conversas com professores ouvimos as queixas de que os alunos copiam, sendo que alguns desses professores lançam mão do recurso de não receber trabalhos digitados, mas escritos à mão, garantindo assim que, ao invés do CTRLc e CTRL v, eles ao menos leiam e escrevam o conteúdo do trabalho.

Mesmo reconhecendo o avanço que a internet nos proporciona, sabemos também, que ler e escrever são ferramentas que nos levam adiante com muito mais qualidade, com capacidade de criar, de ter senso crítico, de ter idéias próprias, a ponto de conseguirmos nos comunicar com o mundo de forma a alimentar com nossa produção esse mundo virtual. O contrário certamente é uma distorção. É claro que devemos lançar mão de sites para usá-los das mais diversas formas e para os mais diversos motivos. O que não podemos fazer é esquecermos que somos pessoas únicas, com idéias inconfundivelmente nossas e é isso que torna tudo tão rico. A subjetividade não pode ser ofuscada, ou melhor, anulada com a cópia, com o plágio.

Foi pensando nessas coisas e em muitas outras, que a Academia Passo-Fundense de Letras, lança pela quarta vez, um concurso literário dirigido aos estudantes do ensino médio de todas as escolas da nossa cidade. Trata-se do Concurso Literário RACHEL DE QUEIROZ: A GRANDE DAMA BRASILEIRA DAS LETRAS, que tem por objetivo despertar nos jovens estudantes o prazer pela leitura e o culto à memória dos escritores brasileiros culminando na produção de diferentes gêneros literários, assim como, visa incentivar o fortalecimento e a expansão da cultura. A Academia, assim, cumpre sua função social e comunitária.

As escolas de ensino médio receberão o projeto e o regulamento nos próximos dias, para que possam preparar com qualidade seus estudantes para a participação neste importante concurso. A premiação dos trabalhos de maior destaque será um livro produzido a partir de suas contribuições, lançado na Academia, na Jornada Nacional de Literatura e na Feira do Livro, quando terão oportunidade de autografá-lo e apresentá-lo às suas famílias, aos amigos e à comunidade passo-fundense.

Esperamos receber muitas contribuições inéditas, criativas, bonitas, para que possamos proporcionar à nossa sociedade mais uma obra, dessa vez, produzida por jovens, que figurará com destaque em nossas bibliotecas. Queremos ver alegria e orgulho genuínos, não só por parte dos autores, mas da nossa parte também, que acreditamos que podemos contar com o apoio de todas as pessoas apaixonadas por literatura.


Publicado em Diário da Manhã de 17 de março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Academia de Letras


ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS

Fundada em 07 de Abril de 1938

Sede própria – Avenida Brasil Oeste, 792

99010-100 – Passo Fundo – RS

PROJETO LITERÁRIO DA ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS - 2011

DESTINADO AOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DAS ESCOLAS DE PASSO FUNDO

1- TÍTULO

Concurso Literário: “RACHEL DE QUEIROZ: A GRANDE DAMA BRASILEIRA DAS LETRAS”

REGULAMENTO

CAPÍTULO I – SOBRE A PROMOÇÃO

Artigo 1 – O Projeto Literário destina-se a incentivar a leitura e a correta utilização da língua portuguesa, baseando-se na vasta produção literária de Rachel de Queiroz, assim como cumprir a missão comunitária e social que a Academia Passo-Fundense de Letras tem com a comunidade.

Parágrafo Único - O Projeto visa também, conhecer o talento, a criatividade e o gosto pela leitura, do público alvo: os estudantes do ensino médio da nossa cidade.

CAPÍTULO II – SOBRE OS OBJETIVOS

Artigo 2 – Despertar nos estudantes do ensino médio de Passo Fundo, o prazer pela leitura e o culto à memória dos escritores brasileiros culminando na produção de diferentes gêneros literários.

Parágrafo Único – Provocar a aproximação da comunidade escolar com a Academia Passo-Fundense de Letras.

CAPÍTULO III – SOBRE O PÚBLICO ALVO

Artigo 3 – O concurso literário destina-se aos estudantes do ensino médio das escola públicas e particulares de Passo Fundo.

CAPÍTULO III – SOBRE A MODALIDADE DOS TRABALHOS

Artigo 4 – Serão aceitos e avaliados os textos inéditos, produzidos em no mínimo duas laudas e no máximo quatro laudas

Parágrafo único – Os textos poderão ser: a) resenhas das principais obras da autora; releitura poética de qualquer gênero das obras da autora; e, textos criativos relacionados à vida e à obra da autora.

CAPITULO IV – SOBRE A REALIZAÇÃO

Artigo 4 – O concurso terá as seguintes etapas:

a) – Cabendo à APL – apresentar o projeto a todas as escolas de ensino médio; avaliar, selecionar e publicar os trabalhos encaminhados pelas escolas, destacando os 10 mais bem elaborados.

b) – Cabendo às Escolas – incluir o Projeto Concurso Literário – Rachel de Queiroz – Dama Brasileira das Letras – no seu plano político pedagógico; divulgar e incentivar todos os alunos a participar do projeto.

c) – Cabendo aos Professores de Língua Portuguesa e Literatura e Redação – aplicar o projeto no decorrer das aulas do primeiro semestre de 2011; preparar os alunos para a produção de resenhas, prosa e releitura poética a partir das obras de Rachel de Queiroz; avaliar os trabalhos dos três níveis do ensino médio, e enviar os de maior destaque à APL dentro do prazo previsto no cronograma.

CAPÍTULO V – SOBRE A PREMIAÇÃO

Artigo 5 – Para todos os alunos destacados pela escola: diploma de menção honrosa e um exemplar do livro com a coletânea dos dez textos que mais se destacaram; aos dez trabalhos de maior destaque: menção honrosa e 5 exemplares da coletânea, assim como espaço para sessão de autógrafos.

CAPÍTULO VI – SOBRE A COMISSÃO JULGADORA

Artigo 6 – A comissão julgadora será composta por membros da Academia Passo-Fundense de Letras e por pessoas da sociedade aptas para a tarefa.