quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ressaca pós Natal!

Voltar ao normal depois do Natal é guardar travesseiros, lençóis e toalhas e procurar o cheiro dos amores pelos cantos da casa. Ressaca de Natal é dar tratos à bola sobre o que fazer com tanta fruta, tanto panetone e tanta bolachinha que sobraram. É saber que vai começar tudo de novo daqui a uns dias, só que com mais intensidade. Amo o Ano Novo, pena que os filhos prefiram algo mais pagão, que é ficar longe de nós e festejar por conta própria. Bem, como também somos pagãos, vamos comemorar muito, mesmo que longe deles, mesmo que fiquemos procurando os cheiros de uns e outros pela casa, ansiosos por sentir de novo todos os abraços, beijos, bagunça, camas reviradas, papéis de presente jogados por todos os lados. Que venha a Dilma, que venha 2011, que venham as surpresas e desafios. Estamos firmes e fortes pra mais um ano de felicidade, coisa que eu quero pra todos, mas pra todos, até para aqueles dos quais não gosto atualmente, que são poucos. A eles eu gostaria de dizer que não me fazem falta, por que me fazem mal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Leiam, por favor! Contardo Calligaris, de novo!

http://contardocalligaris.blogspot.com/2010/12/quem-nao-acredita-em-papai-noel.html

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Final de Ano

Como todos os anos, nesta época, temos o cuidado de rever coisas e, acho que aqui no sul, por alguns motivos a mais. Temos que arejar, sacudir as coisas, mostrar o sol a elas, despedindo-nos do inverno.

Foi com este intuito que comecei a empreitada, começando pelos livros. A constatação de que livro pode tornar-se obsoleto me chocou. Dei uma boa olhada na enciclopédia que pagamos em vinte e quatro vezes. Na época as necessidades dos filhos, exigiam que a comprássemos e optamos por ela, em detrimento da compra do telefone, coisa muita cara na época.

Constatei que os muitos volumes estavam realmente usados o que me deixou cheia de orgulho, mas triste por não precisar mais daquela fileira enorme de livros, substituída pelas redes virtuais, que, alimentadas pelo conhecimento de todos, é usada com critério por uns, com leviandade por outros. Cabe a cada um de nós, verificar a seriedade e a base científica das informações que colhemos, mas a informação não cabe mais em prateleiras.

Há bem poucos anos, pensar em me desfazer de livros por não servirem mais, seria considerado uma heresia. Hoje eles foram doados, foram descartados. O buraco na estante ainda guarda a energia das crianças.

O que precisa de ar também são os guardados que não nos servem mais, mas que falam ao coração. Encontrei, cuidadosamente embalada, uma cestinha de páscoa, toda enfeitada, que pertenceu à minha mãe, assim como uma lata verde, onde ela guardava biscoitos. Senti o cheiro dos biscoitos assados dias antes do Natal e pintadas escondido de nós, já que isso era tarefa do Papai Noel. Vieram-me à memória os Natais tão lindos, com presentes tão cuidadosamente escolhidos, com guloseimas cheirosas, feitas em casa. Lembrei do calor do forno à lenha, das cucas perfumadas saindo dele e dos almoços nos quais não faltava mistério e uma pontinha de medo do Papai Noel.

Mexendo nas coisas lembrei-me de que o dinheiro curto era compensado pelo esforço da minha mãe em costurar nossos vestidos, em engomar guardanapos, em cozinhar deliciosos doces em calda, em enfeitar a casa e no meu pai ensaiando danças conosco, coisa que riscava o soalho brilhante da sala. Lembro também, dos buraquinhos que conseguimos nas taboas do chão, feitos com os taquinhos dos saltos dos sapatos, quando crescemos.

Mas, esta também é uma época de festas, quando encontramos amigos e numa delas, a Otília, uma amiga muito querida me abraçou e disse: “Feliz Natal, não Feliz Ano Novo, por que Natal é a coisa mais linda do mundo.” Entendi o que ela queria dizer, por que agora, quando já estou velha, o Natal é uma ocasião em que posso olhar para todos os filhos, todos os genros, todas as noras e para minha neta e dizer que tudo valeu a pena, mesmo que tenha que aprender tanto todos os dias, mesmo que tenha que aprender a descartar o que não tem mais serventia, para dar lugar para o novo.

Estou abrindo espaço na casa e no coração para tudo o que está por vir, com a mesma disposição com que me dispus a pagar em vinte e quatro meses o que era tão necessário.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dr. Warat

Passei anos ouvindo falar no Dr. Warat, jurista argentino, através dos meus filhos, sem nunca imaginar que um dia o conheceria. Pois foi através de um café filosófico que conheci essa personalidade única, instigante, de uma grandeza humana sem par e tive oportunidade de frequentar mais dois cafés filosóficos, ali onde era seu habitat, Buenos Aires. Acho que é equivocado dizê-lo argentino, por tratar-se de um reducionismo, coisa que ele odiava. Quero corrigir dizendo que o Dr. Warat era um cidadão do mundo, sem fronteiras, como eram sem fronteiras seu pensamento e ação. Já o mencionei várias vezes neste blog e hoje quero registrar tristemente sua morte. Acho que o desaparecimento dele é inviável, por ter deixado uma obra gigantesca, como é gigantesca a influência que exerceu sobre mim. Tenho outra visão de mundo depois de tê-lo conhecido. Não sei como agradecê-lo, pois agora é tarde. Acho que ele percebeu meu agradecimento pelo olhar de admiração e respeito de que ele foi alvo. Pena...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Estou arrumando um armário, com o intuito de organizar o que vai ficando por aqui com a saída dos filhos de casa. Encontrei chapas de raio-x, com denúncias de narizes entupidos por adenóides dos cinco filhos, assim como algumas com lordoses, escolioses, pneumonias etc... tudo em pequena escala, sem gravidade. Estou guardando livros didáticos de italiano, inglês, francês, espanhol, alemão, milhares de CDs, para o quais não conheço destino, muitos dos quais sem indicação do que são. Sobre Direito, guardo livros, xerox, projetos de monografias, cópias de monografias, quadros de formatura, fotos, o diabo. Adorei encontrar meus cadernos da faculdade de filosofia, folhas, manuscritos, provas, milhares de xerox dos livros de Foucault, uma delícia. Enfim, estou voltando no tempo e pensando no que posso separar e obrigar os filhos a levar para casa, afinal, não tenho tanto espaço assim. Nos interstícios de toda essa produção dos filhos, estão faltando aquelas estrelinhas, aqueles "amei" que vejo nos trabalhos da Cecília, as tentativas de escrever direitinho, mas tenho os cartõezinhos e os bilhetes cheios de amor que fui ganhando ao longo da vida. Aquele armário depois de arrumado conterá o suor, as lágrimas, as dúvidas, os avanços, as conquistas de todos nós, que nos esforçamos por construir uma vida que não foi e não será fácil e justamente por isso foi, é e será tão rica. Vale muito a pena essa retrospectiva que não é melancólica, mas a constatação de que vivemos de verdade.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Meu corpo teima em não acompanhar minha cabeça. Ando atrapalhada com tantas idéias e as limitações da idade, coisa que, até bem pouco, eu não sentia. Pensei ser exceção, pensei conseguir equilibrar as duas coisas por mais tempo, mas não estou conseguindo. Minha cabeça fervilha, empurra-me ainda em busca de minha utopia. Não creio em qualidade de vida sem objetivos, aquela que busca mens sana in corpore sano, sem o acompanhamento de idéias, de pesquisa, de investigação, sem ação que busque melhores condições humanas para todos. Isso de fazer ginástica, tomar suplementos alimentares, fazer longas caminhadas, para depois tomar um banho e descansar, me parece um exercício extremamente egoísta. Eu preciso mais, muito mais. Não acredito também que se deva passar a vida lendo loucamente, sem tempo pra pensar e ter idéias próprias, sem compartilhar as construções internas, fruto dos tratos à bola, das leituras, da observação atenta da vida. Penso ser tudo, de cuidadora dos meus afetos à cidadã engajada; de guardiã da minha felicidade à guardiã da felicidade dos que me rodeiam; de mulher simples à mulher que tem os olhos bem abertos para os problemas da minha cidade, único lugar onde posso agir, mesmo atenta aos problemas do mundo. Não quero aceitar as limitações que sinto hoje. Quero acreditar que estou sentindo o cansaço de final de ano, como todo mundo. Deve ser isto...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010