terça-feira, 25 de setembro de 2012


Solidariedade entre mulheres!

                Nos últimos dias tenho observado mais atentamente o dia-a-dia de muitas mães, na medida em que, às vezes, acompanho a saída do meu neto da escolinha. São mulheres expostas a uma vida que, há bem pouco tempo, seria inviável. Cuidar de crianças é trabalho árduo, embora prazeroso, isso dito por todas as mães, todas, evidenciando que, no quesito amor, não mudamos nada.
                Essas mulheres atendem múltiplos interesses, enfrentam um trânsito insano, são movidas pela responsabilidade de uma profissão, pela casa que cuidam com esmero, por uma relação amorosa que também demanda um aporte emocional enorme e, legitimamente, procuram ser felizes e participantes de uma sociedade que ainda não sabe muito bem cuidar delas.
                Solidarizo-me com essas quase meninas, mães, profissionais, donas de casa, que estão fazendo a vida pós moderna, ou ultra moderna. Não sei se as pessoas da minha idade conseguiriam desempenhar tão bem o que elas fazem. Além do mais, elas inauguram uma modalidade familiar que também não conhecemos ainda: elas têm, geralmente, só um filho.
                Em um programa de TV, produzido a partir da ECO 90, apresentado no TV FUTURA, mostraram alguns jovens que os jornalistas acompanharam desde a época. As filmagens do nascimento, da primeira infância, da adolescência e de adultos, mostram que as fórmulas tradicionais não são as únicas capazes de resultados educacionais e humanos satisfatórios e que, em meio às adversidades, à violência, à fome, à solidão, gravitam pessoas cujos filhos conseguem sobreviver com dignidade. O principal foi constatar que as crianças têm uma incrível capacidade de resiliência e que o amor dos filhos pelos pais e dos pais para com os filhos está incólume.
                Solidarizo-me com os que sabem ser este o único lugar que temos para viver e que este deve ser arranjado da melhor forma, mesmo que adverso e concorrido e assustador e cuidam dos seus com tanto carinho.
                Solidarizo-me, principalmente, com as mamães que vivem situações limite, a exemplo do fato tão insólito desta semana, quando um bebê foi esquecido dentro do carro. Imagino o horror ao verificar que, mesmo tomando todos os cuidados do mundo, podem ocorrer lapsos graves, causados pela correria insana em que estamos metidos. A solidariedade deve ser a tônica dos que falam sobre o assunto, dos que lidam com o assunto e dos que têm contato com a família que sofreu tamanho trauma.
                Solidarizo-me também com as vovós, que gostariam de ver suas filhas e noras um pouco menos atarefadas, mas que compreendem e ajudam quando podem, sem pensar que o certo está com elas, que o certo só acontecia como na música que Angela Maria cantava: “são casas simples, com cadeiras na calçada, e na fachada escrito em cima que é um lar...”, pois esse mundo só acontece de vez em quando, muito de vez em quando.
                Enquanto isso, continuamos mulheres do mesmo jeito de antes, as crianças nascem do mesmo jeito de antes. O que necessitamos é aprender todos os dias novas formas de nos cuidarmos uns dos outros.


Publicado em 11/10/2012 no Jornal Diário da Manhã  

sábado, 15 de setembro de 2012


Piquenique, que coisa boa!

                Está acontecendo um movimento por aqui, que premia nossos mais nobres sentimentos de compartilhamento da vida. As grandes extensões urbanas para convívio comum deixarão de ser áreas entregues ao descaso, para tornarem-se de uso para a vida boa, coisa tão cara à filosofia grega.
                É comum vermos nas grandes cidades do mundo, as pessoas procurarem as praças e parques para tomar sol, brincar na neve, estender toalhas na grama e promover um convívio ao ar livre impossível para quem vive confinado em apartamentos. Em Paris criam até um ambiente de praia, enchendo ruas e ruas de areia, onde a população leva cadeiras, guarda-sóis e comida.
                Pois, aqui na nossa cidade, há um grupo organizando um piquenique na Praça Tamandaré para comemorar a chegada da primavera. Fico imaginando a beleza do cenário, a praça toda bonita e cuidada por uma associação, há tempos, toalhas jogados sobre os gramados, crianças correndo, comidinhas sendo oferecidas uns aos outros, numa verdadeira festa de alegria por conviver, não só uns com os outros, mas com a natureza.
                A vida boa dos gregos é isso! É ter a cidade para o povo, organizada de forma a que todos tenham acesso a ela. E isto também é democracia, no ótimo sentido da palavra. O povo não deve adaptar-se à cidade, mas a cidade deve ser organizada de tal forma, para todos os cidadãos possam usá-la. Daí as lutas por acessibilidade, por beleza, por segurança.
                Imagino que um evento desses seja o pontapé inicial para uma nova ordem pública, onde o povo ocupa a cidade, por que a cidade não existe só em função dos carros, mas ela existe para as pessoas circularem, para as bicicletas, para os skates, para o lazer. A alegria pode ser a tônica dos finais de tarde, a troca de ideias também. Isso de sairmos do trabalho e nos trancarmos a chave em casas e apartamentos gradeados, mortos de medo do que pode vir de fora, tem os dias contados, pois, isso não aguentamos mais.
                Uma cidade que tem uma avenida principal tão linda quanto a nossa, deve sentir um orgulho imenso e transformá-la em uma via de circulação de todas as formas de transporte, seja pelas nossas próprias pernas, o que dá um pique e um bem estar danado, seja para permitir que se vá trabalhar de bicicleta, o que desafogaria em muito a circulação de carros, seja para que se faça com que o transporte público fique mais racional e planejado com inteligência, enfim, temos uma Avenida Brasil como nenhuma outra. A nossa é a mais larga, com os canteiros centrais mais amplos e as mais lindas possibilidades.
                Vamos aguardar mais manifestações como a do pequinique na praça, pois não acredito, que depois de experimentá-lo, consigamos olhar novelas e faustões e iô-iô-iô e tcha-tcha-tcha com a mesma tolerância de até agora.
                Há, importante dizer, que música alta não será permitida na praça. Ufa!

Publicado no Diário da Manhã de 14/09/2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Bruno, o caçula

Meu caçula é coisa nova,
Daquela geração tão rápida,
E daquela que é tão feliz.
Ele tem a tranquilidade de quem sabe,
Que o mundo que existe, já não serve,
E constrói um novo, com outras bases,
Para desespero dos instalados.
Divirto-me com a tolerância,
Com que trata o que é obsoleto,
E, magnânimo, oferece soluções ainda verdes,
Que passamos a entender bem mais tarde.
Para ele as asas são ferramentas poucas,
Ele necessita máquinas, apetrechos, lógica,
Para viver esse mundo que aguarda,
Mais gente que, como ele, olha o velho, valoriza,
Mas constrói para a sua vida, coisas que,
Para nosso entendimento, são mistério.
Vai, meu filho! Precisamos de um mundo novinho!
Ricardo primogênito

Foste o primeiro, que expectativas!
Carregaste os temores dos que começam,
Sabíamos do muito amor já com raízes,
Plantadas durante anos, tempo de tua espera.
Não sabíamos da alegria, uma constante, cantante
Enquanto crescias, tão depressa, olhar atento,
De quem sabe puxar uma fila
De outras tantas alegrias,
Que encheram nossa casa de tantas camas,
De tantos livros, que amaste desde cedo.
A tua cara séria não assusta,
Esconde uma ternura nunca vista
Sobrancelhas cerradas escondem
Uma alma altruísta, onde cabe tudo,
E não só a nós, tua família, mas todos os que,
Como nós, partilham tua vida.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


Conversa com o Théo

Há exatamente um ano, quando te preparavas para nascer, conversei contigo emocionada. Hoje participei do teu primeiro aniversário, junto com as pessoas que estavam à mão, por que, se pudessem, teríamos contado também com a tia Vanessa, o Tio Rodrigo, o teu primo Augusto e a tua prima Aninha, assim como os teus dindos Flávia e Paulo. Quem almoçou um delicioso churrasco contigo foram os teus pais, teus avós, teus tios e tua prima, todos comemorando a tua presença. Tu tinhas que ver a alegria com que nos recebeste, era um sorriso pra cada um, uma festa de brinquedos e brincadeiras. A tua paixão pela Galinha Pintadinha foi comemorada com uma galinha de brinquedo que teus pais te deram. Dizem que sentaste no chão com ela e conversaste um tempão. Na minha opinião, o que mais te diverte é a música, por que prestas atenção, danças e bates palmas quando a música acaba. A cantoria que fizemos te assustou um pouquinho, aí procuramos baixar o volume. Preciso te contar como foi o ano que se passou, para que, mais tarde, entendas o que a tua chegada significou para todos nós que te amamos tanto. Imagina um bebê todo cheiroso, que crescia como uma abóbora, cada dia mais lindo... nós quase fomos à loucura, todos. Teus cabelos que já tinhas eram de um ruivo bem amarelinho, e tornaram-se alaranjados, cada vez mais alaranjados. Foi uma sucessão de progressos, sorrisos, gargalhadas, intermináveis crises de choro, dias de frio em que eras empacotado até o pescoço, sem possibilidade de usar calçados, pois nada ficava bem, tudo caía, e assim fomos nos divertindo, nos revesando, vendo a felicidade e o movimento diferente e maravilhoso que trouxeste para as nossas vidas. Imagina a alegria com teus primeiros dentinhos, aos cinco meses, veja só, para em seguida nos surpreenderes ficando sentado, para depois fazeres esforços cada vez maiores de locomoção. Teus movimentos tornaram-se complexos mesmo, após os seis meses, quando conseguiste sair do lugar. O esforço que fazias para passar por cima de uma perninha que teimava em ficar parada era muito engraçado, pois exigia muitas e muitas tentativas, aliás, dias de tentativas, até que conseguiste engatinhar com perfeição. Sim, os movimentos de pés e mãos eram perfeitamente sincronizados, ao mesmo tempo em que teu corpo acompanhava com elegância e executavas uma verdadeira dança ancestral em busca da vida. Agora imagina todo mundo babando ao ver que te erguias, dia após dia, ora no sofá, ora na perna da mamãe e, um passo dado e um tombo; levanta, dois passos e um tombo, até que te ergueste de vez, caíste muito, houve testa roxa, marquinhas pra cá e pra lá, mas, sem desistir fizeste jus ao status de homus erectus, o que era esperado, mas não com dez meses. És um menino rápido, agora com os cabelos mais alourados, nem gordo nem magro, nem baixo nem alto, és o nosso bebê na medida certa. Neste primeiro ano de vida devemos agradecer-te por seres o bebê mais maravilhoso do mundo. 

Da tua vovó Sueli
Cássio, meu filho!

Dos filhos homens és o do meio,
E dentre eles o mais doce, o mais perto.
Pareces eleito pra cuidar, 
E cuidado devo ter pra não deixar.

Deves ser livre, demos-te asas,
Que deves usar sem temor, com coragem,
Tens talento pra tudo, mas coragem,
Diga não quando cansar.

Devo-te tanto, principalmente aquele olhar
Quando preciso me animar,
Aí vem aquela conversinha engraçada,
Que me faz rir até chorar.

Na mesa selecionas, o que não gostas não comes,
Mas não recusas simplesmente,
Fazes graça e justificas, com pesquisa séria,
O que gostas é bom, o que não, não faz sentido.

Quando puderes, fica pertinho,
Pra que eu sinta tua presença,
Que poderosa em muitos sentidos,
É muito mais forte pelo carinho.