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Trocar idéias é o principal mote deste blog. A possibilidade de interação entre mim e os leitores é algo que me mobiliza, me encoraja e instiga a continuar escrevendo. Mas isso não basta, quero dialogar ao mesmo tempo em que quero monologar, construindo uma base para por em ordem meus pensamentos, em forma de desabafo, em forma de registro, em forma de comemoração, em forma de lamento. Convido-os a que me visitem às vezes, que opinem sempre, que vivam comigo coisas parecidas com ss suas.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Quem cuida de quem cuida de crianças?
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Pode-se arriscar dizer que a maioria das crianças são cuidadas por cuidadores, portanto.
Mas, será que essas pessoas que assumem o encargo de cuidar de pessoas em desenvolvimento estão capacitadas devidamente para tão grandiosa missão? Será que elas estão aptas a amar e proteger de forma adequada?
Temos notícia nos últimos dias de casos de tortura contra crianças bem pequenas, vitimadas por pessoas que, desequilibradas, foram notícia de jornais e TV. Para as autoridades que lidam todos os dias com crimes contra crianças, isso não é novidade, pois recebem, de forma assustadora e crescente, denúncias de maus tratos, estupros e todos os tipos de violação de direitos, por parte de adultos, na maioria das vezes adultos da própria família.
Cabe-nos proteger nossos filhos e filhas, mas não só isso, cabe-nos cuidar de todas as crianças. A perda e a violação de uma criança é irreparável e depõe contra a nossa humanidade. É intolerável a omissão e a ignorância quando se trata de proteger a infância.
Esses casos notórios e ostensivos, por vezes, não nos deixam ver as pequenas crueldades que acontecem e que, por não estarmos preparados, deixamos acontecer. Quantas vezes vimos crianças serem surradas, até mesmo espancadas e ficamos quietos? Quantas vezes vimos meninos e meninas serem insultados por adultos? Quantas vezes vimos crianças serem vitimadas por outras crianças e pensamos que fosse normal? Se olharmos pra dentro de nós, talvez nos lembremos da nossa infância, das vezes em que riram das nossas gafes, das vezes em que gritaram conosco, das vezes em que bateram em nós e de quanto isso nos fez sofrer. Talvez nos lembremos dos apelidos que botamos nos nossos colegas, rimos deles e isso nos fez sofrer também.
A infância deve ser um tempo cheio de alegria, de aprendizado, de descobertas, de carinho. A atuação dos adultos deve ser estimulante, exigente com relação às boas maneiras e para isso eles devem ser respeitáveis, equilibrados e, principalmente, disponíveis. O abandono também se caracteriza quando os adultos são indiferentes e relapsos.
Cuidar de crianças não é tarefa para todos, pois dá muito trabalho, exige atenção em tempo integral e, mais importante, exige preparo. Nem todas as pessoas estão preparadas para algo tão absorvente. Sentir-se gratificado no final do dia por ter respondido mil perguntas, por ter ajudado a andar, por ter ajudado nas tarefas da escola, por ter cuidado dos machucados, por ter tranqüilizado, por ter dito mil vezes a mesma coisa, é a melhor coisa do mundo. Mas, estamos nos sentindo assim? Ou descobrimos falhas onde não podemos falhar?
Há que cuidar dos adultos para que eles cuidem adequadamente das crianças. Este é um desafio que não tem tamanho, gente!
Publicado no Diário da Manhã em 30/04/2010
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Fila para idosos, para quê?

Esta semana precisei de um medicamento em uma cidade do nordeste, tarde da noite, estava muito quente dentro da farmácia, o que piorava meu mal estar e a fila era enorme. Vi que não aguentaria e pedi um caixa para idosos. Fui orientada a passar na frente de todo mundo, o que fiz a contragosto e constrangida. Um senhor abordou o caixa que me atenderia e disse que não concordava com a deferência e disse que havia mais idosos na fila. O caixa, ciente do Estatuto do Idoso, pediu que os idosos passassem à frente, o que irritou mais ainda o dito senhor, que, indelicadamente, afirmou que dali em diante levaria sua avó para as filas que teria de enfrentar.
Fui atendida, como era certo, mas a ironia de que fui vítima me incomodou sobremaneira.
Contei o caso a um gerente de banco e ele me esclareceu que as filas dos idosos são um engodo e que a lei manda dar prioridade ao idoso, às gestantes e aos portadores de necessidades especiais, só isso. Portanto, não há necessidade de filas, mas há necessidade de que as pessoas que compõem as filas, assim como os caixas de bancos, farmácias, supermercados, lojas e todos os estabelecimentos que recebem pessoas, compreendam que ceder lugar aos que necessitam, nos torna melhores, mais humanos e mais gentis.
Logo, logo seremos muitos velhos, as estatísticas mostram isso e se não formos mais civilizados, o trabalho de pessoas como o da doutora Zilda Arns terá sido inútil.
Há quem diga que as pessoas só conhecem seus direitos e não seus deveres, o que encoraja alguns a se referirem a crianças, como se crianças tivessem voz para reivindicar seus direitos. Elas necessitam do nosso discernimento adulto para que sejam respeitados e cuidados devidamente. Há velhos que também perderam sua capacidade de discernimento e curvam-se às exigências de estabelecimentos que não os protegem, mas os sacrificam ainda mais.
Portanto, espero que as pessoas vulneráveis saibam que têm prioridade e que não necessitam enfrentar filas, mesmo as especiais, às vezes longas demais e que ninguém se valha da sua avó para desvirtuar o que veio para facilitar a vida de muitas pessoas.
Publicado no Diário da Manhã de 09/04/2010
Publicado em O Nacional de 14/04/2010
Publicado em Zero Hora de 17/04/2010