sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Olha o que encontrei!

Cães e gostos

Crédito: ARTE PEDRO LOBO" src="http://multimidia.radioguaiba.com.br/thumb.aspx?Caminho=multimidia/2011/02/04/146286.JPG&Tamanho=250&HW=2" rel="
Crédito: ARTE PEDRO LOBO">

Crédito: ARTE PEDRO LOBO

Em Santa Catarina, um Pit Bull quase arrancou as mãos da irmã de um amigo meu. Vou provocar latidos, rosnados e ataques. Eu odeio Pit Bull. É um bicho horrendo, com uma cara pavorosa, agressiva e assustadora. Não consigo entender o que pode levar alguém a ter um animal tão hediondo. Volta e meia, um Pit Bull mata uma criança. Os defensores da raça saem a campo para dizer que a culpa foi dos seres humanos, pois o bichinho seria por natureza "dócil, leal e equilibrado". Duvido. Sou traumatizado com cachorros. Na infância, fui mordido várias vezes. Eu tinha de ir todas as manhãs a uma casa onde morava um buldogue. Eu tinha horror daquele monstro, que saltava em cima de mim todos os dias. O dono sempre me dizia indiferente ao meu pânico: "É só não mostrar medo que ele é doce, amigo e brincalhão". Uma ova. Eu morria de medo, ele pressentia e me atacava sem piedade.

Já vi gente juntando cocô de Pit Bull na rua, pegando aquilo tudo com a mão dentro de um saco plástico. Eu prefiro passar uma temporada no presídio central a sofrer uma tortura como essa. Segundo um dono de Pit Bull que conheci, a culpa pela má imagem dessas feras é da mídia. Para mim, a humanidade está perdendo definitivamente os pinos. Vejo gente beijando cachorro na boca, carregando cachorro em carrinho de criança, vestindo cachorro com roupinha de nenê e chamando cachorro de meu bem. Eu, hein! Nada tenho, em geral, contra os cachorros. Cachorra eu até entendo. Tive um cachorro, quando adolescente, o Lobo. Era um lindo vira-lata baio. Só gosto de vira-latas. É questão de identificação. Já tem gente defendendo até que o homem deve ser visto como o melhor amigo do cão. Por que não?

O politicamente correto antiespecismo permite que se fale mal do vizinho - sendo que cada um quase sempre tem mil razões para falar mal do vizinho, menos eu -, mas não do cachorro dele. Dizem que é uma questão de ética. Sou contra maltratar animais. Nem por isso acho bonito andar por aí com um monstrengo sempre prestes a tentar engolir alguém. Vou confessar, pronto: quando vejo uma mulher chamar um cachorro de meu filhinho, numa boa, eu me retiro. Se um dia eu voltar a morar numa casa, terei um cachorro. No pátio. A sua obrigação será nunca assustar alguém e jamais pôr uma pata dentro de casa. Sei que tem cachorro limpinho, até mais cheiroso do que muita gente, mas não me acostumo. Sou de Palomas. Lá, quando cachorro entrava na casa, a gente gritava: "Sai pra lá cachorro".

Sou grosso. Represento a "era Dunga" do jornalismo. Misturo Beethoven com José Mendes e Gildo de Freitas. Cachorro comigo é do lado de fora. A frescura canina está passando de todos os limites imagináveis. Tem gente que não pode viajar nas férias por não ter com quem deixar o cachorro. Em Paris, já pisei em muito cocô de cachorro. Meu trauma só aumentou. Essa obsessão por cachorros é pura transferência de energia afetiva represada. Carência. Crianças dão mais trabalho e, depois de certa idade, perde-se o controle sobre elas, que podem acabar no crack. Estou exagerando? Claro. Eu sempre exagero.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br