sábado, 2 de julho de 2011

Como é conviver com um diagnóstico assustador

Fala-se muito em medos, dos quais o medo da morte figura soberano. Acho que aquelas fobiazinhas bobas do tipo de altura, de ambientes fechados, de falar em público não chegam perto do grande medo da morte. Pra mim, o medo de perder meus amores é o pior de todos, superando o de agonizar, de ter falta de ar, de ficar anos na cama dependendo dos outros. Tenho pavor de passar pela experiência de perder alguém da minha família. Sempre pensei que não conseguiria reagir a um diagnóstico assustador, mas enganei-me. Consegui ultrapassar as primeiras horas tendo em mente palavras como: tumorzinho, inicial, contornável, cirurgia, possibilidade de radioterapia e lá vai um palavrório que enfrentei de forma inesperada. Tive a nítida sensação de que era vital que eu encarasse o fato de cabeça erguida, que acreditasse nas palavras animadoras do médico e que soubesse distribuir a informação aos outros de forma adequada. Usar a inteligência nesse momento, para que todos ficassem tranquilos foi a solução para o primeiro susto. Em seguida vem a capacidade de administrar os procedimentos práticos que envolvem a situação, e, em meio a tudo isso, amar desmedidamente. Acho que nunca vi tanta necessidade de envolver os meus queridos com o meu amor, com a minha coragem, com o meu carinho. Tive que aprender a deixar de lado algumas coisas para exercer minha função que sempre tive como primordial, que é a de cuidar das pessoas. Meus medos se apequenaram frente à realidade do fato de que somos vulneráveis. Não há situação que revele nossa humanidade como em momentos em que vemos a real possibilidade de finitude. A filosofia contemporânea é farta em pensamentos relacionados à finitude, ao drama de nos vermos passíveis de morrer e não sobrar nada. Estou aqui, em pé, com coragem e sei que darei conta de tudo o que tiver que ser. Chegaremos ao final do ano com um netinho lindo, com os fantasmas daquelas palavras do médico afastadas e seguindo a vida com a dignidade de termos encarado um desafio que nos deixou melhores como seres humanos.

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