A menina e o Facebook
A menina de oito anos
estava louca por uma página no Facebook e usou o domingo para pedi-la. Os pais,
temerosos, argumentaram sobre a necessidade de se ter dezoito anos, sobre a
possibilidade de invasão de desconhecidos, sobre o tempo que seria dispensado à
página todos os dias e a menina, filha única, insistiu e argumentou também.
Disse ter amigos com face, disse ter saudades das tias e tios e que aceitaria
as restrições que lhe seriam impostas.
A
elaboração da página pela mãe foi acompanhada com ansiedade, a postagem de
fotos nem se fala, mas, a chegada de convites de amizade causaram-lhe um
frenesi. Foram gastas duas horas para que tudo começasse a funcionar e para que
a menina conseguisse entender o funcionamento da coisa. Aí começou tudo...
Face
funcionando, menina excitada, pais preocupados e, como não poderia deixar de
ser, começou o estabelecimento de regras: 1) não pode aceitar ninguém sem
supervisão; 2) entrar na página sem tomar café, escovar os dentes, arrumar os
cabelos, trocar de roupa e ter as tarefas escolares prontas, nem pensar; 3) em
dia de sol tem que brincar lá fora; e,4) comportar-se com educação e respeito
com todas as pessoas com que entrar em contato, como se fosse ao vivo.
A
sanção para o não cumprimento das regras: fechamento imediato da página de
relacionamento. Acostumada com regras e com o cumprimento delas, a menina
aceitou tudo e, relutante, foi dormir. A vontade dela seria continuar
conversando com seu primo, mas o horário de dormir – regra anterior – havia
chegado.
Na
manhã seguinte sua avó acordou cedo e deparou com a neta toda arrumada, de
uniforme do colégio, cabelo escovado, toda linda e... teclando. Havia uma fila
de pedidos de amizade não aceita, que passou pelo crivo da avó. Sim, já havia
tomado café – banana com granola e leite = e os dentes estavam impecáveis. E,
sim, as tarefas haviam sido feitas, só faltava estudar para a prova de língua
portuguesa, coisa que foi cobrada a seguir pela mãe pelo telefone e, sim, ela
estudou, um monte. A avó ainda está contando pra todo mundo...
Do
resultado de algo tão simples e tão perigoso pode-se tirar algumas conclusões:
a menina, assim como muitos de seus colegas e amigos, é filha única e necessita
interagir e tagarelar e trocar; a novidade proporcionou aos pais uma
preocupação a mais, mas viu a filha levantar mais cedo, tomar café e sentir
necessidade de lanchar no meio da manhã; deu a chance a eles de conversar sobre
comportamento ético, sobre os perigos da internet, sobre delicadeza e respeito;
constatou-se mais prontidão para os estudos; viu-se que a pouca habilidade para
teclar- com um só dedo – deu lugar a uma agilidade muito maior e com o uso de
mais dedos, capacitando-a para outras tarefas.
Diante
das ofertas que a tecnologia traz, cabe aos pais, não rechaçá-las, mas tomar as
providências de segurança de que os filhos necessitam. Deixar crianças soltas
diante do computador é como abandoná-las na rua à noite. A internet é lugar
público e exige cuidados e um comportamento adequado, sem dar lugar à exposição
exagerada, nem chance de que a inocência seja violada. Atenção e cuidado são
pressupostos para quem cuida de crianças e amor e proteção são direitos
inalienáveis de todas elas.
Publicado no Jornal Diário da Manhã em 17/08/2012
No dia 01/09/2012 este artigo serviu de base para uma matéria no Diário da Manhã, acerca das crianças e o acesso à internet. Fomos visitados pela jornalista Alessandra, que entrevistou a Cecília e a Vanusa. A matéria é bem educativa.
No dia 01/09/2012 este artigo serviu de base para uma matéria no Diário da Manhã, acerca das crianças e o acesso à internet. Fomos visitados pela jornalista Alessandra, que entrevistou a Cecília e a Vanusa. A matéria é bem educativa.
Um comentário:
Também tenho saudades do meu pai. lembro do tio Elmo quando moramos ai. E olha em uma das visitas que meu pai fez para a vó Guilhermina ele trouxe pra min uma revista O Cruzeiro, nossa pense na minha alegria. bjs
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