segunda-feira, 20 de agosto de 2012


A menina e o Facebook

                A menina de oito anos estava louca por uma página no Facebook e usou o domingo para pedi-la. Os pais, temerosos, argumentaram sobre a necessidade de se ter dezoito anos, sobre a possibilidade de invasão de desconhecidos, sobre o tempo que seria dispensado à página todos os dias e a menina, filha única, insistiu e argumentou também. Disse ter amigos com face, disse ter saudades das tias e tios e que aceitaria as restrições que lhe seriam impostas.
                A elaboração da página pela mãe foi acompanhada com ansiedade, a postagem de fotos nem se fala, mas, a chegada de convites de amizade causaram-lhe um frenesi. Foram gastas duas horas para que tudo começasse a funcionar e para que a menina conseguisse entender o funcionamento da coisa. Aí começou tudo...
                Face funcionando, menina excitada, pais preocupados e, como não poderia deixar de ser, começou o estabelecimento de regras: 1) não pode aceitar ninguém sem supervisão; 2) entrar na página sem tomar café, escovar os dentes, arrumar os cabelos, trocar de roupa e ter as tarefas escolares prontas, nem pensar; 3) em dia de sol tem que brincar lá fora; e,4) comportar-se com educação e respeito com todas as pessoas com que entrar em contato, como se fosse ao vivo.
                A sanção para o não cumprimento das regras: fechamento imediato da página de relacionamento. Acostumada com regras e com o cumprimento delas, a menina aceitou tudo e, relutante, foi dormir. A vontade dela seria continuar conversando com seu primo, mas o horário de dormir – regra anterior – havia chegado.
                Na manhã seguinte sua avó acordou cedo e deparou com a neta toda arrumada, de uniforme do colégio, cabelo escovado, toda linda e... teclando. Havia uma fila de pedidos de amizade não aceita, que passou pelo crivo da avó. Sim, já havia tomado café – banana com granola e leite = e os dentes estavam impecáveis. E, sim, as tarefas haviam sido feitas, só faltava estudar para a prova de língua portuguesa, coisa que foi cobrada a seguir pela mãe pelo telefone e, sim, ela estudou, um monte. A avó ainda está contando pra todo mundo...
                Do resultado de algo tão simples e tão perigoso pode-se tirar algumas conclusões: a menina, assim como muitos de seus colegas e amigos, é filha única e necessita interagir e tagarelar e trocar; a novidade proporcionou aos pais uma preocupação a mais, mas viu a filha levantar mais cedo, tomar café e sentir necessidade de lanchar no meio da manhã; deu a chance a eles de conversar sobre comportamento ético, sobre os perigos da internet, sobre delicadeza e respeito; constatou-se mais prontidão para os estudos; viu-se que a pouca habilidade para teclar- com um só dedo – deu lugar a uma agilidade muito maior e com o uso de mais dedos, capacitando-a para outras tarefas.
                Diante das ofertas que a tecnologia traz, cabe aos pais, não rechaçá-las, mas tomar as providências de segurança de que os filhos necessitam. Deixar crianças soltas diante do computador é como abandoná-las na rua à noite. A internet é lugar público e exige cuidados e um comportamento adequado, sem dar lugar à exposição exagerada, nem chance de que a inocência seja violada. Atenção e cuidado são pressupostos para quem cuida de crianças e amor e proteção são direitos inalienáveis de todas elas.  


Publicado no Jornal Diário da Manhã em 17/08/2012

No dia 01/09/2012 este artigo serviu de base para uma matéria no Diário da Manhã, acerca das crianças e o acesso à internet. Fomos visitados pela jornalista Alessandra, que entrevistou a Cecília e a Vanusa. A matéria é bem educativa.

Um comentário:

nilse disse...

Também tenho saudades do meu pai. lembro do tio Elmo quando moramos ai. E olha em uma das visitas que meu pai fez para a vó Guilhermina ele trouxe pra min uma revista O Cruzeiro, nossa pense na minha alegria. bjs