terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Cinquenta tons de alguma coisa

É um paradoxo o fascínio que a trilogia de E. L. James - Cinquenta Tons de Cinza, Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade, exerce sobre as mulheres.  O paradoxo deve-se ao fato de que a mulher, após um mais de meio século de luta contra a opressão, sente-se fascinada por um personagem que escraviza e submete uma mulher, fazendo com que ela, em nome das sensações sexuais que ele proporciona, a deixe ser dominada. 
Interpreto o fenômeno do ponto de vista da vida sexual que nos permitimos levar, ficando sempre aquém do que gostaríamos, isso dito por homens e mulheres.
Fomos educados para a moderação, o comedimento, o respeito ao outro, a vergonha das sensações inconfessáveis, fazendo com que, mesmo desejosos de uma vida sexual apimentada, contentemo-nos com o que é possível, com o que é correto, com o que é aceitável.
Em tempos em que podemos sentir orgasmos múltiplos proporcionados por brinquedinhos fornecidos em sex-shops, em tempos em que o sexo escancarado figura na telinha da televisão de qualquer casa, ainda nos fascina o que uma mulher escreve sobre a sexualidade entre um homem e uma mulher. 
O que transparece nessa histeria coletiva e mundial, é que, mesmo podendo sentir sensações sexuais solitariamente, ou com um cafajeste, ou com o marido, ou com o namorado, procuramos mais sensações, ficando provado que a leitura pode provocar em nós uma catarse que nenhum outro meio consegue. 
Lemos romances há séculos e conseguimos, de alguma forma, nos colocarmos no lugar de algum personagem, ao mesmo tempo em que procuramos uma luz no fim do túnel, por mais sofrido que o personagem seja.
Os romances, no geral, denunciam uma situação social, fornecem uma gama grande de personagens que podem ser veículo de identificação das pessoas, por isso são forma legítima de elaborar os sentimentos da humanidade, que procura sentido, que procura uma saída existencial para as desgraças inerentes à condição humana.
A sexualidade é uma dimensão forte e inerente à condição de sermos humanos e o fato de lermos sobre o que é possível ser sentido nesse quesito, transforma-nos em leitores vorazes. 

Não adianta procurar explicação, não adianta tentar entender. O que se deve fazer é dar um passeio sobre a história da sexualidade e o meu passeio é sobre o que Foucault trouxe na História da Sexualidade, também uma trilogia. 
Na próxima postagem, vamos delinear minha percepção. 


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