segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Podemos melhorar, sim!



Em recente pesquisa do curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo, constatou-se que as crianças vítimas de violência são agredidas pelos pais, na sua maioria. Isso deve reacender as discussões acerca dos limites que os pais devem se impor quanto a métodos educativos. Não pode mais ser tolerada, e isso a pesquisa também traz, a prática de bater nas crianças com o intuito de educá-las.
O bullying, isto é, aquela forma comum de rir, de ridicularizar, de debochar e até de torturar fisicamente alguém em situação vulnerável, já foi considerado prática normal, chegando-se a pensar que as vítimas teriam assim, oportunidade para aprender a se defender. A intimidação, a ofensa, a agressão contra amiguinhos e contra colegas já vitimizaram demasiado crianças e adolescentes. Sabe-se, e Moacyr Scliar esclarece muito bem em ZH de sábado (13/12/08), que o bullying faz mal a quem o pratica e a quem é alvo dele.
O tapa pedagógico, assim como o bullying carregam em si algo perigoso, que é a sutileza da fronteira entre o que seja uma prática consagrada através dos séculos e que pretendia-se fosse algo inofensivo, e a violência. Tanto uma prática, quanto outra, não dá garantias de que se vá parar no limite do razoável. Todos conhecemos histórias que acabaram muito mal por causa da ultrapassagem dessa fronteira. Aliás, fronteira e limite vem a ser a mesma coisa, por isso, educar para impor limites não funciona. Estaremos sempre à beira do precipício, sempre no limite, sem oportunidade de exercitarmos o amor que educa muito mais e que implementa os valores universais. E não se diga que bater é ato de amor e com mais força do que uma conversa séria, onde o diálogo seja exercitado de forma verdadeira, onde se ouve e se fala, dos dois lados.
Não é mais possível educar sem que haja essa troca dialética, onde todos depõem as armas para ouvir o outro e levar em consideração o que ele tem a dizer. Também aprendemos uns com os outros pela força do que somos, pelo que representamos. Ao respeitarmos o ritmo do outro, sua maneira de ser, sua forma de viver, estaremos mostrando ao mundo que não há necessidade de causar dor e constrangimento, mas que estamos antenados com os novos ares que nos carregam a uma situação evolutiva nova e bem mais bonita. Essa caminhada para o novo é inexorável e nos cabe entrar nela o mais rápido possível, para que muito sofrimento seja evitado.
Devemos comemorar a realização das pesquisas acadêmicas. Elas são fruto de muito estudo, de observação minuciosa do comportamento humano, de análises de como fomos, de como estamos sendo e das perspectivas de futuro. Devemos comemorar também, por que, nas projeções das pesquisas há essa melhora inexorável da nossa condição de seres racionais e livres. Essas projeções nos enchem de esperanças de que, com o tempo, sejamos capazes de abandonar o que nos prejudica e o que nos afasta do amor de verdade.
Enfim, para que consigamos refletir sobre algo tão sério, vale a pena lembrar a pergunta de Moacyr Scliar, que, de tão boa, merece ser repetida: “Afinal, o ser humano pode ou não melhorar?”
Publicado no Diário da Manhã de 16/12/2008
Publicado em Zero Hora de 18/12/2008

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