terça-feira, 7 de abril de 2009

Amar melhor é a solução para tudo



“Os aspectos importantes da dinâmica sistêmica que nos fazem e conservam como seres humanos são a intimidade do amor e o jogo na relação materno-infantil e uma infância vivida de maneira que a pessoa em crescimento conserve o respeito por si mesmo e pelo outro [...]. A relação primária entre mãe e filho ou filha é uma relação de total confiança e mútua aceitação corporal na qual, na dinâmica do jogo com a mãe, o filho aprende a sua corporalidade e a corporalidade dos outros, desenvolvendo sua consciência de si e sua consciência social no auto-respeito e respeito pelos outros, ao mesmo tempo em que cria o mundo em que vive como uma expansão de sua dinâmica racional e corporal. Se esta relação primária mãe-filho não é perturbada, o humano conserva-se como maneira de viver na vida adulta.” Maturana
Maturana, cientista e biólogo chileno, consegue jogar luz sobre o que pensamos acerca da escola, acerca da juventude e os descompassos de que temos notícia.
A biologia do amor de Maturana concebe algumas máximas muito elucidativas sobre nossa evolução como seres humanos. Para ele, o futuro da humanidade não são as crianças, mas os adultos que cuidam das crianças, pois exercitando todos os dias o amar e o cuidar, reaprendemos a viver todos os dias, integrando-nos ao ambiente e respondendo a ele.
A relação materno-infantil, segundo a concepção de Maturana, é baseada na confiança que liberta, que está assentada na intimidade, na afetividade e no amor. Amar é ter capacidade de dar espaço ao outro, para que cresça e possa se desenvolver em plenitude. Amar também é deixar fazer as coisas, sem ditar regras, é criar novas responsabilidades, para que todos se sintam comprometidos.
A beleza do pensamento e da pesquisa de Maturana está em não aceitar o amor como algo dado, mas em acreditar na conjugação do verbo amar. Amar é o principal remédio para o sofrimento, já que 90% do sofrimento humano vem em consequência do desamor.
Somos seres frágeis por natureza e não nascemos sabendo amar, mas aprendemos a amar através da vida, exercendo os papéis que nos são dados, dentro da organização familiar. A família é o primeiro e o principal meio onde aprendemos a respeitar o outro e a colaborar para seu desenvolvimento.
A relação mãe-filho é algo tão determinante a ponto de conseguir que um bebê de dois anos saiba falar uma língua, o que é uma proeza incapaz de se repetir no resto da vida do indivíduo, com tal intensidade. É o exercício do amor que faz esse trabalho. É aquele diálogo balbuciante entre a mãe e o bebê que opera esse enorme aprendizado.
As tentativas modernas no sentido de entender as dificuldades que as crianças estão apresentando na escola, têm em grande parte, explicação aí, nesta relação entre a mãe e o bebê. Um bebê privado de intimidade e carinho, não terá o mesmo aporte de aprendizagem que um bebê acalentado no colo da mãe. Para Winnicott “não existe saúde para o ser humano que não tenha sido iniciado suficientemente bem pela mãe”, e ele é claro ao dizer que essa mãe não é necessariamente a mãe biológica, mas alguém que ame a criança e cuide dela suficientemente bem.
Portanto, se as coisas não vão bem, se as crianças e os jovens aprendem mal e não respeitam seus pais e professores, eles estão merecendo um pedido de desculpas da parte dos adultos, que não souberam amá-los e negaram que somos originalmente amorosos. Cabe reconquistá-los ao invés de culpá-los, não?
O meio ambiente em que tudo acontece para o bem ou para o mal, é a família (depois a escola), onde, segundo Maturana, se dá a educação amorosa, capaz de produzir seres evoluídos que irão cuidar dos seus próprios filhos para que sejam capazes de amar, que terão seus próprios filhos capazes de amar, que terão seus próprios filhos capazes de amar...
E assim continua a família e a escola como um lugar privilegiado para a construção do Amor, agora sim um substantivo, tratado até então como um verbo, ou melhor como uma trajetória e uma linda possibilidade.
Publicado em 08/04/2008 no Diário da Manhã

2 comentários:

nilse disse...

Penso que a família é a base de tudo.Na família onde há amor, respeito,sinceridade, diálogo entre pais e filhos tudo se encaminha bem. Realmente as crianças precisam de amor , de carinho precisam ser respeitadas também.Porém n maioria das vezes não é isso que se a gente ve.Muitas vezes são crianças cuidando de crianças, pois tem meninas com 12 ou 13 ano já sendo mães.E a gente pensa eté onde tudo isso vai chegar? bjos

Sueli disse...

Se o abuso contra crianças nos causa indignação, quer dizer que estamos melhorando como sociedade. Vamos acreditar que estamos caminhando para uma nova era, bem mais bonita e humanizadora. Obrigada prima, pelo comentário tão lúcido.