segunda-feira, 13 de julho de 2009

Nossos hábitos alimentares estão melhorando?




Nós os pais mais velhos, fomos criados com a parcimônia do pós guerra. Nossos pais ofereciam-nos uma alimentação controlada, em mesa posta e em horários rígidos.
Não nos era permitido cortar salame ou queijo de qualquer jeito, havia regras. Pão novo só comíamos após acabar o velho. Aprendemos a desejar um momento de descuido para comer nacos maiores do que nos agradava. Jamais permitiram que ficasse depósito de açúcar no fundo da xícara.
Não lembramos de que nossos pais fossem ao médico com a queixa de que não queríamos comer nada. A comida era servida e comíamos e pronto.
Ao nos tornarmos pais, decidimos fazer diferente. A austeridade deu lugar à abundância, a ponto de não permitirmos que nossos filhos sentissem sequer sede. Não nos contentamos em servir a mesa, mas fiscalizamos e controlamos tudo. O pediatra foi torturado por queixas, deu consultas só para dizer-nos que nossos filhos estavam ótimos. Mandamos fazer exames de laboratório por medo de que estivessem desnutridos. Vimos nossos filhos ficarem maiores do que nós, porém, hoje, carregam consigo um arsenal de lanchinhos, garrafas d’água, gomas de mascar, na tentativa de não sentirem fome nunca. Abrem a geladeira, olham e, se faltar um ítem do que estão acostumados, dizem que não há “nada” para comer.
Nossos netos têm vícios alimentares inimagináveis na nossa infância. É obrigatório o consumo de biscoitos, salgadinhos de pacote brilhante, refrigerantes. As exceções são criticadas. Sanduíche de manteiga e geléia definitivamente não é sanduíche.
Hoje os pediatras tratam de colesterol, obesidade, depressão, excitação exagerada. As queixas dos pais são de que as crianças só querem comer porcaria.
Em meio a tanta oferta de maçãs lindas, enormes e suculentas, tão raras na nossa infância, estamos nos esforçando no sentido de despertar nas crianças o gosto por elas. Não adianta contar que fingíamos estar doentes na tentativa de que comprassem uma maçã para nós. Elas eram importadas, e caras. Hoje elas são mais baratas do que os pacotinhos de frituras malcheirosas.
Há perguntas que nos fazemos: será que estamos melhorando nos nossos hábitos? Estamos comendo bem? Podemos confiar nos rótulos das embalagens das “comidas de plástico” como Eduardo Galeano chama as “porcarias”?
O que vemos são salas de cinema transformadas em lanchonetes onde sentimos cheiro de gordura e ouvimos barulho de papel de bala. Será que mastigar o tempo todo faz bem? Não creio que queiramos voltar a comer pedacinhos transparentes de salame, mas os exageros também são condenáveis. Ou não?

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