segunda-feira, 8 de março de 2010

Quem é a mulher que trabalha?


No Brasil a partir da Revolução Industrial de 1930 o contexto social e econômico mudou radicalmente. O êxodo rural transformou-nos, pouco a pouco, em um povo urbano, fazendo-nos espectadores de transformações impactantes, às quais ainda não estamos acostumados. Continuamos aprendendo a viver sem o modelo ancestral, onde havia pai, mãe, filhos, animais domésticos e terra para trabalhar.

Primeiro quem saiu de casa foi o pai, engolido pela indústria, ficando o cuidado da casa e dos filhos para a mãe. Em seguida saiu a mãe, para cumprir horários fabris, em detrimento do que queria e sabia fazer, que era o de cuidar dos filhos, fazer a comida e cuidar da casa.

Mas, muitas mulheres têm como modelo a própria mãe levantando cedo para trabalhar na lavoura, não sem antes servir o café, tirar leite, deixar a roupa ensaboada, para retornar no horário de maior calor, começar o almoço, torcer a roupa, almoçar com o marido e os filhos e, enquanto o marido descansava do trabalho na roça, lavar a louça e pendurar as roupas no varal; ou, uma mãe urbana, sobrecarregada e submissa, insatisfeita com sua condição de dependente do marido; ou, uma mãe mal paga para ensinar gerações e gerações, cuja frustração nunca escapou da família.

As mulheres a partir daí são divididas em duas categorias: as que trabalham fora e as que não trabalham. De trabalhadoras nas fábricas, elas alçaram outros voos e tornaram-se importante mão de obra em todos os setores e com muito sucesso. Não é mais possível prescindir do trabalho cada vez mais qualificado das mulheres, o que nos orgulha sobremaneira. Elas são as que trabalham, coisa que se ouve e se diz comumente.

As mulheres que não trabalham são aquelas que optaram e optam por cuidar da casa, dos filhos e essas deveriam ser remuneradas pelo Estado, pois não necessitam de creches, fazem a comida todos os dias, seus filhos raramente precisam ser internados e ajudam as crianças nas tarefas escolares. São as que levam os filhos à escola e os buscam, não sem antes conversar com a professora.

A primeira categoria de mulheres faz das tripas coração para conseguir conciliar sua vida profissional, familiar e social. Cumpre jornadas de trabalho inimagináveis e consegue equiparar-se ao homem no quesito stress e doenças cardíacas. São heroínas.

A segunda categoria foi desqualificada quando a casa, o lar, deixou de ser fonte de renda para tornar-se somente moradia da família. O trabalho da casa tornou-se “coisa de mulher”. Não é raro encontrarmos mulheres frustradas por não encontrarem o reconhecimento da sua importância na sociedade.

A verdade é que as mulheres sempre trabalharam, e muito. O fato de ganharmos menos do que os homens, mesmo trabalhando muito mais é um grande equívoco e motivo de violência. Muitas mulheres agredidas pelos homens suportam a situação por não conseguirem ganhar o suficiente para livrarem-se de seus agressores.

Não deveríamos ter um dia dedicado às mulheres, pois elas fazem jus a que todos os dias sejam delas, dado à crucial relevância de seu trabalho, sem o qual não existiríamos mais como humanidade.


Publicado no Diário da Manhã de 06/03/2010

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