sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Você não pode tocar em mim.”

Visitei uma escola ontem onde presenciei algo que me chocou. Uma professora foi torturada durante três períodos de aula, por uma aluna munida de uma câmara fotográfica. A provocação de que a professora foi alvo, remeteu-me imediatamente ao caso do professor acusado de agredir uma aluna, nesta semana.

O relato pungente do professor em uma entrevista deu-nos conta de que também foi provocado à exaustão, até tomar a atitude de conter – uma atitude normal – à pessoa que perturbava sem parar.

Questionei a direção da escola sobre que atitude deveria ser tomada para restabelecer a autoridade, o que rendeu uns belos minutos de ponderações e, principalmente, de queixas.

Uma discussão dessas fatalmente vai parar no Estatuto da Criança e do Adolescente, o que me causa estranhamento, por entender que a Lei ainda não foi bem entendida em sua dimensão filosófica. Ainda se pensa que os adultos estão à mercê da sanha de crianças, pois ficam sem as mínimas condições de exercerem autoridade.

Lembro-me sempre dos pais com quem convivo nos trabalhos voluntários, sedentos de entender o fenômeno de ver as crianças serem consideradas cidadãs. Ouvi muitos pais assustados, até mesmo revoltados, falando a seus filhos que o Estado havia-lhes usurpado os mecanismos para educá-los e que daí pra frente os filhos é que mandariam em casa. Essa concepção percebi também por parte de professores, a ponto de se tornar senso comum.

É evidente que a aluna da escola que visitei estava copiando o que havia visto na mídia. É evidente que as atitudes dela podem ser caracterizadas como abuso moral contra sua professora. É evidente que a professora estava sendo premeditadamente torturada. O que ela dizia, ilustra o senso comum: “Você não pode tocar em mim!”

Nós adultos somos capazes de reconhecer quando uma criança está fazendo birra, quando está com muita raiva, quando está fora de si, quando está fora de controle. Todos nós temos obrigação de conter atitudes violentas. Segurar uma criança não é uma atitude violenta, mas está prevenindo outras atitudes violentas. Será que isso caiu em desuso e ficamos inertes diante de alguém que foi ensinado que está com todos os poderes e pode aprontar o que quiser?

Devemos crer que os Conselheiros Tutelares, que os Promotores, que os Juízes, que os gestores tenham cérebro, que tenham inteligência suficiente para discernir entre o que é violência e o que é uma atitude amorosa de contenção de atitudes aberrantes. Bullying – palavra moderna – não acontece só entre iguais e foi isso que aconteceu com os dois professores. Sempre que algo se encaminha para a violência, para a falta de respeito, parta de quem partir, deve ser contido, parado na hora.

Solidarizo-me com os professores e com as professoras, também com os meninos e meninas que, equivocados, tomam atitudes erradamente aprendidas.

Nenhum comentário: