Ah! A memória!
Penso na memória, intuindo traição,
Por ter que contar com ela quando mais necessito,
De precisão, pontualidade, horário marcado,
Ao me pensar traída, puxo pela razão
E vejo que não houve falha, só deslocamento,
Interesses outros tomaram o lugar,
Do que ontem era tão premente,
Hoje já não importa tanto, caducou.
A angústia dos que esquecem,
É pensar que não lembrar seja indício doentio,
Porém, penso, urge esquecer algo,
Pois não consigo carregar tanto peso,
De dias e dias aprendendo,
O que necessito aprender e o que não, também.
Temo a degenerescência, porém não é pra agora,
Tenho muito a viver e a lembrar,
De tantos dias cheios, de uma vida inteira,
Prenúncio de um futuro que, se sorte,
Muito acúmulo ainda tenho que guardar.
Minha memória tem mania,
De trazer à baila muita gente, muitos risos,
De meus pais a trabalheira de tempos incertos,
Que de frutos ficou o exemplo,
Passado aos filhos meus, quanta alegria,
Herdaram éticos comportamentos e vida reta,
Por caminhos que compartilho orgulhosa.
Se acontecer de minha memória me trair de fato,
A ponto de esquecer quem sou e a quem amo,
Os meus que, beneficiados com tanto cuidado,
Cuidarão de mim, mesmo que, olhando-os não os reconheça,
Mas eles lembrarão, até que eu dure e os mereça.
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