domingo, 23 de dezembro de 2012


Boas Festas, e daí?

Somos sete bilhões de pessoas no mundo e vamos virar mais um ano juntos, na
condição de seres que partilham o mesmo planeta. Somos todos animais sociais, conscientes
de que só sobreviveremos se conseguirmos nos agrupar, se formos integrantes de uma
comunidade.

Seres humanos têm necessidades diferentes dos outros animais, pois crescemos
nos fazendo perguntas e fazendo perguntas aos outros. Sentimo-nos parte da aldeia se
nos permitirem as perguntas, se houver alguém disposto a respondê-las e se, a partir das
respostas, possamos fazer perguntas novas. As perguntas novas são a mola propulsora da
humanidade.

Há uma fatia grande demais de pessoas dentre essas sete bilhões, a quem não são
respondidas as perguntas, que nem sequer sabem que podem fazer perguntas novas, só as
velhas: haverá comida amanha? Quando essa guerra vai acabar? Esse filho que estou
esperando vai sobreviver? Há outras mais velhas ainda: Como posso me beneficiar do serviço
público? Como posso tirar vantagem dessa situação? Faz diferença de usar a vaga de que não
preciso? No meu caso, jogar lixo no chão não é tão grave, mas, será que alguém viu? São
perguntas velhas e revelam um conceito desatualizado, que é o da separação das pessoas,
onde o nós não existe, onde o individualismo é a tônica.

Há um contingente que é realmente feliz, por que encontra dentro de si o
contentamento da compaixão. Está sempre de olhos bem abertos para o outro, percebe o
outro e constrói amizades de verdade, confia e se envolve. O fato de estar comemorando uma
data significativa não modifica seus hábitos. Quem confia convive de verdade com o outro e é
o próprio presente, mesmo que costume dar presentes. Ele não reserva datas para o presente.

Desejar Boas Festas é querer que o outro, sinta menos medo, que se sinta em um lugar
seguro, onde ele possa fazer perguntas novas. O direito de fazer perguntas novas significa
substituir um mundo obsoleto, por um outro, cheio de confiança. As perguntas de um novo
mundo são formuladas visando a liberdade, o direito de todos e consistem em permitir que
todos falem sem barreiras sobre suas necessidades, com a garantia de que serão ouvidos.

A civilização não vive de respostas, mas se alimenta de perguntas e, enquanto
estivermos presos ao obsoleto, Boas Festas será somente para alguns.

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