DIÁRIO DE UMA EX-FUMANTE
Estou
começando a sentir-me a vontade na nossa casa nova. Sinto de novo a alegria de
arrumar tudo, de olhar atentamente para descobrir o que está faltando naquele
cantinho ali. Olho para as minhas coisas velhas, aquelas que não são grandes
demais e que pude trazer pra cá, aí lembro de tanta coisa.
Já
consigo voltar à casa velha e deitar os olhos sobre o que abrigou tantos anos
de felicidade, de tanto trabalho, de tantas mesas cheias. Nossa enorme mesa não
era só cheia de comida, mas cheia de gente. Era lá que combinávamos tudo. A
gente tinha que ver como pagava as contas, quem pegava as crianças na escola
quando havia um bebê novo, quando daria pra operar amigdalas e adenoides
crescidas da criança da vez, sempre aos quatro anos.
As
marcas da nossa família ficam impregnadas nas paredes, na atmosfera de uma
casa. Essa atmosfera tem um tempo de vida, acho. Senti isso muito forte nos
dois primeiros meses, mas agora já está sendo algo agradável visitar onde
moramos por tanto tempo. Já acho muito bom voltar para a casa nova, que já
sinto nossa. Abro a porta e sinto o cheiro, a atmosfera que já é perceptível e
que me agrada.
O
que estou estranhando é a vontade de fumar que está voltando com mais
frequência. Acho difícil ver uma mulher fumando, fazendo pose, repetindo o
gesto que fazia parte de mim. Fico confusa às vezes sem saber o que me
incomoda, quando me surpreendo com a naturalidade com que eu acenderia um
cigarro de forma automática, sem pensar. Descubro que não o faço, por que não
tem cigarro disponível, aí reajo, faço alguma coisa, tomo água gelada.
Esta
coluna serve para me compromissar com você e comigo. Vou aproveitar essa
tranquilidade de haver me acostumado a uma nova vida e encontrar coisas a fazer
suficientes, para que as fissuras passem ao largo, sem prejudicar o que foi tão
difícil conquistar. Torçam por mim, por favor!
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