sábado, 10 de janeiro de 2009

JORNADA LONGA DEMAIS




Há poucos anos, os filhos desvencilhavam-se dos pais bem mais cedo do que hoje. Ansiavam por liberdade, tratavam de arrumar um emprego, terminar os estudos rápido, para que pudessem provar que estavam prontos para a vida de adulto. E iam embora, casados ou solteiros, mas com status de adultos.
Os pais de hoje deparam com filhos que vão ficando. Seus estudos não terminam nunca, o emprego ou o trabalho demoram a aparecer, enfrentam uma concorrência insana. Há filhos cujo emprego é estudar, anos a fio, para conseguir uma vaga no serviço público. Há outros que gostam tanto da casa dos pais, a ponto de se recusarem a morar em uma outra sem o conforto e as mordomias a que estão acostumados. Também se recusam a um afastamento por não poderem levar o carro que os pais passaram a vida inteira para adquirir.
Observa-se também que muitas famílias ao invés de diminuírem, aumentam de forma assustadora, fazendo com que os pais assumam compromissos que não estão de acordo com a idade que têm. Há os que, já velhos, tenham que assumir o cuidado e o sustento dos netos e há os muito jovens que se tornam avós precocemente, e, de susto, têm que aprender algo que não esperavam e não estavam preparados a assumir. A última pesquisa do IBGE revela que a cada cinco nascimentos, um é de gestação de adolescente. Pode-se imaginar as conseqüências disso.
Ao decidirmos ter filhos, revestimos o intuito com sonhos, que adiamos indefinidamente em função das demandas inerentes ao cuidado com as crianças e adolescentes. Sonhamos em descansar, em ter uma casinha na praia, em visitar os parentes que moram longe, em ter aquele carro tão lindo e confortável a nos levar de lá para cá sem suar, sem nos cansar à toa e que nos conduza ao paraíso particular que pensamos merecer. Nossos sonhos de descanso crescem na mesma medida em que crescem as exigências da prolongada adolescência dos nossos filhos e filhas.
Hoje temos que encontrar formas de atuação que não têm precedentes. Somos uma geração limítrofe. Não temos modelos nas gerações anteriores e somos acusados pelos desmandos dos nossos filhos. Se cuidamos muito da nossa filha adolescente, ela engravida para nos dar o recado de que queremos uma criança, motivo pelo qual ela nos dá uma criança. Se, por outro lado, deixamos nossa filha solta no mundo, ela engravida e nos diz que agora ela existe, que agora estamos olhando pra ela. Se uma adolescente vive uma vida marginal, sem perspectivas, sem um futuro, ela engravida para passar do status de nada, para o de mãe, para ter algo de seu.
Vivemos um momento histórico em que, ou conversamos e refletimos sobre este assunto, ou continuamos a nos debater em meio a situações para as quais não temos respostas. Raros são os pais que conseguem equilibrar adequadamente sua atuação e conseguem relações pautadas pelo comportamento ético e pela conquista gradativa da liberdade Ser pai e mãe hoje não é mais tarefa para dezoito ou vinte anos, mas é tarefa cada vez mais longa e complexa, que acaba por minar nossas perspectivas de uma velhice tranqüila. Nossos sonhos limitam-se a torcer para que os mestrados terminem logo, que consigam um trabalho rápido, que os netos sejam cuidados pelos nossos filhos mesmo, e que consigam se desprender de nós para organizarem um novo núcleo familiar. Afinal, sonhar não é pecado.

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