sábado, 24 de janeiro de 2009

O mais querido dos tios


Nunca somos unanimidade. Quando pensamos estar agradando a todos, percebemos que não é bem assim, sempre há os descontentes conosco. Uma unanimidade foi meu tio Herbert, o mais querido entre os queridos. Desde pequena ele teve o poder de provocar em mim os mais lindos sentimentos. Era a ele que eu aguardava para ouvir sua voz mansa, seu sorriso suave e esse suave se deve ao fato de nunca ter ouvido da parte dele uma gargalhada sequer, de ficar por perto enquanto contava seus "causos". Não esqueci aqueles jantares na nossa casa quando nos visitava, em que os lugares ao seu lado eram disputados quase a tapa, e onde comíamos nacos enormes de salame servidos por ele. Nossos pais passaram por uma guerra, coisa que lhes ensinou a poupar, a usar tudo com parcimônia e o salame era uma dessas coisas consumidas com cuidado, para ter sempre. Pois, a generosidade do tio Herbert nos fornecia nacões de salame, o que era uma festa, isso sem falar da quantidade de açúcar que ele colocava na nossa chícara (heresia das heresias). Era o máximo! Isso tudo ele fazia com a cumplicidade dos adultos, que sabiam da alegria que ia dentro de nós com a companhia do tio Herbert. Muitos anos depois, já solteirão, ele encontrou a sua Maria. Com que intensidade ele amou a sua Maria e com que carinho ele conduziu sua vida amorosa. Ficamos excessivamente distantes desse tio, mas sempre soubemos dele e continuamos nutrindo o carinho que nos embalou enquanto crianças. Sua filha Nilse, fruto desse amor tão intenso e verdadeiro foi criada em terras distantes, longe de nós, mas sempre tivemos boas notícias a respeito dela, que foi filha única. Dos contatos que tivemos, lembro da delicadeza e da discreta beleza dela. Certa feita, quando ainda eram jovens, meus pais receberam a notícia da morte do tio. Nossa avó morava conosco e teve episódios de ausência mental por causa do choque da notícia. O que nos contaram é de que a sua Maria teria dado uma machadada nele. Foram dias de choro, roupa preta, proibição de usarmos nossos casacões novos, por serem vermelhos (nossa mãe costurava nossas roupas em série) e muito, mas muito sofrimento. Enquanto chorávamos, meu pai foi pro Paraná tirar a história a limpo. Uns dias depois ele voltou com o tio a tiracolo, lépido e fagueiro. A machadada aconteceu e um marido foi morto pela mulher, mas foi outro marido e não o nosso amado Herbert. Meu pai contou que, quando chegou, contou a história e a tia Maria teria falado: - imagina se eu ia matar o meu Herbe!

Herbet já morreu, mas ficou algo bem quentinho no meu coração, assim como, tenho certeza, em todas as pessoas que o conheceram. Isso sim é que é uma vida boa! Isso sim é fazer tudo valer a pena! Que saudades! Fica a vontade de estabelecer contato com a sua Maria, com a sua Nilse e com os que vieram a partir daí.

7 comentários:

Unknown disse...

Que lindo, que saudade e que verdade. Obrigada por voce ter lembrado tão bem deste tio (padrinho), ele foi e é tudo isso, a pessoa iluminada e abençoada, no meio desta familia. Muito feliz esta tu lembrança.

Sueli disse...

Tenho certeza de que retratei, ao menos um pouco, o espírito da nossa relação com ele. Obrigada pelo comentário, minha irmã!

Adriana Gehlen disse...

que baita mal entendido hein, nossa, hahaha, uma machadada.
ainda bem que a Maria não fez isso. (: aha

Unknown disse...

É eu lembro muito bem desse nosso tio muito querido , era ruivo bem diferente dos outros irmãos. Nosso tio Walter também era um amor!Muito lindo teu texto. bjos.

Sueli disse...

Todos eles nos marcaram de alguma forma. Lembra dos irmãos do pai que alegres e bonachões? Bjs Mira e obrigada por comentar

Anônimo disse...

Fiquei emocionada hoje quando li o seu texto. Realmente meu pai sempre foi uma pessoa muito querida, prestativo, calmo. Eu era bem pequena quando aconteceu o fato que você descreveu,lembro que chorei muito quando o pai foi com o tio. Ele amou muito minha mâe.obrigada por lembrar dele.

Sueli disse...

Oi Nilse! A saudade dói menos quando a gente tem coisas lindas a lembrar, não? Nós podemos nos orgulhar dos nossos antepassados, que foram bravos e dignos na sua luta pela vida. Bjs e obrigada