terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Educação, de novo!

Zero Hora está fazendo uma série de reportagens e entrevistas com o intuito de promover uma discussão acalorada e longe de ideologias sobre a educação e o fato de não estarmos conseguindo um bom desempenho escolar na rede pública. Li com atenção a primeira delas, neste domingo, o que esclareceu muitas das minhas dúvidas, mas aprofundou outras. Cláudio de Moura Castro, um importante pensador da educação diz uma frase contundente: "Os professores não aprendem a dar aula". Ele diz que os alunos chegam à 4 série funcionalmente analfabetos e que precisamos que o aluno se dedique mais, que a prova seja mais difícil, que o professor tem que corrigir mais, que o diretor tem que ser sargentão, mas que isso tem um custo que não será gasto, já que poucas pessoas têm essa visão. Poucos reconhecem que o ensino vai mal. Ele constata que os professores são mal recrutados, pois os que fazem pedagogia são os mais fracos, com honrosas excessões. Reconhece portanto, que esses professores não aprendem direito a dar aula. Aprender a dar aula não é o mesmo que estudar Piaget e Vygotsky, pensadores que, segundo Cláudio nunca falaram em educação, mas da psicogênese do conhecimento. Segundo ele, professor necessita aprender como ensinar verbo irregular, como formular uma prova, como fazer plano de aula e ficar longe da "gosma ideológica" que não permite as mudanças necessárias. As mudanças incluem o uso de material estruturado, isto é, obras que dão o passo a passo o que se deve ensinar e como se deve ensinar. Ele não admite que professor invente aula, já que somente 2 ou 3 por cento deles sabem fazer isso. Uma boa coisa para ele é o IDEB, índice que permite medir o desempenho das escolas, para que os pais consigam apertar a escola dos filhos, para que melhore o índice. Perguntado se há um pacto de mediocridade, ele diz que sim, mas que a maioria acha que está bom assim.
Reproduzo alguns dados da reportagem: A CULTURA DA EDUCAÇÃO - Cultura escolar na família: conforme dados de 2004, 28% das crianças brasileiras tinhas mães com menos de quatro anos de estudo, e os pais de 32% delas não alcançavam essa escolaridade; A CONFUSÃO PEDAGÓGICA - A década perdida: Confira a variação nas médias dos alunos brasileiros das redes pública e privada obtidas em Língua Portuguesa no SAEB para a 4 série (em escala de 0 a 500). Não houve avanço ao longo de uma década - Em 1995 a média era de 188,3 - em 1997 de 186,5 - em 1999 de 170,7 - em 2001 de 165,1 - em 2003 de 169,4 - em 2005 de 172,3 - A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES - A comparação: Na Coréia do Sul, um professor ganha o equivalente a mais de R$ 10 mil - no Brasil - o governo propôs um piso salarial de R$ 950 para 40 horas - A ESTRUTURA DEFICIENTE - Distorções: Dados do INEP de 2006 indicam que, de 159 mil escolas brasileiras, 65 mil contam com computador, mas apenas 43 mil têm bibliotecas - Investe-se quase sete vezes mais em um aluno do Ensino Superior do que em um aluno da Educação Básica no Brasil. Na Coréia do Sul, um universitário custa o dobro de um aluno do Ensino Fundamental - A SITUAÇÃO DO ALUNO - Tempo diário na escola: cerca de 4 horas nas escolas públicas; cerca de cinco horas nas escolas particulares; o ideal seriam pelo menos seis horas diárias.
Nesta pendenga toda, o que mais me chocou foi saber que só 27,4% das escolas de ensino fundamental têm biblioteca. O que me choca, sem precisar ler reportagem, só de ver a situação em que estamos metidos, é saber que as responsabilidades são transferidas de uma esfera para outra, sem que se consiga chegar a um plano de ação que seja duradouro e consistente.
Não acredito que um pensador do porte de Cláudio de Moura Castro tenha dito que não se deve estudar Vygotscy e Piaget. Ele não seria louco de desprezar a contribuição que os dois deram para que víssemos que aprendemos uns com o outros por causa do afeto, por causa da troca, por causa do amor. Eu sei que aprendi sempre que fui motivada pelo amor e pela admiração que sentia por alguns professores. Talvez fossem os que menos técnicas tenham utilizado, mas que conseguiram me fazer curiosa e capaz para aprender.

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