sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre educação - papel dos pais



Não acredito que na Alemanha algum jornalista tivesse coragem de usar um espaço nobre em um jornal para dizer que não se deve oferecer a leitura de Goethe nas escolas do país, a exemplo de David Coimbra quando disse que nossas crianças não deveriam ser levadas a ler Machado de Assis. Caberia, nesta altura, uma retratação da parte dele, inteligente e bem intencionado que é.
O que deveria causar indignação no meio jornalístico, assim como em meio aos pais de estudantes, é o fato de que só 27,4 por cento das escolas no Brasil têm uma biblioteca, o que por si só, impede que se leia Machado de Assis. O jornalista certamente conta com o fato de nossas crianças, de tão despreparadas, têm dificuldade em ler e entender Machado de Assis, o que faria com que não gostassem de ler mais nada.
Não podemos concordar com o pressuposto de que os clássicos são obras de conteúdo inalcançável. Todas as crianças que contam com um intermediário capaz e apaixonado entre ele e os livros aprende a gostar de ler e aprende a discernir o que seja uma linguagem rebuscada e clássica, da linguagem comum, coloquial. Mesmo por que nossa língua é perfeitamente inteligível, mesmo a de séculos atrás. O que não se pode é privar os estudantes da linguagem culta, seja ela de que época for.
Os muitos equívocos que nos levaram ao caos na educação é o fato de nossas escolas públicas não contarem com profissionais bibliotecários, ou, ao menos, com professores e professoras que gostem dos livros para serem intermediários entre o estudante e o livro. Hoje, aliás, não contamos sequer com professores dentro das bibliotecas, pois foram realocados nas salas de aula, o que deveria ser visto como algo escandaloso por parte da comunidade escolar.
Nós pais assistimos às mudanças que tentam, e conseguem, nivelar tudo por baixo. São experiências que mutilam o que já se conseguiu em nome da economia de dinheiro.
Cobra-se dos pais que exijam qualidade nas escolas. Podemos começar pela escola, que seja mais bonita, colorida e bem equipada; que nossos professores tenham uma remuneração justa pelo trabalho que prestam; que as bibliotecas existam para começar e se já existem, que sejam atualizadas sempre; que nossos diretores tenham tranqüilidade para trabalhar, sem que deles seja exigido que façam ginástica para obter recursos para a manutenção da escola e para que as crianças tenham merenda muito saudável; que os professores tenham condições físicas e emocionais para lecionar, dando às crianças a atenção devida e necessária para a aprendizagem; e, quando tudo estiver funcionando como deve ser, exigindo que a escola escolhida para educar seus filhos e filhas seja a primeira no ranking do IDEB.
Tem toda a razão quem diz que os pais têm o dever cidadão de exigir melhor qualidade da escola dos filhos, pois deveria partir deles as iniciativas de denunciar as arbitrariedades cometidas, principalmente pelos gestores da educação. Porém, os pais estão, em sua grande maioria, tão despreparados, culpa de vários fatores, que não exercem sequer o pressuposto de verificar se seus filhos e filhas cumprem com sua obrigação de estudar, de se comportar com elegância junto aos professores e colegas. Todos sabemos que a maioria dos pais sequer sabe como seu filho estuda, se estuda, assim como não sabe como a escola de seu filho funciona.
Ainda vamos discutir muito este assunto, não lhe parece?
Sueli Gehlen Frosi – mãe e avó

2 comentários:

Unknown disse...

Su, Gostei do artigo e comento porque me senti provocado. Como sabes eu trabalho na biblioteca da escola. Já aprendi muita coisa e, acima de tudo, vejo muita coisa!
Um fato foi que uma turma teve apenas a literatura clássica brasileira para ler no semestre. Espantoso, quase ninguém leu um livro todo porque, segundo os estudantes: (1)linguagem fora de uso e de difícil compreensão, (2)livros chatos, (3)descontextualizados, dentre outros.
No entanto, os livros mais buscados são os chamados "menininhas", do gênero Fala Sério, Amor! que se utiliza de uma linguagem coloquial recheado de gírias e expressões do cotidiano jovem. Em outras palavras, nossos estudantes apenas fazem a leitura daquilo que se identificam. Até aqui anda novo. O fato a ser observado está em que nós estamos levando nossos jovens a se identificar!!!
Então, na frase: "Eu hei de me identificar com Machado de Assis" (?) ou "identificá-lo-ei com Machado de Assis", ou ainda, no caso, "Num me pareço cum o tio Machado"???
Não quero me relatar a forma linguística, no entanto, como bem sabes tu, temos que respeitar o desenvolvimento e a fase de cada criança e jovem. Assim, não sou de todo apoio do Coimbra, mas ao menos até o nono ano, penso que seja um pouco cedo para dar o "tio Machado". Como dizia um padre que conheci: "Não escandalizei os pequeninos".
Bjo Su, em frente!
Édson

Sueli disse...

Tema difícil esse. Quando criança foi-nos oferecido Machado de Assis e tantos outros clássicos. Sei que nem todos leram, mas os que quiseram foram contemplados com as maravilhas da linguagem culta, tão necessária para que saibamos diferenciar uma coisa da outra. Nunca se deve obrigar uma criança a ler, mas deve-se oferecer e falar com entusiasmo e mostrar paixão. Duvido que na turma que citaste, não houvesse alguns poucos que fizeram contato e, por isso, terão mais discernimento para escolher entre Paulo Coelho e Jorge Amado. Bjs e obrigada pela contribuição valiosa. Eu gostaria de ter um filho que frequentasse a escola onde trabalhas. Bjs