quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Professora Elza

Uma das maiores alegrias da minha vida foi saber que minha professora do terceiro ano primário ficaria mais um ano conosco. Lá se vão mais de cinqüenta anos, mas lembro que a achava linda, com aquele batom vermelho que passava do contorno natural da boca, para aumentá-la em, pelo menos, meio centímetro. E ela era cheirosa e bem fofinha e dava aula que era uma beleza.

Havia os concursos de tabuada, aos quais a Valderes ganhava sempre, pobre de mim. Eu só conseguia impressionar minha professora esporadicamente, em alguma redação ou outra. Eu era meio apagada naquela época, meio tímida. Nunca disputei com a Delcídia, nem com a Sandra o colo da professora, as demonstrações de afeto que para elas duas era a coisa mais natural do mundo. Mas não me faltou vontade, só coragem.

A professora Elsa dava aula só no Notre Dame e só para nós. Chegava toda alegre, batendo os tacos do sapato pelo corredor, o que para mim era o prenúncio de muito trabalho, de escrever tudo em um caderno, com o compromisso de transpor o conteúdo para um outro caderno, com uma “figurinha de passar” em cada página, mais os desenhos caprichados para arrematar. O Diário, aquele caderno todo enfeitado, era uma espécie de memória da aula, onde as lições ficavam compiladas em ordem cronológica. Além do Diário, tínhamos os livros didáticos, todos encapados com papel encerado, cada série de uma cor. Algumas (éramos somente meninas) encapavam com plástico transparente por cima do papel encerado. Um primor!

Ainda hoje procuro uma professora Elza, que seja descansada, que dê aulas a poucas crianças, que ganhe bem a ponto de não precisar correr feito louca de uma escola para outra. Procuro uma professora feliz e disponível, com um colinho acolhedor, com tempo suficiente para preparar as aulas. O que encontro são professores sobrecarregados, empenhados em entender o comportamento de crianças ricas e pobres, cujos pais delegam-lhes os mais elementares cuidados. São os professores que ensinam as “palavrinhas mágicas”: com licença, por favor, muito obrigado, coisas que por direito, as crianças devem aprender em casa. São os professores que têm que absorver as nossas mazelas, quando lhes pedimos que dêem aula, carinho, noções de empreendedorismo, ecologia, tradicionalismo, civismo, cidadania e o que mais resolvemos delegar.

Na escola de hoje não existe mais a professora Elza, mas existem milhares de heróis que nos substituem no que de mais caro existe e que a paternidade e a maternidade exigem, que é o cuidado básico, pois é muito grande o número de crianças negligenciadas e, ouso dizer, abandonadas em seus direitos fundamentais.

Quero dar um abraço bem apertado, assim como quero sentar no colo da minha professora Elza, mas, como isso não é possível, quero abraçar aos nossos professores e pedir-lhes que não percam a coragem, pois um dia desses acordamos e vamos fazer um curso do tipo: Educação para o amor – para pais e responsáveis por crianças e adolescentes. Aí sim, só precisaremos corrigir os salários, equipar as escolas, torná-las lindas e coloridas, construir ginásios de esportes suficientes, contratar um(a) psicólogo(a) por escola, montar uma equipe completa de suporte para a educação. Só isso!

De qualquer forma, parabéns professores e professoras! Ficamos devendo coisas demais a vocês. Aproveitamos para pedir desculpas...

2 comentários:

nilse disse...

Tudo o que vc disse é verdade,mas...é muito bom estar com as crianças eu amo ser professora.Você só esqueceu uma coisa, muitas vezes temos que ser enfermeiras também,levar ao posto de saúde.... Quem sabe um dia teremos a escola dos nossos sonhos.
bjs

Sueli disse...

Esta é a minha torcida, mas enquanto isso, fazemos o possível. Abração e obrigada por seu comentário muito pertinente.