sábado, 15 de setembro de 2012


Piquenique, que coisa boa!

                Está acontecendo um movimento por aqui, que premia nossos mais nobres sentimentos de compartilhamento da vida. As grandes extensões urbanas para convívio comum deixarão de ser áreas entregues ao descaso, para tornarem-se de uso para a vida boa, coisa tão cara à filosofia grega.
                É comum vermos nas grandes cidades do mundo, as pessoas procurarem as praças e parques para tomar sol, brincar na neve, estender toalhas na grama e promover um convívio ao ar livre impossível para quem vive confinado em apartamentos. Em Paris criam até um ambiente de praia, enchendo ruas e ruas de areia, onde a população leva cadeiras, guarda-sóis e comida.
                Pois, aqui na nossa cidade, há um grupo organizando um piquenique na Praça Tamandaré para comemorar a chegada da primavera. Fico imaginando a beleza do cenário, a praça toda bonita e cuidada por uma associação, há tempos, toalhas jogados sobre os gramados, crianças correndo, comidinhas sendo oferecidas uns aos outros, numa verdadeira festa de alegria por conviver, não só uns com os outros, mas com a natureza.
                A vida boa dos gregos é isso! É ter a cidade para o povo, organizada de forma a que todos tenham acesso a ela. E isto também é democracia, no ótimo sentido da palavra. O povo não deve adaptar-se à cidade, mas a cidade deve ser organizada de tal forma, para todos os cidadãos possam usá-la. Daí as lutas por acessibilidade, por beleza, por segurança.
                Imagino que um evento desses seja o pontapé inicial para uma nova ordem pública, onde o povo ocupa a cidade, por que a cidade não existe só em função dos carros, mas ela existe para as pessoas circularem, para as bicicletas, para os skates, para o lazer. A alegria pode ser a tônica dos finais de tarde, a troca de ideias também. Isso de sairmos do trabalho e nos trancarmos a chave em casas e apartamentos gradeados, mortos de medo do que pode vir de fora, tem os dias contados, pois, isso não aguentamos mais.
                Uma cidade que tem uma avenida principal tão linda quanto a nossa, deve sentir um orgulho imenso e transformá-la em uma via de circulação de todas as formas de transporte, seja pelas nossas próprias pernas, o que dá um pique e um bem estar danado, seja para permitir que se vá trabalhar de bicicleta, o que desafogaria em muito a circulação de carros, seja para que se faça com que o transporte público fique mais racional e planejado com inteligência, enfim, temos uma Avenida Brasil como nenhuma outra. A nossa é a mais larga, com os canteiros centrais mais amplos e as mais lindas possibilidades.
                Vamos aguardar mais manifestações como a do pequinique na praça, pois não acredito, que depois de experimentá-lo, consigamos olhar novelas e faustões e iô-iô-iô e tcha-tcha-tcha com a mesma tolerância de até agora.
                Há, importante dizer, que música alta não será permitida na praça. Ufa!

Publicado no Diário da Manhã de 14/09/2012

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