terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vestido de noiva


Acredito agora que todos somos fascinados por vestido de noiva. Nos ultimos anos passei a acreditar que o amor basta, que só ele justifica uma vida de casados. Passei a ver os rituais como algo de que se pode prescindir, embora lindos e cheios de significado. Todavia, quando o bixo pega dentro da casa da gente e acontece a possibilidade de só o amor reger a saída da solteirice dos nossos filhos e filhas para a vida a dois, dá um susto enorme e passa-se a ter a sensação de que algo está faltando, de que algo não está certo. Viver isso é colocar na balança tanto nossa vida atual, cheia de novidades, de reflexões novas, de contato com as ciências, quanto com nosso passado que foi povoado por sonhos, arquétipos, tradições, valores e, sobretudo, por imagens de coisas vividas e das quais temos lembranças estéticas. Trazemos cheiros na memória, que, às vezes, de tão vívidos, transportam-nos ao casamento da madrinha, cujo bolo era todo merengue, cujas rosinhas cor de rosa tinham cheiro de merengue e a própria noiva era um merengue dançante de bochechas rosadas; o cheiro de tecido tem um enorme poder de túnel do tempo, na medida em que evoca as festas nas quais dançávamos envoltos em figurinos novos, frequentemente pinicantes e coceirantes, enquanto os pés sofriam um processo de fricção da pele com as costuras de trás do sapato novo, o que provocava enormes bolhas e dor dilacerante. O vestido de noiva, desde que me lembro, esteve envolto em uma aura de ascetismo vitoriano. Lembro de muitos comentários acerca do merecimento ou não de se usar véu e grinalda, por causa da virgindade. Segundo me lembro, todos sabiam quem era virgem e quem não era, chegando-se ao preciosismo de haver pessoas capazes de detectar a perda do hímem, apenas com um olhar, ou apenas vendo como a moça caminhava na rua. A lei que proibia o uso de vestido de noiva para quem não fosse virgem, sempre foi burlada. As grávidas enfaixavam a barriga e depois diziam que o filho nascera prematuro e isso tudo com a conivência da família. A virgindade já foi considerada propriedade dos pais, que tomavam conta dela zelosamente, a ponto de, mesmo às custas de muito dinheiro, pagarem para recuparar cirurgicamente a virgindade das suas moçoilas desobedientes. Hoje a reconstrução do hímem é um fetiche que movimenta uma indústria de cirurgia plástica, empenhada em reproduzir uma juventude artificial, o que inclui, pasmem, a virgindade.

A visão de um vestido de noiva traz de volta tudo isso e nos faz pensar: que bom que as coisas mudaram e nossas filhas podem escolher seu vestido de noiva, e usá-lo se quiserem, da cor que quiserem, para caminharem esplendorosas em direção ao noivo, escolhido livremente, sem qualquer imposição (coisa nova), e com o qual casarão simplesmente por que se amam de verdade.

A visão de um vestido de noiva é algo poderoso, mas se for o da nossa filha, é pra matar!

Um comentário:

Unknown disse...

ADOREI O VESTIDO DE NOIVA, LEMBREI DO MEU QUE AINDA GUARDO NO FUNDO DO ROUPEIRO, AMARELADO PELO TEMPO,MAS GUARDO ELE, NAO PARA QUE HOJE ALGUEM POSSA USAR, GUARDO PELA LEMBRANÇA DAQUELE 02-06-79 NO QUAL ME SENTI UMA PRINCESA DENTRO DELE.BJS