sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Educação erótica

Participei de três cafés filosóficos promovidos pelo Dr. Luiz Alberto Warat, um aqui em Passo Fundo e dois em Buenos Aires. Nas três ocasiões ele mostrou sua preocupação com o descalabro em que se encontram as universidades, que cumprem criteriosamente a proposta cartesiana, ou seja, que produzem conhecimento de forma fragmentada, onde nada dialoga com nada. O que me impressiona no Dr. Warat não é a forma consistente com que critica, mas a solução que ele acredita seja a mais adequada. Discutimos nas três ocasiões o que ele chama de educação erótica, dionisíaca. Ele propõe a sensibilização das pessoas, pressuposto para o que Henrique Dussel chama Alteridade (relação rosto a rosto). A partir do que discutimos e do que aprendi e apreendi, pus-me a pensar na forma como fui educada.
Fui aluna de escola particular de confissão católica, promotora de uma educação vitoriana, moralista e excludente. Fui ensinada que o corpo é a morada da alma, duas coisas completamente diferentes e com objetivos diferentes. O corpo serve para conspurcar a alma e a alma sofre manchas causadas pelo corpo, chamadas pecado. Por causa do corpo, a alma pode ser condenada para toda a eternidade, motivo pelo qual, quanto mais o corpo sofrer, mais será purificado e mais chance terá de um dia ressussitar, juntar-se à alma e subir aos céus.
Aprendi, assim como a maioria das pessoas no ocidente, que nossos desejos, nossos ímpetos, nossas satisfações carnais são condenáveis. O que se conseguiu com esse tipo de educação foi a castração de tudo o prazer físico em favor do que a Igreja impunha como correto e adequado.
Somos pessoas adestradas para servir ao poder, pois, com a promessa de outra vida no céu, induziram-nos à resignação. Isso me faz lembrar de Michel Foucault e seus três volumes da História da Sexualidade, onde, vasculhando a história de uma forma totalmente nova, ele faz um resgate da criação das ciências e da construção da ideologia católica relativa à sexualidade humana. Segundo ele, as ciências e a igreja valeram-se do discurso sobre a sexualidade para produzirem conhecimento e, consequentemente, construírem uma engenharia de poder. Fomos induzidos a falar sobre nossa sexualidade nos consultórios e nos confessionários, tendo como resultado uma produção de verdades e conceitos do que seja "normal" em matéria de sexo. Tudo o que foge desses padrões é anormal, patológico e anadequado.
Das minhas reflexões a partir do Dr. Warat, chego à conclusão que sofri uma educação que Nietzsche chamaria de apolínea e oposta à educação dionisíaca (expressão nietzscheana também), proposta pela escola sensível discutida nos cafés filosóficos.
Estou dando tratos à bola para encontrar uma forma de concretizar a escola surrealista do Dr. Warat, onde, segundo ele, construiremos o que antigamente se pensava ser a vida boa.

3 comentários:

Gabi Gehlen disse...

É...Sendo assim, estamos predominantemente numa educação apolínea. Na nossa sociedade estamos acostumados a pensar q o sentimental é besteira, não deve ser levado tão a sério, e o carnal, então, é puro capricho, condenável. O que é valorizado de fato é a razão, que é extremamente importante, mas que sozinha não expressa o que é um ser humano de verdade. E aí tudo se torna verdadeiramente distante, fragmentado e os reflexos desse quadro aparecem mesmo na educação. Adorei esse tema. Deixa mt coisa q se pensar!
Continue escrevendo assim, Dinda!
Beeijos =***

Sueli disse...

Obrigada, minha querida afilhada! O assunto é apaixonante mesmo! Temos um desafio grande, pois construir nossa humanidade requer, como você disse, pensar muito e, acrescento, amar muito. Bjs

Anônimo disse...

Sua afilhada arrasou tia! Nem vou mais falar nada! Disse tudo! :D