segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pacto pela mediocridade

Quem já não ouviu as queixas dos professores quando relatam ataques de que são vítimas por parte de alunos prepotentes e mal educados?
Há professores que já ouviram de tudo, desde chantagens para “aliviar” a prova, até a famosa frase: – Sabes com quem estás falando?
A arrogância e a certeza de impunidade nós todos sabemos de onde vêm, não é? Sabemos que são jovens criados à imagem e semelhança de alguém bem próximo e que se comporta igual. Esse alguém próximo comparece à escola sempre que chamado, mas para defender os interesses escusos de seu apadrinhado, palavra melhor do que filho, neste caso.
Até aqui, nada de novo, certo? O novo é o desempenho da instituição que carrega a presunção de educandário, ou faculdade, ou universidade, por estar de joelhos para este tipo de comportamento cada vez mais comum. O novo é estarmos reféns de jovenzinhos despreparados em todos os níveis. Quem provoca situações constrangedoras do tipo descrito, é alguém que escreve mal, não entende o que lê e, pior, não lê. Pior, orgulha-se quando dribla o sistema lendo resumos ou capturando uma frase ou outra para dar a impressão de que leu.
Temos a sensação de estar vivendo algum tipo de piada, onde se brinca de estudar e onde se ri constrangido pra não perder os amigos. E a instituição ri amarelo pra não perder a fonte de renda. Triste, não?
No meio de tudo isto há os professores que, diligentes e firmes na sua disposição de ensinar, mantém o que sobra da educação, assim como está também, grande parte dos estudantes, os quais pegam ônibus, estudam com afinco nas horas vagas, geralmente poucas e ainda outros, que se não necessitam pegar ônibus, fazem por merecer as facilidades que têm.
Atire a primeira pedra quem nunca conversou com um professor que, desencantado, não falasse estar com vontade de aprovar todo mundo. E grassa nas nossas faculdades e escolas uma legião de copiadores do talento alheio, de especialistas em “puxar” trabalhos da internet, não se importando sequer em serem flagrados, acostumados que estão com o perdão e a condescendência das instituições.
Não podemos nos conformar com uma situação destas. Os trapaceiros e plagiadores das nossas universidades e colégios devem ser rigorosamente admoestados de que isto é um comportamento criminoso; os alunos que ousam tentar encurralar um professor ou professora no sentido de conseguir vantagens pessoais indignas e imerecidas, devem ser convidados a pedir desculpas formalmente pela ofensa grave que cometeram.
Curvar-se ante a mediocridade é renunciar aos mais nobres ideais de que nos orgulhamos, como a verdade, a honestidade e o verdadeiro exercício da cidadania.
Urge um novo pacto, que deve ser tão consistente a ponto de reconhecermos o espaço nobre da educação formal, onde todos aprendem e onde todos ensinam e onde todos devem ser respeitados, cada um no papel que esteja exercendo, reconhecendo-lhe a dignidade inerente e merecida.
Matéria escrita por mim e publicada no jornal Diário da Manhã no dia 11/07/2008

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