sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Podemos comemorar o Natal, sim!



Desde a idade média comemoramos o Natal, a festa maior do ocidente. É impossível ficar indiferente ao clima natalino, por vir carregado de uma atmosfera de boa vontade, de perdão, de troca e de algumas chatices, convenhamos.

Ao relembrarmos o nascimento de Jesus, revisitamos seu legado filosófico e pacificador. Mesmo quem não é religioso, mesmo quem não acredita na divindade de Jesus, curva-se ante a sabedoria latente e sempre atual contida nos evangelhos.

Deve ser por isso que todos nós, salvo raras exceções, continuamos a enfeitar a casa, ano após ano, continuamos fazendo das tripas coração para reunir a família e continuamos fazendo comidas gostosas no intuito de compartilharmos mais um ano de nossas vidas.

A pontinha de melancolia que nos acomete nesta época só pode ser explicada, na medida em que temos consciência de que os ensinamentos de Jesus não foram realizados em sua totalidade. Sabemos que sua linda mensagem ainda não nos tornou fraternos o suficiente, pacíficos o suficiente, humanos o suficiente.

Como podemos comemorar o Natal com plenitude, se sabemos de uma criança perfurada por dezenas de agulhas, pois foi submetido a um ritual religioso? Como podemos saborear nossas comidinhas sem que lembremos que milhões de pessoas ainda passam fome? Como podemos abraçar nossos familiares se não conseguimos alcançar os que moram nos esgotos, em prisões superlotadas e fétidas, sob pontes barulhentas? Como podemos trocar presentes se há crianças esperando um Papai Noel que nunca chegará?

Todas essas perguntas remetem-nos à ciranda de corrupção que faz girar vertiginosamente um grande número dos nossos políticos, que oram e riem, enquanto sugam o dinheiro público, feito vampiros que se alimentam do sangue de um povo.

As religiões fracassam ante atos tão escandalosos em nome de alguma divindade, ante pessoas que oram enquanto enfiam dinheiro público em cuecas e meias. Nós todos fracassamos quando, enganados, reelegemos corruptos, num ato cuja responsabilidade é dos candidatos, pois sabem enganar-nos e induzir-nos a acreditar neles de novo, dando-lhes um mandato que deveriam honrar.

O Natal deve ser de esperança e não podemos desistir de aprender com Jesus, que nos ensina sempre a sermos fraternos, livres, comprometidos uns com os outros. A intenção de Jesus ao falar com o povo, não foi a de submetê-lo e torná-lo resignado, esperando que seu sofrimento seja recompensado no céu, mas ensinou-nos a ter altivez e capacidade de combater as injustiças.

Podemos comemorar, sim, desde que, em meio aos abomináveis fogos e rojões, tomemos a decisão de melhorarmos nossas relações com nossos queridos e com o resto da humanidade.



Publicado no Diário da Manhã de 14/12/2009


Um comentário:

Anônimo disse...

É muito triste ver a crueldade humana, saber que tem gente que não tem um sentimento bom dentro de si e faz esse tipo de maldade com uma criança. E infelizmente existe muitos outros casos de atrocidade humana da qual não temos conhecimento. Mas sua mensagem nos deixa com um fio de esperança que podemos comemorar sim o Natal do jeito que deveria ser. Afinal, se perdemos as esperanças, deixarmos para lá, nos conformarmos com a situação atual, o que será de tudo?
Beijooos tiiia!