sábado, 6 de setembro de 2008

Overdoses


Eu já me tratei com uma psicóloga e as lembranças que tenho sobre o tempo em que só sobrevivi por causa dela são contraditórias. Há períodos na vida em que vivemos overdoses. Ora somos muito felizes e todos os nossos poros e manifestações revelam isso, ora somos muito infelizes e transbordamos isso de todas as formas, sendo impossível esconder o que nos move, ou o que nos paraliza. Quando entramos em crise de verdade, nosso sofrimento concentra-se no alto do peito, concretamente, podemos pegar com a mão até. Isso é, como disse antes, tão concreto, que colocamos a mão no peito, perto da garganta, para mostrar às pessoas que nosso sofrimento está ali, que precisamos alguém ou alguma coisa para retirá-lo dali. Minha psicóloga tateou em busca da chave dos meus porões e essa busca foi muito sofrida para mim. Todos nós somos um mistério insondável e profundo, havendo clarões reveladores que nos desnudam, mas, temos espaços escuros, que nem nós próprios conhecemos e, penso, que nós próprios escondemos com uma chave que, com o tempo, perdemos. A chave dos meus porões eu permiti que fosse encontrada, por isso estou bem, tranquila de novo. No processo de reencontro comigo mesma, reconheço a competência da psicóloga que por tantos meses conversou comigo, insistiu em assuntos que me fizeram sofrer muito, me colocou de frente a fantasmas e a fantasias criados pela minha imaginação, mas que eu cria verdadeiros. Minha psicóloga me ajudou a me pôr de pé e a olhar minha realidade de frente, com olhos mais generosos, mais lúcidos. Tenho certeza de que ainda há porões escuros, nem todas as portas foram abertas, mas isso é para que eu entenda que sou humana e que nessa condição todos nós sofremos, e somos felizes, e, às vezes, nos tornamos reféns de um sofrimento que não conseguimos ultrapassar sozinhos. Sei que fui salva pelo amor da minha família, pela competência de profissionais que me trataram, mas sobretudo, pela linguagem, esse instrumento poderoso que nos coloca em contato com o outro, que nos coloca em sintonia com o outro e que tem um poder de cura imenso. Dizem que o riso cura. Acredito, desde que seja um riso de pura alegria, por que há a hiena que ri só por rir, bobamente. daí não adianta nada, é só deboche.

5 comentários:

Adriana Gehlen disse...

"Quando entramos em crise de verdade, nosso sofrimento concentra-se no alto do peito, concretamente, podemos pegar com a mão "
é verdade.
Essas overdoses de tristeza não são faceis, acredito que certa coisas precisam de ajuda profissional pra que sejam resolvidas e "não aparecam mais"

porões ... ontem comentei sobre meu antigo porão
vivia uma vida de porões, e meus sonhos/pesadelos eram o reflexo disso.
tudo requer cuidado, ninguém sai de nada sozinho, só amor mesmo né?! e como é bom ter uma família que te ajude, ou amigos, namorado, enfim.
o mundo é individualista, e sugiro que cada um tenha a sua. individualidade é bom mesmo. mas que ela não interfira no amor que as pessoas sentem, acredito que há de esperar que elas possam ceder caprichos pra amar os outros e fazer o bem, socialmente/entre família ...
ah. tenho mil coisas a escrever, mas tropeço ainda nas letras, hehehe.
adorei (:
sempre adoro ler teus textos.
(...)
beijos beijos!

Sueli disse...

Gostaria de tropeçar nas letras como você, que aí estaria feita. Gostei muito, obrigada! Acho que sempre teremos porões, mas temos que iluminá-los pra que não nos oprimam.

Unknown disse...

"Dizem que o riso cura."

É por isso que somos todos saudáveis lá em casa?

hehehehe

Beijo mãe!

Sueli disse...

Entre outras coisas, é sim, querido! Bj

Adriana Gehlen disse...

hahaha
o riso cura mesmo.
tão boooooooooom :)