Trocar idéias é o principal mote deste blog. A possibilidade de interação entre mim e os leitores é algo que me mobiliza, me encoraja e instiga a continuar escrevendo. Mas isso não basta, quero dialogar ao mesmo tempo em que quero monologar, construindo uma base para por em ordem meus pensamentos, em forma de desabafo, em forma de registro, em forma de comemoração, em forma de lamento. Convido-os a que me visitem às vezes, que opinem sempre, que vivam comigo coisas parecidas com ss suas.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Ressaca pós Natal!
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Final de Ano
Como todos os anos, nesta época, temos o cuidado de rever coisas e, acho que aqui no sul, por alguns motivos a mais. Temos que arejar, sacudir as coisas, mostrar o sol a elas, despedindo-nos do inverno.
Foi com este intuito que comecei a empreitada, começando pelos livros. A constatação de que livro pode tornar-se obsoleto me chocou. Dei uma boa olhada na enciclopédia que pagamos em vinte e quatro vezes. Na época as necessidades dos filhos, exigiam que a comprássemos e optamos por ela, em detrimento da compra do telefone, coisa muita cara na época.
Constatei que os muitos volumes estavam realmente usados o que me deixou cheia de orgulho, mas triste por não precisar mais daquela fileira enorme de livros, substituída pelas redes virtuais, que, alimentadas pelo conhecimento de todos, é usada com critério por uns, com leviandade por outros. Cabe a cada um de nós, verificar a seriedade e a base científica das informações que colhemos, mas a informação não cabe mais em prateleiras.
Há bem poucos anos, pensar em me desfazer de livros por não servirem mais, seria considerado uma heresia. Hoje eles foram doados, foram descartados. O buraco na estante ainda guarda a energia das crianças.
O que precisa de ar também são os guardados que não nos servem mais, mas que falam ao coração. Encontrei, cuidadosamente embalada, uma cestinha de páscoa, toda enfeitada, que pertenceu à minha mãe, assim como uma lata verde, onde ela guardava biscoitos. Senti o cheiro dos biscoitos assados dias antes do Natal e pintadas escondido de nós, já que isso era tarefa do Papai Noel. Vieram-me à memória os Natais tão lindos, com presentes tão cuidadosamente escolhidos, com guloseimas cheirosas, feitas
Mexendo nas coisas lembrei-me de que o dinheiro curto era compensado pelo esforço da minha mãe em costurar nossos vestidos, em engomar guardanapos, em cozinhar deliciosos doces em calda, em enfeitar a casa e no meu pai ensaiando danças conosco, coisa que riscava o soalho brilhante da sala. Lembro também, dos buraquinhos que conseguimos nas taboas do chão, feitos com os taquinhos dos saltos dos sapatos, quando crescemos.
Mas, esta também é uma época de festas, quando encontramos amigos e numa delas, a Otília, uma amiga muito querida me abraçou e disse: “Feliz Natal, não Feliz Ano Novo, por que Natal é a coisa mais linda do mundo.” Entendi o que ela queria dizer, por que agora, quando já estou velha, o Natal é uma ocasião em que posso olhar para todos os filhos, todos os genros, todas as noras e para minha neta e dizer que tudo valeu a pena, mesmo que tenha que aprender tanto todos os dias, mesmo que tenha que aprender a descartar o que não tem mais serventia, para dar lugar para o novo.
Estou abrindo espaço na casa e no coração para tudo o que está por vir, com a mesma disposição com que me dispus a pagar em vinte e quatro meses o que era tão necessário.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Dr. Warat
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Educação dionizíaca
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Olha o que encontrei do Contardo Calligaris - psicanalista
24 NOVEMBRO 2010
A coerência é um valor moral?
A coerência é o último refúgio de quem tem pouca fantasia e, talvez, de quem tem pouca coragem |
NO FIM de semana retrasado, estive em Olinda, na Fliporto (Feira Literária Internacional de Pernambuco). No sábado, Benjamin Moser, que escreveu uma linda biografia de Clarice Lispector ("Clarice,", Cosac Naify), lembrou que, na famosa entrevista concedida à TV Cultura em 1977, a escritora afirmou que não fizera concessões, não que soubesse.
Moser acrescentou imediatamente que ele não poderia dizer o mesmo. E eis que o público se manifestou com um aplauso caloroso.
Talvez as palmas de admiração fossem pela suposta coerência adamantina de Clarice, que nunca teria feito concessões na vida. Talvez elas se destinassem a Benjamin Moser pela admissão sincera de que ele (como todos nós) não poderia dizer o mesmo que disse Clarice.
Tanto faz. Nos dois casos, o pressuposto é o mesmo. Que as palmas fossem pela força de caráter de Clarice ou pela honestidade de Moser ao reconhecer sua própria fraqueza, de qualquer forma, não fazer concessões parecia ser, para os presentes, uma marca de excelência moral.
A pergunta surgiu em mim na hora: será que é mesmo? Posso respeitar a tenacidade corajosa de quem se mantém fiel a suas convicções, mas no que ela difere da teima de quem se esconde atrás dessa fidelidade porque não sabe negociar com quem pensa diferente e com o emaranhado das circunstâncias que mudam? Aplicar princípios e nunca se afastar deles é uma prova de coragem? Ou é a covardice de quem evita se sujar com as nuances da vida concreta?
Como muitos outros, se não como todo mundo, cresci pensando que não fazer concessões é uma coisa boa.
Fui criado na ideia de que há valores não negociáveis e mais importantes do que a própria vida (dos outros e da gente). Talvez por isso me impressionasse a intransigência dos mártires cristãos (embora eu tivesse uma certa simpatia envergonhada por Pedro renegando Jesus para evitar ser reconhecido e preso).
Durante anos admirei os bolcheviques por eles serem homens de ferro (a expressão é de Maiakóvski, nada a ver com "Iron Man") e desprezei Karl Kautsky, que Lênin estigmatizou para sempre como "o renegado Kautsky", por ele ter mudado de opinião sobre a Primeira Guerra, sobre a revolução proletária, sobre o bolchevismo etc.
Vingança da história: Lênin se tornou quase ilegível, mas a obra principal de Kautsky, que acaba de ser traduzida, "A Origem do Cristianismo" (Civilização Brasileira), continua crucial.
Mas voltemos ao assunto. Hoje, estou mais para Kautsky do que para bolchevique; até porque descobri, desde então, que Mussolini se vangloriava gritando: "Eu me quebro, mas não me dobro". Ele se quebrou mesmo, enquanto eu me dobro e posso renegar ideias minhas que pareçam ser, de repente, inadequadas ao momento (dos outros, do mundo e meu).
Olhando para trás, descubro (com certo orgulho) que, ao longo da vida, fiz inúmeras concessões, inclusive na hora de escolhas fundamentais. Poucas vezes lamentei não ter sido coerente. Mas muitas vezes lamento não ter sabido fazer as concessões necessárias, por exemplo, na hora de ajustar meu desejo ao desejo de pessoas que amava e de quem, portanto, tive que me afastar.
Alguém dirá: espere aí, então a fidelidade a princípios e valores não é uma condição da moralidade?
Estou lendo (vorazmente) "O Ponto de Vista do Outro", de Jurandir Freire Costa (Garamond). O livro é, no mínimo, uma demonstração de que a forma moderna da moral não é o princípio, mas o dilema. E, no dilema, o que importa não é a fidelidade intransigente a valores estabelecidos; no dilema, o que importa é, ao contrário, nossa capacidade de transigir com as situações concretas e com os outros concretos.
A coerência é uma virtude só para quem se orienta por princípios. Para o indivíduo moral, que se orienta (e desorienta) por dilemas, a coerência não é uma virtude, ao contrário, é uma fuga (um tanto covarde) da complexidade concreta. Oscar Wilde, que é um grande fustigador de nossas falsas certezas morais, disse que "a coerência é o último refúgio de quem tem pouca fantasia" e, eu acrescentaria, de quem tem pouca coragem.
Resta absolver Clarice. Aquela frase da entrevista era, provavelmente, apenas uma reverência retórica a um lugar-comum de nosso moralismo trivial.
sábado, 20 de novembro de 2010
Boas notícias
Receber os jornais toda manhã e ter a sensação de caos já é coisa rotineira. Pois nos últimos dias, os jornais locais noticiam coisas muito boas e o caos, parece, está começando a ter contornos mais organizados, pelo menos nas áreas que nos causam maior preocupação: o encaminhamento da nossa sociedade para o cuidado melhor de crianças e adolescentes.
Vejam só: Cai pela metade o número de internos no CASE; Bombeiro Mirim conquista prêmio estadual; Passo Fundo amanhece com novo sistema de coleta de lixo; 58 famílias são beneficiadas com casas construídas no residencial Donária II; Um Computador Por Aluno – novas escolas integram o projeto – (ainda não
É claro que esse elenco de coisas boas vem acompanhado de relatos de crimes, tempestades de granizo, afogamentos, mas não lembro de ter sorrido tantos dias seguidos de satisfação por ver algumas coisas sendo resolvidas e tantas outras projetadas.
A redução nas internações no CASE mostra o cuidado que estamos tendo com a aplicação de penas alternativas para os jovens infratores, assim como com as medidas em meio aberto estão sendo efetivamente acompanhadas e funcionando na região. A internação agora pode ser o último recurso para a recuperação dos adolescentes infratores, o que é uma nova realidade. O melhor de tudo é que a tendência é a reeducação de verdade, pois contamos também com Casa Semiliberdade – lugar para os que ganham progressão para medida de semiliberdade, onde os adolescentes pernoitam e, de dia, podem estudar e aprender, além de poderem visitar a família.
Ufa! Quase copiei o que o jornal traz, tal o entusiasmo e a alegria de que sou tomada, por que, como todo mundo, às vezes fico desanimada, por ver tão poucos resultados, apesar de ver tantos esforços, tantos profissionais envolvidos, tantas entidades doando gratuitamente seu tempo e conhecimento, tantas pessoas bem intencionadas que são (como diz a Maria Olinda) iluminadas e prestam serviços que nem podem ser dimensionados de nenhuma forma, tal sua relevância.
Devo destacar também, a visão dos secretários municipais que acolhem sugestões, contribuições e idéias, com o intuito de promover o bem comum. Faço parte de uma instituição composta por voluntários que sabe do que estou falando. Nos últimos anos estamos sendo ouvidos e, melhor, estamos sendo chamados a trabalhar, tanto na SEMCAS, quanto SME, o que acredito, agrega valor ao serviço público. Logo, logo, teremos uma Associação de Voluntários Cidadãos Entusiastas AVOCE, integrada por gente que está louca para contribuir, para que as notícias nos jornais sejam cada vez melhores.
Passo Fundo, você está de parabéns!
Publicado no Diário da Manhã de 18/11/2010
Publicado em O Nacional de 23/11/2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Outro Sarau
A difícil adolescência
Confesso que não gostaria de ser adolescente, mesmo sabendo que estaria em meu pleno vigor, com muitos anos pela frente para realizar sonhos. Ter sessenta e três anos me parece ser mais fácil do que ter dezessete ou dezoito.
Ouço muitos comentários por parte de pais e professores, assisto às notícias, leio jornais e chego à conclusão de que nossos jovens estão sendo extremamente prejudicados, pois lhes negamos seu passado, seu presente e seu futuro.
Fazemos isso quando lhes falamos que nossa infância foi muito melhor, pois andamos de carrinho de lomba, brincamos livremente pela rua, exploramos mato, rios e mares. Não nos furtamos de emitir nossas opiniões acerca da infância deles reprovando o videogame, os sites de relacionamento, as conversas no Messenger. Quando o assunto é música, então, a coisa fica pior. Nossas músicas tinham mais graça, dançava-se junto, o ritmo e a letra eram coisa que presta. Abominamos o fato de terem trocado o dançar junto pelo ficar junto, por terem trocado o caderno questionário com uma pergunta por página – horror das mães – pelo Orkut. Tudo o que fazíamos era muito melhor do que eles fazem, veja só!
Quanto ao presente, não aceitamos que eles consigam aprender em meio ao barulho, que façam muitas coisas ao mesmo tempo e com uma rapidez incrível. Queremos que eles aprendam de bom grado, sentadinhos por horas, em silêncio, bebendo da sabedoria dos professores. Eles teimam em aprender do seu jeito, teimam em questionar os comandos e não conseguem obedecer sem que tenhamos que dar mil explicações antes.
Com relação ao futuro, mostramos um mundo que desmontamos, onde promovemos guerras mundiais, territoriais, religiosas. Cometemos genocídios ainda hoje, mostramos pedófilos, terroristas, queimadas, num festival de tolices feitas por poderosos adultos. Nós somos adultos genocidas, suicidas e cheios de razão, questionamos meninos e meninas que, vendo todo esse descalabro, tratam de viver intensamente o momento presente, por ser impossível vislumbrar um futuro viável.
Não seria mais sábio se olhássemos para nossos adolescentes e tirássemos lições do que estamos causando? Sabe-se que o comportamento irreverente da juventude é uma característica e uma marca da própria condição adolescente e infantil; sabe-se que há um modo novo de aprender que ainda não entendemos, mas existe para quem tem olhos de ver; sabe-se que nossa autoridade está sendo questionada, justamente por causa das bobagens que fazemos, protagonizando escândalos de corrupção, envolvemo-nos em falcatruas amplamente noticiadas pela mídia.
Agora, como diriam nossos filhos: Fala sério! É possível ter uma adolescência saudável, se tudo o que se faz está errado? É possível projetar uma vida longa se tudo o que é mostrado está desmoronando? É possível confiar em adultos que exigem que se viva hoje, como se viveu ontem?
Nós os adultos temos que pedir desculpas por apresentarmos um mundo onde o passado foi melhor, o presente é feio e o futuro á catastrófico. Melhor seria se mostrássemos a caminhada da maioria que é honesta, trabalhadora, empenhada em melhorar a vida das crianças, dos jovens, dos velhos. Melhor seria se compreendêssemos que vivemos uma nova era, na qual a família tem um novo papel, que é o de cuidar melhor, que é também o de promover a autonomia dos filhos, sem desqualificá-los, ajudando-os a ver o mundo em permanente evolução, sem saudade de tempos em que éramos comandados de todas as formas, tanto em casa, como nas ditaduras que sofremos.
Publicado no Diário da Manhã de 2 de dezembro de 2010
Publicado como Tema para Debate em Zero Hora de 26/12/2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Sarau
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Paulo
quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Academia Passo-Fundense de Letras empossou sete novos membros na última quinta-feira (21) com as dependências completamente lotadas por autoridades dos mais diferentes setores, acadêmicos Passo-Fundenses e seus familiares, amigos e demais convidados que foram prestigiar o evento.
Sob a coordenação da Presidente Elisabeth Souza Ferreira, a solenidade de Investidura e Posse foi conduzida com toda a pompa que uma sessão desse tipo requer. Os novos acadêmicos foram chamados um por um, em ordem alfabética: Carlos Antonio Madalosso recebeu das mãos da Presidente do Conselho Fiscal da APL, Selma Costamilan, o diploma, a carteira social, a pellerini e o medalhão, ocupando a cadeira nº 40 cujo Patrono é Dom Cláudio Colling. Diógenes Luiz Basegio recebeu a indumentária acadêmica das mãos de Santina Rodrigues Dal Paz, Vice-Presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, ocupando a cadeira nª 35, cujo Patrono é Dr. César Santos. Elmar Luiz Floss também recebeu sua pellerini, medalhão, carteira social e diploma das mãos de Santina Rodrigues Dal Paz, Vice-Presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, ocupando a cadeira nº 24, cujo Patrono é Érico Veríssimo. Marilise Brockstedt Lech recebeu a indumentária acadêmica das mãos de seu esposo, o também acadêmico Osvandré Lech, ocupando a cadeira nº 39, cujo Patrono é Delma Rosendo Gehm.
Mauro Gaglietti, o brilhante orador que falou em nome da nova turma acadêmica recebeu sua indumentária das mãos de seu amigo e 2º Secretário da Academia Passo-Fundense de Letras, Rogério Moraes Sikora, ocupando a cadeira nº 31, cujo Patrono é Francisco Antonino Xavier e Oliveira. Odilon Garcez Ayres foi homenageado com a entrega de sua indumentária pelas mãos de seu amigo coxilhense e também
acadêmico Francisco Mello Garcia, ocupando a cadeira nº 38 cujo Patrono é Tenebro dos Santos Moura. Sueli Gehlen Frosi, a nova confreira que fez o juramento em nome dos demais, recebeu sua indumentária acadêmica das mãos da 1ª Secretária da Academia Passo-Fundense de Letras, Dilse Piccin Corteze, ficando com a cadeira nº 17, cujo Patrono é Ernani Fornari.
Os novos membros receberam ainda, um CD contendo o Hino da Academia Passo-Fundense de Letras de autoria da acadêmica Helena Rotta
de Camargo.
Os convidados foram recepcionados com um farto coquetel regado a vinhos e refrigerantes. A primeira tarefa que caberá aos novos membros cumprir será a pesquisa aprofundada de seus respectivos Patronos para uma apresentação pública aos demais acadêmicos, tão logo isto seja possível. A Academia Passo-Fundense de Letras deseja a todos os novos acadêmicos muito sucesso e felicidades!
sábado, 23 de outubro de 2010
Comunicação Social
Notícias
22/10/2010 - Legislativo participa da posse de imortais na Academia Passo-fundense de Letras
O vereador Rafael Bortoluzzi (PP) prestigiou na noite desta quinta-feira, dia 20 de outubro, a posse dos sete novos integrantes da Academia Passo-fundense de Letras (APL). Na oportunidade tomaram posse os escritores Carlos Antonio Madalosso, Diogenes Luiz Basegio, Elmar Luiz Floss, Marilise Lech, Mauro Gaglietti, Odilon Garcez Ayres e Sueli Gehlen Frosi.
Bortoluzzi salientou que era uma honra representar o Legislativo em um evento tão importante, ainda mais quando estava sendo incluído na galeria dos imortais um colega vereador em pleno exercício. “Estou muito feliz em estar aqui e desejo um bom trabalho aos novos empossados, principalmente ao Dr. Diógenes Basegio, que é nosso colega na Câmara de Vereadores e que agora é deputado eleito. Também nos colocamos à disposição para auxiliar no que for preciso”, salientou.
Por Daniela de Oliveira
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Academia Passo-fundense de Letras recebe novos imortais
Deixe a sua resposta!
sábado, 16 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Professora Elza
Uma das maiores alegrias da minha vida foi saber que minha professora do terceiro ano primário ficaria mais um ano conosco. Lá se vão mais de cinqüenta anos, mas lembro que a achava linda, com aquele batom vermelho que passava do contorno natural da boca, para aumentá-la em, pelo menos, meio centímetro. E ela era cheirosa e bem fofinha e dava aula que era uma beleza.
Havia os concursos de tabuada, aos quais a Valderes ganhava sempre, pobre de mim. Eu só conseguia impressionar minha professora esporadicamente, em alguma redação ou outra. Eu era meio apagada naquela época, meio tímida. Nunca disputei com a Delcídia, nem com a Sandra o colo da professora, as demonstrações de afeto que para elas duas era a coisa mais natural do mundo. Mas não me faltou vontade, só coragem.
A professora Elsa dava aula só no Notre Dame e só para nós. Chegava toda alegre, batendo os tacos do sapato pelo corredor, o que para mim era o prenúncio de muito trabalho, de escrever tudo em um caderno, com o compromisso de transpor o conteúdo para um outro caderno, com uma “figurinha de passar” em cada página, mais os desenhos caprichados para arrematar. O Diário, aquele caderno todo enfeitado, era uma espécie de memória da aula, onde as lições ficavam compiladas em ordem cronológica. Além do Diário, tínhamos os livros didáticos, todos encapados com papel encerado, cada série de uma cor. Algumas (éramos somente meninas) encapavam com plástico transparente por cima do papel encerado. Um primor!
Ainda hoje procuro uma professora Elza, que seja descansada, que dê aulas a poucas crianças, que ganhe bem a ponto de não precisar correr feito louca de uma escola para outra. Procuro uma professora feliz e disponível, com um colinho acolhedor, com tempo suficiente para preparar as aulas. O que encontro são professores sobrecarregados, empenhados em entender o comportamento de crianças ricas e pobres, cujos pais delegam-lhes os mais elementares cuidados. São os professores que ensinam as “palavrinhas mágicas”: com licença, por favor, muito obrigado, coisas que por direito, as crianças devem aprender
Na escola de hoje não existe mais a professora Elza, mas existem milhares de heróis que nos substituem no que de mais caro existe e que a paternidade e a maternidade exigem, que é o cuidado básico, pois é muito grande o número de crianças negligenciadas e, ouso dizer, abandonadas em seus direitos fundamentais.
Quero dar um abraço bem apertado, assim como quero sentar no colo da minha professora Elza, mas, como isso não é possível, quero abraçar aos nossos professores e pedir-lhes que não percam a coragem, pois um dia desses acordamos e vamos fazer um curso do tipo: Educação para o amor – para pais e responsáveis por crianças e adolescentes. Aí sim, só precisaremos corrigir os salários, equipar as escolas, torná-las lindas e coloridas, construir ginásios de esportes suficientes, contratar um(a) psicólogo(a) por escola, montar uma equipe completa de suporte para a educação. Só isso!
De qualquer forma, parabéns professores e professoras! Ficamos devendo coisas demais a vocês. Aproveitamos para pedir desculpas...
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
No Dia da Criança serei só avó.
Não sou mais mãe de crianças, mas de adultos. Não fosse o fato de terem-me dado uma neta, talvez esse dia fosse feito de lembranças dos meus verdes anos, quando tinha a casa cheia delas.
Há seis anos, tirando o primeiro
Cecília sabe das dificuldades de uma avó acerca das limitações da idade, por isso busca assentos bem baixinhos para brincarmos: ela sabe que é normal ter as mãos diferentes das dela, pois comenta delicadamente sobre preguinhas, veinhas e o faz de forma comovente; ela sabe que dependo de beijos e abraços dela, por isso faz brincadeiras que me obrigam a correr atrás, agarrá-la e beijá-la como se fosse à força; ela sabe que dançar é um exercício que me cansa, por isso compreende quando quero parar e brincar de outra coisa; ela embarca nas minhas fantasias de fadas e duendes, assim como embarco nas dela, confinadas em uma barraquinha de pano, onde mal cabemos as duas: ela sabe que, após tantas histórias e fantasias, tenho que ser ajudada a sair da barraquinha o que ela faz com a cara mais satisfeita da mundo.
Estamos, eu e ela, na fase de contar histórias de terror, à meia luz, acampadas em florestas imaginárias, correndo riscos, fazendo de conta que estamos morrendo de medo e nos abraçamos e nos amparamos como se tudo fosse de verdade. Esta fase recém começou e estou dando tratos à bola para imaginar historinhas aterrorizantes adequadas para a idade dela. Isso toma tempo, gente! E cansa! E é lindo! E eu não vejo a hora de nos encontrarmos de novo. Aliás, ela pensa que tenho todo o tempo do mundo para ela, já que vovó se não fizer comida, alguém pode fazer no lugar dela, se tiver um compromisso, ela pode adiar para brincar. É uma delícia!
O Dia da Criança é feito disso! Não imagino um dia desses sem envolvimento, sem carinho, sem beijos e abraços. Talvez eu compre um presente pra ela, mas se não comprar, ela me tem inteira, assim como tem a outra vovó, tem o vovô, tem tios, primos professoras, colegas e tem os pais que a amam de forma incondicional, o que é fundamental para ela.
Gostaria que o mundo fosse feito assim, para que todas as crianças fossem tão felizes e tivessem coisas simples, que não custam dinheiro, mas que marcam profundamente. Sei que um mundo saudável teria que ser construído na sua base, com o envolvimento amoroso, com o calor do contato e a construção de vínculos sólidos uns com os outros.
Bem que eu gostaria de ver outra saída para o mundo, a não ser na construção e no exercício do amor, que deve ser demonstrado, assim como dito, assim como distribuído com generosidade.
Dia da Criança é dia de ser pai, de ser mãe, de ser avó, avô, de ser adulto que ama, não o futuro do mundo, mas o presente, único tempo que temos para nos dedicarmos de verdade aos nossos pimpolhos.
Publicado em O Nacional de 11/10/2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
O entregador de jornal
Recebo três jornais todos os dias e, óbvio, eles são entregues por rapazes pilotando motocicletas e usando capacete. Um deles é especial, diferente, simpático.
É agradável levantar cedo e ser cumprimentada com um “bom dia, tudo bem?”, expressão corriqueira, mas que, dita com ênfase, faz um bem danado.
Todos nós temos um trabalho, que pode ser exercido com entusiasmo ou não. Um trabalhador que se move com desenvoltura e alegria, certamente é mais feliz do que aquele que o faz de forma mecânica.
Um jornal não consegue assinaturas baseado na simpatia de seus entregadores, o que eles vendem são notícias, informações. Nunca vi anúncio de venda de jornais, dizendo que seus trabalhadores são alegres e gentis. Portanto, o rapaz do Diário da Manhã que me cumprimenta alegremente quase todos os dias, o faz de graça, por que é assim que ele se sente bem, por que esse é seu jeito. Minha assinatura desse jornal, a partir disso, tornou-se vitalícia, obrigatória.
Imagino que esse comportamento esteja influenciando muita gente, que, como eu, toma café com um sorriso, começando uma corrente de bem estar coletivo. Isso deveria ser adotado como coisa obrigatória. Imagine só. Professores chegando à escola, cumprimentando seus colegas e alunos, desejando um bom dia entusiasmado a todos e todas; imagine uma emergência de hospital, sendo atendida por gente de bom humor, respeitosa, tranqüilizadora; imagine atendentes de lojas, ansiosos por agradar e encontrar o que o cliente realmente precisa; imagine um funcionário público dando informações precisas aos contribuintes, com um desejo genuíno de que ele consiga resolver suas pendengas legais; imagine uma fábrica imbuída em proporcionar segurança e bem estar a seus trabalhadores, cuidando para que, além de procurar um bom desempenho e produtos bem acabados, consiga largar seus operários satisfeitos com o trabalho desempenhado, e, melhor, sem machucados nem cansaço excessivo.
Quero agradecer ao meu entregador, que proporciona aos leitores deste jornal, um dia mais bonito e a esperança de que, a partir do seu exemplo, consigamos ser cidadãos melhores e mais felizes.
Publicado no Diário da Manhã de 30 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Transformar nosso leão em um leãozinho é uma boa?
Claro que é, pois estamos vivendo uma cultura de esmola zero, já que não admitimos mais a exposição das crianças ao perigo e a exploração delas por parte de adultos. Há em nossa cidade instituições aptas a recebê-las em seus programas de proteção à infância. Aos pais cabe encaminhá-los e acompanhá-los em uma caminhada nova, onde a vida digna seja a prioridade.
Para que essas coisas aconteçam, as instituições são amparadas de várias formas, inclusive pelo dinheiro arrecadado através do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, um instrumento previsto pelo ECA, Lei 8069/90, no Artigo 260.
O Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – FUNDICA é alimentado principalmente pelas doações de percentuais sobre o valor devido ao Imposto de Renda, não sobre o Imposto de Renda a pagar, mas, ressaltando, sobre o valor devido.
As empresas doam até 1% do IR devido e as pessoas físicas até 6%. O doador não deve esquecer de indicar seu CPF/CIC, para evitar de cair na malha fina, uma queixa de muitos. Devemos ressaltar que só é possível cair na malha fina por omissão do CPF/CIC do doador e do CNPJ indicado na conta onde se faz o depósito.
Em nossa cidade, a Lei Municipal 3974 de 4/12/2002 diz o seguinte:
Art 1 – Fica instituído o título de “Amigo da Criança e do Adolescente” a ser conferido a todas as pessoas físicas ou jurídicas que tenham se distinguido no compromisso com a criança e adolescente, através de contribuição financeira ou dispinibilização voluntária de serviços ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – FU NDICA e ao Conselho Municipal da Criança e do Adolescente – COMDICA
Devemos, portanto, consultar nosso contador, com o intuito de doar nossa contribuição, pois o dinheiro que pagaríamos para os cofres federais fica aqui, na nossa cidade, onde saberemos como é aplicado, onde poderemos fiscalizar e visitar as instituições que cuidam de verdade das crianças que são nossas.
Sejamos então “Amigos da Criança e do Adolescente” fazendo algo simples, sabendo que a nossa doação será criteriosamente discutida, analisada e destinada às instituições que cuidam da integridade e da dignidade infantil.
As crianças e adolescentes são responsabilidade da família, instituição privilegiada na promoção do amor e da segurança, pressupostos para uma vida saudável e é, também, o lugar do cuidado com a educação. A omissão da família é a responsável pela vulnerabilidade das crianças, que, indefesas, ficam espalhadas pelas ruas, pedindo, prostituindo-se e sendo alvo de tantas coisas que as prejudicam. A falta da família é minimamente suprida pelas instituições que as abrigam, retirando-as do meio que as pode magoar.
O cuidado com a família deve ser nossa primeira preocupação, pois é na prevenção que reside a forma mais inteligente de proteção à infância
Publicado no Diário da Manhã de 14/09/2010
sábado, 4 de setembro de 2010
Comentários
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Susto e alegria, juntos!
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Espelho mágico
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Eis o embasamento filosófico e histórico do que venho afirmando há anos. Que bom!
A (in)VERDADE DA VIOLÊNCIA
Paulo César Carbonari
Muitas verdades, por longos séculos aceitas e repetidas, deixaram de sê-lo não por outro motivo senão porque outras as substituíram em condições mais satisfatórias. Um exemplo clássico é certamente o que ilustra o debate renascentista sobre os máximos sistemas do mundo, se geocêntrico (como indica a percepção imediata e na qual se acreditou por séculos) ou se heliocêntrico (como pareciam exigir os cálculos matemáticos copernicanos ou as observações galileanas). Na vida prática o mesmo parece ocorrer, dado que ações tidas como absolutamente boas passam a ser execradas por serem atentatórias à dignidade humana. Um exemplo clássico é certamente o que levou a humanidade a reposicionar o significado de punir aos semelhantes que realizam ações maléficas: punir erros ou crimes com castigos físicos, com tortura (a melhor forma de submeter o infrator à expiação da culpa e à sua remissão por séculos), passou a ser condenado por ser tratamento cruel, desumano e degradante.
Em termos práticos, há sempre uma grande margem de alternativas que informam tanto a deliberação quanto a escolha, requisitos que precedem ações imputáveis moralmente. Isso faz com que, em ações morais, a contingência não seja somente o que marca o tempo e o lugar da ação, mas também as condições formais que a antecedem. Escapar da contingência, das condicionalidades, parece ser o desejo de quem pretende agir sem sujar as mãos, de quem pretenda fazer sua parte sem se preocupar em que medida sua parte depende da parte dos outros ou a substitui, a viabiliza ou inviabiliza.
A “consciência tranquila” leva o torturador a dormir o “sono dos justos” mesmo depois de uma vertiginosa sessão de tortura, dado que não fez outra coisa que o “estrito cumprimento do dever”, da ordem superior. A mesma tranquilidade de consciência é a de pais e mães que espancam – ou dão uma palmada – em seus filhos “desobedientes”, dado que cumpriram nada mais do que o “dever de educar”. Ambas, salvas as proporções, que nunca são de menor importância, soam agressivas a posições morais que levam a sério a contingência não somente como exterior à ação moral, mas como elemento dela constitutivo desde o começo.
Que verdade diz um pai ou uma mãe a um filho ou filha no qual bateu por “razões pedagógicas”? Seria a verdade de que assim agiu por dever, mais do que isso, por amor à humanidade que quer “moldar” em seu rebento? Catastroficamente, o que produz com uma verdade deste tipo não é outra que a certeza de que a humanidade que se moldou desde este ato admite como verdade a reação recíproca – que desde os primórdios da humanidade não tem outro nome do que vingança, ironicamente também por dever de amor à humanidade.
A controvérsia pública gerada pela proposta de legislação que proíbe tratamentos violentos, cruéis, desumanos e degradantes a crianças e adolescentes por seus pais e por quem quer que seja nada tem de sentido para “consciências tranquilas” que agem por “amor à humanidade”. Aliás, lhes soa agressiva, exige-lhes a necessidade de revisão de sua própria certeza desde o “lugar do outro”, a criança e o adolescente vítimas da violência e que se recusam a agir de forma também violenta. As maiorias, segundo pesquisas de opinião, que advogam a legitimidade moral, jurídica, pedagógica e política da palmada o fazem por esquecer-se de um dado elementar da contingência: a existência de crianças e adolescentes que se recusam a agir pelo mesmo princípio e que já não querem pautar sua ação moral na legitimidade da recíproca violenta. Vítimas de violência, sejam elas crianças, adolescentes, jovens, adultos ou velhos, não importa, jogam na “cara limpa” dos que as produzem, a verdade de que existem e que querem existir de um outro modo, um modo no qual não apareçam apenas como abstração de humanidade, mas como humanidade concreta, histórica, contingente.
Verdade prática, dizer a verdade em sentido prático, é mais do que um enunciado aceitável e objetivo sob o aspecto da correção formal e da adequação material. Verdade prática, e dizer a verdade em sentido prático, é mais do que agregar algum grau de referência semântica satisfatória, acomodando a consciência na certeza moral de que tudo está bem e assim continuará, apesar de em nada interessar saber se o que se fez produziu efetivamente algum bem ou se o que fez foi gerar exatamente a perpetração do contrário e a reprodução de sua efetiva inviabilidade. Verdade prática, e dizer a verdade em sentido prático, exige tomar a humanidade sempre como fim, sim, mas sem se esquecer das mediações que objetivam, ou não, a mesma humanidade que, preservada como fim, poderia, contraditoriamente, ser inviabilizada pelas mediações. Não basta querer o bem dos filhos e, para que tal fim seja atingido, bater neles em nome de um suposto bem final.
A verdade prática “dentro de mim” só ganha sentido se há verdade moral no “entorno de mim”, ou, dito de outro modo, a verdade prática que não toma a alteridade contingente como seu conteúdo deixa de fazer sentido, simplesmente por reduzi-la a vítima e por negligenciar-lhe a dignidade que invoca como razão para dela não tomar cuidado.
Em consequência, não dá para admitir alguma verdade prática na defesa da violência como pedagogia. Aliás, por mais que por longos tempos a pedagogia tenha convivido com a violência e até a tenha erigido a atividade pedagógica, o sentido da pedagogia está exatamente em práticas que, por promover a humanização, afastam os seres humanos da violência e da barbárie, de toda a violência e de toda a barbárie, desde a mais simples, como a de uma palmada, até a mais sofisticada e que não suporta a presença do outro e simplesmente o elimina. A verdade prática só faz sentido se toma a sério a alteridade e não se erige em seu modelo abstrato. Por isso é que faz sentido moral e pedagógico propor o fim de todo tratamento violento a crianças e adolescentes, aliás, a qualquer pessoa!
____________
Professor de filosofia (IFIBE) e militante de direitos humanos (CDHPF/MNDH)
--
Paulo César Carbonari
54 9983-4757
“[...] não se é o próximo de ninguém, fazemos de outrem um próximo ao nos fazermos seu próximo por um ato”
(Simone de Beauvoir)
terça-feira, 20 de julho de 2010
Sobre palmadas e tapinhas
A tarefa de educar crianças é a mais complexa e ao mesmo tempo a mais significativa com que deparamos na vida. Nada se compara à contribuição dos pais na fase mais frágil da trajetória dos seres humanos.
Nossa humanização acontece de forma satisfatória, desde que obedeçamos aos requisitos mínimos que regem a convivência pacífica, carinhosa, atenta, comprometida. Ter filhos inteligentes, saudáveis, generosos e pacíficos é o que todos queremos e isso não depende do nosso grau de escolaridade, nem da nossa conta bancária. Pensar diferente é de um reducionismo atroz.
A palavra diálogo tornou-se lugar comum, na medida em que todos sabemos da sua importância e, mesmo assim, não conseguimos nos desvencilhar da idéia de que o tapa no bumbum é pedagógico e que não traz conseqüências. Se um tapa não dói, ele não serve pra nada e se dói é violência pura. Os pais pensam que se não tiverem o recurso do tapa, não sobra nada para aquele momento de birra, para aquela situação em que nos encontramos cansados e com raiva e, como último recurso, recorremos ao tapa, o que traz mais choro, descambando facilmente para uma sessão de pancadaria. A fronteira entre o que dói e o que não dói á muito tênue, já que muitas vezes, lá no íntimo, o tapa machuca mais. Abandonar o tapa e qualquer agressão deve ser uma meta, um imperativo para quem cuida de crianças.
A Lei deve conter em sua letra, claramente, que não se bate nas crianças de forma nenhuma e esta é a intenção do adendo que pretendem colocar na nossa Lei. Isso já aconteceu em vários outros países, como conta Marcos Rolim, em sua crônica de domingo. Foi necessário que fizessem adendos às leis, falando claramente que é proibido bater em crianças e adolescentes.
A exemplo dos países que aderiram à proibição, no Brasil está-se protestando com veemência, dizendo que o Estado pretende se imiscuir na vida das famílias, como se o Estado não tivesse o dever de proteger as duas pontas mais vulneráveis da população: os velhos e as crianças. Protestou-se muito também lá no estrangeiro, mas aprendeu-se muito no processo de criação dos adendos às Leis e para nós não vai ser diferente. Aprenderemos muito e passaremos a ter um olhar mais atento para com as nossas crianças e para com as que não são nossas.
As crianças são um nicho da população que não pode fazer passeatas, queimar soutiens, reivindicar em praça pública, bater sinetas, nem se dirigir à delegacia, pois em muitos casos, são de colo. Elas precisam que o Estado, os pais, os cuidadores e a sociedade toda, as protejam e essa é uma tentativa concreta de nos fazer falar, debater, achar alternativas condizentes com o tempo evolutivo em que nos encontramos.
Lindo seria se o Estado tivesse olhos também para a falta de creches, para o sistema de saúde que ainda não é como precisamos, para o aparelhamento decente dos Conselhos de Direitos, para o cuidado e educação dos que já são e dos que pretendem ser pais um dia.
sábado, 17 de julho de 2010
Que frio!!!!!!!!!!!
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Toque de proteger é uma necessidade?
Somos um país que gosta de legislar e é bom nisso. Temos leis de primeiro mundo para a preservação ambiental, coisa elogiada e copiada por aí afora. Temos o Estatuto da Criança e do Adolescente que é um primor humanista, além de ser uma lei democrática e um avanço que vai para além do Código de Menores que continha medidas reducionistas, dando lugar a arbitrariedades que feriam a dignidade e a liberdade de crianças e adolescentes.
O ECA contempla todos os aspectos da proteção à infância e à adolescência, mesmo que contestada por muitos na intenção de fazer modificações como a redução da idade penal, coisa debatida e sonhada por quem se assusta com a criminalidade juvenil. Há vinte anos já, estudamos, debatemos, sonhamos, instituímos órgãos de proteção, adaptamos como dá, aceitamos o que os gestores oferecem, mesmo que sejam arremedos do que seria necessário e constatamos que, em vinte anos, o ECA, essa lei perfeita e democrática, ainda não foi efetivada, pois a criança está longe de ser prioridade absoluta.
Esse gosto por legislar e por contemplar o clamor do povo, criou um Projeto de Lei Municipal, que já foi aprovado pela Câmara de Vereadores, faltando ainda ser sancionado pelo Sr. Prefeito, que institui o que foi chamado de “toque de proteger”, como se trocar “proteger” por “recolher”, escondesse os verdadeiros objetivos da lei. Estamos, portanto, aguardando a decisão do Executivo, que esperamos seja o veto ao texto completo do projeto.
O clamor do povo nós já conhecemos, pois acontece quando algo muito grave ganha a mídia, que gosta de noticia exaustivamente explorada e faz com que, revoltados e extremamente sensibilidados, demos apoio a medidas nem sempre humanas e humanizadoras. . Aí acontece a grita geral. Facilmente a solução é apoiar medidas para ver meninos e meninas trancafiados com 16 anos, falamos em impunidade da juventude, esquecemos as sanções previstas no ECA, mais severas do que as aplicadas a adultos, pois são imediatas e prevêem a reeducação e a reinserção social.
O Toque de Proteger quer ser uma tentativa de proteção, porém é perigosa por vários motivos: não há equipe capacitada para abordagem de crianças e adolescentes; não há um lugar adequado para colocar esses meninos e meninas enquanto se busca a família; em caso de surto por ingestão de drogas, não há onde tratá-los pelo período necessário para sua eventual cura; não temos garantia de que a lei não seja usada como tentativa de fazer-se uma “limpeza social”. Todos nós sabemos quem seria retirado das ruas, para quem não sabe, ou para quem faz de conta que não sabe, serão crianças e adolescentes pobres, aqueles que não podem dizer: “sabes com quem estás falando?”; não se está prevendo intervir em festas particulares de formatura de primeiro e segundo graus, por exemplo, onde a bebida corre solta; não está previsto intervir em festinhas de crianças e adolescentes, quando sabemos que os próprios pais servem e oferecem bebidas a seus filhos e convidados, quando não fazem vista grossa à vodka escondida dentro de inocentes refrigerantes. Proteger, definitivamente, não é sinônimo de recolher.
O que necessitamos é que as leis sejam cumpridas com rigorosa e eficiente fiscalização; o que necessitamos é uma sociedade imbuída da responsabilidade de cuidar de todas as crianças e adolescentes e não só dos próprios filhos; o que necessitamos é de um legislativo que também fiscalize o cumprimento das leis que já existem, pois esta é uma atribuição importante, inerente ao seu mandato.
Não queremos leis novas, queremos crianças e adolescentes felizes e livres, devidamente protegidos pela família, pelo Estado e pela sociedade. É isso o que reza o ECA e é isso que não estamos fazendo, mas temos esperança de que seja feito.
Publicado no Diário da Manhã de 9/07/2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Sequestro de mentira
Inúmeras vezes consolei pessoas torturadas por falsos sequestradores, dando-lhes apoio e dizendo-lhes que isto é comum e que devemos conservar a cabeça fria para desligar o telefone. Nunca imaginei que eu seria uma vítima e daquelas que embarcam com tudo: desespero, correria até o banco, coração em louca disparada, a imaginação correndo solta e ouvindo nitidamente a voz do filho chorando ao telefone.
Fui torturada por cerca de quarenta e cinco minutos por um bandido, provavelmente muito distante daqui, dono de uma técnica para estraçalhar uma pessoa, inimaginável.
Fui atendida no banco com presteza e profissionalismo, vendo-me paralisada pelo medo, sem saber o que fazer, tendo o telefone celular aberto dentro da bolsa, sendo ouvida na minha movimentação desesperada. Conversaram comigo normalmente, enquanto chamavam meu marido e meu filho. Quando conseguimos contato com o suposto filho sequestrado, tudo acabou.
Senti muita vergonha por ter acreditado em um golpe manjado, corriqueiro, mas, sei que não sou a única, tal o profissionalismo com que a coisa é armada.
Mesmo depois de aliviada, recebendo toda a compreensão dos funcionários do HSBC, o carinho do meu marido e filho, eu não conseguia acreditar que alguém fosse capaz de infligir tal sofrimento a uma pessoa. Não lembro de nada do trajeto de casa até o banco, o que configura um trauma violento, só consigo lembrar do que estava sendo falado ao telefone, das ameaças, do palavreado frio, do requinte das descrições do que aconteceria ao meu filho caso eu não pagasse a quantia exigida.
Quando do registro da ocorrência na polícia, ficamos sabendo de uma outra vítima que, depois de sacado o dinheiro, ao invés de dirigir-se para onde foi ordenado pela bandidagem, foi até à escola da filha, certificou-se de que ela estava lá e pode desligar o telefone.
A tecnologia permite esse tipo de procedimento contra as pessoas, mas não permite que se impeça o uso de celulares dentro das prisões, que é de onde as ligações partem. Somos violentados todos os dias por câmeras de vigilância, por detectores que nos fazem tirar os sapatos nos aeroportos, coisa comum, que ocorreu comigo há poucos dias, mas não são instaladas as ferramentas para que não entrem meios de comunicação nas prisões.
Imagino quanto dinheiro é movimentado em favor de criminosos e os detectores ficam lá, parados, acumulando poeira.
Se alguém quiser me chamar de burra pode fazê-lo, aceito de bom grado. Fui burra, ingênua, a exemplo de um delegado antisequestro de São Paulo, que, mesmo trabalhando com isso, foi obrigado a acreditar na tortura que lhe foi infligida.
O que recomendo, se é que alguém tão passional como eu pode recomendar alguma coisa, é que, caso aconteça algo parecido, desligue o telefone, procure seu familiar, coisa fácil hoje em dia e não alimente essa indústria que conta com nosso despreparo e desespero.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Texto extraído do blog de Luiz Alberto Warat
Por Juan Carlos Vezzulla

III entrega
Abordaje de un mediador para una comunidad participativa
En un primer momento, usamos para este mediador el nombre de animador social, siguiendo la denominación portuguesa, considerando que ellos debían “animar”, incentivar a los miembros de una comunidad a participar y a asumir sus propios problemas. Pero el significado distorsionado que la palabra animador recibía, fundamentalmente en Brasil, como presentador de programas televisivos o promotor de fiestas y de diversión, me llevó a usar directamente el nombre de mediador para una comunidad participativa.
La primera cuestión a ser pensada es con que objetivo nos acercamos a una comunidad. Los modelos asistencialistas están tan incorporados en todos nosotros que nuestra aproximación con el objetivo de ayudar ya conlleva la diferenciación entre ellos que necesitan y yo que no necesito.Esa diferenciación promueve un distanciamiento que inhibe el real conocimiento de la realidad de una comunidad.
La única aproximación posible es la de partir del respeto por una identidad que desconocemos. Yo no sé quiénes son ellos, yo no sé cómo son ellos. A partir de esta actitud respetuosa sólo nos queda observar, observar atentamente para descubrir cómo son, sin comparaciones ni juicios.
Aquí debemos hacer una diferenciación entre observar, que es simplemente registrar lo que nuestros sentidos nos informan, e interpretar, conclusión posterior a la observación que nos lleva a dar sentido, intenciones, objetivos y razones a lo observado.
Si realmente queremos saber cómo es o cómo son, debemos observar sin interpretar, dejando para un segundo momento que el trabajo de interpretación sea hecho por ellos mismos.
Esta tarea es semejante a la de diagnosticar. Una cosa es captar, observar una serie de hechos, de información recibida, otra es construir en base a ellos un diagnóstico.
Sabemos que la gran diferencia del mediador respecto a los otros profesionales es precisamente que aquél no busca diagnosticar, sino conseguir que los clientes se escuchen y que a partir de esa escucha y de esa toma de consciencia puedan realizar su diagnóstico, su reflexión sobre el estado de las cosas. Lo mismo debe hacer el mediador al aproximarse a una comunidad, observar, observar y observar para que la comunidad pueda diagnosticarse según sus propios criterios de realidad. (Estos conceptos están extraídos de la descripción aristotélica de catarsis como la depuración de los sentimientos de miedo y de piedad que liberarían al ciudadano.
Este concepto, después tomado por Gramsci, fue aplicado a la toma de consciencia para abandonar la posición “egoístico pasional” individualista.)Es éste el mayor de los respetos, aceptar la elaboración de la información realizada por ellos según sus propios parámetros. Reconocer, aceptando esa elaboración sin dar intervención a nuestros pensamientos, nuestra ideología y nuestros parámetros.
A partir de esa respetuosa aproximación es que podremos facilitar la integración de todos, pues al sentirse respetados es que consiguen participar, incluirse en las discusiones, expresar sus pensamientos y necesidades.
Veamos qué diferente resulta la aproximación cuando es realizada por medio de un modelo que excluye a todos los que no lo aceptan o que no se sienten identificados con él y, que al ser excluidos, encuentran en la violencia el único camino de expresión.
La inclusión, además de favorecer la participación, desarrolla la responsabilidad. Solamente nos sentimos responsables de aquello que es decidido por nosotros. Si ejecutamos lo decidido por otros, la responsabilidad queda a cargo de quien decidió.
Al ser respetados, respetamos. Al ser reconocidos, reconocemos. Reconocimiento y respeto son la base de la cooperación. La igualdad en las diferencias y el respeto a las necesidades y los derechos de todos es la cooperación.
Mayores dificultades
No solamente por nuestras experiencias sino también por la de otros, sabemos que la peor de las dificultades, trátese de Portugal, de Brasil o de México, es conseguir la participación de los ciudadanos en las discusiones sobre la propia comunidad de la que forman parte.
¿Cómo convocarlos? Cansados de ser usados por los políticos, los religiosos, los líderes (bien o mal intencionados) que sólo los quieren como objetos de sus objetivos, como número de seguidores, los ciudadanos están hartos de escuchar. Desean hablar, expresarse, ser oídos.
La acción
La escucha (observación) del mediador, exenta de todo comentario, va creando un cambio, una modificación. Sin promesas ni propuestas, sin planes y sin crear expectativas, alentando a hablar por medio de intervenciones puntuales -a veces resúmenes-_sobre lo que han dicho, resaltando la visión presentada por cada uno de ellos sobre los problemas de la comunidad y la forma de enfrentarlos –lo que propicia que cada persona se sienta cada vez más capaz de atender sus necesidades y de buscar soluciones por sí misma-, y de esta manera es posible conseguir que la ideología derrotista ceda a cada nueva capacidad que va reconociéndose.
Este reconocimiento hecho por la atención y el respeto con que son escuchados les permite desarrollar las habilidades que tienen para enfrentar responsablemente las dificultades.
A partir de este trabajo individual, el mediador realiza la convocatoria a una reunión, ejerciendo la coordinación de esa reunión para que todos puedan hablar, escucharse y finalmente construir una agenda de problemas y de diferentes opciones de solución. Cada nuevo paso los va confirmando en su capacidad de ejercer la autonomía y de resolver lo que los aqueja.
En México, el poco tiempo con el que contábamos nos permitió sólo trabajar con un grupo de aproximadamente sesenta internos, escuchándolos y promoviendo la expresión de sus dificultades. Fueron conducidos a que analizaran las dificultades que ellos mismos ponían a la realización de este trabajo de convocatoria en la prisión, y generalmente eran manifestaciones de incapacidad, de limitación y de impotencia.
Como respuesta a mis preguntas, ellos mismos fueron reconociendo que las limitaciones (fundamentalmente la falta de libertad y de libre movilidad) no les cortaba la capacidad de trabajar sus problemas y sus necesidades. A partir de las propias circunstancias podían crear acciones que les proporcionase una mejor calidad de vida, dándoles solución a los problemas cotidianos.
Si algunos de ellos habían sido capaces de formarse como mediadores y de crear un servicio de mediación entre pares, ¿cómo no iban a poder trabajar en el tratamiento de los problemas de la comunidad aunque no llegaran al servicio de mediación?, ¿cómo no iban a poder convocar, escuchar y animar a sus compañeros para que participativa y responsablemente expusiesen esos problemas y les buscasen soluciones?
Conclusiones
Partiendo de tres realidades diferentes y contando con una base teórica capaz de permitirnos operar seguros de que nuestras acciones respondían a una coherencia entre teoría y práctica, conseguimos alcanzar el verdadero objetivo de la mediación, el de llevar a los ciudadanos la emancipación que conlleva la capacidad de enfrentar y resolver los propios conflictos personales y comunitarios por medio de la participación, la responsabilidad, la cooperación y el respeto.
En síntesis, espero no solamente haber podido presentar unas experiencias que con certeza poco contribuyen a lo ya realizado en la práctica por muchos de nuestros colegas especializados en comunidades, sino que me gustaría haber motivado a los mediadores a que, sea donde sea que realicen su trabajo, no se queden exclusivamente ligados a él sin el cuestionamiento, sin la búsqueda de los correlatos teóricos que sostienen esa práctica y los resultados obtenidos con ella.
Podemos encontrar en el Derecho, en la Psicología, en la Sociología, en la Filosofía, en las Ciencias de la Comunicación y en otras ciencias las bases teóricas que den sentido y orientación a nuestra práctica. Pensar nuestra teoría y nuestro accionar desde todos los terrenos científicos posibles conseguirá consagrar a la mediación como el procedimiento que instaure definitivamente su filosofía como un modo de vida, que atienda a la dignidad de las personas y que influencie a todos los sectores de la sociedad.
Conseguir, en definitiva, que el pensamiento hegemónico no le abra solamente un espacio aparente para después usarla a su servicio, sino que se instituya como paradigma del derecho emancipador y de una realidad social más justa, más armónica, más humana.
Referencias bibliográficas
Baratta, Alessandro. Criminología Crítica y Crítica del Derecho Penal: Introducción a la Sociología jurídico penal. Buenos Aires, Siglo XXI, 2002.
Gotheil, Julio. "La mediación y la salud del tejido social". EnAAVV Mediación una transformación en la cultura, compilado por Gotheil, J. y Schiffrin, A. Buenos Aires, Paidós, 1996.
Gramsci, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999-2002.Held, David. "Desigualdades de Poder, Problemas da Democracia". En AAVVReinventando a esquerda, compilado por Miliband, David. São Paulo, UNESP, 1997.
Morais, José Luis Bolzam de y Silveira, Anarita Araújo da. "Outras Formas de Dizer o Direito". EnAAVV Em nome do acordo, a mediação no direito, compilado por Warat, Luiz Alberto. Buenos Aires: AlmED, 1998.
Pavarini, Massimo. Control y Dominación. Teorías criminológicas burguesas y proyecto hegemónico. Buenos Aires, Siglo XXI, 2002.
Santos, Boaventura de Sousa.A Crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência (3ª.ed). São Paulo, Cortez, 2001.
Vezzulla, Juan Carlos. Mediação: Guia para Usuários e Profissionais. São Paulo, IMAB, 2001.
________. "Ser Mediador, Reflexões". En AAVVEstudos sobre Mediação e Arbitragem, compilado por Sales, Lilian de Morais. Universidade de Fortaleza, Fortaleza, ABC, 2003.
________. Mediação.Teoria e Prática. Guia para Utilizadores e Profissionais. Lisboa, Ministério da Justiça de Portugal, Agora Publicações, 2003.
________. Mediación con adolescentes autores de acto infractor. Hermosillo, Universidad de Sonora, México, 2005
Warat, Luis Alberto. O Ofício do Mediador (vol. 1). Florianópolis, Habitus Editora, 2001.
Fuente: www.mediate.com
terça-feira, 15 de junho de 2010
FAMÍLIA SAUDÁVEL – SONHO OU REALIDADE?
Nós estamos doentes, consequentemente a família também está. Necessitamos de algo que nos alimente melhor, para que consigamos vigor para os novos tempos, tão desafiadores.
Conseguir famílias saudáveis não pode ser só um sonho, mas deve ser uma meta viável, com propósitos densos, ditados pelas nossas necessidades humanas mais elementares. Devemos cuidar de nós mesmos e cuidar dos outros, sabendo perceber nossa biologia, que, sabiamente, nos convida a ouvir, a ver, a cheirar, a degustar e, principalmente, a sentir na pele, a nós mesmos e aos outros.
Provocar proximidade e contato é uma necessidade primordial, em qualquer idade. Tocar com carinho e respeito é o alimento que nos falta, na medida em que constatamos nossa carência em tocar nas pessoas e de sermos tocados. Somos capazes de proezas inimagináveis, podemos alcançar outros planetas, mas ainda ficamos constrangidos com o contato físico, ainda negamos abraços e beijos a quem vive conosco.
Quanto mais racionais somos, quanto mais estudamos, mais nos fechamos em nós mesmos, mas amigos virtuais angariamos, mais solitários nos tornamos, mais carentes ficamos de intimidade.
Temos à mão fontes de prazer que não custam nada e limitamo-nos a viver assepticamente, sem sentir a pele do nosso amor de toda uma vida, sem sentir o cheiro dos nossos filhos adultos. Fazemos ensaios tímidos com os netos, por medo de estragá-los com nossos mimos.
As famílias felizes têm a concepção de que é bom tocar, de que é bom abraçar, de que é saudável mimar-nos e mimar aos outros. São famílias amorosas, que distribuem todo o carinho que recebem e, sabiamente, generosamente, transcendem seus lares, transmitindo para a sociedade o que vivem.
Devemos parar de olhar para os problemas das famílias, para as famílias que erroneamente chamamos de desestruturadas, mas devemos investigar por que as famílias felizes conseguem driblar tão bem o consumismo, os vícios, conseguindo ser tão gentis e humanamente produtivas.
Certamente nossa investigação mostrará que não há nada de especial, que não há pressupostos acadêmicos, nem necessariamente QIs elevados, mas um potencial amoroso inerente, aprendido lá no berço, lá na intimidade uterina e que acompanha essas famílias pela vida afora.
O contrário também é verdadeiro. Uma família violenta também transcende suas paredes, também leva para fora toda sua desgraça. As escolas são um exemplo do que podemos fazer com nossas crianças. É lá que constatamos verdadeiras contendas físicas e psíquicas, na forma de socos e pontapés e de bullying. Constatamos também, dramáticas disputas por ser mais bonita, mas magra, mais na moda, mais in. Os up estão sempre fora, sempre marginais. Nossas escolas são a vitrine do que acontece dentro das nossas casas.
Ashley Montagu radicaliza quando fala que nossas maternidades foram concebias para servir ao obstetra e não para a mãe, muito menos para os bebês. A constatação é feita para alertar-nos de que devemos ouvir nossa natureza, devemos aconchegar nossos bebês, devemos ficar com a criança junto ao nosso corpo, repudiando assim a distância que os berçários mantém, no momento mais importante de nossas vidas.
Os estudos contemporâneos mostram-nos, que sempre estaremos carentes da proximidade, sempre necessitaremos sentir o corpo das outras pessoas, por mais velhinhos que nos tornemos. Montagu reproduz em Tocar – O Significado Humano da Pele, o bilhete que uma mulher de 90 anos escreve para as enfermeiras:
“VELHA RANZINZA
O corpo
Hoje há uma pedra onde antes havia um coração.
Mas dentro dessa velha carcaça, uma mocinha ainda existe.
E vez e outra incha este velho coração.
Lembro-me da dor, e me recordo das alegrias
E estou viva e consigo amar, por inteiro, novamente.
E penso que nada durará.
Por isso, abram os olhos, enfermeiras, abram os olhos e vejam
Não uma mulher ranzinza
Olhem mais de perto. Vejam a mim.”
O sonho de termos famílias felizes é possível desde que façamos do amor algo concreto, palpável e não um lugar comum, cantado em verso e proza, sem substância. Nossas famílias serão uma linda realidade, realizando a máxima de Montagu: “...humanizar-se é viver aprendendo e sendo cada vez mais gentilmente amoroso.”
Publicado na Revista do Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil